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Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.

29/05/2018

da técnica

(Para Daniel e William)

queremos novidades
e as empresas que governam o mundo vendem novidades

as empresas só querem vender
e nós só queremos consumir novidades

assim a técnica
muito
rápido
nos ansioliza
e nos vende ansiolíticos

muito rápido
muito rápido:
as universidades só estudam novidades antigas

o tinder já está velho
o tinder já está velho
o tinder já está velho

evolução não é revolução

antes da escrita tínhamos memória
antes do celular sabíamos o norte e as horas
antes do facebook conseguíamos ler

antes da técnica não havia a bomba atômica

27/05/2018

a elite num domingo de sol

acompanhei calado
a passeata na praia contra a corrupção
até gritarem "lula ladrão"
(sem o "roubou meu coração")

26/05/2018

o mito do muito

ela trouxe música e poesia
para a vida que se esvaía
num rio raso todo pressa e muito

o muito é um mito

onde há muito há pouco

rouco de escassez
ela me juntou os cacos
cinderela sem tinder
ela, cynthia

22/05/2018

saliva

salvo o dia pelo silêncio:
selva de letras sem
salva de palmas

morada

a namorada
não mora perto:
mora dentro

do solitarizar

hoje eu bebi o último todynho
mesmo tendo intolerância à lactose
porque me solitarizava ver o todynho
que comprei pra ela
sozinho
no canto esquerdo da geladeira branca

19/05/2018

em círculos

a vida não se resolve
com avidez ou sem
dissolve
o chacra do plexo solar
tem
mania ainda de tentar

fotografia do ser ainda a ser

preciso só mergulhar no medo do escuro
a mão do avô buscando a da avó
deixar doer:
doar mais que querer

16/05/2018

sinto cynthia

a noite vem vagarosa e gosto de ligar apenas a luz amarelada do abajur na sala agora ampla. por mais que a luz branca seja mais econômica, prefiro o momento dourado de amar o presente. a estátua do altar reflete o mesmo tom das velas.

noto que eu só escrevo porque ela existe, lê meus livros antigos, divide músicas românticas, enche minha vida com os corações desenhados em vermelho no primário. ela tem as mãos pequenas e o coração grande. a pele branca e os cabelos negros. ela é poeta de voz e violão. e ela vem.

minha inteireza construída na sensação de ninho, de casa, que só as conexões mais raras fazem brotar em mim. nem a poesia, nem freud, nem nietzsche me ajudam na escolha das palavras certas. mas a sensação fica. tão boa que prolongo nas palavras simples. nas coisas simples cada vez mais raras. tipo ela vir tão rápido e tão certo a ponto de me tocar a perenidade mais íntima com cada letra da palavra cynthia.



13/05/2018

quatro e meia da manhã

os poemas tem me escapado:
a mente ocupada com planos autocentrados
que não consegue mais ler ver ou ser fora de telas
sucumbe lentamente à velocidade da degenerescência
delas

os poemas tem me escapado
enquanto programo bruto a terra
e planejo a árvore
que não dará frutos

os poemas tem me escapado?
se esgueiram na beira de um filme mais lento
tocam o quase da musa distante que se aproxima

os poemas tem me escapado
da palavra cynthia

02/05/2018

e vice-versa

a deusa sempre dá adeus
e no meio do_eu
sempre esteve DeuS

01/05/2018

longeperto

a lua enorme ilumina meus atos falhos
a musa longe (perto do amanhã)
dorme