dormi demais e sonhei que andava pela cidade
do rio de janeiro
até passar num set de filmagem
e reconhecer um poema
eu precisava passar
mas o poema era bom
então deitei no chão e fiquei
vis os efeitos especiais da declamação
a diretora reclamando das pessoas atrapalhando ao chão
a namorada de cabelo cor de rosa com olho brilhando
impressionada porque ele teve uma hora de prosa com um poeta famoso
mas o que mais me impressionou
é que o poema
era bom
então fiquei:
"miraflores de auréolas mirabolantes
acordar com mais de mil palavras na goela
se espremendo pra gritar em ordem revolucionária
que passo
e passo a passo
ainda não me basto
e por mais que me esforce em cada ato
quero gritar pra ser mais amado
o fio da meada o fio da faca o fio da revolução
perdida pro ego
o dom
perdido pra fama
como poemas curtos
que nada dizem
pra ser mais amado
e a fortuna crítica
e os concursos literários
e as conquistas acadêmicas
e as mulheres jovens de cabelo cor de rosa
(com olhos brilhando)
não bastam
nunca bastam
mas é nesta dança
que balança e cansa
que estamos e sempre estaremos
enquanto não virmos
além do breu
além do eu"
era mais ou menos assim
o poema de que eu não me lembro
- Fabio Rocha
- Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.
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