01/08/2016

Crítica ao meu novo livro "Romance de Começos"

Hoje recebi do velho amigo poeta Luiz Libório (conheçam o blog dele, vale a pena) esta crítica ao meu novo livro "Romance de começos", que está disponível gratuitamente aqui no Scribd. Leiam:

Em primeiro lugar, achei bonito algum princípio de organização, mesmo que óbvio. Como em “sou ateu mas creio no chupacabras” estar depois de uma breve discussão sobre a escravidão pós-Deus que descamba no desespero de encontrar um filósofo contemporâneo autóctone, sucedido por “Passei por gente e pensei: são humanos. Só querem ser felizes”. Quer dizer, sei lá se foi de propósito, mas eu entendi como se fosse. 
Por que esperar filósofos de humanos como eu? etc.
Se bem que esse “chupacabras” me atormentou, no sentido de parecer algo tragicomédia. Modernista, saca? Olha esse trecho de Macunaíma: 
"Cruzou os braços num desespero tão heróico que tudo se alargou no espaço para conter o silêncio daquele penar. Só um mosquitinho raquitiquinho infernizava inda mais a disgra do herói, zumbindo fininho: ‘Vim di Minas... vim di Minas...’"
Vê como a linda primeira imagem é destruída por essa comédia forçada? Seu livro me deu essa impressão. Muito.
Errar como Mario de Andrade. Nada mal, ahm?
Há construções de imagens lindas mas quebradas com esse tipo de sarcasmo:
“Se me movo, universitárias sabichonas ou estudantes da função quadrática se amontoam semestralmente em torno de meu sexo sem futuro: masturbação mental e orgasmo difícil. Se me movo minimamente em direção aos seios tenros enquanto falo de borboletas azuis em versos frágeis, do ovo do tempo nasce apenas o coito, a duras penas. Coito cada vez menos mágico.”
“Função quadrática” e “masturbação mental” são termos prontos que desfazem a criatividade (em mim) dos seus termos. 
“Em direção aos seios tenros” é tão forte que me lembrou uma imagem que li quando criança e nunca esqueci, algo que dizia do cheiro de seio que desprendia de uma adolescente (Breve Romance de Sonho, Schnitzler). Coisa fina. 
Mas “sabichonas” é um negócio de um mau gosto fodido. 
Quer dizer, esses adornos mal postos aparecem sempre, como espinhos. Uma boa ideia, tipo “se amontoam semestralmente em torno de meu sexo sem futuro” apodrecidas por “masturbação mental”. 
Lembrei que o Bukowski também faz essas coisas, de estragar imagens, e eu também fiquei muitas vezes incomodado com isso nele (não leio mais Bukowski; hoje o acho um Rei Lear que “ficou velho antes de ficar sábio”, um adolescente eterno). 
Em tempo: “do ovo do tempo nasce apenas o coito”. Que coisa linda! E perceba que é algo novo construído de elementos velhos (“tempo” e “ovo” são relacionados normalmente). Saca? Tô sendo chato? Pois bem.
Estou me sentindo o Mário Faustino falando porque o Jorge de Lima era o maior poeta brasileiro de todos os tempos e ao mesmo tempo era um mau poeta.
Será que somos bons poetas?
Gostei do plano de fundo “não me movo” que descamba em sentir uma paz “sem” (“sem um encontro no sábado, sem esperança futura, sem sexo há meses”), como se você estivesse para ser pedra, um Buda rochoso mesmo.
No fim da citação inicial há “excesso de ficção barata difundindo essa mitologia”. Eu ri. Você está falando do próprio livro? Queria que você tivesse mantido os casos censurados. 
“Romance de começos”: um relacionamento romântico que nunca passa do início ou um romance literário que não passa da primeira página?
Enfim: gostei? Não sei. Acho que como livro, não. Mas algumas imagens me emocionaram.
“Lustrar a alma cheia de dentes no próprio suor contente”. Bonito mesmo. Meio Breton em Nadja.
Saiba que escrevo DE CORAÇÃO.
Estou cansado de muita coisa, entre elas: dar opinião poética sem que seja DE CORAÇÃO.

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