escrevo e crio
poesio:
o cravo brigou com a rosa
no apartamento vazio
poexisto
mas o povão só entende prosa
(então reclamo longamente
do hábito nosso de reclamar sem rimar)
cavo sete oceanos
para chegar perto do que creio
cavo mudo
e perto do deserto
mudo
quem muda?
- eu
existo em pó e delírio
resisto e crio
mas quem?
- eu
o eu é uma placa dourada
debaixo de um sacada
debaixo de uma coroa
querendo estar certo
querendo star
querendo fazer curso de fotografia
pra poder fotografar mulheres lindas e querer mais um pouco
o eu é um louco
querendo querer
(pulsão e tesão - Freud acharia bom)
o eu é uma faixa amarela
gravada com o nome dela
olhando outras cores e faixas e nomes
sem deixar de ser uma faixa amarela
gravada com o nome dela
o eu é um chato agarrado a um hiato
na chuva sublime que ele não sente
porque pensa e teoriza sobre a sublimidade da chuva
o eu é um chato
que prefere ser chato
do que não ser
e o caminho é não ser
(ele vê isso
mas finge que não vê)
- Fabio Rocha
- Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.
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