03/06/2015

refúgio sem relógio

na véspera do aniversário
um sonho me engasga as rimas:
ela chorando feito bebê
com saudade do pai
e o silêncio de minhas mãos
incapazes de acalanto

então lembro
(e compreendo)
o desencanto do fotógrafo
que tentou em vão não ver o mundo
do fundo das camas de casal

como quem desiste
sentindo a cicatriz
sobre a cicatriz
sobre a cicatriz

(uma escondendo a outra
nas tantas camadas do tempo
sem cura)

sonho
dentro de sonho
dentro de sonho

como quem desiste
no fundo da pele
(na superfície da maca)
de buscar refúgio
em novas facas

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