29/01/2015

vencendo

o silêncio
vem sendo
a palavra

falamos o dia inteiro
com e sem nexo
mas o mais profundo
é o abraço antes do sono
depois do sexo

o forte
de todo poeta:
a sua morte

27/01/2015

o grande tropeço é a pressa

tenho trocado a poesia pelo silêncio
e o plano pela curva

tenho parado
no meio do movimento
sem ter nem a mim

25/01/2015

19/01/2015

because the night

eu me calei
até as mãos coçarem

depois calei mais apertado
até o céu desistir
e a noite de novo vir
do mesmo ovo estrelado

não foi bom
não foi mau
foi a sombra de um grito musical
que saiu quando ouvi um rock bom

dançar porém no pasto

escrevo adiantando o passo
do espaço onde não estou

eu todo cadarço
na lama

e o falso refúgio que não vem
e quando vem, não basta
e quando basta, passa

18/01/2015

coma ovo - não coma ovo

múltiplos mundos e verdades:
um pra cada observador

todos os cientistas concordam:
a certeza de hoje é o erro anterior

nós, os 7 bilhões de observadores deprimidos
não acreditamos muito em nada
e seguimos nascendo, competindo e morrendo
sem achar sentido
olhando sexo no celular
ou mortes na TV

a depressão pode salvar o mundo
(e a vida)
dessa humanidade distraída

15/01/2015

yellow - coldplay

esvaziar a cozinha das comidas estragadas
purificar com a chama do fogão
e cabelos compridos no chão
vou de mãos dadas com o universo
pela casa cheia de nexo
encarando a música de amor padrão
jogando fora o lixo
pra poder nascer a star
no crucifixo do plexo

13/01/2015

água agora da Nestlé

estamira na tela
a pausa em estampido

altamira que tentamos esquecer
num mundo que oferece
cada vez mais produtos
e distrações

(escrevo com a televisão ligada
e pessoas caçando fantasmas com água
em manicômios abandonados)

sinto saudades de tupi
e de olhar a lua
e de olhar a ti

soldados morrem no longe
crianças com fome no longe
altamira no longe sempre
enquanto valentes
seguimos de oito às cinco
atrás dos salários próximos
guardados por policiais
fardados
atirando balas de borracha e gás
nos vândalos que fogem dos currais

10/01/2015

mar-in

as pessoas no carro, ônibus e trem
indo ou vindo atrás do pão
as pessoas no avião, cavalo e navio
com a boca toda não
as pessoas assim
não chegam

voo pelas palavras
numa nau só sim
sem pedir a mão
sem pedir perdão
aprendendo a não pedir

vou singrando um mar negro
pelas palavras
pelo sagrado
nesse apartamento vazio
iluminado apenas
pelos olhos dos que olham além de si

04/01/2015

o renascimento do parto - um poema

não sabemos mais nascer:
cesariana

não sabemos mais morrer:
UTI

e entre estes dois verbos brancos
fazemos de tudo
pra nos distrair

03/01/2015

meia-noite em copacabana

o fogo de artifício
- a arte -
tem o ofício
de acender a pólvora
da revolução
que está pronta desde sempre
no centro de sua imensidão

mas você adia
e se espreme
todo dia
com cara de limão
saltando - com cuidado - o vão
entre o trem e a estação
para chegar no horário
e receber
salário

reveillación

olho de fora os mesmos fogos
de artifício
sem me sufocar na multidão

pra mim é uma data qualquer
apenas com mais chance
de crime, acidente, loucura e suicídio

o homem celebra não sei bem o quê
sorri pra foto
e posta no face
fazendo novos planos autocentrados

depois toma comprimido pra dormir
pra não engordar
pra acordar
pra não deprimir
pra cagar
e sai pra trabalhar

(e ajudar a destruir o planeta)

01/01/2015

espalho espelhos sem me fingir espantalho

assim me recupero da vida
desde sempre
a vontade de compartilhar o que não sai na foto
curtir o poema curto
circuito imprevisível

Sorrir nas curvaS