ela escreve e arde
escreve porque arde
e prova: arte é fogo
(tipo não chorar na peça)
numa dimensão essa
além da palavra e seu uso
além dos abusos
(ave do bem assustada com líquidos, curvas, flautas e ventres sem rima)
nesta dimensão sem rumo
então
meu eu-lírico e o seu
dão as mãos
- Fabio Rocha
- Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.
31/08/2016
28/08/2016
crise ética?
O Budismo acha os "ismos" problemáticos. Até mesmo o do próprio Budismo. Levantar bandeiras é desenvolver cegueiras... Mas penso sinceramente que a visão da direita é mais egoísta e autocentrada enquanto a da esquerda tende a um bem maior pro coletivo, principalmente os menos favorecidos. O problema é que, na prática, hoje em dia, os conceitos de direita e esquerda estão confusos e sucumbem perante os interesses das organizações que financiam as campanhas milionárias fundamentadas em marketing. Quais os limites teóricos e práticos de nossos partidos de direita e esquerda? Basta ver as alianças que os partidos fazem para chegar ou se manter no poder, a bagunça é total. O perigo dessa falta de um sentido maior em tudo e de moralidade é começarmos a bagunçar até nossas leis e direitos adquiridos (que, em geral, protegem os que mais precisam). Mas é sempre legal olharmos pra nós mesmos também, essa crise moral está em cada um de nós, em cada pequeno ato não pensado: quando tentamos obter vantagens indevidas, furar filas, favorecer amigos e familiares, burlar leis de trânsito sem ser pego, etc.
26/08/2016
o rio de janeiro é minha kryptonita
o rio de janeiro é minha kryptonita
o rio de janeiro me exercita
a arte da solidão
o rio de janeiro tem corpo são e mente vazia
o rio de janeiro é ilusão
sem curupira
com caipirinha pra descer melhor
eu piro no rio de janeiro
com pira, tocha e olimpíada
mas sem chamego
lá fora o mundo inteiro
para voar sem pena
e aqui abaixo dessas montanhas-casas
caminham só garotas de ipanema
olhando (sós) o celular
com glúteos
sem asas
o rio de janeiro me exercita
a arte da solidão
o rio de janeiro tem corpo são e mente vazia
o rio de janeiro é ilusão
sem curupira
com caipirinha pra descer melhor
eu piro no rio de janeiro
com pira, tocha e olimpíada
mas sem chamego
lá fora o mundo inteiro
para voar sem pena
e aqui abaixo dessas montanhas-casas
caminham só garotas de ipanema
olhando (sós) o celular
com glúteos
sem asas
abacaxi (sem 15 minutos)
passei rápido
e não me vi
não ser
não flor
não sei mais de arrepio
concentrado
na confusão
que eu mesmo crio
e se não for?
frio ou não frio
faço ou não faca
entrega imediata
de nada inteiro
sem 15 minutos parado
nada faz sentido
crio projetos metas paixões
e acredito
dito leis
mas esqueço a poesia
tendência a debater sobre reis
com quem não ouve peões
movo a mão ainda enxugando gelo
mesmo fora do emprego
mesmo fora do não
e não me vi
não ser
não flor
não sei mais de arrepio
concentrado
na confusão
que eu mesmo crio
e se não for?
frio ou não frio
faço ou não faca
entrega imediata
de nada inteiro
sem 15 minutos parado
nada faz sentido
crio projetos metas paixões
e acredito
dito leis
mas esqueço a poesia
tendência a debater sobre reis
com quem não ouve peões
movo a mão ainda enxugando gelo
mesmo fora do emprego
mesmo fora do não
24/08/2016
o caminho é in, não out
aparafuso letras negras
no amplo mar do agora
(branco)
nada a mudar
nem canal
nem ar
condicionado
feriado ou não-feriado
seriado ou tv normal
é hora de parar de jogar sempre atrasado
moedas em fontes externas
no amplo mar do agora
(branco)
nada a mudar
nem canal
nem ar
condicionado
feriado ou não-feriado
seriado ou tv normal
é hora de parar de jogar sempre atrasado
moedas em fontes externas
23/08/2016
ponte
estamos sempre fazendo obras
querendo algo concreto com concreto
estável
firme
sem notar que nada duro dura
nada além da lenda
dos ecos do silêncio
reverberando apenas
nossos próprios hábitos
querendo algo concreto com concreto
estável
firme
sem notar que nada duro dura
nada além da lenda
dos ecos do silêncio
reverberando apenas
nossos próprios hábitos
21/08/2016
tinha um poema no meio do seu nome
não é a falta do sexo
é a falta da ternura
sexo se faz fácil mas não cura
(até se compra no supermercado)
é a ausência indizível
maior que a invisível mão dada:
sagrada carne construída cadeado
como evolução, ouvir teu nome
passou passará passaria
de mão apertando o peito do pássaro
a uma tristeza esparsa pelo fim de um sonho que não deveria
não passou
não passará
não passaria
não passa, não muda
mesmo que os olhos vertam rios
mesmo se os dias não fossem tão frios
mesmo que as mãos digitem todas as palavras de neruda
é a falta da ternura
sexo se faz fácil mas não cura
(até se compra no supermercado)
é a ausência indizível
maior que a invisível mão dada:
sagrada carne construída cadeado
como evolução, ouvir teu nome
passou passará passaria
de mão apertando o peito do pássaro
a uma tristeza esparsa pelo fim de um sonho que não deveria
não passou
não passará
não passaria
não passa, não muda
mesmo que os olhos vertam rios
mesmo se os dias não fossem tão frios
mesmo que as mãos digitem todas as palavras de neruda
Poesia temática:
dificuldade de amar,
dificuldade de relacionamento,
loucura,
melhores poemas,
musas,
poesia,
sonhos,
top50
na prática
sonhos de cimento
constroem o vazio
deste apartamento
ausências sólidas
de planos, corpos,
sentimentos
o sábado volta arrepio
de sete em sete dias
frio depois de frio
lá fora
todos bem
obrigado
lá fora elas
e janelas
também
constroem o vazio
deste apartamento
ausências sólidas
de planos, corpos,
sentimentos
o sábado volta arrepio
de sete em sete dias
frio depois de frio
lá fora
todos bem
obrigado
lá fora elas
e janelas
também
além das condições
as flores vencerão
as sementes sempre chegam
quando a terra não está pronta
quando há água demais
ou excesso de sol
mar muito perto
ou falta de sal
mas a noite se transmutando em música
e o silêncio do sereno adivinham:
as flores
vencerão
as sementes sempre chegam
quando a terra não está pronta
quando há água demais
ou excesso de sol
mar muito perto
ou falta de sal
mas a noite se transmutando em música
e o silêncio do sereno adivinham:
as flores
vencerão
18/08/2016
pra não dizer que não falei do vazio
agosto lentamente se desmonta
surfo em amores líquidos
sem medo de começos ou de não começos
sem grandes escolhas
apenas atento
sinto a superação olímpica de minha timidez
e a depressão pós-pódio
(vitória? derrota? whatever)
eu já sei o caminho
eu cansei do meu mundinho escolhido
encolhido
previsível
mas não voo
não sigo sozinho
o caminho que já sei
o caminho que já sou
cabe dizer porém
que vagarosamente o espaço ganha espaço
lentamente desço dos conceitos
e as ondas grandes desaparecem num mar maior
venta
a palavra atenta
sente a enorme liberdade
da folha que a sustenta
surfo em amores líquidos
sem medo de começos ou de não começos
sem grandes escolhas
apenas atento
sinto a superação olímpica de minha timidez
e a depressão pós-pódio
(vitória? derrota? whatever)
eu já sei o caminho
eu cansei do meu mundinho escolhido
encolhido
previsível
mas não voo
não sigo sozinho
o caminho que já sei
o caminho que já sou
cabe dizer porém
que vagarosamente o espaço ganha espaço
lentamente desço dos conceitos
e as ondas grandes desaparecem num mar maior
venta
a palavra atenta
sente a enorme liberdade
da folha que a sustenta
Poesia temática:
budismo,
espaço,
loucura,
meditação,
melhores poemas,
poesia,
prajnaparamita,
vazio
13/08/2016
entre meu ser e o ser alheio a linha de fronteira se rompeu
sem escolas
seríamos mais sábios
assim caminho
parado
armas de destruição em massa
invisíveis
insensíveis
inexistentes
extremistas
terroristas
marxistas
vou sim
sem ismo
sem siso
sem memória
lembrando waly salomão:
- a memória é uma ilha de edição
seríamos mais sábios
assim caminho
parado
armas de destruição em massa
invisíveis
insensíveis
inexistentes
extremistas
terroristas
marxistas
vou sim
sem ismo
sem siso
sem memória
lembrando waly salomão:
- a memória é uma ilha de edição
deixar para trás
minha ruiva favorita
distribui amor
num mundo que ensina medo
tudo o que o normal
nos manda fazer logo cedo
fazemos ao contrário e atrasado
- soltem nossos braços!
assim vamos juntos:
de braços separados
distribui amor
num mundo que ensina medo
tudo o que o normal
nos manda fazer logo cedo
fazemos ao contrário e atrasado
- soltem nossos braços!
assim vamos juntos:
de braços separados
12/08/2016
redescobrindo eduardo marinho
a vida é muito curta
pra virarmos velhos atrasados
arrependidos
arrasados
sem sentido
sem sentidos
cabeças de fósforo incendiando nas ruas
definhando no escritório
ou esquecendo no bar
a sabedoria não tem nome próprio
não tem religião
não tem adiamento
nascemos aqui
é aqui que devemos
renascer maior
dançar profundo na dor
conforme a música
conforme o momento
mudar o mundo
começando de dentro
pra virarmos velhos atrasados
arrependidos
arrasados
sem sentido
sem sentidos
cabeças de fósforo incendiando nas ruas
definhando no escritório
ou esquecendo no bar
a sabedoria não tem nome próprio
não tem religião
não tem adiamento
nascemos aqui
é aqui que devemos
renascer maior
dançar profundo na dor
conforme a música
conforme o momento
mudar o mundo
começando de dentro
sexta-feira 12 (teto estrelado)
(Para Libório)
começo um poema errado
pelo fim do feriado de finados
sob amplo céu
transtornos tortos
hábitos mesmos
mesmo fel
uma lesma
agora morre na indonésia
sob uma resma de papel
termino um poema
num vivo feto
feio e certo
começo um poema errado
pelo fim do feriado de finados
sob amplo céu
transtornos tortos
hábitos mesmos
mesmo fel
uma lesma
agora morre na indonésia
sob uma resma de papel
termino um poema
num vivo feto
feio e certo
10/08/2016
incisivos de prometeu (coleção)
tarde, meu nome é assédio
farejo donzelas a perigo
me meto onde consigo
e prometo o que for preciso
pro_meter
farejo donzelas a perigo
me meto onde consigo
e prometo o que for preciso
pro_meter
Poesia temática:
autocrítica,
o poeta,
poemas revoltados,
poesia,
rima
do não ter jeito (li líquido)
é fase de moscas mortas
voando lentas
sobre refúgios tortos
nada claro
nada visceral
nenhuma palavra verdadeira
a beira
de um grau de desinteresse proporcional
ao grau de descompromisso
total
é tempo
de raso
e de pouco
é tempo
de amor só pros loucos
tipo arlequina e coringa
(não pros infinitos batmans atrás das máscaras)
rio duplicado
dos terapeutas
que não se curam
voando lentas
sobre refúgios tortos
nada claro
nada visceral
nenhuma palavra verdadeira
a beira
de um grau de desinteresse proporcional
ao grau de descompromisso
total
é tempo
de raso
e de pouco
é tempo
de amor só pros loucos
tipo arlequina e coringa
(não pros infinitos batmans atrás das máscaras)
rio duplicado
dos terapeutas
que não se curam
09/08/2016
tempos olímpicos
quatro anos
ou a vida toda
por água abaixo em segundos
ou a vitória consagrada em ouro
pra pendurar no pescoço:
melhor do mundo
extremos opostos
exatamente iguais
pras estrelas distantes
ou a vida toda
por água abaixo em segundos
ou a vitória consagrada em ouro
pra pendurar no pescoço:
melhor do mundo
extremos opostos
exatamente iguais
pras estrelas distantes
Poesia temática:
budismo,
crítica social,
espaço,
meditação,
poesia
08/08/2016
geral
você queria mãos maiores
para proteger a pequenina semente
dos desígnios de um deus criador de mosquitos
e dos homens que não resolvem nem isso
você queria mais mãos
porque o sofrimento corrói toda direção
sonhando com dias melhores
somos hamsters correndo nas gaiolas
sem hamsters e sem gaiolas
sem tempo
para proteger a pequenina semente
dos desígnios de um deus criador de mosquitos
e dos homens que não resolvem nem isso
você queria mais mãos
porque o sofrimento corrói toda direção
sonhando com dias melhores
somos hamsters correndo nas gaiolas
sem hamsters e sem gaiolas
sem tempo
precipitar
silencio a superfície
enquanto o mar ainda quer
quer a cada onda
(tudo sacrifício)
quer
quer
quer
as gaivotas acima
cruzam o céu imenso
sem deixar nenhum rastro
não as alcanço
precipício
de punhos fechados
06/08/2016
lótus
sem a base firmemente arraigada no erro
o talo não ultrapassaria a profundidade das lágrimas
para se abrir em flor
o talo não ultrapassaria a profundidade das lágrimas
para se abrir em flor
de onde tudo brota
mais simples
que nossas histórias e dores
anterior
aos nossos amores condicionados
aos nossos nomes
às nossas faces
à palavra nosso
mais duradouro que o tempo
mais amplo que o espaço
03/08/2016
exit (piedade)
esta noite eu soube que roberto piva
também não reescreve porra nenhuma
que a vida é curta demais pra reescrever poesia
eu sempre soube disso
bukowski e nietzsche também
eu direi as palavras mais poluídas esta noite
o poeta é um inconformista
malabarista de palavras
onde tudo acaba em pizza
(e trânsito lento)
lírios de ferro amplamente iluminados
faixas exclusivas para pedestres aéreos
helicópteros subterrâneos perseguindo almas líquidas
a salvação na poesia
a salvação no sagrado
a salvação no sexo
o poeta só: sol sem salvação
esta noite o cão do prédio não uivou
mas sirenes cantaram pra olimpíada
dormir a população
meu esporte é a morte que se aproxima
meu tempo é curto
pavio
pavê
navio
num mar cada vez mais
molhado de incompreensível
na solidão dos taxistas sem uber
e das prostitutas sem tinder
escrevo
logo existo
também não reescreve porra nenhuma
que a vida é curta demais pra reescrever poesia
eu sempre soube disso
bukowski e nietzsche também
eu direi as palavras mais poluídas esta noite
o poeta é um inconformista
malabarista de palavras
onde tudo acaba em pizza
(e trânsito lento)
lírios de ferro amplamente iluminados
faixas exclusivas para pedestres aéreos
helicópteros subterrâneos perseguindo almas líquidas
a salvação na poesia
a salvação no sagrado
a salvação no sexo
o poeta só: sol sem salvação
esta noite o cão do prédio não uivou
mas sirenes cantaram pra olimpíada
dormir a população
meu esporte é a morte que se aproxima
meu tempo é curto
pavio
pavê
navio
num mar cada vez mais
molhado de incompreensível
na solidão dos taxistas sem uber
e das prostitutas sem tinder
escrevo
logo existo
Poesia temática:
crítica social,
homenagem,
loucura,
melhores poemas,
o poeta,
poemas sobre poesia,
poesia,
tinder,
top10,
top20,
top30,
top50
para isto fomos feitos
escrevo com a cara no sol
e a cabeça nas nuvens
a tempestade vermelha em seus cabelos
me traz tanta paz
idolatro seu perfume
de flor em botão
seus pés pequeninos
vendo comigo o jornal da globo
e minha coleção inútil de moedas velhas
seus olhos sempre maquiados
comendo frango
arroz
feijão
algo me diz que eu deveria
não sair de casa sem guarda-chuva
não soltar pipa no vento
não arriscar tanto
mas gosto de sim
(a vida é feita disso)
assim
quando ela respira mais forte
eu me perco de mim
eu me perco de tudo
e quando ela vai embora
eu
não
durmo
e a cabeça nas nuvens
a tempestade vermelha em seus cabelos
me traz tanta paz
idolatro seu perfume
de flor em botão
seus pés pequeninos
vendo comigo o jornal da globo
e minha coleção inútil de moedas velhas
seus olhos sempre maquiados
comendo frango
arroz
feijão
algo me diz que eu deveria
não sair de casa sem guarda-chuva
não soltar pipa no vento
não arriscar tanto
mas gosto de sim
(a vida é feita disso)
assim
quando ela respira mais forte
eu me perco de mim
eu me perco de tudo
eu
não
durmo
02/08/2016
01/08/2016
Crítica ao meu novo livro "Romance de Começos"
Hoje recebi do velho amigo poeta Luiz Libório (conheçam o blog dele, vale a pena) esta crítica ao meu novo livro "Romance de começos", que está disponível gratuitamente aqui no Scribd. Leiam:
Em primeiro lugar, achei bonito algum princípio de organização, mesmo que óbvio. Como em “sou ateu mas creio no chupacabras” estar depois de uma breve discussão sobre a escravidão pós-Deus que descamba no desespero de encontrar um filósofo contemporâneo autóctone, sucedido por “Passei por gente e pensei: são humanos. Só querem ser felizes”. Quer dizer, sei lá se foi de propósito, mas eu entendi como se fosse.Por que esperar filósofos de humanos como eu? etc.Se bem que esse “chupacabras” me atormentou, no sentido de parecer algo tragicomédia. Modernista, saca? Olha esse trecho de Macunaíma:"Cruzou os braços num desespero tão heróico que tudo se alargou no espaço para conter o silêncio daquele penar. Só um mosquitinho raquitiquinho infernizava inda mais a disgra do herói, zumbindo fininho: ‘Vim di Minas... vim di Minas...’"Vê como a linda primeira imagem é destruída por essa comédia forçada? Seu livro me deu essa impressão. Muito.Errar como Mario de Andrade. Nada mal, ahm?Há construções de imagens lindas mas quebradas com esse tipo de sarcasmo:“Se me movo, universitárias sabichonas ou estudantes da função quadrática se amontoam semestralmente em torno de meu sexo sem futuro: masturbação mental e orgasmo difícil. Se me movo minimamente em direção aos seios tenros enquanto falo de borboletas azuis em versos frágeis, do ovo do tempo nasce apenas o coito, a duras penas. Coito cada vez menos mágico.”“Função quadrática” e “masturbação mental” são termos prontos que desfazem a criatividade (em mim) dos seus termos.“Em direção aos seios tenros” é tão forte que me lembrou uma imagem que li quando criança e nunca esqueci, algo que dizia do cheiro de seio que desprendia de uma adolescente (Breve Romance de Sonho, Schnitzler). Coisa fina.Mas “sabichonas” é um negócio de um mau gosto fodido.Quer dizer, esses adornos mal postos aparecem sempre, como espinhos. Uma boa ideia, tipo “se amontoam semestralmente em torno de meu sexo sem futuro” apodrecidas por “masturbação mental”.Lembrei que o Bukowski também faz essas coisas, de estragar imagens, e eu também fiquei muitas vezes incomodado com isso nele (não leio mais Bukowski; hoje o acho um Rei Lear que “ficou velho antes de ficar sábio”, um adolescente eterno).Em tempo: “do ovo do tempo nasce apenas o coito”. Que coisa linda! E perceba que é algo novo construído de elementos velhos (“tempo” e “ovo” são relacionados normalmente). Saca? Tô sendo chato? Pois bem.Estou me sentindo o Mário Faustino falando porque o Jorge de Lima era o maior poeta brasileiro de todos os tempos e ao mesmo tempo era um mau poeta.Será que somos bons poetas?Gostei do plano de fundo “não me movo” que descamba em sentir uma paz “sem” (“sem um encontro no sábado, sem esperança futura, sem sexo há meses”), como se você estivesse para ser pedra, um Buda rochoso mesmo.No fim da citação inicial há “excesso de ficção barata difundindo essa mitologia”. Eu ri. Você está falando do próprio livro? Queria que você tivesse mantido os casos censurados.“Romance de começos”: um relacionamento romântico que nunca passa do início ou um romance literário que não passa da primeira página?Enfim: gostei? Não sei. Acho que como livro, não. Mas algumas imagens me emocionaram.“Lustrar a alma cheia de dentes no próprio suor contente”. Bonito mesmo. Meio Breton em Nadja.Saiba que escrevo DE CORAÇÃO.Estou cansado de muita coisa, entre elas: dar opinião poética sem que seja DE CORAÇÃO.
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