na véspera do aniversário
um sonho me engasga as rimas:
ela chorando feito bebê
com saudade do pai
e o silêncio de minhas mãos
incapazes de acalanto
então lembro
(e compreendo)
o desencanto do fotógrafo
que tentou em vão não ver o mundo
do fundo das camas de casal
como quem desiste
sentindo a cicatriz
sobre a cicatriz
sobre a cicatriz
(uma escondendo a outra
nas tantas camadas do tempo
sem cura)
sonho
dentro de sonho
dentro de sonho
como quem desiste
no fundo da pele
(na superfície da maca)
de buscar refúgio
em novas facas
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