você vai achar que é mentira
mas às 16:49 do dia 31 de dezembro de 2014
enquanto meu coração cansado mastigava bananada
vendo woody allen antes de meditar
brotou um besouro no meio da minha sala
no nono andar do prédio
ar condicionado
todas as janelas fechadas
um besouro preto nada simbólico
barulhento
enorme
daqueles que minha avó temia
saltei e abri as persianas metálicas
depois as artificiais janelas de vidro
e ele conseguiu sair
com algum sofrimento
(que nem cada poema que nasce)
- Fabio Rocha
- Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.
31/12/2014
um novo tempo
a alvorada pinta de nuvens rosadas a tela do ar
mas a menina vai cabisbaixa:
brilha a tela do celular
mas a menina vai cabisbaixa:
brilha a tela do celular
Poesia temática:
anti-consumismo,
anti-deshumanidade,
anti-tecnologia,
autocrítica,
crítica social,
poesia,
poetrix
30/12/2014
polissílaba
catar pedaços do que se perdeu no tempo
areia foto sentimento
deixar buracos lado a lado
telas e teias tapando
uma mulher que se penteia
descobrir de quando em vez
o roteiro de partes de alguém ninguém:
um perfume perdido
um vislumbre antigo
um toque amigo
ratoeiro a mim mesmo molhado de tempo:
um frasco de fracos instantes
perante a grandeza da falta
polissílaba
areia foto sentimento
deixar buracos lado a lado
telas e teias tapando
uma mulher que se penteia
descobrir de quando em vez
o roteiro de partes de alguém ninguém:
um perfume perdido
um vislumbre antigo
um toque amigo
ratoeiro a mim mesmo molhado de tempo:
um frasco de fracos instantes
perante a grandeza da falta
polissílaba
Poesia temática:
insatisfatoriedade,
melhores poemas,
neologismo,
poesia,
tempo
29/12/2014
planos cadeados de mudar adiados
ouço sons no vácuo
um braço se estende
fora de um caramujo
apenas pra pedir
que se afastem
(sonhos atropelando sonhos. amor distante. horizonte.)
enquanto isso
sem chorar
dentro do cômodo fechado
o ar condicionado movido a índios alagados
ronrona um incômodo
e jogo no lixo não reciclado pela prefeitura
outra fruta mordida vinda de longe
que irá pra longe (gastando petróleo, produzindo CO2)
para virar chorume
um braço se estende
fora de um caramujo
apenas pra pedir
que se afastem
(sonhos atropelando sonhos. amor distante. horizonte.)
enquanto isso
sem chorar
dentro do cômodo fechado
o ar condicionado movido a índios alagados
ronrona um incômodo
e jogo no lixo não reciclado pela prefeitura
outra fruta mordida vinda de longe
que irá pra longe (gastando petróleo, produzindo CO2)
para virar chorume
Poesia temática:
autocrítica,
budismo,
crítica social,
ecologia,
energia eletrica,
eu,
indios,
lixo,
loucura,
meditação,
melhores poemas,
poesia,
reciclagem
26/12/2014
férias
passado o natal
deixo a manhã passar ao sol
sem apressar ou distrair os retalhos do azul
detalho: árvores balançam na brisa
na rua mesma, tão outra
tão em paz
pastam ar
uns urubus no alto
enquanto deixo passar o asfalto do trabalho
sinto o fruto do silêncio:
palavras escritas esperando folhas brancas
(pesam)
adio amadurecer
enquanto musas adiam meus sonhos românticos seus
(rezo)
vejo sem agarrar os futuros possíveis
e lembro o espaço que havia no passado
o mesmo espaço que ainda há
que sempre haverá
com mãos leves
adio tudo
(até deus)
e nesse espaço breve sem sons
fora o cheiro do bronzeador
fora o vulto da menina na piscina
fora reflexos e reflexões ondas afora
suo e sou
agora
deixo a manhã passar ao sol
sem apressar ou distrair os retalhos do azul
detalho: árvores balançam na brisa
na rua mesma, tão outra
tão em paz
pastam ar
uns urubus no alto
enquanto deixo passar o asfalto do trabalho
sinto o fruto do silêncio:
palavras escritas esperando folhas brancas
(pesam)
adio amadurecer
enquanto musas adiam meus sonhos românticos seus
(rezo)
vejo sem agarrar os futuros possíveis
e lembro o espaço que havia no passado
o mesmo espaço que ainda há
que sempre haverá
com mãos leves
adio tudo
(até deus)
e nesse espaço breve sem sons
fora o cheiro do bronzeador
fora o vulto da menina na piscina
fora reflexos e reflexões ondas afora
suo e sou
agora
23/12/2014
meditação de natal
não se afogar
no oceano de Djavan
(longe de ti tudo parou)
caminho cidades cinzas verticais velhas
onde pessoas brotam nos muros
separando recursos:
grafites que arranham o som dos motores com pressa
de trazer o progresso e levar o sentido
somos mais do que pensamos sobre nós
somos mais até do que o brotar do novo nos muros velhos
somos mais até do que o brotar do novo nos muros velhos
ah, o eterno jogo de tudo surgindo a cada segundo do nada
agora
agora
agora...
não sou nada, Pessoa
não posso querer ser nada
caminho mais então
pra não me afogar
no menos
(o chacra laranja doendo a lombar )
Poesia temática:
anti-amor romântico,
budismo,
crítica social,
doença,
eu,
impermanencia,
meditação,
natal,
poemas psi,
poesia,
vacuidade
18/12/2014
ho ho ho
*
toda vez
no fim do ano
me vem essa pressa
de chegar não sei onde
me transformo em p-r-e-s-a
querendo mastigar não sei o quê
toda vez
no fim do ano
me vem essa pressa
de chegar não sei onde
me transformo em p-r-e-s-a
querendo mastigar não sei o quê
17/12/2014
confesso que voltei (um poema concentrado)
"olhar de forma mais leve
as flores e rimas"
aham
anotado
em cada enzima
porém
caninos
(porém
meus dentes brancos todos
doendo e se abrindo
até que voz)
a mulher quer casar
o homem quer filho
a mulher quer lantejoulas e os maiores cargos
o homem quer o supercílio do chato
ad infinitum
a mulher separa
o filho vira empecilho
o homem dispara na perda
fale a firma
falha a faca
ad infinitum
todos atrás da vitória
duas, três voltas atrás
infinitas vidas atrás
retardatários...
os homens disparam
nas próprias pernas
as flores e rimas"
aham
anotado
em cada enzima
porém
caninos
(porém
meus dentes brancos todos
doendo e se abrindo
até que voz)
a mulher quer casar
o homem quer filho
a mulher quer lantejoulas e os maiores cargos
o homem quer o supercílio do chato
ad infinitum
a mulher separa
o filho vira empecilho
o homem dispara na perda
fale a firma
falha a faca
ad infinitum
todos atrás da vitória
duas, três voltas atrás
infinitas vidas atrás
retardatários...
os homens disparam
nas próprias pernas
Poesia temática:
budismo,
eu,
jogo de palavras,
loucura,
melhores poemas,
poesia,
recomeço,
vida humana preciosa
o anjo
o anjo loiro (agora escarlate)
mantém o sol como face
seu olhar longo
me vulcaniza
(explosão nuclear, paralisia quântica)
seus cabelos
mudam de cor
seus trejeitos
sei de cor
é perda de tempo tentar
qualquer coisa fora de um poema
o anjo tem a expressão
(e o corpo abissal)
que te fazem instante
e estátua de sal
é natural
que voe distante...
mas abismado e celeste
sorrio sozinho
sem nem tentar mostrar as asas
aos cegos do caminho
mantém o sol como face
seu olhar longo
me vulcaniza
(explosão nuclear, paralisia quântica)
seus cabelos
mudam de cor
seus trejeitos
sei de cor
é perda de tempo tentar
qualquer coisa fora de um poema
o anjo tem a expressão
(e o corpo abissal)
que te fazem instante
e estátua de sal
é natural
que voe distante...
mas abismado e celeste
sorrio sozinho
sem nem tentar mostrar as asas
aos cegos do caminho
09/12/2014
samsara: retrato
equilibrando pratos
depois de pratos
depois de pratos
pratos caem
pratos surgem
pratos novos brilham nossos olhos e os queremos
redondos
pratos velhos nos enjoam e os largamos
redondos
seguiremos assim
circulares
vida após vida
(sem vida)
até quando?
depois de pratos
depois de pratos
pratos caem
pratos surgem
pratos novos brilham nossos olhos e os queremos
redondos
pratos velhos nos enjoam e os largamos
redondos
seguiremos assim
circulares
vida após vida
(sem vida)
até quando?
08/12/2014
luar kolynos
o poeta é o para-raios da loucura
(hastes flexíveis e diversas cores)
em noites vastas
pasta o silêncio da lua
com dentes moles
(entrega grátis de suas dores)
mas sorrimos às balsas
de boca redonda
com os caninos
(tentando vender felicidade - falsa)
(hastes flexíveis e diversas cores)
em noites vastas
pasta o silêncio da lua
com dentes moles
(entrega grátis de suas dores)
mas sorrimos às balsas
de boca redonda
com os caninos
(tentando vender felicidade - falsa)
na beira do campo
a garça parada estatua
do verbo estatuar:
atuar como estátua
(até tatuar o peixe de branco)
do verbo estatuar:
atuar como estátua
(até tatuar o peixe de branco)
26/11/2014
desoprimido
o deprimido
faz mais bem
que o comprimido
faz mais bem
que o comprimido
Poesia temática:
anti-consumismo,
anti-padrão,
budismo,
humor,
meditação,
poesia,
poetrix,
rima
25/11/2014
23/11/2014
18/11/2014
o outro
o sol me arde e coça
mas nado no imperfeito
e vou assim mesmo
o olho com brilho
a vida com jeito
mas nado no imperfeito
e vou assim mesmo
o olho com brilho
a vida com jeito
Poesia temática:
brilho no olho,
budismo,
estabilidade interna,
éter,
imperfeição,
meditação,
poesia,
rima,
samsara
14/11/2014
imenso e manso
a certa altura
o céu do coração cansa de planos
(ressaca de olhos)
seu quintal
(r)existe
calejado de mãos e esforços vãos
(e desiste)
só então o descanso:
perceber murmúrios constantes
de um mar maior
(e manso)
o céu do coração cansa de planos
(ressaca de olhos)
seu quintal
(r)existe
calejado de mãos e esforços vãos
(e desiste)
só então o descanso:
perceber murmúrios constantes
de um mar maior
(e manso)
Poesia temática:
anti-amor romântico,
anti-esperança,
budismo,
meditação,
poesia
13/11/2014
pra sempre
(em memória de Manoel de Barros)
se foi como vegetal
o maior poeta que li
em folhas de papel
tantos encontros verdes profundos
tantos amores embrulhados por suas palavras
revolucionárias
(agora me abraço a todos
no mesmo vento pantaneiro)
e os meninos e meninas que inventam inutilices
com os pés descalços na lama do tempo
sorriem o mesmo sorriso
se foi como vegetal
o maior poeta que li
em folhas de papel
tantos encontros verdes profundos
tantos amores embrulhados por suas palavras
revolucionárias
(agora me abraço a todos
no mesmo vento pantaneiro)
e os meninos e meninas que inventam inutilices
com os pés descalços na lama do tempo
sorriem o mesmo sorriso
12/11/2014
o mesmo
os abjetos psicólogos criam problemas.
os objetivos de seus bolsos sem objetos:
manter você no sistema
junto
bem junto
adjunto adjetivado do respectivo cargo
(respeitosamente)
os objetivos de seus bolsos sem objetos:
manter você no sistema
junto
bem junto
adjunto adjetivado do respectivo cargo
(respeitosamente)
Poesia temática:
anti-mercado,
anti-padrão,
crítica social,
eu,
poesia,
psicologia,
trabalho
11/11/2014
sentido-horário
calo a voz
de minhas mãos sem calos
os ponteiros rebobinam
o fio invisível do tempo:
aproximam
a morte
de minhas mãos sem calos
os ponteiros rebobinam
o fio invisível do tempo:
aproximam
a morte
05/11/2014
possibil-idade
arrumo sem arranhar os futuros
sem medo nem esperança
dos outros lados do muro
sem medo nem esperança
dos outros lados do muro
Poesia temática:
anti-esperança,
anti-medo,
budismo,
muro,
poemas psi,
poesia,
poetrix,
simbologia
31/10/2014
arde a tarde
vício de sacrifício
a perna tremendo sem frio
tic nervoso
tac nervoso
relógio ansioso pra outro fim de semana vazio
ah, o cheiro
do cheio
que não chega
a perna tremendo sem frio
tic nervoso
tac nervoso
relógio ansioso pra outro fim de semana vazio
ah, o cheiro
do cheio
que não chega
30/10/2014
funcionário
o mundo não funciona:
mas somos funcionários
(públicos na privada)
mudaram as linhas dos ônibus 8, 77 e 666:
a partir da semana vindoura
devem chegar 5 minutos mais cedo
afim de que cheguemos mais cedo pro café
e para nada fazer de útil por 4 horas antes do almoço
assim como nas 3 horas após o almoço
então saindo no mesmo horário previamente estabelecido
na resolução XPTO21 deste mesmo ano
mudou a excelentíssima presidência
logo
a diretoria mudou
e a nova diretoria
mudou as pessoas nos departamentos
e criou novas metas
os departamentos
mudaram de nomes
mudaram de siglas
DEJAT virou DECAT
DECRET virou DERJUP
DESTIN virou DEDAO
agora ninguém sabe
se mudar de sigla era parte do projeto de metas
ou se mudar de metas alteraria as mudanças de siglas
e assim seguimos mudando
(nada)
mas somos funcionários
(públicos na privada)
mudaram as linhas dos ônibus 8, 77 e 666:
a partir da semana vindoura
devem chegar 5 minutos mais cedo
afim de que cheguemos mais cedo pro café
e para nada fazer de útil por 4 horas antes do almoço
assim como nas 3 horas após o almoço
então saindo no mesmo horário previamente estabelecido
na resolução XPTO21 deste mesmo ano
mudou a excelentíssima presidência
logo
a diretoria mudou
e a nova diretoria
mudou as pessoas nos departamentos
e criou novas metas
os departamentos
mudaram de nomes
mudaram de siglas
DEJAT virou DECAT
DECRET virou DERJUP
DESTIN virou DEDAO
agora ninguém sabe
se mudar de sigla era parte do projeto de metas
ou se mudar de metas alteraria as mudanças de siglas
e assim seguimos mudando
(nada)
29/10/2014
a tempo
o tempo que me encurva
que me turva dentes
que me sangra gengivas
que me dói joelhos
que me engorda
esse tempo
esse mesmo tempo
é que devo gastar
esperando
a felicidade?
que me turva dentes
que me sangra gengivas
que me dói joelhos
que me engorda
esse tempo
esse mesmo tempo
é que devo gastar
esperando
a felicidade?
Poesia temática:
anti-esperança,
autocrítica,
budismo,
crítica social,
doença,
finitude,
melhores poemas,
poesia,
tempo
27/10/2014
vento na vela
ando debaixo da nuvenzinha branca
ao meu lado a grama
ao lado dela o azul
vamos no mesmo ritmo
porque venta
nem eu sustento ela
nem ela me sustenta
vamos pro mesmo lado
digam norte
digam sul
vamos pro mesmo lado:
lugar nenhum
ao meu lado a grama
ao lado dela o azul
vamos no mesmo ritmo
porque venta
nem eu sustento ela
nem ela me sustenta
vamos pro mesmo lado
digam norte
digam sul
vamos pro mesmo lado:
lugar nenhum
Poesia temática:
amor livre,
budismo,
desapego,
eu,
impermanencia,
poesia,
rima
to tinder or not to tinder
um amigo sorridente veio afobado
me contar que achou no tinder nossa amiga
- mas você não tinha casado?
- hmmm minha conta é antiga
me contar que achou no tinder nossa amiga
- mas você não tinha casado?
- hmmm minha conta é antiga
privada: funcionalismo público em ciranda
o assistente é amigo do presidente
que finge ser amigo do assessor
que finge ser amigo da estagiária
que finge ser amiga do diretor
que por nada fingir perdeu o cargo
que finge ser amigo do assessor
que finge ser amigo da estagiária
que finge ser amiga do diretor
que por nada fingir perdeu o cargo
Poesia temática:
anti-competitividade,
anti-consumismo,
anti-mercado,
anti-padrão,
anti-racionalidade,
crítica social,
eu,
melhores poemas,
poesia,
trabalho
24/10/2014
21/10/2014
flores secas
o fogo por trás das montanhas
adivinhamos pelo olho do sapo
pelo grito da maritaca
fingindo não saber
batemos ponto
e banhamos calçadas
com nossa futura sede
sob um céu negro
pleno meio dia
bebemos coca-cola
com sabor de alegria
adivinhamos pelo olho do sapo
pelo grito da maritaca
fingindo não saber
batemos ponto
e banhamos calçadas
com nossa futura sede
sob um céu negro
pleno meio dia
bebemos coca-cola
com sabor de alegria
Poesia temática:
anti-consumismo,
anti-deshumanidade,
anti-mercado,
anti-padrão,
ecologia,
poesia,
trabalho
19/10/2014
minha vó fazendo 90 anos
o presente dela:
meu passado doce
(a ponto de até hoje
me adoçar futuros
com aquela mesma receita:
lembrança, amor e letra)
meu passado doce
(a ponto de até hoje
me adoçar futuros
com aquela mesma receita:
lembrança, amor e letra)
13/10/2014
09/10/2014
07/10/2014
04/10/2014
manoelizando infâncias
podem me tirar o olhar bom
a verde idade
até mesmo a verdade...
mas meu quintal maior que o mundo
eu carrego sempre comigo
a verde idade
até mesmo a verdade...
mas meu quintal maior que o mundo
eu carrego sempre comigo
03/10/2014
no meio do caminho
o verso de bukowski no meio do caminho:
"enquanto eu masturbava uma tiete"
meu avô consertou o telhado
(batidas decididas no martelo)
nunca escreveu nada
nunca complicou nada
aguentou cinquenta anos no trabalho
construiu casa
constituiu família
se aposentou
"enquanto eu masturbava uma tiete"
as pessoas no escritório
cinco dias na semana esperando o final de semana
onze meses esperando o mês das férias
cinquenta anos esperando os poucos anos de aposentadoria
(esperando no escritório, acreditando no "tem que ser assim")
sorriram e calaram e seguiram
seguiram e calaram e sorriram
seguiram firmes e caladas em suas baias sorridentes
"enquanto eu masturbava uma tiete"
e pirava
quatro ou cinco anos de provas, xerox e decorebas
atrás de diplomas dourados com louvor
todos preocupados com o mercado de trabalho
com o mercado de engenheiros elétricos
com o mercado de ações
com o mercado dos professores de filosofia
com o MEC
todos preocupados com o futuro
"enquanto eu masturbava uma tiete"
e largava tudo
segundo grau, cheio de espinhas, cabelos caindo
estudando que nem um babaca
os outros alunos curtindo, brincando, fodendo
"enquanto eu masturbava uma tiete"
apenas na imaginação
fechando as minhas retinas fatigadas
"enquanto eu masturbava uma tiete"
meu avô consertou o telhado
(batidas decididas no martelo)
nunca escreveu nada
nunca complicou nada
aguentou cinquenta anos no trabalho
construiu casa
constituiu família
se aposentou
"enquanto eu masturbava uma tiete"
as pessoas no escritório
cinco dias na semana esperando o final de semana
onze meses esperando o mês das férias
cinquenta anos esperando os poucos anos de aposentadoria
(esperando no escritório, acreditando no "tem que ser assim")
sorriram e calaram e seguiram
seguiram e calaram e sorriram
seguiram firmes e caladas em suas baias sorridentes
"enquanto eu masturbava uma tiete"
e pirava
quatro ou cinco anos de provas, xerox e decorebas
atrás de diplomas dourados com louvor
todos preocupados com o mercado de trabalho
com o mercado de engenheiros elétricos
com o mercado de ações
com o mercado dos professores de filosofia
com o MEC
todos preocupados com o futuro
"enquanto eu masturbava uma tiete"
e largava tudo
segundo grau, cheio de espinhas, cabelos caindo
estudando que nem um babaca
os outros alunos curtindo, brincando, fodendo
"enquanto eu masturbava uma tiete"
apenas na imaginação
fechando as minhas retinas fatigadas
Poesia temática:
crítica social,
melhores poemas,
poesia,
top20,
top50,
trabalho
02/10/2014
30/09/2014
poema enquanto não posso ler poemas
voam sementes no vento
sobre um tempo livre que invento
preso
grades pesadas
pousadas em pássaros
tudo passa.
tudo, pássara...
até mesmo essas folhas
sãs
tão belas curvas
tão belas penas
apenas poemas cantados ao ouvido
no infinito abraço
de um instante
depois tudo distante
a morte me deixa tonto
(o silêncio também, o barulho também)
há morte
em amar-te
sobre um tempo livre que invento
preso
grades pesadas
pousadas em pássaros
tudo passa.
tudo, pássara...
até mesmo essas folhas
sãs
tão belas curvas
tão belas penas
apenas poemas cantados ao ouvido
no infinito abraço
de um instante
depois tudo distante
a morte me deixa tonto
(o silêncio também, o barulho também)
há morte
em amar-te
Poesia temática:
dificuldade de amar,
dificuldade de relacionamento,
doença,
jogo de palavras,
loucura,
poemas psi,
poesia,
trabalho
29/09/2014
25/09/2014
24/09/2014
dos benefícios dos capitais
Poesia temática:
anti-deshumanidade,
anti-padrão,
crítica social,
melhores poemas,
poesia,
poetrix,
rima,
top50,
trabalho
23/09/2014
20/09/2014
recorte cultural
tive
que botar um detetive
atrás do meu desejo
querem que eu ame assim
querem que eu trabalhe como você
querem que eu compre aquilo
querem determinar até como devo foder
porra, há quanto tempo não escrevo um palavrão?
vi na TV a entrevista do cara que esquartejou o ascensorista
e quase me senti otimista
depois vim no carro ouvindo MPB
(foda-se você)
ouça bem:
vim no carro ouvindo MPB FM!
(foda-se você!)
- a memória é uma ilha de edição
ouço a voz de waly salomão
no recorte cultural
repetindo ad infinitum
agora, então
- a memória é uma ilha de edição!
que botar um detetive
atrás do meu desejo
querem que eu ame assim
querem que eu trabalhe como você
querem que eu compre aquilo
querem determinar até como devo foder
porra, há quanto tempo não escrevo um palavrão?
vi na TV a entrevista do cara que esquartejou o ascensorista
e quase me senti otimista
depois vim no carro ouvindo MPB
(foda-se você)
ouça bem:
vim no carro ouvindo MPB FM!
(foda-se você!)
- a memória é uma ilha de edição
ouço a voz de waly salomão
no recorte cultural
repetindo ad infinitum
agora, então
- a memória é uma ilha de edição!
Poesia temática:
crítica social,
eu,
homenagem,
loucura,
melhores poemas,
poesia,
rima,
top50,
trabalho
19/09/2014
reinfância
o mundo era muito interessante
algo a ser desvendado
descoberto
a enciclopédia perto do dicionário
o medo de monstros no armário
o sonho repetido: voar
devorar os bichos do chocolate surpresa
e da coleção "o mundo da criança"
que meus avós e pais me liam
(não havia computador)
lembro de usar amêndoas como giz
e folhas de palmeiras como asas
hoje
toda a minha imaginação
vai pras palavras
algo a ser desvendado
descoberto
a enciclopédia perto do dicionário
o medo de monstros no armário
o sonho repetido: voar
devorar os bichos do chocolate surpresa
e da coleção "o mundo da criança"
que meus avós e pais me liam
(não havia computador)
lembro de usar amêndoas como giz
e folhas de palmeiras como asas
hoje
toda a minha imaginação
vai pras palavras
17/09/2014
já nela
dentro da bolha
de minha pele
todas as águas
são negras
um olho gordo
olhando fora
olhando a hora
de ser feliz
de minha pele
todas as águas
são negras
um olho gordo
olhando fora
olhando a hora
de ser feliz
15/09/2014
14/09/2014
flores e abelhas na amendoeira
no meio de tanta imperfeição
o céu abriu azul
pensando bem
todos sobrevivemos a agosto
tudo bem a primavera meio fria:
faz sol
o céu abriu azul
pensando bem
todos sobrevivemos a agosto
tudo bem a primavera meio fria:
faz sol
13/09/2014
Minha fomília
os pais queriam os filhos
iguais aos filhos que queriam
os filhos quanto a isso são iguais
quanto aos pais
(Meus filhos, Meus pais)
conforme não ideais
vivem todos em estado de não ser
sob a constante e silenciosa acusação
ouvem televisão e falam da inflação
(como vingança, ainda mais não são)
- passa o macarrão?
iguais aos filhos que queriam
os filhos quanto a isso são iguais
quanto aos pais
(Meus filhos, Meus pais)
conforme não ideais
vivem todos em estado de não ser
sob a constante e silenciosa acusação
ouvem televisão e falam da inflação
(como vingança, ainda mais não são)
- passa o macarrão?
Poesia temática:
budismo,
controle,
crítica social,
dificuldade de amar,
dificuldade de relacionamento,
doença,
humor,
loucura,
meditação,
melhores poemas,
poemas psi,
poesia,
psi,
psicologia,
rima
12/09/2014
na Minha cama
numa tarde de redenção e de lume
levei a mão de uma ao seio da outra
e senti no ouvido o perfume
então as duas se beijaram
e foi o meu melhor ciúme
levei a mão de uma ao seio da outra
e senti no ouvido o perfume
então as duas se beijaram
e foi o meu melhor ciúme
Poesia temática:
amor livre,
eu,
loucura,
musas,
poemas eróticos,
poesia,
rima
11/09/2014
(anti) the coca-cola company
- temos que voltar a beber refrigerante: uma garrafa de matte leão está 6 reais no mercadinho barra sul.
- é mais economizante comprar a erva.
- mas aí não tem acidulante, edulcorante, corante, conservante e aquela garrafa bonitante que a natureza não digere antes de uns séculos.
como viver mais positivamente ante isso?
- é mais economizante comprar a erva.
- mas aí não tem acidulante, edulcorante, corante, conservante e aquela garrafa bonitante que a natureza não digere antes de uns séculos.
como viver mais positivamente ante isso?
Poesia temática:
anti-consumismo,
crítica social,
eu,
marketing,
poesia,
trabalho
09/09/2014
antes do demissional
os escravos mostravam dentes
nós fazemos exame médico periódico
dentes, sangue, urina, merda
olhos, pulmões, coração
evolução é isso:
ter que mostrar mais
nós fazemos exame médico periódico
dentes, sangue, urina, merda
olhos, pulmões, coração
evolução é isso:
ter que mostrar mais
08/09/2014
jeans do céu
a página em branco se abre
vasta como o mar oceânico
visto de portugal
o blog abre o dia
branco de espanto e medo
ante tantas possibilidades
o céu balança as árvores
com mãos de vento
e suavidade
o teclado em valsa
deixa
de ser duro
danço dedos futuros
(cada vez mais presentes)
no furos azuis de sua calça
vasta como o mar oceânico
visto de portugal
o blog abre o dia
branco de espanto e medo
ante tantas possibilidades
o céu balança as árvores
com mãos de vento
e suavidade
o teclado em valsa
deixa
de ser duro
danço dedos futuros
(cada vez mais presentes)
no furos azuis de sua calça
Poesia temática:
amor,
eu,
humor,
melhores poemas,
musas,
paixão,
poemas eróticos,
poemas sobre poesia,
poesia
06/09/2014
o sucesso da insensatez juvenil
fome de presença e nexo
fome de amor e status
fome de segurança e sexo
(fome que saciada ou não
só traz indigestão)
mas a dor que sente
é o primeiro passo
porque todo chão abaixo
tem semente
como a montanha árida
lentamente
gradualmente
naturalmente
cria uma fonte de água
fome de amor e status
fome de segurança e sexo
(fome que saciada ou não
só traz indigestão)
mas a dor que sente
é o primeiro passo
porque todo chão abaixo
tem semente
como a montanha árida
lentamente
gradualmente
naturalmente
cria uma fonte de água
Poesia temática:
budismo,
compaixão,
i-ching,
insatisfatoriedade,
meditação,
poesia,
simbologia
05/09/2014
letra maiúscula
a sombra da sobra dos dias
comemos com pressa
fast flood
sem notar as notas de rodapé
anotamos mentalmente o tempo todo
e esquecemos
e esquecemos que também seremos esquecidos:
temos prazo de validade
não tem remédio
o que fica de tanto trocado
é apenas a alegria dada
assim
do nada
como ponto final.
comemos com pressa
fast flood
sem notar as notas de rodapé
anotamos mentalmente o tempo todo
e esquecemos
e esquecemos que também seremos esquecidos:
temos prazo de validade
não tem remédio
o que fica de tanto trocado
é apenas a alegria dada
assim
do nada
como ponto final.
03/09/2014
02/09/2014
apólice de inseguro
numa casa deixo meias marrons
na outra, pretas
(na casa com meias pretas, o sapato é marrom)
lavo a louça
compro queijo fatiado e deixo ao lado
do queijo inteiro
(geladeira no mínimo)
o mate faz com que
eu não me mate
lembro que tenho que comprar mais cuecas
(eu sempre tenho que comprar mais cuecas)
numa casa a lava-roupas derruba a luz e queima algumas peças
na outra, mosquitos infinitos derrubam o sonho de um sono tranquilo
numa casa, a solidão total
na outra, o peito ainda dói
as casas são perto
e longes de mim
(ainda bem que não vendi o carro)
demoro
mas não sei onde não moro
(desmorono)
na outra, pretas
(na casa com meias pretas, o sapato é marrom)
lavo a louça
compro queijo fatiado e deixo ao lado
do queijo inteiro
(geladeira no mínimo)
o mate faz com que
eu não me mate
lembro que tenho que comprar mais cuecas
(eu sempre tenho que comprar mais cuecas)
numa casa a lava-roupas derruba a luz e queima algumas peças
na outra, mosquitos infinitos derrubam o sonho de um sono tranquilo
numa casa, a solidão total
na outra, o peito ainda dói
as casas são perto
e longes de mim
(ainda bem que não vendi o carro)
demoro
mas não sei onde não moro
(desmorono)
01/09/2014
(ja)nela
queria gritar mas não há
ela pra ouvir
os cacos do peito
rimam com gatos
nos becos
ela pássaros com asas que cortam
passaram tanto
que a inocência é irrecuperável
(meu dragão com medo de foto)
dorme?
como dorme?
camas pequenas enormes...
ela não é pronome pessoal:
é sonho e pesadelo, (a)temporal
por falta de água
sangro nada
ela nem vê
ela nem lê
ela horizonte
bela, passado doce, futura amante:
sempre volta pro distante
ela não termina:
é a ausência da ave maria
quando a terrível noite se retina
do outro lado da cortina
ela é o silêncio que me sua ser
trancado sozinho
perguntando por que
ela pra ouvir
os cacos do peito
rimam com gatos
nos becos
ela pássaros com asas que cortam
passaram tanto
que a inocência é irrecuperável
(meu dragão com medo de foto)
dorme?
como dorme?
camas pequenas enormes...
ela não é pronome pessoal:
é sonho e pesadelo, (a)temporal
por falta de água
sangro nada
ela nem vê
ela nem lê
ela horizonte
bela, passado doce, futura amante:
sempre volta pro distante
ela não termina:
é a ausência da ave maria
quando a terrível noite se retina
do outro lado da cortina
ela é o silêncio que me sua ser
trancado sozinho
perguntando por que
Poesia temática:
dificuldade de amar,
dificuldade de relacionamento,
eu,
melhores poemas,
musas,
poemas psi,
poesia,
separação
31/08/2014
retiro fechado (janela aberta)
mudo rápido
pois faz frio e as amendoeiras acenam lá embaixo
da época em que tocávamos o chão vazio
mudo lento e complexo
o velho plexo de sagat
na paz de cinco elementos
(do espaço além do tempo)
mudo de emprego
mudo de roupa
mudo de musa
mudo de sonho
(o sonho da vida é apenas mais longo que o sonho da noite)
mudo: aquele que não fala
(este sim constante)
pois faz frio e as amendoeiras acenam lá embaixo
da época em que tocávamos o chão vazio
mudo lento e complexo
o velho plexo de sagat
na paz de cinco elementos
(do espaço além do tempo)
mudo de emprego
mudo de roupa
mudo de musa
mudo de sonho
(o sonho da vida é apenas mais longo que o sonho da noite)
mudo: aquele que não fala
(este sim constante)
Poesia temática:
budismo,
dificuldade de amar,
dificuldade de relacionamento,
eu,
impermanencia,
jogo de palavras,
mahamudra,
meditação,
poesia,
rima,
separação
29/08/2014
28/08/2014
no meu do caminho
enquanto não silencio
chove chão do agreste céu
na véspera da esperança que me azia
sonho elmos e capacetes
sonho escudos e cavernas
sonho a paz da falsa morte no cais
enquanto sob o BRT aqui jaz
mais um atropelado pelo tempo
dentro
ácido
olho a minha raiva de olhar a_grade
(ainda agrido sem doce)
chove chão do agreste céu
na véspera da esperança que me azia
sonho elmos e capacetes
sonho escudos e cavernas
sonho a paz da falsa morte no cais
enquanto sob o BRT aqui jaz
mais um atropelado pelo tempo
dentro
ácido
olho a minha raiva de olhar a_grade
(ainda agrido sem doce)
Poesia temática:
budismo,
eu,
ira,
jogo de palavras,
loucura,
meditação,
melhores poemas,
poesia,
trabalho,
vipassana
27/08/2014
(d)efeito
chega um tempo
em que se olha sem temer o frio
sem tremer perante qualquer paisagem ou espelho
tudo perfeito:
cada coisa em seu lugar
nenhum assédio:
vitória ou derrota no mesmo médio
entre pálpebras e braços
silenciarás contatos
rezarás por eles
rezando por eles
rezarás por ti
em que se olha sem temer o frio
sem tremer perante qualquer paisagem ou espelho
tudo perfeito:
cada coisa em seu lugar
nenhum assédio:
vitória ou derrota no mesmo médio
entre pálpebras e braços
silenciarás contatos
rezarás por eles
rezando por eles
rezarás por ti
Poesia temática:
budismo,
co-emergencia,
loucura,
meditação,
poesia,
prajnaparamita,
unidade
26/08/2014
tiro no pé
hoje me interessa a poesia que não seja vaidade
solidão, sintoma, sonho
ou um solilóquio charmoso de formas e fonemas vãos
se a poesia não for transformação
o silêncio é
solidão, sintoma, sonho
ou um solilóquio charmoso de formas e fonemas vãos
se a poesia não for transformação
o silêncio é
Poesia temática:
budismo,
eu,
meditação,
melhores poemas,
poemas sobre poesia,
poesia
25/08/2014
24/08/2014
23/08/2014
hexagrama 40
tensão crescente
asas que não tem pés
pés que não tem casa...
até que o trovão
cala o abismo
e a chuva
lava a mágoa
asas que não tem pés
pés que não tem casa...
até que o trovão
cala o abismo
e a chuva
lava a mágoa
Poesia temática:
amor,
amor romântico,
esoterismo,
i-ching,
musas,
poemas de amor,
poesia,
separação,
simbologia
22/08/2014
shavássana
deitado embaixo do universo
sobre um chão firme e provisório
adio ouvir o adeus
dentro das cascas das palavras
sobre um chão firme e provisório
adio ouvir o adeus
dentro das cascas das palavras
19/08/2014
alaya vijnana
cavo o pó dos sonhos findos
passados, futuros
em baús enferrujados
lado a lado oficino
formas e fórmulas
de uns 3 mil anos atrás
quando nasci assassino
silencio dias e noites
silencio olhos e mares azuis
até que a voz
seja luz
passados, futuros
em baús enferrujados
lado a lado oficino
formas e fórmulas
de uns 3 mil anos atrás
quando nasci assassino
silencio dias e noites
silencio olhos e mares azuis
até que a voz
seja luz
16/08/2014
poema bebendo mate com pouco açúcar
no momento mágico indolor
tudo se abre pro mistério
(que todos já conhecem, no fundo)
sempre com alguma dor
a literatura é a prostituta mais bonita
quase rima com sintoma
e cobra felicidade
pra dançar tango com minha alma
e me enganar a liberdade
a literatura tem lua em leão
e vulva de neón
a literatura derruba meu tédio
agarra minha paz feito louca
e ainda lambe minha boca
a literatura me atura há anos
(só ela e minha mãe)
tudo se abre pro mistério
(que todos já conhecem, no fundo)
sempre com alguma dor
a literatura é a prostituta mais bonita
quase rima com sintoma
e cobra felicidade
pra dançar tango com minha alma
e me enganar a liberdade
a literatura tem lua em leão
e vulva de neón
a literatura derruba meu tédio
agarra minha paz feito louca
e ainda lambe minha boca
a literatura me atura há anos
(só ela e minha mãe)
Poesia temática:
eu,
loucura,
melhores poemas,
poemas sobre poesia,
poesia,
rima,
top50
15/08/2014
desilusão
adio todas as ilusões
e o desvelamento das mesmas
pra fazer um poema besta
numa sexta-feira fria
(todos os meus vulcões
pedem essas palavras vazias)
elas vêm, elas vão
elas vêm, elas vão
elas vêm, elas vão
elas vêm, elas vão
apita o trem da (dú)vida
sob um mar maior que ondas
então respiro devagar
no calmo vão (tão maior)
entre uma e outra
e o desvelamento das mesmas
pra fazer um poema besta
numa sexta-feira fria
(todos os meus vulcões
pedem essas palavras vazias)
elas vêm, elas vão
elas vêm, elas vão
elas vêm, elas vão
elas vêm, elas vão
apita o trem da (dú)vida
sob um mar maior que ondas
então respiro devagar
no calmo vão (tão maior)
entre uma e outra
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top10,
top20,
top50
12/08/2014
11/08/2014
preso à pressa
trago as mãos fechadas
em dois vasos de fumaça
todos dizem: passa
mas não abro o coração
em dois vasos de fumaça
todos dizem: passa
mas não abro o coração
06/08/2014
olhos abertos
aborto palavras que esqueço
entre o luar e o ser
sigo o caminho em que me derreto
e verbo a barba: crescer
não meço
não peço
olho de fora meu sono
e sorrio sem sonho
aberto pro que desconheço
entre o luar e o ser
sigo o caminho em que me derreto
e verbo a barba: crescer
não meço
não peço
olho de fora meu sono
e sorrio sem sonho
aberto pro que desconheço
30/07/2014
sem limitar, sem limiar
(Para Andrei Ribas)
sinto o rufar de tambores
em meu estômago
(mas as janelas do mundo fechadas)
todos os vulcões
rosnando sóis
(mas as janelas do fundo fechadas)
todo o brilho incontível
sem início nem fim
desde sempre querendo transbordar
muito, muito além de mim
e de todos que misturam as coisas mais impossíveis
só pra falhar ao dizer o que a poesia é
(mas as janelas dos signos fechadas
e os bêbados nos bares cortados com MPB não sendo o que queriam
enquanto me pergunto para que fui ler essa porra que também me corta
com infâncias, nádegas e parênteses)
como Nietzsche era dinamite
como o primeiro toque
como a vida em essência
muito além desta repetitividade lógica e egoísta
luz
energia
tesão
que tentamos localizar em pessoas, metas, bens ou poemas
e choramos ao perder, dependentes
com medo da noite e das faces que preenchem o vazio
e sorrimos, ao menos
ao fotografar com palavras
não minhas nem suas
sorrimos com o sol na cara
sinto o rufar de tambores
em meu estômago
(mas as janelas do mundo fechadas)
todos os vulcões
rosnando sóis
(mas as janelas do fundo fechadas)
todo o brilho incontível
sem início nem fim
desde sempre querendo transbordar
muito, muito além de mim
e de todos que misturam as coisas mais impossíveis
só pra falhar ao dizer o que a poesia é
(mas as janelas dos signos fechadas
e os bêbados nos bares cortados com MPB não sendo o que queriam
enquanto me pergunto para que fui ler essa porra que também me corta
com infâncias, nádegas e parênteses)
como Nietzsche era dinamite
como o primeiro toque
como a vida em essência
muito além desta repetitividade lógica e egoísta
luz
energia
tesão
que tentamos localizar em pessoas, metas, bens ou poemas
e choramos ao perder, dependentes
com medo da noite e das faces que preenchem o vazio
e sorrimos, ao menos
ao fotografar com palavras
não minhas nem suas
sorrimos com o sol na cara
Poesia temática:
eu,
loucura,
melhores poemas,
poemas sobre poesia,
poesia
27/07/2014
outro retiro em viamão
aponto a lanterna pra vida
e vejo sonho
aponto a lanterna pro sonho
e vejo nada
há o ponto
(e apenas o ponto)
de onde se aponta a lanterna
e vejo sonho
aponto a lanterna pro sonho
e vejo nada
há o ponto
(e apenas o ponto)
de onde se aponta a lanterna
Poesia temática:
budismo,
meditação,
melhores poemas,
poesia,
prajnaparamita,
zen
26/07/2014
três graus celsius não sonho
antes da estrela era chato
depois, sádico
cobri com mil lençóis
o frio do silêncio
de uma noite sem estrela:
mais fantasmas no meu escuro
e tudo mais áspero
pra quem finjo
não notar que a própria estrela finge
não notar que (me) se apagou?
depois, sádico
cobri com mil lençóis
o frio do silêncio
de uma noite sem estrela:
mais fantasmas no meu escuro
e tudo mais áspero
pra quem finjo
não notar que a própria estrela finge
não notar que (me) se apagou?
17/07/2014
estrelas
(Para Elis Regina e Maria Rita)
estrear as pequenezas da vida
com letra minúscula
(música maior)
uma flor é uma rosa
uma rosa é uma flor
(sua lágrima)
tudo que calamos
explode cor
choro o cheiro dos pais
misturados na roda da vida
(memória)
abro todas as feridas
deixo todo o amor
arder em voz
eis a arte:
arder
em
vós
estrear as pequenezas da vida
com letra minúscula
(música maior)
uma flor é uma rosa
uma rosa é uma flor
(sua lágrima)
tudo que calamos
explode cor
choro o cheiro dos pais
misturados na roda da vida
(memória)
abro todas as feridas
deixo todo o amor
arder em voz
eis a arte:
arder
em
vós
10/07/2014
a mulher canhota
as máquinas
falam mais alto que o homem
o homem olha a janela
a francesa
a falta da chuva prometida pelo frio
nada se move
nem o silêncio
na boca do homem
falam mais alto que o homem
o homem olha a janela
a francesa
a falta da chuva prometida pelo frio
nada se move
nem o silêncio
na boca do homem
06/07/2014
hábito
noite longa de luzes vãs e perfídias
mel e culpa sobre prédios sem felicidade
(em qualquer cidade)
quantas repetições
de tapas e apegos
através dos milênios?
gritos esquecidos do outro lado do muro
fumaça de sonhos negros
um oceano no escuro
noite longa a vencer:
estrelas
que não podemos mais ver
se procurarmos
mel e culpa sobre prédios sem felicidade
(em qualquer cidade)
quantas repetições
de tapas e apegos
através dos milênios?
gritos esquecidos do outro lado do muro
fumaça de sonhos negros
um oceano no escuro
noite longa a vencer:
estrelas
que não podemos mais ver
se procurarmos
04/07/2014
a felicidade é possível
(para Lama Padma Samten e Gustavo Gitti)
olho no olho do medo
a casa vazia
quando a noite cai
e o sonho cansa
olho de criança
que não queria dormir cedo
sento longe de mim
relaxo a face
e a face atrás da face
(é possível sim)
olho no olho do medo
a casa vazia
quando a noite cai
e o sonho cansa
olho de criança
que não queria dormir cedo
sento longe de mim
relaxo a face
e a face atrás da face
(é possível sim)
Imagem: Desenho de Felipe Stefani |
03/07/2014
mas só chove
desde a primeira facada mais forte
antes ainda de notar meu excesso de dentes
amando eu danço com a morte
antes ainda de notar meu excesso de dentes
amando eu danço com a morte
30/06/2014
24/06/2014
22/06/2014
shamata
sino tibetano
tocando leve
o silêncio maior que eu
lenta inspiração
calor bom
como se o corpo não existisse
como se o mundo não existisse
ali desde antes do antes
depois do depois
firme
passo em paz
no espaço de um olhar
viver Heráclito:
tudo um
(vazio e forma)
água não mais de ondas
água de oceano
nada
tocando leve
o silêncio maior que eu
lenta inspiração
calor bom
como se o corpo não existisse
como se o mundo não existisse
ali desde antes do antes
depois do depois
firme
passo em paz
no espaço de um olhar
viver Heráclito:
tudo um
(vazio e forma)
água não mais de ondas
água de oceano
nada
19/06/2014
sem negar nada
cabe a verdadeira felicidade
no silêncio
(cada vez mais brilho no silêncio)
mas jogo videogame
(rápido
quente
fígado)
pra treinar o salto no mundo enorme
sem acordar a paz que ainda dorme
dito isso
vou-me tonto
e verdadeiramente feliz
vegetariar no churrasco
destorcer na Copa
mandar hadouken pela paz
treino o silêncio, o amor, o combo aéreo, as vendas, a vida:
tudo por um triz
sem silenciar os poemas que faço
com os poemas que fiz
no silêncio
(cada vez mais brilho no silêncio)
mas jogo videogame
(rápido
quente
fígado)
pra treinar o salto no mundo enorme
sem acordar a paz que ainda dorme
dito isso
vou-me tonto
e verdadeiramente feliz
vegetariar no churrasco
destorcer na Copa
mandar hadouken pela paz
treino o silêncio, o amor, o combo aéreo, as vendas, a vida:
tudo por um triz
sem silenciar os poemas que faço
com os poemas que fiz
Poesia temática:
budismo,
doença,
eu,
loucura,
meditação,
melhores poemas,
poemas psi,
poesia
15/06/2014
rio do currículo poluído
Poesia temática:
budismo,
crítica social,
eu,
humor,
jogo de palavras,
loucura,
meditação,
melhores poemas,
poesia,
poetrix,
trabalho
13/06/2014
brasil e croácia
Poesia temática:
budismo,
copa 2014,
crítica social,
jogo de palavras,
loucura,
meditação,
melhores poemas,
poesia,
poetrix,
simbologia
06/06/2014
30/05/2014
palavras são asas
o tropeço
parte do caminho
passo atrás
arde a dança
estendo meus braços de criança
aprendendo a não chorar
parte do caminho
passo atrás
arde a dança
estendo meus braços de criança
aprendendo a não chorar
27/05/2014
brasa
Brasília fria
Brasília matinal
Brumas fechando aeroportos
(Imagina na copa)
Braxília logo quente
Terra de Nicolas Behr
E de ilustríssimos dentro de ternos e vidros
Brasília formal e sem morros
Brasília ignorando mortes
Caminho turista por palácios
Entre a palestra e o almoço
Entre os índios protestando e os policiais esperando
Sobre um chão quase sem lixo
Caminho reto e sem esquinas
Tonto e torto
Carregando peso demais
Na mão e na mente
Mas
Sempre em frente
(Atenciosamente)
Brasília matinal
Brumas fechando aeroportos
(Imagina na copa)
Braxília logo quente
Terra de Nicolas Behr
E de ilustríssimos dentro de ternos e vidros
Brasília formal e sem morros
Brasília ignorando mortes
Caminho turista por palácios
Entre a palestra e o almoço
Entre os índios protestando e os policiais esperando
Sobre um chão quase sem lixo
Caminho reto e sem esquinas
Tonto e torto
Carregando peso demais
Na mão e na mente
Mas
Sempre em frente
(Atenciosamente)
Imagens: Fotos de Fabio Rocha |
23/05/2014
m. (paisagem)
desadio
um poema
um poema
com venda
nos olhos
nos olhos
pingam dos braços
abraços imaginários
e o tempo de nós
aumenta
esse verde
(esse ver-te)
entre chão e céu
azula minha tarde
me arde o mundo
cada vez menos
se faço parte
do que mudo
a m
ar te
a m
ar te
Poesia temática:
amor,
melhores poemas,
musas,
poemas de amor,
poesia,
poesia visual
20/05/2014
sentidos
kant encantado:
a coisa em si:
não há
a coisa em si:
não há
Poesia temática:
co-emergencia,
filosofia,
meditação,
poemas filosóficos,
poesia,
poetrix,
vazio
16/05/2014
terra
está abolida a lei da gravidade
no dia em que a Terra parou
nadamos no ar
entre mortes
e vidas
da terra plana e infinita
nasce luz por toda parte
e esse som:
no dia em que a Terra parou
nadamos no ar
entre mortes
e vidas
da terra plana e infinita
nasce luz por toda parte
e esse som:
14/05/2014
novo livro: rio raso - Fabio Rocha - editora Patuá - São Paulo - 2014
Rio raso. Coletânea de dez anos de poesia. A capa e o projeto gráfico foram de Leonardo Mathias. Edição, de Eduardo Lacerda. Editora Patuá, 2014. ISBN 978-85-8297-071-3. Skoob. ESGOTADO.
Belíssimo, por sinal, não só a editoração e capa, de primeira qualidade, mas, principalmente, pelos poemas, de altíssimo nível. Não é à toa que a Patuá vem se notabilizando entre as demais editoras, por apresentar trabalhos de alta qualidade formal e textual.
Críticas recebidas:
Li seu livro de um só fôlego, numa tarde inteira. Foi um bálsamo para mim, já que, a cada dia, está mais difícil ler-se poesia de qualidade. Parabéns! Há um componente lírico que perpassa todo o livro, às vezes com um humor irônico e triste (desculpe o paradoxo), que deixa, ao final, um gosto agridoce em nossos sentidos. Livro de grande teor poético, onde a síntese mostra o poeta atrás do poema, com seu fazer cuidadoso, de forma e de técnica, com seu trabalho de "Corte", que já vem desde o seu livro anterior.
ISBN-13: 9788582970713
ISBN-10: 8582970714
Ano: 2014 / Páginas: 108
Idioma: português
Editora: PATUÁ
ISBN-10: 8582970714
Ano: 2014 / Páginas: 108
Idioma: português
Editora: PATUÁ
07/05/2014
sem exceção
estamos todos no detran de itaguaí
marcamos hora
mas é por ordem de chegada
a fila é fora do ar condicionado
mas na sombra
dois vira-latas brincam alegres
mas se mordem
um homem quebra uma parede
tentando fazer uma porta
e a fila calada
(personagens se percebendo personagens)
rapidamente se desfaz
e se afasta
do pó
e dos destroços
marcamos hora
mas é por ordem de chegada
a fila é fora do ar condicionado
mas na sombra
dois vira-latas brincam alegres
mas se mordem
um homem quebra uma parede
tentando fazer uma porta
e a fila calada
(personagens se percebendo personagens)
rapidamente se desfaz
e se afasta
do pó
e dos destroços
Poesia temática:
budismo,
co-emergencia,
devir,
impermanencia,
poesia
30/04/2014
semeando avós
caminhei léguas
de línguas em silêncio
pra achar minha voz
mágoas mínguas restingas
de um desértico mar
cem samambaias
repetindo padrões
em folhas brancas
sem rabos de arraias
aturando patrões
(camisas brancas)
agora o vento no mato
acariciou minha coragem fugaz
vou-me embora pra nunca mais
no exato lugar onde já estou
de línguas em silêncio
pra achar minha voz
mágoas mínguas restingas
de um desértico mar
cem samambaias
repetindo padrões
em folhas brancas
sem rabos de arraias
aturando patrões
(camisas brancas)
agora o vento no mato
acariciou minha coragem fugaz
vou-me embora pra nunca mais
no exato lugar onde já estou
Poesia temática:
budismo,
crítica social,
loucura,
poemas sobre poesia,
poesia,
poetrix,
trabalho
29/04/2014
(mais de) oito horas por dia
vivemos extremos
(sobrevivemos)
entre excitação máxima e exaustão total
sem nos ver afinal
(lagos serenos)
(sobrevivemos)
entre excitação máxima e exaustão total
sem nos ver afinal
(lagos serenos)
Poesia temática:
budismo,
crítica social,
meditação,
melhores poemas,
poesia,
trabalho,
zen
28/04/2014
adivinhar o mar estando no profundo do rio
o provisório é outra parte do sonho
no qual nos pensamos molhados
entre dois mistérios: nascer e morrer
no qual nos pensamos molhados
entre dois mistérios: nascer e morrer
17/04/2014
como nasce um poema?
inicia-se com alguma palavra rasgando a pele
prossegue-se afastando as costelas
depois cavando a carne
cavucando órgãos desconhecidos
deixando vazios gritarem
soltando monstros e levezas
com precisão e intuição fonética
chegando ao íntimo cerne do escuro e da luz
muito além de si mesmo
depois acaba
e seu corpo ainda quente
e você fingindo não ter buracos nem cores
como se nada tivesse acontecido
prossegue-se afastando as costelas
depois cavando a carne
cavucando órgãos desconhecidos
deixando vazios gritarem
soltando monstros e levezas
com precisão e intuição fonética
chegando ao íntimo cerne do escuro e da luz
muito além de si mesmo
depois acaba
e seu corpo ainda quente
e você fingindo não ter buracos nem cores
como se nada tivesse acontecido
15/04/2014
mar
(Para M.)
ao tempo peço adiamento
sei que em areia tudo finda
mas - inevitável - tento:
ela é linda
ao tempo peço adiamento
sei que em areia tudo finda
mas - inevitável - tento:
ela é linda
14/04/2014
o mesmo órgão
estômago fundo:
leveza de borboletas
ou o peso do mundo
estômago quente
doente
digerindo a ele mesmo
estômago a dois:
uma casa
sem depois
estômago a sós:
digerindo
nós
leveza de borboletas
ou o peso do mundo
estômago quente
doente
digerindo a ele mesmo
estômago a dois:
uma casa
sem depois
estômago a sós:
digerindo
nós
11/04/2014
descanso em cinco lungs (ou anti-propaganda de anti-marketing)
coleciono desquereres:
desbotam ao sol interior
todas as blusas que não tenho
desbotam ao sol interior
todas as blusas que não tenho
09/04/2014
06/04/2014
bambuzal ao vento
(Para M.)
como dois galhos
quebrados partidos cortados
apoiados precariamente
como dois lunáticos
descabidos, desencaixados
irmanados um no outro
como dois budas
sentados em meditação
lado a lado
como dois galhos
quebrados partidos cortados
apoiados precariamente
como dois lunáticos
descabidos, desencaixados
irmanados um no outro
como dois budas
sentados em meditação
lado a lado
shamata impuro
as pessoas que mais falam de amor
não sabem amar
(os poetas)
paraíso
inferno
café
instantâneo
vi o grito
dentro da floresta escura
(samsara)
contemplei as emoções
que eu deveria ter
(correndo atrasado)
o grito do outro incendiou árvores
e meu estômago ácido
mas silenciei sobre o som
de todas as minhas quebras
não sabem amar
(os poetas)
paraíso
inferno
café
instantâneo
vi o grito
dentro da floresta escura
(samsara)
contemplei as emoções
que eu deveria ter
(correndo atrasado)
o grito do outro incendiou árvores
e meu estômago ácido
mas silenciei sobre o som
de todas as minhas quebras
04/04/2014
para adélia prado
gosto de adélia além das palavras
eu nasci ela escrevendo bagagem
depois, 7 anos no deserto
máscaras
enterrando
rostos
as roupas inúteis na areia
a fé em pó
deus e seus teóricos nos separando
mas o sagrado nos unindo
poesia sem enfeite
a casa da vó
o momento mágico:
da areia quente
brota uma flor
eu nasci ela escrevendo bagagem
depois, 7 anos no deserto
máscaras
enterrando
rostos
as roupas inúteis na areia
a fé em pó
deus e seus teóricos nos separando
mas o sagrado nos unindo
poesia sem enfeite
a casa da vó
o momento mágico:
da areia quente
brota uma flor
03/04/2014
vamos indo
o céu dos teus olhos prometem água
vamos partindo sob nuvens longe
sob um sol alto
vamos sem sobressalto
sorrindo poemas sem som
pelos caminhos
vamos partindo sob nuvens longe
sob um sol alto
vamos sem sobressalto
sorrindo poemas sem som
pelos caminhos
02/04/2014
sonho
na beira oval do silo imenso
tenso - a porta aberta me sai
do fatigado peito, asilo
o mesmo objeto em sincronia:
uma maçã, um coração, uma agonia
mas o redondo não cai
não estranho nem adio:
um passo e
tenso - a porta aberta me sai
do fatigado peito, asilo
o mesmo objeto em sincronia:
uma maçã, um coração, uma agonia
mas o redondo não cai
não estranho nem adio:
um passo e
31/03/2014
até ver a luz de casa acesa
vespero escarros num vespeiro
fora de área
fora do ar
fora de mim
não sei se fugiu
não sei se caiu
não sei se esqueceu
errado, o dia se alonga
(fora o trabalho, passa rápido a vida)
eu ilusado, ávido de algo certo
lálonge trovejam nuvens
entre o dia e a noite
entre o novo e a morte...
mas não olho.
faço questão de não apontar o sonho
pros perfumes que esqueci
fora de área
fora do ar
fora de mim
não sei se fugiu
não sei se caiu
não sei se esqueceu
errado, o dia se alonga
(fora o trabalho, passa rápido a vida)
eu ilusado, ávido de algo certo
lálonge trovejam nuvens
entre o dia e a noite
entre o novo e a morte...
mas não olho.
faço questão de não apontar o sonho
pros perfumes que esqueci
29/03/2014
28/03/2014
molde
andamos ruas tortas
dentre muros pixados
por jovens gritando errado
os jovens produzem homens
as fábricas produzem fumaça
e seduzem homens
a derreter seu tempo jovem
sem nem tentar mudar mais nada
dentre muros pixados
por jovens gritando errado
os jovens produzem homens
as fábricas produzem fumaça
e seduzem homens
a derreter seu tempo jovem
sem nem tentar mudar mais nada
27/03/2014
gota
hábitos arranhados
no disco da mente:
descontente
descontente
descontente
baixo seu volume
rio sua rima
da montanha até o mar
no disco da mente:
descontente
descontente
descontente
baixo seu volume
rio sua rima
da montanha até o mar
26/03/2014
25/03/2014
22/03/2014
21/03/2014
estudo do movimento
(Para M.)
corpos se tocam
acumuladamente
corpos se prolongam
serpentes
ritmos em silêncio
dança para olhos fechados
corpos se tocam
acumuladamente
corpos se prolongam
serpentes
ritmos em silêncio
dança para olhos fechados
19/03/2014
17/03/2014
15/03/2014
a escada da meditação
compaixão
sem paixão:
o amor na ponta de um mundo irreal
livro livre
página em branco
ponta de lápis pronta
mais fácil comprar
um óculos novo
do que mudar a visão
dentro
palavras nascem e morrem e renascem
aqui no silêncio que observo
agora entro
calo queixas continuamente
pra não doer meus calos
e o queixo piorar
(trancado)
num circunflexo
(plexo solar)
absorvo
eu
morto vivo
pela paz
reedito
reinvento
recomeço diferente
(a porra toda)
nem que seja eternamente
falha a calha da chuva
quando não chove?
calo novamente
o poema que não faço
até ele me explodir
sem paixão:
o amor na ponta de um mundo irreal
livro livre
página em branco
ponta de lápis pronta
mais fácil comprar
um óculos novo
do que mudar a visão
dentro
palavras nascem e morrem e renascem
aqui no silêncio que observo
agora entro
calo queixas continuamente
pra não doer meus calos
e o queixo piorar
(trancado)
num circunflexo
(plexo solar)
absorvo
eu
morto vivo
pela paz
reedito
reinvento
recomeço diferente
(a porra toda)
nem que seja eternamente
falha a calha da chuva
quando não chove?
calo novamente
o poema que não faço
até ele me explodir
Poesia temática:
amor,
anti-competitividade,
budismo,
eu,
meditação,
poemas sobre poesia,
poesia,
top20,
top50
13/03/2014
desejo
queremos:
somos símios com vontades e contratos
doravante denominados partes
(realmente se sentindo incompletas)
vivendo uma vida individual
temendo uma morte individual
sem tocar a eternidade não nascida e imortal
e no esforço de não ser o silêncio universal
nos resta um pingo de arte
e uma infinidade de sofrimento
somos símios com vontades e contratos
doravante denominados partes
(realmente se sentindo incompletas)
vivendo uma vida individual
temendo uma morte individual
sem tocar a eternidade não nascida e imortal
e no esforço de não ser o silêncio universal
nos resta um pingo de arte
e uma infinidade de sofrimento
11/03/2014
08/03/2014
por enquanto
Para M.
sem pensar em ir
o passo dado
sem passado
o ladrilho
sob o pés gelados
branco o teu abraço
constante brilho
com tanto desencontro
lá fora nas janelas
eu quis uma casa
e já estávamos nela
sem pensar em ir
o passo dado
sem passado
o ladrilho
sob o pés gelados
branco o teu abraço
constante brilho
com tanto desencontro
lá fora nas janelas
eu quis uma casa
e já estávamos nela
Poesia temática:
auto-referência,
casa,
eu,
melhores poemas,
musas,
poemas psi,
poesia,
recomeço,
simbologia,
simplicidade,
vontade
03/03/2014
o sagrado
Para M.
um corpo em formato de ninho
lá fora
sorriem e dançam
nos intervalos de uma vida sem sentido
mas precisam beber para tal
aqui dentro
enquanto meu corpo definha
defino precisão, relaxamento e atenção
a cada respiração
e não me salvo
(mas me deito)
num corpo em tato de ninho
bocas se acham sorrindo
nos intervalos
tento agarrar com letras
um fantasma que sempre escapa
o detalhe entalhado no silêncio:
dentro é fora
fora e dentro
se as perguntas nos movem
todas as respostas
que não nos parem
estão erradas:
está tudo em seu lugar
um corpo em formato de ninho
lá fora
sorriem e dançam
nos intervalos de uma vida sem sentido
mas precisam beber para tal
aqui dentro
enquanto meu corpo definha
defino precisão, relaxamento e atenção
a cada respiração
e não me salvo
(mas me deito)
num corpo em tato de ninho
bocas se acham sorrindo
nos intervalos
tento agarrar com letras
um fantasma que sempre escapa
o detalhe entalhado no silêncio:
dentro é fora
fora e dentro
se as perguntas nos movem
todas as respostas
que não nos parem
estão erradas:
está tudo em seu lugar
27/02/2014
folia
(Para M.)
obrigado, configurações caóticas imprevisíveis e incontroláveis
por mais um carnaval aquecido dentro da paz a dois
sem músicas altas ou bêbados baixos
sem frio no calor da multidão
obrigado, configurações caóticas imprevisíveis e incontroláveis
por mais um carnaval aquecido dentro da paz a dois
sem músicas altas ou bêbados baixos
sem frio no calor da multidão
Imagem: “Sunset, West Twenty – Third Street” – John Sloan |
26/02/2014
rosa real e lírica
(Para M.)
o possível é perto
vermelho dentro
antideserto
dança quente
a palavra
parasempre
- tudo bem?
- tudo bom.
(sua mão)
tudo
bom
respiro lento
pra não voar
(e voo no centro do chão)
o possível é perto
vermelho dentro
antideserto
dança quente
a palavra
parasempre
- tudo bem?
- tudo bom.
(sua mão)
tudo
bom
respiro lento
pra não voar
(e voo no centro do chão)
Imagem: “sem nome” – Lorenzo Mattotti |
os homens com medo
(Para M.)
dei uma rosa pra ela
no meio da nossa primavera
os homens com medo
recomendaram pedras
pra me proteger
então abri ainda mais o vermelho
e fomos morar um no outro
dei uma rosa pra ela
no meio da nossa primavera
os homens com medo
recomendaram pedras
pra me proteger
então abri ainda mais o vermelho
e fomos morar um no outro
Imagem: “Freedom” – Ilya Repin |
Poesia temática:
amor,
amor livre,
melhores poemas,
musas,
poesia,
top50
24/02/2014
a borboleta
Para M.
foi quando descobriu que havia ar
em cima da água
que lhe pesava pulmões
novos olhos
mesmos cômodos
menos incômodos
eis agora a bênção
de respirar sem guerra
ela ao lado
me ensinando a ensinar
ela ao lado
bem do lado de dentro
ela ao lado
melado de doce
ela ao lado
música, amor leve
ela ao quadrado
(que se curva)
ela ao lado, meço:
uma estátua de carne e arte
começando a parte de viver
enquanto recomeço
foi quando descobriu que havia ar
em cima da água
que lhe pesava pulmões
novos olhos
mesmos cômodos
menos incômodos
eis agora a bênção
de respirar sem guerra
ela ao lado
me ensinando a ensinar
ela ao lado
bem do lado de dentro
ela ao lado
melado de doce
ela ao lado
música, amor leve
ela ao quadrado
(que se curva)
ela ao lado, meço:
uma estátua de carne e arte
começando a parte de viver
enquanto recomeço
Imagem: “Sunset in Mid Ocean” – Thomas Moran |
16/02/2014
salvo-me da salvação
(Para M.)
monto a minha paz
dissolvendo-me ao chão
com passos de silêncio e agora
sem cavalos loucos, sem paixões de fora
monto a minha paz
dissolvendo-me ao chão
com passos de silêncio e agora
sem cavalos loucos, sem paixões de fora
Imagem: “His Last Dream” – Julio Larraz |
Poesia temática:
anti-padrão,
anti-paixão,
budismo,
eu,
meditação,
poesia
13/02/2014
12/02/2014
o mesmo quarto
(Para M.)
o quarto vazio
se você não vem
é escuro e frio
(o peito, uma prisão)
o quarto vazio
se há a chance de você vir
é meditação
o quarto vazio
se você não vem
é escuro e frio
(o peito, uma prisão)
o quarto vazio
se há a chance de você vir
é meditação
Imagem: “Le Pont- Neuf la nuit” – Albert Marquet |
santíssima trindade
santo é quem mete a mão nas chamas do inferno
com a coragem de construir o novo
depois de desabado tanto antigo
o santo vai de mão dada com o louco
pra cada vez mais perto do perigo
soprando asas contra o certo
com a coragem de construir o novo
depois de desabado tanto antigo
o santo vai de mão dada com o louco
pra cada vez mais perto do perigo
soprando asas contra o certo
Imagem: “Snow Storm” – Turner |
Poesia temática:
amor livre,
eu,
melhores poemas,
poemas sobre poesia,
poesia,
rima
11/02/2014
funcionalismo
tem algo podre
no ar condicionado
há dias
a seção de vistoria desconfia de morcegos mortos
a seção da mesma voz (SEMV) reclama
a seção da tarde repete a_manhã
a direção resolveu trocar por meio de portaria a sigla da portaria
e continua fedendo
no ar condicionado
há dias
a seção de vistoria desconfia de morcegos mortos
a seção da mesma voz (SEMV) reclama
a seção da tarde repete a_manhã
a direção resolveu trocar por meio de portaria a sigla da portaria
e continua fedendo
sonho 1.654
vou saindo
lentamente
das cinco pontas
de minha estrela
de minha cruz
descendo
vagaroso
da noite alta
amanhã
sendo
luz
lentamente
das cinco pontas
de minha estrela
de minha cruz
descendo
vagaroso
da noite alta
amanhã
sendo
luz
Imagem: “Twilight in the Wilderness” – Frederic Church |
09/02/2014
irrasgável irascível
escrevo o poema correndo
pauso o filme
entre o almoço e o celular
desligo o celular
as cuecas caindo
antecipo o fim do almoço
escapo
(cinco amores nas escápulas)
é como uma água cheia de fotos
fotos que se foram e esqueci
todos os meus ancestrais
que me fizeram estar aqui
e não sei se agradeço ou morro
corro da outra água revolta de pratos
os pratos dos armários excessivos
do apartamento de meus pais
vazio
água rodando
torvelinho do filme
de que corro
(ela)
as fotos são importantes
porque você lembra delas
mesmo quando consegue deixar se afogar
todo o resto
agora vejo letras num caldeirão
e um mar sem fim de livros
fechados
eu lembro
por exemplo
da foto do seu rosto lindo
que eu tirei logo depois
do nosso primeiro beijo
já apaguei todas
já não há nem a lembrança dos beijos
não é lindo o seu rosto que me assusta ainda
de quando em vez, em noites de uivos
ou em filmes românticos
apaguei tudo
mas eu lembro daquela foto
não tendo mais nada
guardo a lembrança amarelada
na casa laranja de Adélia
como uma dor
eternamente anoitecendo
pauso o filme
entre o almoço e o celular
desligo o celular
as cuecas caindo
antecipo o fim do almoço
escapo
(cinco amores nas escápulas)
é como uma água cheia de fotos
fotos que se foram e esqueci
todos os meus ancestrais
que me fizeram estar aqui
e não sei se agradeço ou morro
corro da outra água revolta de pratos
os pratos dos armários excessivos
do apartamento de meus pais
vazio
água rodando
torvelinho do filme
de que corro
(ela)
as fotos são importantes
porque você lembra delas
mesmo quando consegue deixar se afogar
todo o resto
agora vejo letras num caldeirão
e um mar sem fim de livros
fechados
eu lembro
por exemplo
da foto do seu rosto lindo
que eu tirei logo depois
do nosso primeiro beijo
já apaguei todas
já não há nem a lembrança dos beijos
não é lindo o seu rosto que me assusta ainda
de quando em vez, em noites de uivos
ou em filmes românticos
apaguei tudo
mas eu lembro daquela foto
não tendo mais nada
guardo a lembrança amarelada
na casa laranja de Adélia
como uma dor
eternamente anoitecendo
Imagem: Desenho de Fabio Rocha |
08/02/2014
sístole e diástole
me construo e me desfaço
publicamente em letras
de funcionário público
(respiro silencioso)
em volta, sem casca
o ovo do mundo
duro
dura
(arfo sonoro)
dentro, com muro
afasto desertos
a nado
publicamente em letras
de funcionário público
(respiro silencioso)
em volta, sem casca
o ovo do mundo
duro
dura
(arfo sonoro)
dentro, com muro
afasto desertos
a nado
07/02/2014
LP
vi a capa de um disco antigo
na casa da minha vó
e nunca mais esqueci:
porque doeu
era um cara de peito aberto
costelas arrebentadas por asas
saindo um pássaro que cantava mudo:
era eu
na casa da minha vó
e nunca mais esqueci:
porque doeu
era um cara de peito aberto
costelas arrebentadas por asas
saindo um pássaro que cantava mudo:
era eu
Poesia temática:
eu,
imagético,
infância,
melhores poemas,
poemas para imagens,
poesia,
top50,
voo
eu sou o furo no barco de minha própria fraude
cansado de varrer o coração pra baixo do tapete
eu sou o furo no barco de minha própria fraude:
tenho saudades do amor feinho
de prender e ser preso
de viver brigando
de ir ao mercado reclamando
de voltar pra casa pelo mesmo caminho
de ver filme ruim e achar ruim a vida com o outro
da mesma rotina da mesma rotina da mesma rotina
dos finais de semana nas mesmas esquinas
do corpo não perfeito
do sentimento não perfeito
da mente não perfeita
do sexo não perfeito
feito jarro mais bonito espatifado
eu sou o furo no barco de minha própria fraude:
tenho saudades do amor feinho
de prender e ser preso
de viver brigando
de ir ao mercado reclamando
de voltar pra casa pelo mesmo caminho
de ver filme ruim e achar ruim a vida com o outro
da mesma rotina da mesma rotina da mesma rotina
dos finais de semana nas mesmas esquinas
do corpo não perfeito
do sentimento não perfeito
da mente não perfeita
do sexo não perfeito
feito jarro mais bonito espatifado
Poesia temática:
amor,
amor livre,
eu,
melhores poemas,
poemas de amor,
poesia,
separação,
top10,
top20,
top50
emergência
apressem as paixões!
abram alas!
quebrem relógios!
estão contaminadas por distâncias
minhas paixões
e por lógica
elas - e apenas elas
podem me salvar
a sua tinta linda
cor de alvorada
já desbota
por favor
tenho pressa pressa pressa pressa pressa
peço:
abram os sinais
quebrem as pedras
dancem as árvores
pra que as minhas paixões venham voando
pra dentro do possível
abram alas!
quebrem relógios!
estão contaminadas por distâncias
minhas paixões
e por lógica
elas - e apenas elas
podem me salvar
a sua tinta linda
cor de alvorada
já desbota
por favor
tenho pressa pressa pressa pressa pressa
peço:
abram os sinais
quebrem as pedras
dancem as árvores
pra que as minhas paixões venham voando
pra dentro do possível
Poesia temática:
ansiedade,
dificuldade de amar,
dificuldade de relacionamento,
eu,
humor,
melhores poemas,
paixão,
poesia,
top50
06/02/2014
sério
a importância de ir atrás de seus sonhos
perseguir seu objetivos
celebrar
deixar tudo fluir e se mover junto
no ritmo da vida
cansa
perseguir seu objetivos
celebrar
deixar tudo fluir e se mover junto
no ritmo da vida
cansa
autopoiesis
Para Ana Thomaz
a perna direita é biológica
a esquerda, cultural
a vida manca corpos nossos
corpos segmentados por relógios e áreas de conhecimento
enquanto seguimos inconscientes de sermos inteiros
criando linguagens ininteligíveis de grupos menores
e superiores impotentes precisando de poder
seguimos denominando emoções estagnadas, respostas prontas
ressentimentos antigos enquanto tudo flui
mas apesar dessa cultura patriarcal redutora
nos sabemos no outro
(o corpo enquanto corpo possibilita a emoção
emoção que move as duas pernas
para além do múltiplo, para perto)
e tropeçamos realidades criadas
únicas, pessoais, intransferíveis
criamos a nós mesmos
enquanto a natureza nos sorri
seu equilíbrio
sua unidade
a perna direita é biológica
a esquerda, cultural
a vida manca corpos nossos
corpos segmentados por relógios e áreas de conhecimento
enquanto seguimos inconscientes de sermos inteiros
criando linguagens ininteligíveis de grupos menores
e superiores impotentes precisando de poder
seguimos denominando emoções estagnadas, respostas prontas
ressentimentos antigos enquanto tudo flui
mas apesar dessa cultura patriarcal redutora
nos sabemos no outro
(o corpo enquanto corpo possibilita a emoção
emoção que move as duas pernas
para além do múltiplo, para perto)
e tropeçamos realidades criadas
únicas, pessoais, intransferíveis
criamos a nós mesmos
enquanto a natureza nos sorri
seu equilíbrio
sua unidade
Poesia temática:
amor livre,
budismo,
ecologia,
eu,
filosofia,
melhores poemas,
poesia,
psicologia,
top50
05/02/2014
a colher do Matrix
escrever não é escolha:
o mundo nos encolhe
em vez de acolher
o mundo nos encolhe
em vez de acolher
Poesia temática:
melhores poemas,
poemas psi,
poemas sobre poesia,
poesia,
poetrix,
psi,
top50
03/02/2014
tc
Para Aline
minha musa é um pássaro de letras
num quadro de amores tortos
e duros
todos os chats de amor são ridículos
mas rimos juntos, rimos muito
suspirando tristezas
e futuros
minha musa é um pássaro de letras
num quadro de amores tortos
e duros
todos os chats de amor são ridículos
mas rimos juntos, rimos muito
suspirando tristezas
e futuros
30/01/2014
decisão
todos os pontos cardeais
me expurgam
para onde deveria ir
as flechas
me espetam
janelas
de espera
enquanto olhos me olham redondos
o relógio
dá voltas
sem sair
do lugar:
sem marcar uma meta
sem sair
do quadrado
entre quatro
paredes
sob o teto quente
sobre o chão gelado
cato um meio
de não escolher uma reta
me expurgam
para onde deveria ir
as flechas
me espetam
janelas
de espera
enquanto olhos me olham redondos
o relógio
dá voltas
sem sair
do lugar:
sem marcar uma meta
sem sair
do quadrado
entre quatro
paredes
sob o teto quente
sobre o chão gelado
cato um meio
de não escolher uma reta
29/01/2014
28/01/2014
relatório de viagem: escritório
sempre confundo falópio com eustáquio
mas importa mesmo é o abraço
não obstante, ilustríssimo
a base da cadeira é de aço
quando durmo mal dói a coluna
quando durmo bem dói a coluna
quando nem durmo dói a coluna também
as luminárias seguem caladas
apenas observando
e esperando a hora certa
enquanto isso
atenciosamente
sem mais
fico
mas importa mesmo é o abraço
não obstante, ilustríssimo
a base da cadeira é de aço
quando durmo mal dói a coluna
quando durmo bem dói a coluna
quando nem durmo dói a coluna também
as luminárias seguem caladas
apenas observando
e esperando a hora certa
enquanto isso
atenciosamente
sem mais
fico
27/01/2014
25/01/2014
eu tu nós
o amor padrão é sempre esta merda:
você pensa e tensa
você mede e perde
você pensa e tensa
você mede e perde
Poesia temática:
amor,
amor livre,
dificuldade de amar,
dificuldade de relacionamento,
eu,
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24/01/2014
anti-paixão
21/01/2014
20/01/2014
círculo perfeito no peito
Para Anna
quantas dores cabem
num poema de amor?
tempus fugit
talvez eu seja
só mais um careta e covarde
ou só quando da Paixão
tentando transformar tédio em melodia
bebendo poesia - tesão veneno antimonotonia
meu medo aumente abaixo do papel
porque dentro de todo lençol
tem uma máscara de água
talvez não
talvez o distante apenas
brilhe horizontes assim
ou tonto
eu siga tentando dançar
sem ter pernas
na véspera de ir bater ponto
quantas dores cabem
num poema de amor?
tempus fugit
talvez eu seja
só mais um careta e covarde
ou só quando da Paixão
tentando transformar tédio em melodia
bebendo poesia - tesão veneno antimonotonia
meu medo aumente abaixo do papel
porque dentro de todo lençol
tem uma máscara de água
talvez não
talvez o distante apenas
brilhe horizontes assim
ou tonto
eu siga tentando dançar
sem ter pernas
na véspera de ir bater ponto
foto: Fabio Rocha |
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16/01/2014
estranhamento lírico livre poliamoroso
o poema vou
vou pro norte de trem
pro oeste de carro
pro sul de avião
voo pro alto, superman
sem cair
sem sair de mim
e sem mentir pra ninguém
vou pro norte de trem
pro oeste de carro
pro sul de avião
voo pro alto, superman
sem cair
sem sair de mim
e sem mentir pra ninguém
15/01/2014
complicaciones
Para Olga
agora me (en)canto sem música
porque cantamos juntos sem ensaio e sem jeito
e foi perfeito
agora me (en)canto sem música
porque cantamos juntos sem ensaio e sem jeito
e foi perfeito
lança
Para Olga
as e se teu beijo
silencia todos os andaimes?
quando e como reconstruir
meus pedaços
se o aço de tua boca que morde
e sopra e dança
ainda balança
esse coração perfurado?
as e se teu beijo
silencia todos os andaimes?
quando e como reconstruir
meus pedaços
se o aço de tua boca que morde
e sopra e dança
ainda balança
esse coração perfurado?
13/01/2014
deitada
Para Olga
o indizível me olha nos olhos
longamente
sonho de novo
oceanos de sentir
e de sentido
um corpo
e um rosto de estátua
um medo
e uma vontade:
para sempre
o indizível me olha nos olhos
longamente
sonho de novo
oceanos de sentir
e de sentido
um corpo
e um rosto de estátua
um medo
e uma vontade:
para sempre
las brumas de Lima
Para Olga
mis hombros fueron hechos
para recibir tu cabeza
como el mar helado del pacifico
recibe gaviotas
y las olas
que se mueven por todo el planeta
sin desprenderse del agua
mis hombros fueron hechos
para recibir tu cabeza
como el mar helado del pacifico
recibe gaviotas
y las olas
que se mueven por todo el planeta
sin desprenderse del agua
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09/01/2014
feminino, plural
como se o fruto da resposta
estivesse desde sempre
no fundo do ventre das árvores
as árvores:
feminino, plural
estivesse desde sempre
no fundo do ventre das árvores
as árvores:
feminino, plural
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televisores não quebram
para que possamos ver e querer
Comprar coisas que quebram
para que possamos ver e querer
Comprar coisas que quebram
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06/01/2014
poliamor em decassílabos
queria deixar mas tenho ciúme
queria casar mas tenho desejos
então silencio lumes e gumes
pela profundidade de teu beijo
queria casar mas tenho desejos
então silencio lumes e gumes
pela profundidade de teu beijo
02/01/2014
caio feliz nas melhores tentações
(Para Olga, que me fez conhecer Lima)
estava cansado de ser homem
até me perder em teu toque
não sei como chegaste
nem a história de onde vieste
(e eu nem sabia que te esperava)
mas vieste
com esse jeito forte
com esses olhos móveis
com esse corpo esculpido em carne
a palavra delícia
dança no céu sem estrelas
onde meus dedos buscam
esse corpo de estátua que toco
treme
(as cavernas do teu corpo)
me chama e me puxa
pequeno, visceral e quente
num frenesi de vulcão invertido
e, pulsando, também me ascende
úmido e liso como deveria ser deus
nossas línguas
não se entendem tão bem
quanto nossas línguas
com tua boca na minha
aprendo:
corpos se compreendem
sem palavras
sem limites
mar de infinitas possibilidades
dentro do beijo mais longo:
criação gradual de pacífico e atlântico
beija-me, então
que estamos todos
longe de casa
beija-me
que nem penso
nem falo palavras
dentro da tua boca múltipla
beija-me
e assim descanso
pois no teu beijo
quase morro
de tanta vida
estava cansado de ser homem
até me perder em teu toque
não sei como chegaste
nem a história de onde vieste
(e eu nem sabia que te esperava)
mas vieste
com esse jeito forte
com esses olhos móveis
com esse corpo esculpido em carne
a palavra delícia
dança no céu sem estrelas
onde meus dedos buscam
esse corpo de estátua que toco
treme
(as cavernas do teu corpo)
me chama e me puxa
pequeno, visceral e quente
num frenesi de vulcão invertido
e, pulsando, também me ascende
úmido e liso como deveria ser deus
nossas línguas
não se entendem tão bem
quanto nossas línguas
com tua boca na minha
aprendo:
corpos se compreendem
sem palavras
sem limites
mar de infinitas possibilidades
dentro do beijo mais longo:
criação gradual de pacífico e atlântico
beija-me, então
que estamos todos
longe de casa
beija-me
que nem penso
nem falo palavras
dentro da tua boca múltipla
beija-me
e assim descanso
pois no teu beijo
quase morro
de tanta vida
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