30/06/2017

Tá quase explodindo...

A paixão (e o casamento, acoplado) segundo a ciência durava 5 anos, no máximo. Depois, passou pra 3 anos. Agora, vários especialistas de diversas áreas já falam de 2 anos. Contagem regressiva. Em breve, ignição: lançarão o foguete da paixão pra lua. Feliz ano novo!

ensaio para um poema erótico furando a greve dentre outras coisas

vim fazer um poema
pra me fazer
dormir

o sorriso quase imperceptível
dos olhos dela me lendo
melando a lua de sua roupa
não está no tinder
nem no céu
nem no inferno

sete passos automáticos:

a boca minha se perde em seu alvo
sabendo que sabe beijar
completo e paciente filme
até o feminino
gemer the end

dedos a sete palmos

prosa
nos levaria aos planos da cama
mas
muitos silêncios e espaços
nos levariam a nós

estamos em greve

volte sem temer amanhã

27/06/2017

re_moinho

quando a água invade
minhas teorias
meu silêncio
toda ideia de ordem parece antiga
a falta de paz não castiga
os móveis flutuam
os cães mordem os móveis
todos abraçados
(pela água)
(pela cor)

quentes

inexatos

felizes

todos dançam
danificando a solidez
que nunca houve

tudo se molha

e a água invade
quando ela
me olha

repoética

campo bonito
é o de flores feias
com poucas cores

nascem entre o gado
e a areia
(entre dores)

morrem sem perfume nem espinho
se movem se há vento
bebem se há moinho

:)

geminiano sempre fala demais
escreve demais

um minuto a mais de silêncio
e tava tudo em paz

mas...

26/06/2017

para a delusão de carol rosim

não sou romântico:
estou romântico

até

porque

a menininha ruiva
a menininha ruiva
a menininha ruiva
a menininha rui,

charlie brown

encanto

meus encontros
me sorriem a face
até desmarcarem-se
na véspera

penso seriamente uma forma de sorrir
como se tivesse um encontro
não desmarcável
sempre no dia seguinte

constante e incondicionado:
riso inventado

porque os encontros reais
os encontros mesmo
são não sãos
são contos imperfeitos
(dariam bons livros)
feridos se ferindo
fugindo mais frágeis que antes
piores que antes

os encontros são castelos de cartas
cada vez mais altos
(mãos cada vez mais trêmulas)
- porque não me encontro

25/06/2017

as pessoas

as pessoas são inalcançáveis

as confusões se tocam
tentam se adaptar
e mudam

as pessoas são impossíveis

22/06/2017

bem-te-vi

quando canto eu trovejo
gargarejo montanhas

quando canto
não sou eu
sou a legião que canta
a legião que canto

mas quando me encanto
olho com olhos de fome
e acredito na fome
(polissílaba poliamorosa)

mas tudo bem

pouco a pouco
sigo mais rouco
e um pouco menos louco:

- está tudo aqui

20/06/2017

Crítica: Garotas - O Filme

Como um filme tão ruim (completamente ruim, totalmente ruim) como "Garotas - O Filme" teve críticas tão pacientes?

Não é nem comédia nem drama, mostra garotas riquinhas, alienadas, superficiais e novinhas o tempo todo quase nuas e se pegando. E é isso. The End. Eis a grande atração do filme, como nas antigas "pornochanchadas", só que com atrizes mais novas. O "dilema" de uma delas querendo mudar de vida não dura nem 5 minutos. A briga parece piada de tão mal feita e também não dura nem 5 minutos.

Elas passam o filme fazendo ou falando de sexo de forma banalizada, bebendo demais, se drogando, "curtindo"... E tem crítica falando como se isso fosse algo feminista ou uma louvável "atitude rock and roll"...

Por mais que isso seja mesmo o retrato da "night carioca" e dessa geração "sem pais que consigam dar limites", um filme inteiro só mostrando isso é um saco. Tipo aturar bêbado. E o pior é que fora do submundo das 3 personagens principais, o filme é ainda menos interessante, com atuações e roteiro ainda mais lastimáveis.

É um filme quase do mesmo nível de "O Último Virgem" (que consegue ser ainda menos interessante). E muito pior que "A frente fria que a chuva traz", com ótimas atuações, direção e roteiro. A impressão que dá é que tentou seguir o mesmo caminho, de retratar o caos de uma juventude drogada, superficial e rica, mas se perdeu na tentativa.

o chão da cidade

(Para Lama Padma Samten)

o chão de onde brota a vida
está muito fundo na cidade
para brotarem flores

esquecido
soterrado por cimento

o povo passa e cospe chiclete e câncer
no chão da cidade
sem segredo nem sagrado

economia e pressa e breu:
(eu eu eu)

a vida segue mais violenta
pois o chão da cidade
nos separa de nós mesmos

(inspiração)

lá é aqui

outra forma de olhar
outra forma de agir:

sem separar
lá e aqui

19/06/2017

desfazendo amor nos tempos da luz líquida e rasa

nunca vi tantas fotos sorrindo
e tantas pessoas deprimidas

tantas mensagens de paz
e tanta gente ansiosa
(num mundo em guerra)

me calo perante um labirinto de musas
um passo atrás no vazio
da noite

o escuro apressa
minha pressa
e minhas presas alvas
buscam a próxima presa

faço porque passo

minha dor procura
a próxima poesia
não como arte, compaixão ou ternura
mas como cura
como fazer

assim não paro
não paramos
e fugimos da dor maior
do sozinho absoluto
fazendo longe das fazendas

variam as distrações
mas é cada vez mais raro
Fazermos

é tempo de desencontro
onde todos querem algo
que não Fazem

ninguém mais consegue Fazer
nem por vontade nem por distração
porque temos
um celular na mão



16/06/2017

encontro marcado

quando tenho um encontro marcado
o éter brilha o olho
o ar acalma lentamente os pulmões
o fogo aquece e cura cada célula
a água desce pelo corpo soltando cada tensão
a terra está estável, a sala está estável, eu pareço uma montanha
o espaço se mostra muito amplo, maior que o encontro marcado

quando tenho um encontro marcado
desejo que todas as pessoas
tenham um encontro marcado

quando tenho um encontro marcado
mesmo sabendo da delusão do eu e do encontro
consigo ver a luminosidade e a vacuidade
do eu, do encontro e de tudo com mais cor

(e o corcunda da esquina um pouco menos corcunda)

15/06/2017

tour no quente

a vítima prende o vampiro
no hábito da boca

(voracidade de virgem)

um filete que forma
a coleira invertida
vermelha

a vítima voraz
cultiva vampiros

infec-são

caninos
nada femininos

ando cansado de não estar pronto
ando cansado de ficar puto
ando farto de não ter compaixão
com as poetas que lentamente me matam
porque deito
porque deixo

as musas românticas são cáries
que não tratadas
doerão mais depois

extração:
estar são
em qualquer estação

(star,  star, por que céu da boca andará star...)

dor quebrar hábitos brancos de poesia
sem anestesia

o caminho
a certa altura
dói mais que o samsara

boi boi boi



mulheres

não sei bem em que rinite
perdi a capacidade masculina mais importante:
quanto mais vontade
mais não ligar no dia seguinte

você lê um blog inteiro correndo
feito um idiota
e a pessoa nem nota
que seu nome não tem acento

eu quero cortar todos os cantos sagrados
da minha estupidez cumprida
deixar o hábito ensanguentado exposto
para o gosto das curtidas de desconhecidas

nosso tempo

é isso mesmo, ancião:
cristãos tatuando o nome de cristo
na testa do ladrão

pessoas reclamando de joguinhos e solidão
e fazendo muito pior
com quem aparece disposto a tentar em vão
(com tinder ou não)

e nós que tratemos de olhar
pras nossas próprias falhas
e pra poesia das árvores
(em suas próprias folhas)

as árvores não somos:
nós não atamos
mais
nós não amamos
mas
as árvores fazem sentido

14/06/2017

talvez (peterson)

levo isto no peito:
acariciar com letras
mulheres eleitas

estrear musas
estreladas
confusas ou não

são várias
mas uma por vez
e todas imaginárias

um parafuso a menos?
musas demais?
pior é nos jornais...



ruiva G

ela nunca chega na hora
mas sempre sai cedo demais
(e guardo nossos banhos para sempre)

a gente colado é bom
no ápice
e no sono posterior

ela fala pouco e baixo
tem uma timidez
meio tristeza
meio cansaço
profundo e leve

cada passo
meu
leva ela junto

o poema de carol

o poema de carol
quer repetir infinitas vezes
o nome de carol

fonemas vermelhos (sem pare)
prolongando crepúsculos a dois
até a ponta destes cabelos
até que a sorte nos separe

coros de gemidos
comigo perdido entre o fogo do seu pelo
o branco nu da pele
e a suavidade dos seios

o poema de carol
quer afirmar carol, reter carol, parar carol
no meu tempo
no meu fascínio
no meu desejo vivo iluminando além das palavras

quer parar tudo
dentro daqueles braços leves de escultura
e findar todo o mundo em mármore
(na paz do teu corpo fino)

o  poema de carol não tem jeito:
está preso como o piercing
perto da boca de fruta
dentro do sonho do nariz perfeito

o poema de carol
tem que falar das orelhas pequeninas
das mãos de menina
da voz de aconchego
do beijo doce

carol é palavra que queima
sem se ver
ferida que acelera o peito
para dentro da noite
(e por todo o dia se sente)

poema imaginário para Mariana Manelli

o melhor perfume
é o cheiro natural da bela musa
misturado ao do sabonete
na proporção exata do lume
em quer as cores dela
sem impregnam no que vejo
(com beijo ou sem beijo)

relação (ou mais um poema que não trata de fósforos)

ainda não tenho a visão
para ultrapassar a reciprocidade
pela esquerda
depois da curva

mas a vontade
mas a velocidade
o vento na cara
o ronco do motor
o final da curva...

em geral
dá nisso:
acidente

abundância (ultrapasse a reciprocidade pela esquerda)

corpos de penas
corpos de asfalto
pedaços de corpos celestes

falta de ar
por causa de outro corpo
outro rosto
outro olhar

eterna
falta de visão
causada pela falta de silenciar
causada pela divisão
do que sempre esteve, está e estará
inteiro

13/06/2017

Para Camila Santos

quando parece que tá tudo certinho
organizadinho
perfeito
eu ou a vida ou ambos jogamos a porra toda no chão

escrevo com ou sem dentes
com ou sem motivo
com ou sem musa
com ou sem maiúsculas
com ou sem mão

o mundo insiste em produzir poetas
o caminho, pedras
o vento, alimento para as letras
prazer
sofrimento

seguimos
(no mesmo lugar)

menos siso

no espaço estacionário para onde volto
uma teimosia chamo de eu
(sem chama)

a chama é além disso
surpreender purificar
agir duas vezes antes de pensar
mas na direção certa

correr pra fora do buraco
o mesmo buraco do hábito
o  mesmo buraco onde caíram todos os antepassados
e cobrimos de terra

o buraco da música do wando
de pessoas velhas se guiando errado
conversando errado
repetindo errado
no planeta cariado
(e bebendo pra esquecer)

o fumo que firmam no trago
(fumo do emprego fixo)
(fumo da paixão como salvação)
eu solto no traço
em sumo
(e sumo)

o que interessa desse monte de teoria é isso:
o que faço

12/06/2017

Meditação em Botafogo

Trânsito e obras
Pernas e calçados
Pessoa ao lado no banco
Britadeira e caminhão
Ambulância branca e pombos pretos

Vem
E
Vão

Voo
E
Fico

Esperando o cinema abrir

10/06/2017

breve elogio ao morno

Quando você mergulha em atividades mundanas que te dão muito prazer, a tendência é a meditação ficar mais difícil uns dias. Suas energias ficam agitadas naquela ilusão, a mente não se acalma mais tão facilmente, fica revivendo o momento de prazer ou racionalizando formas de mantê-lo ou prolongá-lo. Como se tivéssemos agitado um copo de água cristalina onde o barro já estava depositado no fundo, obscurecendo novamente toda a água.

O outro extremo, a dor, é útil para quem não está nem aí pra profundidades psicológicas, filosóficas ou religiosas. Só vê as coisas do mundo, não quer uma conexão mais profunda ("espiritual" não é uma palavra boa por não ter nada a ver com a ideia de "espírito" ou "alma"). Mas para quem já está praticando, o efeito da dor extremada é parecido com o prazer extremado: agita a água, agita a energia. Só que em vez de ficarmos racionalizando formas de manter a sensação boa, ficamos racionalizando formas de evitar a sensação ruim.

Se você consegue manter uma visão mais ampla em qualquer dos dois casos, menos agitação na água, melhor. Mas o ideal para iniciantes como eu: evitar extremos (e assim, apego e aversão) e seguir pelo morno caminho do meio.

07/06/2017

alto lá

o posto fincado:
traçar um caminho nas rochas
e seguir pelo céu rajado

o salto requer
não querer nem
o salto

distração do eu torto
no silêncio sólido da montanha
o rio descendo pelo corpo entregue ao dia
sem a aranha da ira, quente por si
trocando com todos: ar, ideias, palavras, energia
o sol nos olhos

paz_chão

Eu mesmo não acredito por onde estou indo. Eu releio sabedoria e medito. Eu por dentro grito: eu, eu, eu! Mas sigo, consigo, conciso. Paixões pelo caminho.

(Texto do Budadarma editado pelo CEBB, p. 151)

insônia leve

as ondas continuam chegando chegando
no escuro
se alguém as ouve

06/06/2017

queimando dinheiro

O início dos primeiros passos para fora dos hábitos arraigados vão parecer uma loucura. Uma sensação real de estar queimando dinheiro ou desperdiçando oportunidades... Mas só mesmo agindo assim é que a gente sai dos mesmos ciclos do samsara.

05/06/2017

voo repetido

o dragão guarda seu fogo
para a hora mais exata
(fim de jogo)

o dragão é a mais perfeita
máquina de colheita
de dor

você coleciona derrotas
o dragão
queima amor

contatinhos

a musa nua
muda:
o poema continua

02/06/2017

Desautomatização

Algo chama a atenção. Brilha fora por estarmos cegos às sutilezas do processo: nós produzimos o brilho internamente e atribuímos ao objeto. Parecemos melhores com o objeto próximo. Depois é automático: querer estabilizar o brilho, pegar só pra nós, proteger de ameaças que possam afastá-lo de nós, não perder, manter a sensação boa. Hábito tão profundo que nem notamos outras opções de agir. Acontece tão rápido que não percebemos que há liberdade. Assim fazemos nosso prato no self-service, casamos ou compramos um carro novo.

01/06/2017

a sociedade empurra para um lado mais cego

apago com o ego aplicativos na noite enorme
dormem infinitos futuros possíveis que não nego

a diferença entre eles não interessa inteiro:
são todos sonhos
todos pesadelos

a noite grande
aceita estrelas e pregos
vitórias e perdas

palavro anomalias
sem construir castelos

troco infinitos elos artificiais
pelo fogo amarelo

viveu ou morreu
a noite alta
sem eu?

direção: pra dentro

no centro do deserto
o som da última pétala morta
tocando o solo desperta
a imensidão caudalosa da solidão