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Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.

30/12/2013

porque podemos ser mais e a hora é agora

caminhamos para o trabalho
que em nada muda a destruição do mundo
engarrafados, lentos
numa perda coletiva de esperança

nem caminhar, caminhamos...
aceitamos esteiras
sem olhar as estrelas

aceitamos os números
sem ouvir corações

por causa do rádio não há mais diálogo
e da TV nem se fala

mas a internet pode mudar isso
porque aqui todos tem voz

a internet pode mudar
nosso jeito de viver para nada
destruindo tudo

não, não quero comprar nada. nem vender.
não, também não quero proteger uns poucos escolhidos e ferrar com os outros.
não quero o padrão absurdo de comportamento
que seguimos somente por ser o padrão em todas as áreas da vida.

quero, apenas, o que já está acontecendo
o novo ano que respira
cada vez que uma mão humana se ergue nas ruas
a favor do amor
contra tanta estupidez

pois essa mão é maior
que o amante, a família, os amigos, a rua, o bairro, a cidade ou o país

essa mão é o mundo!

mate y pisco o machu picchu

(Para Olga)

mate y pisco o machu picchu

naranja como un cielo
naranja como un sueño:
toda la vida es ahora
este atardecer

es preciso y precioso
tener un caos
dentro de tu orden
dentro de tu morada en la paz

(resollar de los opuestos)

así es que los borrachos caminan rotos
por lunas de manzanas
y masticam - tontamente
el imposible

29/12/2013

definição

poesia
é o que fazemos
sem pensar no que estamos fazendo

20/12/2013

l'art d'aimer

a música mais rara
é a de duas
paixões simultâneas

geralmente um quer samba
outro, tango

e acabam
cada um
prum lado

ou pior:
quatro pés
machucados

18/12/2013

monogamia padrão

monoamor (monopaixão?) tem desgosto de despeixe com deslimão
uma monoânsia, um monofulgor, uma monopressa
um monoplano, uma monometa, um monomeio
pra mais monótona desilusão

11/12/2013

o valente não é violento

o valente
volta a visão
para dentro

( participe você também: http://www.ovalentenaoeviolento.org.br/ )

07/12/2013

incondicional

eu te amo leve
como essa brisa entrando no apartamento

eu te amo intransitivo
sem depois ou antes
condições ou requisitos

meu amor é esquisito
como um desconhecido
que joga um sorriso em seu rosto
e sai correndo pra longe
sorrindo também

06/12/2013

pai, professor, patrão, pátria...

olho as ordens de sempre
de cima

um olho que tudo vê
tentando controlar e manter

o olho do querer

um olho de máquina
destruindo tudo
por poder

olho mais leve que qualquer fim:
não vou amar assim

05/12/2013

oito olhos

ela mora no meus olhos
e acho que sabe

aqui, não poupo palavras
e ela cabe

29/11/2013

iaiá

Para Ingrid

nossos sonhos quase mortos.

o padrão, o patrão, os esforços.

repressão em todas as faces.

contratos sem cantar contraltos.

segurar em vez de deixar que passe.

25/11/2013

bardo

não posso deter a tempestade
sobre os homens:
posso cantar para suas dores

não publicado

escrever é uma recompensa em si
um desesforço solitário e prazeroso
com um objetivo que esqueci

24/11/2013

sobre meus amores

elas vêm
elas vão
eu pronto:
ainda não

22/11/2013

impeditivo explícito

todos os meus tigres querem reencarnar
chafurdar na lama na guerra na foda

(principalmente na foda)

vai passar

(a parede branca)

vai passar

(a parede branca)

reino-filo-classe-ordem-família-gênero-espécie
re-fi-co-fa-ge
re-fi-co-fa-ge

certeza absoluta
que amo mulher vestida de corpo
abdominais de fora de ordem de órbita de puta
(pasme)
e só com elas quero casar

21/11/2013

o de sempre

comprei um pão e um pouco de queijo
pra comer só

esfriou

no peito
os velhos tambores

a selva

um tempo para silenciar e

sereno
sem serenidade

e lá vamos nós

dados lançados em parte

lindo caos me late em lanças

toda dança sempre finda

só me resta a eternidade

20/11/2013

presentes

canto todas as minhas paixões
todos os meus amores

me deixo destruir
do que levaram

me deixo perder
no que trouxeram

19/11/2013

matinal noturno

delusão boa
delusão ruim
olho a parede
na delusão de mim

18/11/2013

reprogramação

olho a beleza
com a certeza
da ilusão

meu cérebro
(sopa de platelmintos)
ecoa a palavra fome

mas estendo a palavra mão
na direção de acalentar

eu
que aprendeu a amar
com os famintos

13/11/2013

hábitos de muitas vidas

volto minha cisma pro carma
brilha ira minha espada:
hora de mudar

12/11/2013

ao lado

fiquei uma semana ou duas sem ouvir música

minha poesia
aquece meu sofrer
tampo a porra da pia
mas quando se alaga
o nada
nado o lago
e se alastra
e me acabo
e pago o pato
e explodo o silêncio que me continha
apesar das boas intenções
que eu nem tinha

10/11/2013

solitude

quieto e relaxado
sem fazer nada
lentamente a vista bonita de janelas antigas
o cheiro da chuva de momentos bons
reencontro na paz
mais que ilusão

09/11/2013

dentre tanta não existência

toco o que não se move
nas coisas que se movem
quando paro quieto

05/11/2013

semeando silêncio

reviso o poema
refaço seu detalhe

entalho a estrada
onde parto

retiro o aço
reponho a arte

02/11/2013

depois de ontem, antes de amanhã

restou essa sopa de dentes.

(e-letras)

enquanto o lixo sempre te aceita
as partes infindas em que partes lentamente
(pentes quebrados, remédios frios, pães congelados, porta-retratos
e adjetivos nos poemas que não faço)

eis o estrabismo interrompido
pelo olhar do outro

súbito
o outro

ah, outro

ouro lúcido leve leve brilho
no beijo mágico primeiro posterior
lúcido, ilúcido, translúcido,
me salva, me cura, me fode, sorri no facebook,
me molha, me leva, me eleva, me verba...
(até que a parede o adjetive)

mas como a parede
antes do outro?
ante um e outro?

a parede, de verdade...

como a parede?

o que nos separa dela
(a pa-re-de)
agora?

como parar a parede?

escombros suportam o mundo

venta aqui
e no passado
ao mesmo tempo

(culpado)

abro todas as janelas
estudo as tantas hipóteses

concluo:

depois de tantos anos de prisão
tremo perante a liberdade
como se fosse traição

30/10/2013

dança

um escritor não deve
viver de tudo na vida

antes de tudo
deve evitar sofrer
porque sente muito mais
que qualquer outro ser

vivemos a um passo da loucura

e a roda da vida não para:
acerto e erro
os pássaros da dança com Mara

paro
respiro
recomeço

que meu último poema
não traga alívio ou incômodo
para todos na samsara

que meu último poema
seja para
ajudar a iluminá-la

29/10/2013

bom dia, amor

Para Danielle

eu feliz no mercado
comprando o que ela gosta
porque ela vem

depois, ela me coça as costas
e me corta o pão
em diagonal
(fica tão bom...)

nessas breves horas de distração
sem o medo futuro, sem o peso passado
ainda ser capaz de amar
e ser amado

28/10/2013

38 e meio

38 e meio

gemo claro no apartamento vazio
o fim de semana inteiro

38 e meio

o corpo para de se mover
e olho o nada
numa meditação avançada
pelo cansaço
pela doença

38 e meio:
minha idade e minha febre

24/10/2013

amitabha

alegrias falsas e impermanentes
dores falsas e impermanentes
saúdo a saída:
os portões da mente

22/10/2013

des_ilusão: tudo um

leio Heráclito
no silêncio
de Sidarta

18/10/2013

única meta possível

jovens querendo mudar o mundo

riachos tênues
percebendo pela primeira vez
a enormidade do deserto

a partir daí
(deste murro mundo muro duro)
alguns pregos quebram
partem

outros compram produtos de marca
outros fazem arte
outros bebem
mas tudo finda

não nascer nem morrer:
a coisa mais linda

17/10/2013

cores e dores

o jardineiro
feio
planta flores

vacuidade

a minha bolha de realidade
esbarra na sua, diferente:
nenhuma existe realmente

16/10/2013

centro

sempre vi
no silêncio das árvores
a sombra da perenidade

é deste silêncio
que brota tudo
inclusive a nossa forma
de ver o mundo

vou junto
juntando palavras
para oferecer aos seus olhos


15/10/2013

isso não pode ser a vida

como me doem a poesia
a beleza, o afeto
a agonia do que pode ser dito
e depois
pode doer, pó de matar
escondido o inimigo no amigo
ciclos infinitos de rostos bonitos
depois feios

14/10/2013

samsara

tenho sonhado com tudo
todos têm sonhado comigo
contudo, seguimos
dormindo acordados

da beleza da finitude

estrelas extintas
sob as quais nossos dias
de um sol que terminará

des_ilusão

irrelevante ter ou não ter
paixão

perante a importância
da compaixão

13/10/2013

o amor que começa como amizade tende a driblar as ilusões das paixões

momentos dourados
esquecidos nos cantos da vida duradoura

momentos de pura felicidade

estrelas cadentes
em longas noites escuras

momentos extremos
fugazes
que estranhamos
e perdemos quando pensamos

12/10/2013

vento ao sol de sábado

na cama
ela se encosta
nas minhas costas

ou anda
enquanto fala no celular com a prima
(ela cala tanto)

acho bonito
o quanto a desconheço
o quanto
desconhecemos tudo e todos
o tempo todo
até nos mesmos

não tenho a ilusão
de um dia
vir a conhecê-la

tudo o que nos parece mais certo é sonho

sinto é esse frescor de tocar as mãos
que faz achar até bom
o deserto onde nos afogávamos

(aprendemos tudo errado a vida toda...)

agradeço ela
no meio da vida
nesse meio-dia

sol a pino, eu mantro:

não procuro nem espanto

não dependo nem esqueço

não comparo nem ignoro


um dia ela vai embora, eu sei
um dia também irei

vou vivendo sem esforço, medo, plano
sem verbos:
letras de um sábado sem pressa

deliciosamente imperfeitos
corpos feitos de preguiça
dormindo nas horas mais estranhas

relaxados, alimentados
quase atingindo
a complexidade
de ser simples
de ser agora
sem deixar nada pra depois
sem querer nada do depois

ela, eu, você, pronomes pessoais
(no caso, todos iguais)

before midnight

a vida posta
na mesa do efêmero

um pássaro
pousa
no crepúsculo

somos todos
os mesmos passos leves
criando danças

crianças

passando

08/10/2013

sob o mesmo sol de maiakóvski

na primeira noite elas pisam seu jardim com expectativas
vem cobrar amor nas portas fechadas
e você deixa: por pena, por medo, por culpa
sem dizer nada

na segunda noite, quando você abre a tranca do plexo
i-m-e-d-i-a-t-a-m-e-n-t-e
te largam mais sozinho que antes
sem jardim, sem casa, sem amor e sem nexo

então, a mais frágil delas
sorrateiramente, silenciosamente
tenta calar seus poemas

mas ainda posso dizer algo, camarada:
esta luz, a Minha Voz
não pode ser roubada

vaso

       dou voltas no copo
                                       eu tempestade
            esquivo furadas
                                       vazo
                 calo trovões

sólido público (preso na rede social)

"como somos felizes"
"como somos felizes"

como somos ridículos...

chega um tempo em que não basta ser:
é preciso contar
pra se convencer.

04/10/2013

autopromessa

rasgarei meu peito nada terno
mas jamais
meu caderno

03/10/2013

busca incolor e rítmica

procura-se
musa indolor
e não insípida

01/10/2013

maia

parecem
pedaços
de nuvens caindo do céu
e uma planta quase morta

(aos descrentes)

mas a desolação é ilusão de véu:
toda a minha árvore
vive e voa
pela semente

foto: Fabio Rocha



Foto da reportagem no Canal Aberto (Veículo de Comunicação Interna da CMB) - Edição Número 141 - novembro e dezembro de 2012 - p. 7


30/09/2013

zazen

não imitar o pássaro zangado
brigando contra sua própria imagem
no vidro do carro parado

sem reclamar

objetos mortos
em gavetas de poemas tortos
tranco sem digitar

espanto mansamente
sujeitos muito futuros
e mosquitos

sento na varanda
pra não esperar

imagem: Anthropomorphic Cabinet -1936 - Salvador Dali

26/09/2013

incisivo

às vezes é preciso
não uma nova página
mas um novo livro

25/09/2013

orgulho tempestades

meu sonho é sempre o mesmo

cansei
de dar voltas
no copo metade vazio:

mergulho

24/09/2013

sem nunca mais soltar

quando paro
lentamente
me enraízo
na tristeza

mas me arranco
(ficam partes)

corro por bocas e artes
e quando parece impossível
salto alto
até voar a minha infância

(tão raros
meu sorrisos
verdadeiros...)

abraçado ao teu ar
não há ânsia
de sair

não há mundo abaixo
o peito em pedaços relaxa sem cobranças
e as ruas, os sons, as noites
passam

a vontade total de minha mão
é fixar-se à tua pele
profundo e pra sempre

23/09/2013

tanta gente ferida se ferindo

o casal caminha ao sol.

ela:
- você quer é mulher novinha, pele toda esticadinha, corpinho malhado.

ele:
- não é isso o que busco.

ela não parece crer.
ele parece saber o que dizer.
e seguem juntos, no mesmo passo...

olho o mundo mesmo em toda direção.
vou mudo mesmo.
(eu mesmo, mudo?)

21/09/2013

ouvindo lenine

as lavadeiras no rio
lavando a roupa branca
cantando a cobra que vem do fundo

as lavadeiras
de pé na pedra
olhando a cobra
movem o mundo

aprendes a certa hora

o amor é como o agora:
não há nada
fora

OBS.: Uma das inspirações, trecho de Fernando Pessoa:

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

20/09/2013

recomeço

me deito ao lado do rio
passaram as nuvens de asfalto

a paz
é uma borboleta
que eu (e apenas eu) assobio

os mesmos

ela não superou o ciúme
eu não superei a raiva
(mas nota-se alguma melhora)

ela não me superou
eu não a superei
(mas vamos embora)

palavras de efeito à parte
seguimos os mesmos defeitos
(mas fizemos o melhor que podíamos)

19/09/2013

alegria

hoje tenho alergia a poesia
mas tento manter a sanidade
a cada tecla fria

- bom dia
- bom dia

cá dentro, uma ave morre
e nenhuma palavra me socorre

fui no RH adiantar férias:
não pode de forma alguma

na mesa da menina tinham fotos
na minha, nenhuma

18/09/2013

teoria psicanalítica da libido

Para Talita

em horas distraídas
(atos falhos, sonhos lúcidos)
lembro de teus beijos longos
psicóloga

inesperadamente
vagarosamente
essa mente
aceita a cura

15/09/2013

rock

uma prancha no ar
voando pra fora do mesmo

casas planetas estrelas
tudo é menor
que a estrada enorme

uma canção devora o seu nome
e minha paz dorme

infinito crepuscular

restou o vapor de seus cabelos
negros
nos cantos da lembrança

na casa toda branca
não há mais nenhum deles
formando curvas, retas, vogais

o lume do dia se esvai
e não sei se é melhor ou pior
não lembrar mais do seu perfume

tabacaria revisitada

"escravos cardíacos das estrelas"
a nossos peitos não basta nem o céu
nem a altura dos astros satisfaz nossos ouvidos

somos ganância e dentes
quereres vontades misérias
distantes, muito distantes

mas o dono da tabacaria sorriu

e a fumaça do poema
pouco a pouco preencheu o vazio

a falta da pantera

acordo no meio da noite
o meio da corda partido
agora me prende ao teu norte:
a morte sonha comigo

14/09/2013

berimbau

falar de voo é fácil:
sair de dentro de si
é o primeiro passo

entressafra

será preciso o precipício
a pressa do passo pra cima
a longa dor do tombo?

será precária
a paz dos vales
o calor sem chama?

- sentir é impreciso



deserto e pó

o caminho de asa
é a volta pra casa
não o voo pro nada

mas seus pés no chão com espinhos
são mais fortes que a minha canção:

você venta a estrada

e não há nada (sem estrada)
que nenhum herói possa crescer

não há nada a fazer
exceto eu desistir da sede
e você, aí, calada, ler

12/09/2013

cuidado

a mulher linda é como um pássaro
presa entre o real e o imaginário
os olhos cantando por socorro

num mundo doente

disse pra psicanalista:
- está tudo bem. sem problemas. eu pensava demais.

e ela:
- por que você acha que falou isso justo agora?

10/09/2013

verbo esperar

espero agora
o agora chegar

pode faltar pouco
ou minha vida inteira

enquanto isso
o besouro que li em Bukowski
se espalha em tudo que olho
negro e múltiplo

09/09/2013

G1

entendo o artista que se matou
quando leio os comentários dos leitores
na notícia de sua morte

depois da emoção da corrida

toda vez faz frio
então solto os cavalos
(como se fosse uma grande coisa soltá-los)
e me perco nos campos vazios

08/09/2013

manhãs sem luz em apartamentos não incendiados

todos dormem menos eu
no vasto

o som do sábado é o do tempo se perdendo
a vitrola que não tenho toca silêncio
sonho com baobás e passados

caminhões fazem trânsito lá no fora
carros
sempre muitos
sempre indo e vindo
e o mundo esta merda
e eu preso à falta e a mim

(atchim)

leio um poeta aleatório
jogo videogame
como dois pães e chocolate
nada adianta
nada
nada consegue a mínima marola
no oceano de areia do tempo

todos dormem
longe

(espero e espirro)

o peito teima em mostrar que existe

sem enfartar, porém
pulsa suas derrotas todas
(as mesmas de sempre)

sigo sem aprender absolutamente:
alianças no lixo
e mais armários e gavetas
que não abro

sigo sem aprender:
não tenho condições
de começar nada
exceto - talvez - um poema inexato

06/09/2013

entre parênteses

enquanto tu te calas
falo de minhas asas
para acreditá-las

free bird

Para Tayra

tenho andado azul
sem calma
mudo
armado
com escudo na alma
e o corpo desnudo

tenho calado fundo
tenho pesado o mundo

no entanto
ela chega hoje
vem de longe, do espelho, de além da idade
e do tempo

ela é acalento:
beija em vermelho

preparo a casa toda
pra felicidade

04/09/2013

a leveza não virá

a leveza é aceitar
a leveza que se foi
a leveza que chegar

03/09/2013

e você não lê

não nos enganemos:
ex-amantes
são pessoas piores
do que antes

quebrados
descrentes

dentes de dor
numa boca doente

mastigando o rosto do tempo
(vitórias, conquistas infindas)
sem sentir gosto de vida

desconfiando ainda mais,
menos ainda confiáveis

erguendo muros
ainda mais fechados

como poetas
que escrevem apagado

01/09/2013

grandes lábios

enquanto a leveza não vem
vou limpar a sua boca suja
com a minha língua

corpo

trotamos por cômodos
incomodados desejando

sendo nós
carne, músculos e ossos

e sangue
inaudivelmente sangue

sangue com sede
de sexo, amor e sangue

ganância

o sol ilumina meu frio
olho o mundo com olhos sem brio
redondos e amarelos
de amar ela
com ânsia de perto
por elos de distância

maldito

tudo longe
adio viver
pra quando tudo estiver perto

(odeio de forma mais branda)

por enquanto
sem quando
vou de mão dada
com o não dito

31/08/2013

frio

agora estou certo:
fora de nós
é um deserto

29/08/2013

fumaça (pouso)

no caminho pro trabalho
vi uma garça
abanando a chama verde
de uma árvore

ainda há luz

meu pai tinha um chevette com faróis amarelos

chegava do trabalho perto das 7 da noite
eu esperando na janela
via a rua virar dia

o sol não desiste:
volta todo dia
e simplesmente brilha

vejo no olho dele um leão
(redondo o contorno da juba)
e o leão é maior que o mundo

28/08/2013

destino

escrevo letras que nem eu entendo
simbolizando hieroglifos
de certeza antiga

barcos partindo e chegando
inaugurando oceanos
deuses mortos há milênios

escrevo caracteres de sonho
desenho animado
domingo na vó

escrevo tudo que não tenho
nem sei
mas a imagem de uma mulher roda e dança
entre as vogais e as sombras
que me afogam no deserto

27/08/2013

ponte de angústia aérea

ela vai, ela vem:
ela não sai
daqui
porém
nem vou além
de ir também

você sabe que não há saída
eu sei que não há saída
e mesmo assim seguimos
indo

(arrepio de nostradamus)

mais nenhuma música salva
mais nenhuma lágrima alivia
mas ainda há saliva
e às 5 da manhã algo ainda pia

(além de frio, agora chove
sobre a minha pobre rima)

transbordo a poesia
só por pura mania
de esperançar o dia

assim vou
com a mesma expressão
de quem já calou muita dor
e sabe a paixão
menor que o amor

(me disseram isso um dia)



26/08/2013

arrepio

deve haver algo que não estou fazendo:
quebrei os óculos
mas continua frio

22/08/2013

nitroglicerina

enquanto minha epiderme
sustenta silêncios com movimentos leves
espero com secreta urgência: exploda

20/08/2013

mandado

o sapo engolido não cabe na folha
resta a escolha:
me encolho ou me mando?

19/08/2013

quinto poema para camila

camila agora fala frases inteiras
e pede pra família toda dar as mãos
e brincar de roda
no meio da sala
no meio do domingo

camila mal sabe falar
mas já nos faz amar sorrindo

18/08/2013

auto-poema 37

criar a cura
com essas mesmas mãos
(as mesmas não)

é tempo de refazer azul
o mar
o sonho
o ar
o som!



e tento tanto

meu mar dos sonhos
tá poluído

sobre o lixo
um louva-deus enorme
branco polar frio
sobre_vive sem se molhar

meu mar tá manso e torto
meu mar morto

16/08/2013

estrangeiridade

a literalidade
sem literatura
me arde

15/08/2013

sereno

estou quebrado no centro
Beethoven cata em teclas os meus cacos
e abaixo da janela gritam gatos
no meio da noite, fodendo ou morrendo

14/08/2013

pequena morte

Para Tayra

ela me toca e me olha, pequena, bonita
a pele branca ficando vermelha
seu corpo perfeito se estica
no infinito de nossa cor favorita

ainda sobre a essência de mudar

trair é meu nome do meio

traio poetas por ser administrador de empresas
traio administradores por fazer poemas bons
traio poemas bons escrevendo poemas ruins
traio Nietzsche por julgar poemas
me julgo e me condeno
mas amanhã já me solto
por bom comportamento
estado de violenta emoção quando do ato
e outros atenuantes

(mas aí fico trancado em casa mesmo
cansado de mim)

trago no meio do caminho
e no fim do nome
a palavra rocha
como promessa falsa:

- nenhuma palavra me é sólida

13/08/2013

sem escolha

danço apenas com a poesia

por inícios breves
por longos fins

danço apenas com a poesia

chovem demônios
queimam serafins

danço apenas com a poesia
no grande salão sem orquestra
da ausência em mim

inesperado

quero casar
e ter
livros

cores futuras

forçosamente fecho
a caixa do passado no plexo

imagino um mundo vazio
um caminho em branco
nada complexo

eu diferente
recomeço novamente
em verso livre
passo a passo
sob o céu do universo

12/08/2013

ninho

horror de caminhos errados
gélidos

todos os meus descaminhos
em desalinho noturno

preto no branco

a balança
de minhas perdas:
lança cravada
em meus ganhos

sonhos quebrados
sem ponteiros

cansado do peso da leveza
meto a mão na massa
de novo

porque nenhuma planta germina
sem água

e nenhuma relação termina
sem mágoa

mas a esperança é verde

a esperança é ver-te
na casa pronta
sem armas
sem trancas
sem quereres

um lençol ao vento lá fora
ao sol de mim
nós leves

você sente mais a pétala ou o espinho?

os lábios dela em outra boca.

*

tremer de sangue e de frio

testo meu sentir
até virar sensação física

sentir algo não fingido, não inventado, não racionalizado
sentir tremendo algo tremendo
em toda a sua pele

apertando o rosto
o estômago

sem se contaminar com palavras
com a mente, que mente continuamente

ah, um sentimento verdadeiro, ao menos

*

e se for só aquela rosa?
e se forçar aquela rosa?

*

vejo o sangue
em todas as pessoas

sangue e guerra

relações?

torturar o que não está
nos seus padrões?

torturar com arte
torturas por partes

relações?

*

vejo uma gostosa comendo alface
e pela primeira vez na vida penso do fundo da alma:
foda-se

- foda-se a gostosa, a alface, o amor livre, OSHO, o 910, o Papa e a paz mundial!

com sinceridade de cão
com realismo budista:

f o d a - s e

*

nojo de ser poeta
nojo de ser humano
de viver em guerra
amando ou não amando

rio do amor livre
com o corpo tremendo de frio
sem ter onde me enxugar

*

mas é isso

boa noite e boa sorte

boa páscoa

bom natal

(sorriso)

vou trabalhar vazio
e voltar pra casa vazia
e não falar disso
com a psicoterapeuta capitalista
que mandei pastar

*

(não há nenhum jeito que não seja horrível)

*

que vida fácil a dos canalhas

*

tenho retraído tanto as garras
que já nem sinto as mãos

*

atenção

em breve vão morrer os poucos que restaram, Fabio:
será você e a noite:
ninguém por perto para ouvir seu grito

11/08/2013

plataforma

cuidado com o vão
entre a mente
e o coração

pai dos dias

meu pai lia
histórias de luz
nas noites negras:

me fez escritor

09/08/2013

indefinição

a ternura
é um desconexo
entre o amor
e o sexo

uma morte rápida

não sei como colocar este estado
num poema bom
mas tenho fome:

ainda me lembro consternado
da forma excêntrica
como você cortava o pão

02/08/2013

a um desenho

Para Tayra

me elevo em azul criança
porque cada palavra perfeita tua
tatua leveza
na minha esperança

conforme nos percebemos mais
mais alt(o) ar
em nossa dança
sagrada e leve

ah, menina
Voo contigo
sem nunca te soltar

Imagem: Duy Huynh

31/07/2013

sem nem pensar

sorvo um rio
de novos amores
cheio de lágrimas
que não choraremos

ah, o amor, o amor:
quando é, não falo
quando falo, não é
se perco, não calo
(sinto em todo o pé)

me convenço
e perco o rumo
me caminho
e perco a fé

ouço músicas que me piorem

não estou pronto
nunca estarei pronto
nunca estive pronto

mas insisto
insisto pelo alívio breve
difícil
distante:

esquecer
que a cada instante
a noite aperta este plexo cansado

(por isso também escrevo)

assim todos os artistas
bons que conheço
caminham curvados

como se seus ombros côncavos
e suas cabeças inclinadas
pudessem proteger sua falta





o amor mora longe

longo é o tempo sem ela.
longa é a partida dela me partindo ao meio.
ela, que me conhece inteiro.

28/07/2013

a-cor-dando (osama nas alturas)

para onde estamos indo?

trabalho que não inunda
o imundo do mundo

amor que dói
amor que prende

tarô que vicia

papa herói

radiestesia

prozac

insônia

paralisia nervosa
da criatividade concêntrica

borda de alegria:
fantasia
num bolo imenso de merda

CSN cravo e canela

noite de sonho
café da manhã

o passado te acha
em qualquer cidade ou idade

essa janela sem vista
é o prédio da infância otimista:
bege e destroçado

nenhuma árvore
pra pousar minha esperança

*

Gabriela

a cidade com as curvas dela:
volta
redonda
(a acarinhar minha ternura)

ah, o mundo de sutilezas
que perdemos
pelo hábito

aqui
os garçons sorriem

e nós
dois (anormais)
nos percebemos iguais
sob relógios enormes

minha musa
minha música

um abraço
cala o frio
e deságua o rio de dentro

(fotografo na mente seus detalhes)

um abraço simples
no centro da praça
em frente ao casal de velhinhos

*

vi a fábrica de noite
sua fumaça de Blade Runner
operário gigante no meio da cidade que dorme
ao som de um saxofone imaginário

respirei aço em pó no ar
por dois dias
e me fiz de aço de novo

eu que me desmanchava
um polvo sem asa
(U tem cílio de escritórion)

agora
homem de aço
voando pra casa

alana

alana alada e lânguida
sorriso infindo
tenra idade

loira da cor do meu sonho
distribui livros
pela cidade

alana que mora distante
suspeita do crime constante
de ser perfeita

harmonia

amor:
variações
sobre a mesma agonia

montes claros

Para Raquel

vejo do avião
(graças aos céus)
essa aranha translúcida e amarela
sumindo sob o silêncio da noite

sete mulheres pra cada homem
e uma solidão imensurável

saudade da minha mãe
saudade dos chinelos da namorada ao lado da cama
saudade de não ter saudade
de viver em paz e com sono
escrevendo poemas ruins

Imagem: Fabio Rocha

aero_porto

ruiva lendo no aeroporto
alta, linda, óculos
perfeito

começa um poema em meu peito
e me pergunto como posso ser romântico ainda
depois de tanta vida
e de tanto ler Bukowski
e de tanta ferida

mas ela lê sem me ver
e seus olhos afagam as páginas

se eu falasse com ela
o que não consigo escrever
(ou não)
se eu casasse com ela
(ou não)
tudo se apagaria do mesmo jeito
nas páginas da vida

mas meu peito...
ah, mas meu peito...

(as janelas do avião choram)

Imagem: Fabio Rocha

com escalas

quando penso em parar
em descansar
que já tá bom
vou além

voo porque o mundo tem mulheres bonitas
e poesia
e uma coisa toca a outra aqui dentro
de alguma forma inexplicável
e biológica

mulheres lindas
tipo Andressa de vestido
amarelo
e olhos enormes de mel

escrevo
e (m)eu avião ultrapassamos
o teto branco do céu:

nenhum deus.
só azul lar.

Imagem: Fabio Rocha

24/07/2013

vandalizando de leve

chove na cidade
onde se reúnem idólatras
de um velho de branco
num frio filha da puta
atrapalhando o trânsito
e o progresso

de amália para epaminondas

teus chinelos no chão
são mais que poemas vãos

quero só o presente
este presente diário da vida minha
nossos detalhes ínfimos, íntimos
as rotinas de banheiro, quarto e cozinha

quero é essa casa, nosso castelo
construído com convívio de décadas
elos de suavidade

por exemplo, adivinhar meu pensamento
(e eu o seu)
pelo mínimo movimento de uma ruga

meu sossego
sossegando o seu

bordar ternura
com silêncio e cuidado

enquanto lá fora, um mundo gelado
se multiplica em pressa

quero apenas essa comunhão
sem precisar de corpos:
nossas palavras ecoando pelos cômodos
celebrando desde sempre nosso encontro

23/07/2013

kryptonita no inconsciente 37

grito contra a kryptonita
contra o passado
com ira dos que
já se sabem fracasso:

todo voo
(re)quer descanso

(sangro o sangue de jesus
pela boca da noite)

22/07/2013

exercício

mergulho um rio de vidro
fino silêncio
mais e mais fundo

até encontrar água
e prazer

devido a pressões constantes
respirar é leve

elevo-te
no salto

insisto
repito
expando

é possível mais

mais ainda

ainda mais

o voo:
dor vira arte
dor virá arte
ágape
no sorriso dela

vermelho fogo
até a última brasa

12/07/2013

poema prum amigo que odeia poesia

Bukowski lhe diria: é assim mesmo

te mimam
depois você deve ganhar seu dinheirinho
num emprego estúpido

com essa grana
você pode pagar alguém pra curar sua mente fodida pelo sistema
melhorar as dores do seu corpo fodido pelo sistema
e seguir contribuindo prum mundo fodido pelo sistema

cefaléia
gastrite
tendinite
ansiedade
insônia
suores noturnos
fobia social
síndrome do pânico
hérnia de disco
fibromialgia
escritório

nas horas que sobram
a cidade grande desertifica as relações
corta os sorrisos
ocupa os amigos

a cidade grande, os jornais, os jogos do facebook
nos distraem de nós
nos destroem os nós

há corda

se tiver um cérebro, deus é uma piada
tente outra porta

você chega em casa e lava as mãos pra tirar os germes
abre a torneira e massageia vidros
silêncios moídos
gelados sentidos

corta os pelos do nariz - mas eles crescem
corta as unhas dos pés - mas elas crescem
e você sabe que vai morrer
mesmo não querendo

a salvação brilha no encontro com uma mulher
que depois te odiará
ou você a ela
por perceberem que a droga da paixão se esvai com o tempo
e ninguém salva ninguém
da cidade
do mundo
do sistema
da morte

no meio desta merda
cabe achar tempo
para deixar sair de alguma forma
o que o universo quer gritar com a sua voz
em vez de ter filhos

09/07/2013

saturno soturno

estico-me em direção ao impossível
(silêncio no longo prazo)

em quantos beijos finitos
desperdicei minha inocência?

corpos enganam
a todos e
a si próprios

dançamos perdidos
com mãos tensas

(anéis nos anulares)

bocas promentem eternidades
com gosto de pó

mas o meu olhar
o meu olhar se repete:
e nunca te deixa só

07/07/2013

miosan e cio

Para Bukowski

silencio
um deus manufaturado
menor
que meus dedos fechados
menor
que meu medo

enorme

no prédio higiênico
não há ratos pra profanar essa cama

suo tonto no frio
com boca seca
e paz transcendental

relaxante muscular não cura dor
cura falta de sono
e falta de cor

mas o teclado (feminino) me forma
piora a dor
piora o sono
piora a boca
piora o medo
piora deus

melhoro
eu

06/07/2013

despertar

somos maiores que o mar
e nosso modo de amar
represamos
por contratos

do mesmo modo
batemos pontos
e matamos sonhos
engolindo sapos

mas os jovens estão nas ruas
os jovens cantam nas ruas
os jovens gritam nas ruas
e as ruas foram feitas para este ato

03/07/2013

passado - presente - futuro

equilibrista
sobre a fina linha
que separa os tempos

o motorista (descontrolado)
hora vira pra lembranças
hora volta pra esperanças

em silêncio de crepúsculo
por segundos sem mente
surfo no minúsculo
presente

02/07/2013

escafandro

grafite é quase diamante

sou menos poeta
que amante
da poesia do amor

olho os ponteiros sem alvo
do relógio do escritório

o azul
mais que cor

ação de parar
e dor seguir:
semáforo incolor

bússola
querendo me expandir
pra além do medo
da angústia de estar no mesmo lugar

ah, mar imenso
longe daqui

mistério molhado de horizonte

nunca (vi)verei seu todo

30/06/2013

desinstrumento

tendo caminhado um bom tempo
sem mão dada
sob o frio do céu nublado

no meio das inutilidades
encontrei deus

não me disse nada

tinha barba feita
e secava gelo
com um sorriso

26/06/2013

desoperação

faço um poema
atravessando a rua

ainda leve
a mente quer planejar, programar, verbalizar
mais leveza

o tempo me fascina:
a vida se confunde com sonho
fora da rotina

cruzo os braços orgulhoso

vergalhões de aço
andaimes
guindastes
cuidado:
desoperário em construção

18/06/2013

coletivo

não são os vinte centavos a mais
dos coletivos

é o pensar no coletivo

que não morreu
que não vai morrer jamais
e não precisa de líderes ou partidos

(foto: Tumblr - O que não sai na TV)

16/06/2013

foto-grafias

vou pelo caminho de sangue
pisando minhas próprias vértebras

(para onde?)

distrações me distanciam

recortes de paz distantes

foto-grafias

imagens internas
onde sorrio falso
mas fora delas
o vácuo de um cadafalso

vou flertando minha angústia
apressando dias vazios
vazando sentido

passo interrompido

mãos furadas
atravessadas
de areia

sigo saudoso da morte
cantando e aplaudindo
o silêncio desta voz tardia

em nenhuma palavra

vejo o cabelo da Deusa
nos cipós das árvores

ela resiste
apesar de tudo
apesar dos homens

andorinhas ainda enternecem o crepúsculo

o som de água
em algum lugar perto
ecoa meu silêncio

política

o Estado das coisas:
polícia para quem precisa
de melhores condições de vida

14/06/2013

castelos musgos

fundações ruem
sobre bases que cedem

ah, como enxuguei silêncio
com palavras

trabalho vão e frio
indo contra o feio

o vencedor:
o vazio

duas pontes

olhares
que não creem mais
em olhares

a lesma de tua língua
perdida em minha boca
não mastigo nem cuspo

mortos
ligados
pelo queixo

estátuas gigantes
se apoiando
sobre o abismo: antes

12/06/2013

dia dos afogados

eu me precipício:
gosto quando chovo
e morro quando gozo

vou dormir

o corpo se contorce em busca
quer mais que o apartamento sem gente
cheio de móveis
imóveis

esqueletos do tempo
lemas gastos
pastos brancos

troco letras e desejos
através de telas
por mãos que não se tocam

solidão e solidão
em caracteres inexatos

fatos frios
pratos limpos
copos tortos

paro a roda da fortuna
travo a roleta russa
deixo que ela tussa
quases sangues sêmens

é foda
mas adio

adio
o que não seja o vazio
pois a cura não é fora

11/06/2013

bem que se quis

mundo enorme
em que estranho estar

disforme

literal, preciso, nítido
desértico, populoso, artístico

com plexo transbordado
em toda parte
escorre arte

observo sem dizer um ai
estes céus de vanilla sky
das cinco da manhã

não mais ir
deitado no banco de trás
do carro dos pais

ser o Único herói
capaz de fazer
a criança crescer

num mundo frio de ar
sem casaco ou afã
sob um sol que amarela
através de catracas vãs

voo

10/06/2013

me duele el tango

piazzolla preciso
agudo
furando o chakra cardíaco

essa é minha vida:
só ouço os acordes da chegada
quando já é hora da partida

mas preciso calar a saudade
dos tangos que não dançamos

e dormir em paz
sobre nosso
nunca mais

domingo nublado

a boca do sol
abria e fechava
bocejando atrás das nuvens

e se as gaivotas forem mesmo
almas de pescadores que morreram no mar?

saudade do tédio
enquanto a água beija o ar

vou no ônibus bruto
acelerado

pra quê essa luta?

vida de poemas infinitos
casa sem espaço pra mim
nem tempo

e fora de casa
tudo longo
tudo longe

tudo toca demais

gente demais no mundo
gritando pra não ouvir
o silêncio

nos museus
apenas para ver
seus próprios eus
refletidos em arte
ou nos olhos das pessoas
que frequentam museus

deito pra fingir que durmo
de lado
sobre o plexo noturno
destroçado

Foto: Fabio Rocha (Museu de Arte do Rio - 9/6/13)

09/06/2013

de profundis

pescávamos tranquilos
com a isca do canto

e um cego soltava pipa na noite

mas
o peixe estranho
e as nuvens escondendo a lua
prenunciavam

a onda enorme

a onda
dos sonhos infinitos

o som da onda

o fim

*

descemos

silêncio

serenos

sereia

ela me dá a mão
e voamos na água
sobre um chão de céu:
estrelas do mar

arraias beijam flores
polvos gigantes em paz

tudo é grandioso
novo e esperado

até mesmo o sangue espalhado
da presa que caça o caçador

sangue necessário
rezado lado a lado

desço mais
atras do fascínio
salto em meu medo

tudo lento e profundo
no abismo do outro mundo
(mundo mesmo)

no escuro
ela me fecha os olhos
e em algum lugar
no mundo de cima
alguém olha o mar e a rima
sem se molhar

me salvo

vou por cidades submersas mortas
portas para estátuas sem forma
símbolos antigos do que não virá

pela caverna cruzamos
pela luz nascemos
batalhas perdidas no tempo

pelo beijo morremos
outros olhos
outros tempos
ela sobre as águas
chorando os retratos
que vivemos

mas sua mão agora
se abre em estrela
(a estrela vermelha que dorme em minha carne)

é tarde demais

nado sozinho
por caminhos errados
até
enfim
me tornar
o navio de meu sonho
desnaufragado

ser capaz de navegar o novo mundo
sem se perder da ilha
do nosso passado

uma casa no meio do mar
no meio do tempo

onde sempre haverá
você
um violoncelo
e uma luz acesa





08/06/2013

plenilúnia (contraste)

a minha morte
flui como rio de leite
no chão branco
do apartamento branco

escrevo letras negras
com pernas de aranha
sobre ladrilhos

semeio ela
(a minha morte)
no próprio seio
a cada fechar de janela

07/06/2013

poente sobre mario benedetti

Para Gabriela

preparo a mala
pra onde não vou:
amá-la mal

levo um violão
que também não sei
abraçar

trago um baú leve
com pânico vermelho
e vazio amplo

(as religiões
não salvam nem deus:
só salivam dogmas)

encho o tanque
do carro
de som

escarro na palma da planta
do jardim noturno
um passado taciturno

ignição

bebo
com
moderação

parto
sem
nascer

luto lúdico: novilúnio

luto
luto
luto
luto
perco

ganho
um novo
velho eu
(e a paz de Morfeu)

compreender não é seguir

cheguei perto do piso da vida a dois:
2 tédios, 2 concessões, 2 disputas
até que - puta que pariu - onde esqueci meu sorriso?

sem vida monógama
eu, polígono de infinitas mãos
lentamente me aproximo
da palavra curva

estrada aberta

força arcana

beijo o tempo
(meio bêbado)

sob a lua

toco
de leve
a borda da delícia

nua

(ela dança)

comprei 2 livros de Bukowski
para ler comigo
enquanto leio Bukowski
domingo

06/06/2013

sozinho

o vento fala aqui
o mesmo no deserto

a travessia da angústia:
único caminho perto
(sem colo ou carinho)

quebrar
os mesmos ciclos
eternos vícios
infindos choros

parar
esses erros e recomeços
com vontade bruta

luto e luta

a um passo de

normalíssimo, normalice

em todo lugar do trabalho
agora há mapas de rota de fuga
(desobstruídas)
mas não fujo

me olham tensos
urubus de terno

normas internas
controlando incêndios íntimos
adiando o inevitável

replanejamento
de projetos

a paz, mulher:
uma casinha branca de varanda
uma fazenda
uma conta bancária
ou estar onde se quer?

04/06/2013

roupas para secar

sujo minha poesia
em todo lixo que leio luxo

sujo prazerosamente

esdrúxulo minha poesia
com palavrões e ratos secos
becos fétidos

porque ela é do mundo

sujo tudo
mas silencio
aquele varal

aquele varal simples
com um lençol branco
convulsionando no vento

recomeço

sob estes novos astros
estranhamento:
ainda estar em meu centro

sob finos véus noturnos
toalhas por secar
mortalhas que virão

vivo

leve

duas pernas
dois braços
muitas vontades
e passos de prazer e dor
(opostos complementares)
para realizá-las

aqueço a liberdade na língua
amacio-a

tudo posso
naquilo que me fortaleço



03/06/2013

véspera da passagem

sol silencioso

descompasso acelerado:
aceitar
dualidades interinas

(melhor aprender a apanhar
do que vencer)

todas as coisas no modo
o mais triste possível

(é mais fácil chorar do que crescer)

- Está um lindo dia, Fabio.
- Está. Está um lindo dia.

02/06/2013

polvo ao molho parto

o último beijo
é um tiro de escopeta
(silencioso)
na alma sem escudo

no escuro

polvo
chupando
manga

não há grito que baste
que suplante
que supere
a pólvora no seio

(status de relacionamento: solteiro)

terror ácido e feio
meio de separar os (a)braços
de dois amantes reais
no meio da noite

negro e líquido nuncamais
a se espalhar lentamente
na água do olho

sem volúpia

salvo uma palavra que me salve
(salva de palmas)
saliva de violões vazios
cheios de som, sacrifício, saudade, desperdício...

olhos desertos
que se teimam
abertos

abertos ante o medo da grande noite
noite maior que todos
que a todos apaga a luz

quantas armas inúteis
ultratecnológicas
hiperverborrágicas
quanto tempo perdido com armas
facas, canivetes, espadas...

o que salva da noite
é o abraço
não o corte, a ferida

o oposto da morte
é o amor
não a vida

01/06/2013

polvo de novo

a manhã acorda
apesar de meu protesto

faz tempo
não lembro
um sonho

espalho-me pelo mundo
em tentáculos e palavras
que se esticam e espreguiçam
buscando crer e ser
por todos os lados

(verbo romper)

um bêbado buzina e grita
tenso na rua deserta
algo que não entendo

todos queremos ocupar mais espaço
porque o vazio do silêncio
nos apressa

31/05/2013

aracnofobia

o meu afeto
é essa aranha tateando a parede

branco

o meu afeto é manco
sem tato
no corpo

seu contato
com o Outro
atravessa
a palavra

Imagem: Maísa Motta

(Poema inspirado na poesia de Mar Becker.)

30/05/2013

terra de nunca mais

Para Jorge Luis Borges

todo adeus é muito longo
perdura em algum pedaço

segue conosco
cada adeus
com olhos duros
que de quando em vez se esquecem
do que buscavam no mundo

29/05/2013

monges longes

a gripe diminui o ritmo

legião de encapuzados
escondendo
que não tem rosto

o ritmo diminui a gripe

iniciamos leves
depois, pesados

marchamos pelo futuro
mastigando amendoim japonês dourado

preparamos o inverno medonho

o mundo - um deserto gelado

preparamos tanta coisa

pra no fim nos enterrarmos
uns aos outros
lado a lado

vermelho pulso

os amantes dançam
com lâminas nas extremidades dos corpos
por entre fios indizíveis
que sustentam seu palco

saio

vou até lá fora
ao pasto do passado
decepcionar a rosa dada
(espinho que colhi da garganta)

28/05/2013

começo no fim

me perco

os sinos de tua voz
(que me ouve)
não me definem mais

sonares de morcegos escuros
traçam silêncio
em telas vazias

ronco de motores partindo
ruas engarrafadas de pessoas simples
sinais verdes

elefantes, sempre elefantes
dançando
e sorrindo

sem revisão

eu quero a morte e uma torta de cerejas
americana que nunca comi

eu quero a morte e um pacote de cervejas
que não bebo

porque quero ser Bukowski
e apanhar e bater na vida
sem querer ser outra coisa

simples

como bolo de chocolate

o colégio ao lado do prédio me acorda com voz de criança
cantam parabéns e com quem será:
aprendemos desde cedo a envelhecer e a casar

reexperimento
lenta e saborosamente
a palavra liberdade
imposta no céu da boca

com a língua solta
brinco com ela:
estréias e estrelas

27/05/2013

sem dente em gêmeos

Para Rebeca

a mente paga seu salário
ganha troféu e diz puta
todo santo dia
mas quando tenta oprimir o coração
(órgão capaz de te despedaçar)
a noite traz sudorese, medo e ataques de ansiedade

a mente disputa
e perde

*

deus
até quando vou correr
atrás da paz
da casa dos pais?

*

vou fazer 40 anos
lapidando discursos
pra convencer a mim mesmo
a não me atirar na cabeça
e a me atirar de cabeça
onde não quero ir

*

vou, por exemplo, no ônibus
com pessoas normais
calmas
casadas
cansadas
lendo jornais

me parecem mais
perfeitas

estou cansado demais de ser poeta
perneta

eu que só sei
me relacionar
com palavras

*

(pelo medo
do fim
termino)

mas saiba:
se outras foram poemas bonitos
você foi
um livro



casamento no domingo

como uma viagem longa
dolorosamente nova
se revelando mágica
única pessoal intransferível

ah, como eu queria te

contar

contigo

não consigo

sigo
contido
e descontente

vendo o mar
(som sem palavras)
revelando e encobrindo pedras
enquanto o bem-te-vi
pousado num vergalhão
entre a água, o cais e o caos
nada vê além do escombro do beco
e cala o seu vôo

26/05/2013

início, despedida e metamorfose

começam-se
vendo o que não é
e querendo ver mais

aproximam-se
dois anjos
de mãos em paz

tateiam
verbam compreender faltas
inventam compartilhar colos
(almas sem armas
que tecem sutilmente
amarras)

passam-se passos
e crono_logicamente
os sorrisos se tornam devassos
a leveza perde-se em tristeza
ambos enjoam-se
enojam-se

atacam-se gravemente
pelo grão de farelo no carpete

depois
sem saber voar
criam a coragem
para lentamente
cortar
(não acreditando que estão cortando até o tombo)
a longa corda tecida
sonhando a última dor

então
de volta ao chão
restam lembranças boas
(que esqueceremos)
amigos
(que não seremos)
e chinelos pequenos
em apartamentos vazios

terrorismo sonhado

meu sonhar sonha
uma bomba atômica
na morada antiga

indefensável,
cai do helicóptero
no alto da rua
no meio da festa

agarro-me às paredes da casa
de costas pro brilho

espero o som absurdo
aguardo
desesperado
o tremor o terror a radiação
cada célula deixar de ser

acordo
inteiro
então

arroubos de glória num condomínio fechado

na hora exata em que paro
sobre minhas dúvidas
para olhar o nada
no sétimo andar do bloco quatro
com a luz acesa
a janela aberta
duas meninas tiram lentamente
a roupa

conversam
vão na cozinha
somem atrás de paredes

camisas brancas
moletons risonhos
cama vermelha
atrás da cortina de um sonho

tudo exato
sob estrelas extintas

não sei

se me tento
ou se me lanço

se me toco
ou se me canso

na dúvida
(maior que eu)
destes olhos cansados de estréias
deixo a luz de Deus tocar
em seus seios sagrados

25/05/2013

todos os idiotas que conheci tinham certezas absolutas

todos os idiotas que conheci tinham certezas absolutas

adamastor não
adamastor só tinha dúvidas
e pontos de desencontro

eis um caso:
namorava uma pequena
sempre fora de casa

desde que ela percebeu
o limite no lar
entrar
virou meta maior

ela batia na porta
ele não abria

ela chorava pedia batia brigava
ele irreduzia

por anos
amaram-se na metade afiada do medo
imaginando segredos

ela tentava arranhava exigia
ele trancava e repetia cheio de lógica:
"O casamento é a derrota biológica do homem."

ela interfonava
ele não atendia

ela mandava carta
ele não abria

ela esperava na porta
ele saía pela janela

foi quando
sobre uma almofada de luz sólida
como que percebendo a existência intraterrena
e tudo o que ele próprio temia
numa virada filosófica
adamastor amou

(luz sólida)

amou sem agonia
sem pontos de fuga
sem rima
inteiro verbo de ligação

preparou a casa com primavera
perfumou as rosas
aparou os pelos
semeou futuros
escreveu uns versos
destravou janelas

desde então:
na quarta ela não podia
na quinta se complicou
na sexta se atrasou
no sábado
ligou bêbada
e disse que não ia

23/05/2013

exame

meço o plexo
lupa de fora
fora de nexo

foco:
facas navalhas espadas fogueiras
                            dentro do vermelho

raios X
no vazio
do vazio

                          tempestade de chamas

        soco

o peito expulsa
            o medidor
ao ritmo de um tambor

cor:
sangue sem água

há mor?

*

algo por dizer
barba por fazer
não faço nada

*

espelho
espelho

eu?

o fio dental nos dentes
desliza dentre os espaços
de todas estas células mortas e vivas
estes carbonos de estrelas antigas
que nos constituem como Falta

para quê?
para onde?

o céu da boca cala
bio e logicamente

o sapato aperta

e a dúvida vai
com a unha encravada
no sentido
                  da palavra

20/05/2013

balões na capadócia

imagínio intensidades

imensas

(a)puro o olhar:

relógios
perdendo
nossos segundos

seguindo

telas
perdendo
nosso tempo

canto a palavra
que quebre o encanto

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além do facebook

arte que arda

19/05/2013

o vampiro do teatro

o que for em vão será pra mim

a música une
e me afasto
impune

nesse outono de nuvens
(quase inferno)
quase inverno
vergamos sob o peso do crepúsculo

um copo de mate
beija a boca do horizonte
extremamente doce

violáceo

violento
o dia
adia dores

e se cobre
com a noite fria

16/05/2013

nuvem

escrevo
sob o mesmo silêncio
de um deus que pintasse
os céus de outono

15/05/2013

crescente um outono noturno

vejo a lua mais triste
beijando o prédio gelado
ensimesmado e em riste

a ruga
faz desenhos
na testa

outros fora farão festa
aqui dentro faço feio
(nos meus olhos passo frio)

meio ouço jazz
mas devia não dever
pra ter a paz de um rio

14/05/2013

da mudança

quero uma casa
sem construí-la

poder tocar-te, frágil,
com dedos de piano
sem perder o tato

saber levar por ti
o peso da vida
em teoria leve

não

que a poesia não seja
uma palavra aliviada,
mãos em vício breve

é tempo de argila:
vida a ser reinventada

quero uma casa:
vou construí-la

13/05/2013

ouroboros em dois braços

a noite grita minha paz
em canto

pássaros pousados
no que houver
olham

o início comendo o fim
com a boca cheia demais
pra ter voz

12/05/2013

11/05/2013

dois

o som de passar
manteiga na torrada
acorda a revoada
(imaginária)
do passado mar

essa capacidade de ouvir
(presente)
carinho no silêncio
e bem-querer no odiar,

essa cumplicidade de doar
sem doer
nem se perder,

há?

*

meu pai
minha mãe
quaisquer casais depois do depois
pergunto:
há ainda Dois?

*

na minha infância
os aviões falavam
tinham rosto

agora
look as faces
sem Vôo
sem ela

não relaxo antes de dormir
e acordo tenso
cuspindo sustenidos ais
pelas janelas sem ouvidos

(mas meus pais
ainda me amam
com aquele olhar)

amodores aumentam
os ombros o corpo o tempo
percorrido na trajetória
de meus passos de dança fugaz:
2 pra frente, 2 pra trás

10/05/2013

quase aos 40 do segundo tempo

esquisito:
sei quando gamo
mas não sou quando amo.

amo
mas não cedo
amo
pelo meio
amo
pelo medo de amar
amo e odeio
amodiar...

isto dito,
a esta altura do campeonato,
cabe aceitar o fato
e fazer um poema bonito.

09/05/2013

ouvindo a música

a vida verdadeira
não tem pra que nem por que

é dança infinda
salamandra na fogueira

krishna khrisna
hare hare

08/05/2013

rocha moída e vento de sonho

meu avô, meu bisavô
minha casa de areia

um faz pro outro um berrante
pro passado que passeia

sigo o rastro do que somos
e a saudade serpenteia

07/05/2013

yin e young

a vida como ela é:
a mulher quer mudar o homem
o homem quer mudar de mulher

ninguém agüenta a dúvida:

os a-dor-a-dores de deus
e os da liberdade
cantam alto
(pra se convencer)
certezas de mármore

05/05/2013

necessidade ávida

eu me jogo na vida
mas a vida
é onde?

04/05/2013

sol

escondido
o não permitido
sobrevive do mito
do fundo
do mundo:
do sim

obscuro
o não permitido
parte vôo sem asa
do muro
futuro:
de mim

absurdo
o não permitido
expulso em palavra
esmurro
extirpo:
en_fim

pão de phôrma




                                                             a forma


                                                      deforma


                                                         o poema




editoras                                      vernáculas
pedem palavras difíceis e formas complexas
                  de professores com vocabulário
                        (e sem um pingo de poesia)

                           prefiro poupar quem lê
                                postando no blog
                                    algo a dizer

arte

a pele apela no embalo:
um fim, um início, um parto...

parte do corpo calo
parte, arde

03/05/2013

intraterrenidade íntima

o extraterrestre cambaleia letras
remorsos, perdas
furacões em caracóis

cava a cova do buraco no céu
com seu olhar de lá
de qualquer dali
salvador de outro lugar
alto e longe e outro

espaço

nave

lucy

onde andarilha lucy?

sonha a dor do parto
(mas não parte)
da perda
(mas não joga)
estranha filas, filhas, pires, horizontes
onde afinal cair
na palavra casa?

02/05/2013

papel para presente

deito no perfeito.
desembrulho com os dentes
o estômago lento

01/05/2013

no fundo do armário

meus diários estão amarelos
de tantos elos
partidos

por todo o dia

investigo a minha noite
a minha maneira, a minha morte
instigo a parte que escreve pro outro ler
e escuto o silêncio

29/04/2013

um sonho não meu

esquistossomos:
sintomas esquisitos
somos

o outro nunca é um livro aberto
e, folheando-o,
saem serpentes
sobem por seus braços
misturam-se a seu ser:

somos o mesmo

28/04/2013

pipoca

a poesia
saliva e salva

(palmas para Jesus)

um meio do indizível
se aproximar do impossível

casca de milho
presa na gengiva

entre o quase
e o pus

26/04/2013

maior

o mundo calmamente observa
mosquitos nos pneus
guerra, fome, epidemia

tudo silenciosamente observa
o sol voltando no outro dia

imagem: NASA

25/04/2013

vermelho tarde

meu romance mora
numa casa sobre o rio
longe, longe, quase impossível

uma ponte
entre o corpo poente
e o sonho distante

imagem: Irene Becker

23/04/2013

ja_nela

a casa rui
desaba
finda
escapa
flui

(sob um sol apático
e convexo)

porque
alicerçada
em alguém fora dela?

ou por causa do muro
concreto duro
plexo sem
janela?

poema molhado em imagem

da lama ao belo:
troco meu castelo
por papel-toalha

imagem: Terry Richardson