09/06/2013

de profundis

pescávamos tranquilos
com a isca do canto

e um cego soltava pipa na noite

mas
o peixe estranho
e as nuvens escondendo a lua
prenunciavam

a onda enorme

a onda
dos sonhos infinitos

o som da onda

o fim

*

descemos

silêncio

serenos

sereia

ela me dá a mão
e voamos na água
sobre um chão de céu:
estrelas do mar

arraias beijam flores
polvos gigantes em paz

tudo é grandioso
novo e esperado

até mesmo o sangue espalhado
da presa que caça o caçador

sangue necessário
rezado lado a lado

desço mais
atras do fascínio
salto em meu medo

tudo lento e profundo
no abismo do outro mundo
(mundo mesmo)

no escuro
ela me fecha os olhos
e em algum lugar
no mundo de cima
alguém olha o mar e a rima
sem se molhar

me salvo

vou por cidades submersas mortas
portas para estátuas sem forma
símbolos antigos do que não virá

pela caverna cruzamos
pela luz nascemos
batalhas perdidas no tempo

pelo beijo morremos
outros olhos
outros tempos
ela sobre as águas
chorando os retratos
que vivemos

mas sua mão agora
se abre em estrela
(a estrela vermelha que dorme em minha carne)

é tarde demais

nado sozinho
por caminhos errados
até
enfim
me tornar
o navio de meu sonho
desnaufragado

ser capaz de navegar o novo mundo
sem se perder da ilha
do nosso passado

uma casa no meio do mar
no meio do tempo

onde sempre haverá
você
um violoncelo
e uma luz acesa





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