27/12/2022

um poema de dentro

a máquina de moer o mundo
cresce, range, tem dentes de fogo 
e marketing de machine learning

seu som é tão claro e constante
que ninguém ouve
(que ninguém houve)

o resultado é certo:
no clima
nos resíduos
nas recursos
nos desertos

a máquina de moer o mundo
transforma jovens com olhos de esperança
em proativos suicidas

suas bordas indefinidas agora
lentamente enfraquecem
quem ousa pensar estar de fora

a máquina de moer o mundo
passeia por ela mesma
solta fumaça
quebra silêncios
e desinventa o canto das sereias

soltamos selfies e confessamos vantagens e abecedários
o dia inteiro, todos os dias solitários
em seus pequenos aparelhos retangulares

a máquina de moer o mundo
de aço molda cidades lotadas
vazias de laços

igrejas se formam da dor de existir dentro dela
e transformam belas palavras de amor
em motivação para seguir sem janela

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