entrevistas

  • Entrevista concedida ao site Dez Poesias (2014)
  • Entrevista concedida a Eliane Gonçalves - Revista Eletrônica Elo de Amor (2005)
  • Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão - Revista Eletrônica Balacobaco (2002)
  • Entrevista concedida a Jorge Pasin - Revista Ponto de Vista (2001)
  • Entrevista concedida a Viviane Reis - site Retalhos (2001)




Entrevista concedida ao site Dez Poesias, publicada junto com 10 poesias selecionadas, em 2014

Você escreveu seu primeiro poema inspirado em um amor platônico, aos 18 anos, mais ou menos (correto?). Quando o escreveu, imaginou, por algum instante, que poderia ter algum futuro na poesia? Houve uma certa premonição, lá no fundo, de que daria certo, ou as coisas simplesmente foram acontecendo?

Sim, foi aos 18. Faz tempo... Mas, se não me engano, toda a minha esperança estava em conquistar a menina, musa do poema. Não tinha nem noção de que escreveria poesia por tantos anos. Mas não sei se isso pode ser considerado "dar certo", também. A poesia foi simplesmente se tornando um hábito, substituindo a mania de fazer diários desde que li "Drácula", de Bram Stoker.

Tem poesias antigas que quando relê, não se lembra mais do que se trata? 

Sim, em geral, tiro dos blogs essas, se as acho ruins ou sem ter algo sólido e claro a dizer. Salvo como rascunho (assim não ficam publicadas mas não as perco), mas depois acaba que nunca mais as leio. Talvez saiam em algum futuro livro, mas esse trabalho de seleção de poemas para livros me deixa bem maluco só com os poemas publicados nos blogs.

Soube que você escreve por volta de uma poesia por dia (!). Como consegue ser tão inspirado? Tem dias em que as ideias simplesmente não surgem? 

Eu já tive uma fase em que me forçava a escrever um poema por dia, mas depois do lançamento do Rio Raso em 2014, eu resolvi revisar a obra toda e priorizar qualidade em vez de quantidade. Tirei muita coisa do ar. Talvez você nem quisesse me entrevistar se eu não tivesse feito essa revisão... (rs) 
Mas recentemente, acho que a média da minha produção deve ser mais ou menos de um poema a cada 4, 5 dias. Na minha fase atual, acho que estou seguindo o que Bukowski aconselha nesse poema ("então queres ser um escritor?"), que é um dos meus favoritos e traduzi.

Algumas de suas poesias trazem fortes referências budistas, como "shamata", "bambuzal ao vento" e "shamata impuro". Como você conheceu o budismo e como ele influencia sua vida? 

Nossa, foi uma revolução. Está sendo. Eu sempre fui um buscador de sentido nessa vida. Meu blog de poesias antigo, aliás, se chamava "Da busca".
Desde que a infância se foi, comecei nessa busca. Resumindo bem a coisa, estudei magia, ufologia, religiões, esoterismo, simbologia, psicologia, psicanálise, filosofia... Filosofia acabei estudando na academia, mas larguei porque não queria um diploma, um papel. Acabou virando um blog.
Também fui paciente na psicanálise freudiana, lacaniana e junguiana por uns 5 anos, comecei um curso de formação como psicanalista, mas  acabou minha paciência estudando Lacan. Comece a fazer ioga, ler Osho e Roberto Freire, tentei o amor livre, cansado de sofrer com o amor preso... E foi justamente no auge do sofrimento de mais uma separação que, através de algum caminho louco via Google, cheguei ao budismo tibetano e senti uma grande conexão com o Lama Padma Samten. Isso tem quase dois anos. Desde então, estou praticando meditação diariamente, participando do CEBB e toda a minha percepção da vida está mudando. 

Na última estrofe de "no meio do caminho", você faz uma menção clara sobre a adolescência. Dá a entender que você era o tipo de adolescente mais "fechado", mais tímido, foi assim mesmo? 

Sim, muito tímido mesmo. Principalmente para fazer o primeiro contato com as meninas. Muitas vezes não consegui. Acho que os escritores em geral vivem num mundo próprio, mais reservado, mas eu era demais. Os amigos também eram poucos. E nunca gostei de festa, bebida, futebol e da maioria das coisas que as maiorias curtem. Talvez isso tenha sido um agravante. 

Em "da época do telefone fixo" e "reinfância" você menciona seus avós. E ainda tem "minha avó fazendo 90 anos"...  Sua relação com seus avós foi muito importante, né?

Sim, foi importantíssima. Na casa da avó materna e paterna eu me sentia mais livre pra ser criança. Mais feliz. A criatividade e a brincadeira, infelizmente, tem um espaço cada vez menor na vida adulta dita "normal", com a porcaria que é nosso sistema de educação voltada pro mercado de trabalho (que me parece uma escravidão disfarçada). Quando saio desse mundo "normal" pra fazer um poema, estou - de alguma forma - revisitando a casa dos meus avós.

O Rio de Janeiro, vez ou outra, é descrito de alguma forma em suas poesias, como em "subúrbios cariocas" e "barra e copa". Acha que a riqueza cultural carioca foi um fator essencial para sua inclinação poética?

Adoro a estética do Rio de Janeiro, esse encontro de mar, montanha e cidade. Mas acho que poderia ser qualquer cidade grande.
O tipo de vida em cidade grande é que inspira... A opressão da cidade grande, o ritmo da cidade grande... É o que faz também tantos paulistas virarem grafiteiros, colocando alguma cor naquele mundo cinza, na marra.
O sofrimento de uma vida anti-natural faz todo mundo que é mais sensível querer gritar de alguma forma. Acho que é isso.

Em "coma ovo - não coma ovo", tem um verso que diz: "a depressão pode salvar o mundo". O que você quis dizer com isso? Pergunto, porque é um verso forte, que eu achei muito bonito e eu gostaria de saber mais sobre ele. 

Acho que os níveis altíssimos de depressão no mundo podem ser vistos como um sinal de que há algo muito errado. Com isso, as pessoas podem acordar. Cada um de nós precisa acordar... Nosso modo de viver não faz sentido, a "normalidade" que prioriza a perspectiva econômica e tende a considerar tudo como "recurso" não faz sentido. E está destruindo o planeta. Talvez precisemos ficar doentes coletivamente para perceber outras formas de ver a realidade e para mudarmos nossos hábitos, desejos e valores.

Soube que recentemente você saiu de um emprego para se dedicar somente à escrita... Pouco tempo antes de saber disso, notei que algumas de suas poesias recentes, criticam, de certa forma, esse infeliz sistema econômico, que normalmente não leva em conta a satisfação pessoal do trabalhador comum, como em "mercado de trabalho", "guia de benefícios", "funcionário", entre outras... É algo que você planejou por muito tempo, ou foi uma decisão relativamente impulsiva? Conte mais sobre isso.

Estou me demitindo de um emprego público com salário excelente apenas por não me fazer mais sentido tanta perda de tempo todos os dias sem produzir benefício verdadeiro a ninguém. Trabalhar apenas pelo salário foi ficando insuportável.
É algo planejado há muitos anos. Porque desde que comecei a trabalhar como administrador, não era algo que me fazia brilhar os olhos. Pra quem olha de uma perspectiva mais filosófica, é complicado sempre, a não ser que trabalhe em uma ONG ou algo assim. Tenho uma postagem sobre isso nesse outro blog.
Sempre me achei algo como um infiltrado no sistema, apenas juntando dinheiro pra poder me aposentar mais cedo e fazer algo que eu realmente gostasse, algo em que eu acreditasse. Atualmente tenho vontade de lançar um livro com os muitos poemas sobre esse tema - o trabalho. 
Ao mesmo tempo, é uma decisão impulsiva, porque você não aguenta mais e simplesmente sai, ignorando um lado seu que foi programado a ligar estabilidade/segurança a plano de saúde/salário. 

Ainda sobre esse assunto, acha que o sistema capitalista é que é o culpado pela castração da humanidade do homem comum? Ou não chega a tanto?

Já achei que sim, mas a alternativa socialista também falhou bastante quando forçada a uma coletividade, restringindo sua liberdade. Atualmente penso como Eduardo Galeano, que a mudança tem que ser em cada pequeno ato de cada pequeno indivíduo. Por isso estou tão empolgado em meditar e em ensinar a meditar. Pra variar, fiz um blog sobre isso.
Quando cada um sair realmente da ilusão que é o autocentramento, há mais chance de melhorar algo coletivamente. Sem imposições.

Você tem alguma posição política bem definida?

Desde sempre de esquerda. Namorei teoricamente o Socialismo e a Anarquia. Hoje, acho que o principal na política mundial é exigirmos que empresas não possam mais financiar as campanhas políticas. Enquanto isso ocorrer, os políticos eleitos (sejam de esquerda, direita ou extraterrestres) governarão para o bem dessas empresas e não para o bem da coletividade.

Sabemos que a poesia está em crise no Brasil. Você é otimista quanto ao futuro do gênero? 

Por que acha que está em crise? Falta de leitores? Falta de poetas bons? Por outro lado, há muitos saraus e eventos aqui no Rio... E sempre estou achando algum poema genial de alguém basicamente desconhecido na internet. Não sei se concordo com essa crise.
Mas sou otimista sim. Eu acho que a poesia sempre haverá, mesmo no Brasil. 

Desculpe te lembrar disso (rs), mas você está chegando perto da casa dos 40. A velocidade do tempo é algo que te incomoda?

O tempo mal gasto é que me incomoda. Por isso também é que estou largando o emprego. Quero ter mais essas 8 horas diárias (sem contar o tempo no trânsito) pro que me interessa atualmente: meditar, escrever e cuidar dos meus sites e blogs. Gosto também da ideia de mostrar pros outros que é possível fazer isso, principalmente se não planeja ter filhos e pode viver com menos.

Quando você relê suas poesias de 20 anos atrás, o que se passa na sua cabeça? Fica procurando erros, por exemplo, ou sente certo orgulho de sua trajetória literária...?

Muitas vezes não me reconheço, mas, se vejo alguma qualidade, tudo bem. As ruins é que são dose. Erros, pior ainda. Nos blogs eu posso removê-las ou editá-las mas sinto uma agonia maior quando estão publicadas em algum livro em papel. Em geral, os primeiros poemas que fiz hoje acho péssimos e escondo.

Muito obrigada pela atenção dispensada nesta entrevista. Meus parabéns por tudo que você já conquistou, e que conquiste muito mais. Sua arte justifica todo reconhecimento.

Obrigado, querida, foi um prazer.


Entrevista concedida a Eliane Gonçalves
Revista Eletrônica Elo de Amor, em 2005

01- Como você se apresentaria? (Fale um pouco de você)
Sou alguém em busca… Em busca de si mesmo e de um contato maior com o outro.
Como tenho tendências a ser tímido e falar pouco ao vivo, é pela palavra escrita e pela internet que me solto. Mas nem por aqui gosto de falar muito de mim não, já estou exposto nos versos… Vamos pra próxima pergunta? (risos)
02- Como você se tornou um poeta ou escritor?
Primeiro, uma paixão mal correspondida fez eu escrever um poema ruim na madrugada. Depois, tentando aprender a fazer sites (webdesign), coloquei o poema (e mais uns outros posteriores), por falta de assunto, no ar. Aí, com o retorno, os emails, o apoio de famílias e amigos, comecei a acreditar que poderia ser poeta… Participei, então, de vários concursos literários, ganhei até bastantes deles, e acreditei mais um pouquinho no meu escrever… Agora, com dois livros publicados, e o site ainda no ar "A Magia da Poesia" com uma média de mais de 500 visitantes únicos por dia (depois subiu bem mais), estou quase me achando poeta. Mas basta ler um pouco de Quintana, por exemplo, sua capacidade de síntese sem perder a poesia, para eu colocar os pés mais no chão.
03- O que é mais gratificante na arte de escrever?
Emocionar, inspirar e fazer pensar.
04- Qual é o seu estilo literário?
Não sei… Eu larguei a faculdade de Letras, não tenho conhecimento suficiente pra me encaixar com certeza numa escola ou estilo. Mas acho que estou nesse caos pós-moderno, onde se pode escrever sonetos ou poemas de uma palavra, onde todos os estilos se confundem e são nenhum estilo ao mesmo tempo.
05- Algum poeta ou escritor o influenciou na arte de escrever?
Sim. Tenho grande influência de Quintana, Drummond, Bandeira, Pessoa e Leminski, principalmente. Fora da poesia, Machado de Assis e qualquer livro sobre filosofia… Acho fundamental ler para escrever. Leio muito. Sempre.
Ultimamente Nietzsche tem sido uma influência também.
06- Para escrever, como vem sua inspiração?
Varia… A maior parte das vezes o poema vem como desabafo, ou uma tentativa de fazer um “retrato emocional” de mim mesmo. Outras vezes surge junto com um pensamento filosófico. Outras vezes basta ver a poesia de alguma situação.
Raramente eu sento e fico tentando escrever um poema do nada, mas acontece também.
07- Qual foi o momento mais gratificante ao se tornar um poeta ou escritor?
Difícil essa…Acho que foi ser um dos vencedores do concurso “Poemas no Ônibus” em Porto Alegre, e saber que meu poema está sendo lido por uma média de um milhão de pessoas por dia… Adoro ser lido.
08- É possível se sentir realizado como poeta ou escritor?
Sim, claro! Não financeiramente, como poeta, pois me parece uma missão historicamente impossível… Mas eu me sinto realizado a cada poema que acabo.
09- Você tem algum site pessoal? Blog? outros? (Fale um pouco)
Sim, meu site pessoal se chama “A Magia da Poesia”, que é o poema-título do meu primeiro livro (esgotado). De lá, podem acessar meu blog, fotolog, orkut, multiply e todas essas maravilhas que a Língua Inglesa invasora nos oferece. (risos)
10- A partir de qual momento você sentiu que gostaria de abraçar esta arte literária?
Não sei dizer com certeza… Acho que desde o primeiro poema eu não consegui parar mais.
11- Que “conselhos” você daria para quem está iniciando a carreira literária?
Acredite em você e lute por aquilo que você quer. Acho que os melhores conselhos pros poetas iniciantes são os de Rilke, em “Cartas a um Jovem Poeta”.
12- Quais são os seus dois maiores projetos pra 2005?
Na área da poesia, estou apenas tentando vender o meu livro mais recente (Corte – uma coletânea de 10 anos de poesia) através do site (a distribuição em livrarias é pequena e apenas no Rio de Janeiro) e escrevendo poemas no blog, que é como um livro online, só que cada poema pode ser comentado pelo leitor. Sem grandes projetos.
13- Que poema você gostaria que fosse publicado nessa entrevista? Poderia dizer como ele surgiu?
Ah, acho que o poema-título do livro novo… Ele surgiu numa brincadeira com as palavras e as rimas, mas acabou fazendo sentido. É uma crítica ao ritmo de vida contemporâneo e descreve um pouco o que é escrever poesia para mim. Aí vai:
CORTE
Tenho sorte.
Ao menos tento forte
(mesmo que não acerte)
fazer do ócio, arte.
O tempo curto – corte.
Sem vida – morte.



Entrevista concedida a Rodrigo de Souza Leão (SEOMARIO)
Revista Eletrônica Balacobaco, em 2002
1. Em Drummond você diz: “Ser Pedra/Ou ser poeta”. Por que escolheu ser poeta?
(OBS: O nome do poema é “Escolha”, dedicado a Drummond, e é “Ser pedra ou poeta” num só verso – o último)
Na verdade, não sinto que um belo dia decidi ser poeta… Foi algo que começou meio por acidente, depois eu insisti no erro e gradualmente cheguei a isso que sou hoje: nada, uma pedra no caminho. Sempre gostei de fazer as pessoas tropeçarem em suas certezas.
2.Qual influência tem de Quintana?
Acho que o que mais aprendi com Quintana é que podia escrever de modo simples, sem hermetismos, na linguagem e no conteúdo… E que um pouco de ironia e humor não vão mal na poesia. Para mim, a obra-prima dele é o “Poeminha do contra” (Todos estes que aí estão / Atravancando o meu caminho, / Eles passarão. / Eu passarinho!). É belo, conciso, simples e com uma mensagem forte.
3.Como foi ganhar o prêmio do site POEMAS AZUIS?
Sem dúvida foi o meu prêmio mais importante, porque além de eu ter conseguido o primeiro lugar, foi julgado por um poeta consagrado, a quem aprecio muito, o Affonso Romano de Sant’Anna. Foi uma satisfação dupla.
4.Quem é o poenauta brasileiro?
É o poeta vivo e atuante, que consegue ser lido sem gastar um dinheirão. E, geralmente, não se perde no hermetismo, que é quase a regra da poesia não virtual contemporânea.
5.Qual poema seu personifica melhor a sua obra? Fale sobre.
Realmente não sei responder a essa pergunta. Eu escrevo muito, quase um poema por dia, e mudo muito também, juntamente com o que escrevo… Hoje adoro um poema, amanhã acho horrível. Aí fica difícil ter um poema único que consiga personificar tudo o que escrevo.
6.Como é manter o site A Magia da Poesia?
É um prazer tão grande que vicia… É muito bom ter alguém me lendo,mandando comentários e trocando idéias… Saber que é possível emocionar pessoas, mesmo as muito distantes, é algo precioso. A net é o melhor instrumento que conheço para isso. Um livro editado custa muito caro, com público reduzido e, pra completar, a distribuição em livrarias é uma droga. Por isso acho que a internet é a mídia mais eficiente para divulgar trabalhos escritos para autores novos. Pensando nisso é que lancei o concurso de poesias do site, onde o primeiro prêmio ganha uma página sob medida para divulgar seus trabalhos, feita por mim mesmo.
7.Qual é a Magia da Poesia?
Misturar palavras, rimas, imagens, lógica e emoção de modo diferente em cada um que lê. O poema se transformar de leitor para leitor é o que acho mais mágico na poesia.
8.Tem algum mote?
“Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive.” Ricardo Reis (heterônimo de Fernando Pessoa) – 14/2/1933
9.Qual o aspecto mais importante dentro de um poema? Fale-me de um aspecto teórico e um aspecto teórico ou não que faça ou seja característica da sua poesia?
Para mim ainda é o conteúdo o mais importante. Minha poesia não tem uma base teórica, vai saindo. Às vezes dou uma aparada aqui e ali, às vezes deixo como vem originalmente. Quem sabe, se eu tiver sorte, anos após a minha morte, não haverá teses de mestrado ou doutorado nas faculdades de Letras do país explicando detalhadamente os porquês do que escrevo hoje? :)
10.Qual o papel do escritor na sociedade?
Escrever de modo a fazer o leitor sentir algo novo ou velho de modo diferente. Emocioná-lo, chocá-lo, desafiá-lo, fazê-lo duvidar de si mesmo e do mundo, inspirá-lo.


Entrevista concedida a Jorge Pasin
Revista Ponto de Vista, em 2001
Quando você descobriu que gostava de escrever? (com que idade e/ou se houve algum fato marcante)
Não sei ao certo, desde muito novo tentava escrever histórias, mas não gostava, nem insistia muito… Mas sempre fui chegado à leitura. Depois de ler o “Drácula”, de Bram Stocker, em que toda a história é contada através de fragmentos de diários dos personagens, cismei em escrever diários, quase todo dia, por alguns anos. Desde então já gostava de escrever. Até que um amor platônico fez sair um poema… Mesmo eu nem ligando muito pra Literatura na época (era o terceiro ano do segundo grau), saiu o primeiro (e terrível) texto em verso. Mas a família gostou, e eu fui teimando em melhorar, acabei fazendo o site… e assim fui gostando mais e mais de escrever em verso. Não sei se melhorou, mas dá mais prazer agora. :)
Você já esta se tornando um poeta relativamente conhecido na internet (o site A Magia da Poesia recebe cerca de 25.000 visitantes por mês). Além da poesia, você também escreve contos. Mas qual dos dois gêneros literários prefere?
Hoje em dia a poesia sai mil vezes mais fácil do que a prosa… Pra fazer um conto eu tenho que sentar e me forçar a escrever, pois raramente surge uma idéia completa. Por isso tenho menos de dez. Já a poesia surge até em sonho, no meio de aulas, no trânsito… Já perdi a conta do número de poemas… Devem passar de mil. Para mim, a poesia é mais fácil, mais numerosa e mais prazerosa. :)
Qual(is) seu escritor favorito? e o livro que mais gostou de ler? tem algum livro de cabeceira?
Hmm… Meu escritor favorito oscila entre Manuel Bandeira, Manoel de Barros e Drummond. Acho que hoje é Drummond, amanhã não sei quem será… :) O livro que mais gostei de ler? Essa eu acho difícil de responder. Associo muito o livro com a fase em que estou vivendo quando leio o livro. Às vezes pego um livro pra reler e acho muito melhor do que antes, ou muito pior… Acho que é assim com todo mundo, né? Bem, mas um livro marcante foi o “Livro Sobre Nada”, que minha mãe comprou para mim do nada e assim descobri Manoel de Barros. Livro de cabeceira não tenho, mas a pessoa que mais costumo ler e reler é Machado de Assis. Seus contos, poemas e romances.
Uma mania que tenho (e não sei se é bom ou ruim) é ler uns 3 ou 4 livros ao mesmo tempo, no mínimo. :) Misturando poesia com prosa, fica melhor ainda.
Quando você abandonou o curso de letras, o que ficou aquém do que você esperava?
Eu peguei a grade curricular, procurei matérias diretamente ligadas a poesia, ou que pudessem ajudar a escrever, a criar… Nada. Só achei legal a interpretação de poemas em Literatura Brasileira, com o Eucanaã Ferraz. O resto era para formar professores e não escritores. A não ser que eu quisesse escrever em grego… :)
Além da Literatura, o que você gosta de fazer?
Adoro cinema, internet, vôlei na piscina, namorar (mas anda difícil), computador, música (clássica, new age e MPB principalmente), videogame, vento, viajar, fliperama e ficar em casa… :)
Como você conheceu a Ponto de Vista?
Pois é, lembro que alguém me indicou o site, mas não sei quem foi… Mas o importante é que gostei. ;)



Entrevista concedida a Viviane Reis
site Retalhos, em 2001
Quando você começou a escrever poesia? Como foi o primeiro contato?
Em 1994, meu primeiro poema foi para um amor platônico. Hoje acho bem ruim esse poema, mas foi dali que comecei a gostar de escrever em verso.
Qual o significado que ela tem para você?
A poesia? É uma válvula de escape, um meio de se expressar sem amarras, um prazer e um vício saudável. Acho que hoje em dia não consigo mais parar de escrever poemas.
Os jovens estão cada vez mais adotando novas práticas, hábitos e costumes. Você acha que a poesia combina com essas novas mentes, com esses novos tempos frenéticos de bits e bytes?
Acho que a poesia está em tudo. O negócio é saber procurar. A internet é a única mídia que ainda pode ser explorada pelos “menores”, por quem está começando, em qualquer forma de arte. Para mim, essa é a sua principal vantagem. Além disso, é graças a ela que eu troco críticas com um grupo de poetas de todo o Brasil (por email, o “Projeto Poemas”), tenho um site com meus poemas e livros e estou sempre em contato com ótimos escritores, jovens ou não, que só podem ser apreciados pela net, infelizmente. Sou suspeito para falar dela.
Como é seu processo de criação? O que te inspira hoje a escrever?
Não sou totalmente “inspirado” nem totalmente “construtor” de versos. Às vezes acordo no meio da noite com poemas prontos, às vezes no meio de aulas ou em qualquer outra situação aparecem versos… E se eu não escrever na mesma hora, depois não lembro mais. Às vezes eu sento no micro e fico até escrever um poema. Tento fugir dos temas muito desgastados, como amor, por exemplo… Todos os grandes poetas já falaram de maneira tão perfeita sobre ele que evito ao máximo. Mas quando não dá tento abordá-lo de formas novas, sob novos prismas.
Cursos de interpretação teatral de poesia, grupos como “Ver o Verso” e “Cep:20.000″ e a Internet que facilita a publicação. Com tudo isso, você acha que a poesia está em alta entre os jovens?
Pelo meu convívio com amigos e nas faculdades, a poesia não está tão em alta assim. Nem para os adultos, aliás. Basta procurar em qualquer livraria a seção de poesia que se nota isso. Está sempre escondida, perto do chão, com poucos livros… Não vende. O brasileiro lê pouco. Poesia? Menos ainda. Acho que a net e esses grupos reúnem as raras pessoas que se interessam por poesia. E, mesmo assim, muitas delas gostam de escrever e declamar, mas não de ler – o que é algo trágico.
Você publicou o livro “A Magia da Poesia” que derivou de um site, certo?
Exatamente.
Então, foi um processo ao contrário. Primeiro você publicou na internet e depois virou livro. A rede te ajudou em algum sentido? Explique um pouquinho como foi esse processo.
Bem, tudo começou com o site. Coloquei um poema, vi que o pessoal gostou, coloquei outros, fui ampliando e foi dando certo. Me animei a participar de concursos, tive boas colocações, coloquei novas seções na página e a editora entrou em contato comigo.
Foi fácil publicar o livro? Se não foi, quais os entraves que você passou nesse processo? Ele foi publicado por conta própria, você arcando com as despesas ou não? E sobre as vendas do livro, deu algum retorno?
Bem, até que foi fácil publicar, apesar de alguns problemas com a editora, tudo deu certo no final. Não foi publicado por minha conta não, a “Papel & Virtual” tem um sistema próprio e inovador, mas o livro só fica a venda pela internet. E acho que o público ainda não confia muito em compras pela net, muito menos em editoras não muito conhecidas… Ou seja, em relação ao número de visitantes do meu site, acho que vendeu muito pouco o livro.
Além do “A Magia da Poesia” você publicou no seu site dois e-books: “Tudo pelos ares” e ” Na medida do possível”. Acha que a internet pode ser uma saída para jovens autores e novos talentos? Você vai publicar esses dois e-books?
Meu ebook “Tudo Pelos Ares”, que é grátis na minha página, ao contrário do “A Magia da Poesia”, já foi lido por mais de mil pessoas, o que me deixa totalmente realizado. Acho que o caminho é a rede mesmo. Até as grandes editoras, em se tratando de poesia, em geral são péssimas na distribuição. Porém não descarto a possibilidade de publicar esses dois livros pelo método mais tradicional, pois há ainda um público que não se atinge pela net. Mas a maioria das grandes editoras não aceita nem receber livros de poemas de novos autores. Por isso, acho que para os poetas iniciantes, a net é o melhor caminho.
Sobre a receptividade do seu trabalho. Os jovens se interessam por ele, pelo livro e pelo site?
Sim, meus leitores, em sua maioria, estão acima dos 30, mas muitos jovens lêem meus contos e poemas também.
Você lê muita poesia? Quem é seu autor preferido?
Li e leio muito sobre tudo. De Machado de Assis a Teixeira Coelho. Adoro ler e acho que qualquer pessoa que pretende seguir a carreira de escritor tem que ler. Poesia inclusive. Alguns dos meu poetas preferidos são Drummond, Bandeira, Quintana, Pessoa e Manoel de Barros.
Fabio, se quiser comentar algo que não esteja citado acima, sinta-se livre…
Acho que está bom. :) Foi um prazer!

(Rodrigo de Souza Leão)

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