25/07/2015

a walt whitman

o corpo aquece na presença do poema
a montanha se deixa tocar pela nuvem

inexplicáveis e naturais
como o mago e o poeta
a pensar além de sua mente
a viver além de sua morte

23/07/2015

sem querer

olho o mundo
vejo
eu profundo
deixo

15/07/2015

shortinho vermelho

num entardecer com quentes murmúrios
ouço os próprios hormônios gritando fome
enquanto lá fora guardas espancam famintos
e enterram os que se amontoam nas carroças
com sapatos brilhantes
e muitas telas

face aos que sorriem

facas aos fotografados

mostro meus dentes a quem amo, incisivo

azul facebook

oculto minha biológica fome
por vezes a acarinho
minha raiva meu cachorro meu vizinho
um mundo que insiste em entrar pela janela
que provisoriamente fecho pra escapar de mim
de meus hábitos 

todos os caminhos errados
mas a lua certa sobre o mar correto

então me agarro às palavras
como a criança ao voo
das gaivotas de papel

pressa de perfeição

a garra de um uivo
do mesmo lado de uma confissão
que sinto sem entender conforme cai
o brilho das letras - orvalho de paz

porque a luta é injusta
mas o velho verso é leve
como o fogo

14/07/2015

recomeço

enquanto o mundo fora de foco
o óbvio dentre os tiros da rotina
o mais logicamente saudável
perante uma atenção que dança tão rápido
e se perde sem espaço em todo passo provisório:

parar e silenciar

13/07/2015

eu menino

meu pai me levou ao maracanã
pra ver o futebol o fluminense o atacante
mas logo virei as costas pro jogo
procurando algo mais interessante

(feli)cidade

quantos litros
de sangue e raiva
me beberam mosquitos
enquanto eu adiava?

09/07/2015

Padmasambava em 3 linhas

a porta de saída
a porta de entrada:
o cansaço do mundo

08/07/2015

nelumbo nucifera

a raiz na ilusão de estabilidade
atravessar verticalmente verde um mar sofrido
para nascer aberto, além da lenda da própria mente

03/07/2015

m_ar

deixo a água
invadir meus sonhos
meus olhos
minhas intenções

todas as partes quase antigas
duras como rocha
que deixavam
todos à parte
enquanto meu fogo criava
poemas amigos sobre o mar

02/07/2015

CD O que não tem fim - Vital Lima

Sempre achei que um poema só ganha vida quando vira música. É algo como um grau maior de alcance, de universalidade, de completude. Sou apaixonado por música de qualidade. 

Imaginem minha felicidade ao ouvir pela primeira vez o maravilhoso CD "O que não tem fim", de Vital Lima (por enquanto, à venda aquiaqui no iTunes), com meu poema "crisálida de carne" transformado na segunda faixa (com um violoncelo lindo, de Luciano Correa), abrindo o espaço sideral desse encontro de artes para um infinito muito maior do que a soma das partes. O trabalho de Vital é imenso, intenso e múltiplo. Diferentes tipos de melodias e de letras nos remetem a Ivan Lins, Oswaldo Montenegro, Zeca Baleiro, mas - ao mesmo tempo - totalmente originais... Essa músicas também nos lembram nomes dentro de nossas próprias histórias, que muitas vezes fingimos esquecer, mas continuam lá, no canto mais escuro do céu, apenas esperando a sequência de notas certas pra brilhar mais forte. 

Os muitos poemas musicados nas 14 faixas do CD nos fazem questionar como alguém processa tão bem letras quietas no papel em sons de beleza universalmente compreensível.

Apesar de várias parcerias com músicos que tive a sorte de conseguir, é a primeira vez que leio todo bobo os versos do meu poema no meio das letras das músicas de um CD profissional (sensacional). Vinícius que me perdoe.

vital lima - o que não tem fim