29/12/2017

eu não falo dela

eu não falo dela porque
as coisas mudam
e as palavras ficam

eu não falo da pele
do cheiro dela
da conversa milagrosa sem interrupções bruscas

eu não falo que ela não gosta de maquiagem
nem da palavra amor

eu não falo o nome dela

e
principalmente
não faço um poema para assustá-la

28/12/2017

do eu mudo

quando estou quase conseguindo me acostumar com meu discurso
eu
mudo

20/12/2017

notol

as pessoas se esbarram
as pessoas se esfolam
as pessoas se amavam
as pessoas se reprovam

as pessoas se esmolam
as pessoas se torram
as pessoas se beijam
as pessoas se cortam

as pessoas se casam
as pessoas se fodem
as pessoas se cansam
as pessoas se morrem

em verdade

primeira reunião com o chefe novo no departamento de marketing. ele quer conhecer a equipe, amigável. pergunta sobre nossa ligação com aquele serviço, das nossas vidas, do que mais gostamos, nossos sonhos, ideias e metas. todos falam coisas bonitas e proativas. eu pensando em como não mentir... como escapar daquela situação estranha... chega a minha vez. relaxo. falo que estou com um probleminha motivacional e filosófico básico: cada vez mais enxergo o marketing como uma mentira. que tenta vender a felicidade em produtos. mas a felicidade genuína é interna. a expressão do chefe e da equipe é impagável. não durei muito no departamento de marketing.

18/12/2017

processo

o futuro
do país do futuro
é o retrocesso

17/12/2017

oroboros

há uma grande noite
por trás da noite

a cara do outro torta
me mostra sua prática ainda teórica
(e a minha, principalmente a minha)

todo encontro
são dois tatos separados por uma ilusão
sentidos de maneira diferente nos sentidos

toda experiência
é um sonho lindo
dentro de um sonho findo

tudo é construído por causas e condições:
deveríamos construir sorrindo
a construção de tudo

eu mudo:
é do silêncio
que nascem as palavras

16/12/2017

sem uma esperança clara de comunhão sob o céu medonho da palavra

os ponteiros no relógio do poeta
giram devagar

o poeta é aquele
esperando a musa que virá

o poeta precisa abrir o peito
e gritar

não entende muito bem para que
para onde
para quem

um poeta é um vazio
abrindo seu vazio
para o vazio

- sem uma esperança clara de comunhão sob o céu medonho da palavra

12/12/2017

marina chega

marina chegou nas tulipas de seus contos
antes de chegar
no mesmo dia da primeira palavra
(sem adiar)

gostei de marina
lendo marina
antes de tudo

escritora com pena tatuada no braço
pele macia
perfume de flor
olhar de pássaro
beijo de cor
conversa de doutorado

o sertão virar mar
o mar virar sorriso
(por não estar alerta)

e agora ouvir love songs
na jb fm
me alegra
profundo

a luz do quarto pisca
eu não tento guardar seu perfume em letra
eu não tento prolongar a flor
eu não tento planejar o senão
eu não tento estabilizar a luz
eu não tento nada

tendo o dia se transformado em poesia
eu barbado tenho tudo
no agora condicionado
ouvindo love songs na jb fm

(e
apenas
sorrio)

11/12/2017

anti-romântico 108

o coração foi exaustivamente treinado em precisar dela para relaxar
em vez de simplesmente
relaxar

trilho e não trilho o caminho do meio
entre o esforço o soltar e o perder-se

em raros instantes tênues
que logo se vão
sinto
das chamas do silêncio
o coração maior que o mundo
tal qual drummond

09/12/2017

racionalizando (gorro de Noel e camisa do Batman)

a gente sabe que não deveria comer carne
mas come

a gente sabe que não deveria criar confusão
mas cria

a gente sabe que não deveria ter filhos num planeta onde a vida nos oceanos se extinguirá em vinte anos
mas tem

a gente sabe que deveria jogar fora o celular em vez de tocar nele mais de duas mil vezes por dia
mas não joga

a gente sabe que deveria evitar as distrações, o tinder, o game, a night, o netflix
mas não evita

a gente sabe que a resposta é in
mas vive out

a gente sabe que não deveria interromper a meditação para fazer um poema
mas interrompe

e
se derem chance
faremos palestras sobre autocontrole

02/12/2017

tocar a tríade ao mesmo tempo sem tempo

cantar alto
no centro da noite
até perder a voz
e se achar no silêncio