25/12/2015

o novo e antigo futuro do amor

tem gente demais
no tinder
no colégio
no facebook
no trabalho
na boate
no omegle
no metrô
na puta que pariu
para ter paz numa relação

gente
não

eu
não
confiável

a novinha trai
a velhinha não atrai

converso com quinze
ela com dezesseis
nos celulares com senha
nenhum de cada vez

então
brota
a paz:

a prostituta
(a prostituta que não consegue trabalhar quando se apaixona)
(a prostituta sem jogos)
(a prostituta que marca e vem)

desligamos os celulares

eu não a engano
nem ela a mim

somos transparentes
totalmente sinceros

nos tocamos
ganhamos o que queremos
nos despedimos

sem a menor possibilidade de
obrigações
construções
decepções
complicações

eis o futuro das relações

23/12/2015

já é natal na líder magazine

rotina ou não rotina tanto faz:
abrir agora essa cortina
e ver de fora dos natais

mais um ano, mais um mês, mais uma lua
achamos que passou
mas o instante continua

não perder nenhuma chance
de estender a mão

contabilizar perdas e ganhos individuais
baseados num calendário menos preciso que o maia
não me parece uma boa praia

leoas na áfrica também acham
que nascem, crescem, sofrem e morrem
mas nós podemos mais

18/12/2015

telegrama de dentro do amor romântico

eu danço feito louco
com a paixão adolescente
abissal, quente e fugaz
(fugaz fugaz fugaz fugaz)
tentando não (me) queimar demais

e danço mais lento
com os olhos fundos irrecuperáveis
de mulheres traumatizadas
ao se perceberem traídas
ou irmãs ou amigas
de seus parceiros há muito perdidos

eu tendo a não aprender os passos:
no amor não tem jeito de não sofrer
no mundo não tem jeito da paz ser sólida

e danço no manto do arrepio
assim, exatamente assim, como for
no meio do caos, do prazer, da dor
mas insisto e danço enfim
(por enquanto)

17/12/2015

improvável quase impossível (a prova)

o filme era descritível:
bem dirigido, atores bons, maravilhoso

o beijo, porém
foi meu primeiro beijo
inominável

(foi meu primeiro beijo)

o beijo o cheiro o corpo a língua a pele o lábio

nenhum verbo

moreia na caverna com olhos de fogo

sístole e diástole do universo

mãos-centopeias em disputa

mundo líquido

o sagrado espreitando a beira do milagre mais profano

tempos de degenerescência

estamos na beira do tempo

de pedir paz
porque não temos mais paz
com um celular na mão

de pedir harmonia
com o planeta em via
da destruição total

de pedir união
incapazes que estamos
de manter uma simples relação

12/12/2015

também escrevo porque desisti de ter jeito

as crianças todas felizes na apresentação de balé
e tudo que vejo é a menininha chorando
com a mão na boca
a mãe sem saber se ampara ou aplaude
a professora colocando outras crianças na frente

tudo o que também vejo é o beco,
manuel bandeira,
sem glória

e a certeza do natal
se aproximando sem chance de escapatória
eu sorrindo com a lombar doendo
o futuro, o instante e a memória

10/12/2015

filhos dos filhos dos filhos

as revistas ainda dizem
qual é o bikini da moda

crianças nascem
para beber silicone
enquanto litros passam fome

o plástico no mar
peixes radioativos comem

mas vamos lá
vamos no mesmo caminho
na mesma direção

não por certezas
mas por distração

01/12/2015

fogos

quantos beijos
até a certeza carnal
de que não está no beijo
a paz abissal

o fim e os meios
no início
de todo precipício
igual

artifício artificial
fogo de palha
sísifo sem meta
estátua de sal

Imagem: foto de Fabio Rocha

mais benefício?

quando minha poesia grita
mais gente a escuta
mais corpos se agitam
mais arte e mais urros
(murros em muros)

mas o sussurro
é mais precioso