(Para Daniel e William)
queremos novidades
e as empresas que governam o mundo vendem novidades
as empresas só querem vender
e nós só queremos consumir novidades
assim a técnica
muito
rápido
nos ansioliza
e nos vende ansiolíticos
muito rápido
muito rápido:
as universidades só estudam novidades antigas
o tinder já está velho
o tinder já está velho
o tinder já está velho
evolução não é revolução
antes da escrita tínhamos memória
antes do celular sabíamos o norte e as horas
antes do facebook conseguíamos ler
antes da técnica não havia a bomba atômica
- Fabio Rocha
- Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.
29/05/2018
da técnica
Poesia temática:
anti-consumismo,
autocrítica,
budismo,
crítica social,
meditação,
poesia,
tinder
27/05/2018
a elite num domingo de sol
acompanhei calado
a passeata na praia contra a corrupção
até gritarem "lula ladrão"
(sem o "roubou meu coração")
a passeata na praia contra a corrupção
até gritarem "lula ladrão"
(sem o "roubou meu coração")
Poesia temática:
autocrítica,
bolhas de realidade,
crítica social,
poesia,
política,
rimas
26/05/2018
o mito do muito
ela trouxe música e poesia
para a vida que se esvaía
num rio raso todo pressa e muito
o muito é um mito
onde há muito há pouco
rouco de escassez
ela me juntou os cacos
cinderela sem tinder
ela, cynthia
para a vida que se esvaía
num rio raso todo pressa e muito
o muito é um mito
onde há muito há pouco
rouco de escassez
ela me juntou os cacos
cinderela sem tinder
ela, cynthia
22/05/2018
do solitarizar
hoje eu bebi o último todynho
mesmo tendo intolerância à lactose
porque me solitarizava ver o todynho
que comprei pra ela
sozinho
no canto esquerdo da geladeira branca
mesmo tendo intolerância à lactose
porque me solitarizava ver o todynho
que comprei pra ela
sozinho
no canto esquerdo da geladeira branca
19/05/2018
em círculos
a vida não se resolve
com avidez ou sem
dissolve
o chacra do plexo solar
tem
mania ainda de tentar
com avidez ou sem
dissolve
o chacra do plexo solar
tem
mania ainda de tentar
fotografia do ser ainda a ser
preciso só mergulhar no medo do escuro
a mão do avô buscando a da avó
deixar doer:
doar mais que querer
a mão do avô buscando a da avó
deixar doer:
doar mais que querer
Poesia temática:
amor,
compaixão,
dificuldade de amar,
dificuldade de relacionamento,
medo,
melhores poemas,
poemas psi,
poesia
16/05/2018
sinto cynthia
a noite vem vagarosa e gosto de ligar apenas a luz amarelada do abajur na sala agora ampla. por mais que a luz branca seja mais econômica, prefiro o momento dourado de amar o presente. a estátua do altar reflete o mesmo tom das velas.
noto que eu só escrevo porque ela existe, lê meus livros antigos, divide músicas românticas, enche minha vida com os corações desenhados em vermelho no primário. ela tem as mãos pequenas e o coração grande. a pele branca e os cabelos negros. ela é poeta de voz e violão. e ela vem.
minha inteireza construída na sensação de ninho, de casa, que só as conexões mais raras fazem brotar em mim. nem a poesia, nem freud, nem nietzsche me ajudam na escolha das palavras certas. mas a sensação fica. tão boa que prolongo nas palavras simples. nas coisas simples cada vez mais raras. tipo ela vir tão rápido e tão certo a ponto de me tocar a perenidade mais íntima com cada letra da palavra cynthia.
noto que eu só escrevo porque ela existe, lê meus livros antigos, divide músicas românticas, enche minha vida com os corações desenhados em vermelho no primário. ela tem as mãos pequenas e o coração grande. a pele branca e os cabelos negros. ela é poeta de voz e violão. e ela vem.
minha inteireza construída na sensação de ninho, de casa, que só as conexões mais raras fazem brotar em mim. nem a poesia, nem freud, nem nietzsche me ajudam na escolha das palavras certas. mas a sensação fica. tão boa que prolongo nas palavras simples. nas coisas simples cada vez mais raras. tipo ela vir tão rápido e tão certo a ponto de me tocar a perenidade mais íntima com cada letra da palavra cynthia.
13/05/2018
quatro e meia da manhã
os poemas tem me escapado:
a mente ocupada com planos autocentrados
que não consegue mais ler ver ou ser fora de telas
sucumbe lentamente à velocidade da degenerescência
delas
os poemas tem me escapado
enquanto programo bruto a terra
e planejo a árvore
que não dará frutos
os poemas tem me escapado?
se esgueiram na beira de um filme mais lento
tocam o quase da musa distante que se aproxima
os poemas tem me escapado
da palavra cynthia
a mente ocupada com planos autocentrados
que não consegue mais ler ver ou ser fora de telas
sucumbe lentamente à velocidade da degenerescência
delas
os poemas tem me escapado
enquanto programo bruto a terra
e planejo a árvore
que não dará frutos
os poemas tem me escapado?
se esgueiram na beira de um filme mais lento
tocam o quase da musa distante que se aproxima
os poemas tem me escapado
da palavra cynthia
02/05/2018
e vice-versa
a deusa sempre dá adeus
e no meio do_eu
sempre esteve DeuS
e no meio do_eu
sempre esteve DeuS
Poesia temática:
anti-amor romântico,
budismo,
meditação,
poesia,
poetrix
01/05/2018
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