31/03/2014

até ver a luz de casa acesa

vespero escarros num vespeiro

fora de área
fora do ar
fora de mim

não sei se fugiu
não sei se caiu
não sei se esqueceu

errado, o dia se alonga
(fora o trabalho, passa rápido a vida)
eu ilusado, ávido de algo certo

lálonge trovejam nuvens
entre o dia e a noite
entre o novo e a morte...

mas não olho.
faço questão de não apontar o sonho
pros perfumes que esqueci

29/03/2014

cisma

não deixo
o louco sistema econômico
me definir profundo

a palavra poética
pode dar prejuízo ao meu bolso
mas beneficia o mundo

28/03/2014

molde

andamos ruas tortas
dentre muros pixados
por jovens gritando errado

os jovens produzem homens

as fábricas produzem fumaça
e seduzem homens
a derreter seu tempo jovem
sem nem tentar mudar mais nada

27/03/2014

gota

hábitos arranhados
no disco da mente:
descontente
descontente
descontente

baixo seu volume

rio sua rima
da montanha até o mar

26/03/2014

p r n d

p r n d - no painel da super máquina
equipamentos os mais variados
luzes coloridas que acendiam e apagavam
trilha sonora animadora
módulo de super velocidade
e a legenda oculta adulta futura:

- para onde?

(e todo carro que tenho agora
é decepcionante)

25/03/2014

22/03/2014

vila lobos

na tranquilidade
a música se personifica
entidade

bares viram casas

asas suaves de som
e sonho

21/03/2014

estudo do movimento

(Para M.)

corpos se tocam
acumuladamente

corpos se prolongam
serpentes

ritmos em silêncio

dança para olhos fechados

19/03/2014

araponga

canto de ave
mais leve que sua plumagem:
som de bigorna

15/03/2014

a escada da meditação

compaixão
sem paixão:
o amor na ponta de um mundo irreal

livro livre
página em branco
ponta de lápis pronta

mais fácil comprar
um óculos novo
do que mudar a visão

dentro
palavras nascem e morrem e renascem
aqui no silêncio que observo

agora entro

calo queixas continuamente
pra não doer meus calos
e o queixo piorar
(trancado)
num circunflexo
(plexo solar)

absorvo
eu
morto vivo
pela paz

reedito
reinvento
recomeço diferente
(a porra toda)
nem que seja eternamente

falha a calha da chuva
quando não chove?

calo novamente
o poema que não faço
até ele me explodir

rio

nada mais macio
do que uma pedra
moldada pela água

13/03/2014

desejo

queremos:

somos símios com vontades e contratos
doravante denominados partes
(realmente se sentindo incompletas)

vivendo uma vida individual
temendo uma morte individual
sem tocar a eternidade não nascida e imortal

e no esforço de não ser o silêncio universal
nos resta um pingo de arte
e uma infinidade de sofrimento

11/03/2014

convergência

Para M.

tudo melhora
circularmente, infinitamente, silenciosamente
a lótus flora

08/03/2014

por enquanto

Para M.

sem pensar em ir
o passo dado

sem passado
o ladrilho
sob o pés gelados

branco o teu abraço
constante brilho
com tanto desencontro
lá fora nas janelas

eu quis uma casa
e já estávamos nela

devagar e longe

(Para M.)

ouvindo jazz
e ela me chamar de cônjuge
enquanto chove fora das janelas

03/03/2014

o sagrado

Para M.

um corpo em formato de ninho

lá fora
sorriem e dançam
nos intervalos de uma vida sem sentido
mas precisam beber para tal

aqui dentro
enquanto meu corpo definha
defino precisão, relaxamento e atenção
a cada respiração
e não me salvo
(mas me deito)
num corpo em tato de ninho

bocas se acham sorrindo

nos intervalos
tento agarrar com letras
um fantasma que sempre escapa

o detalhe entalhado no silêncio:
dentro é fora
fora e dentro

se as perguntas nos movem
todas as respostas
que não nos parem
estão erradas:
está tudo em seu lugar