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Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.

27/12/2019

eu sei o que é amor

a música lembra
mas os passos na praia
deixam o passado pra trás

(pássaros: gaivotas)

por mais que se tema sem trema sobre o tema
o passado traz um presente:
a capacidade de conexão
interação
interesse
prazer
não morre

(a gente é que morre)

eu perdoo

16/12/2019

sessão de terapia

ruem castelos
em todas as distintas praias
da minha vida minha

a poesia oceana

15/12/2019

glória

Deus me deu mãos
para criar palavras
acalentar seios pequenos
e acalmar cabeças

todo o resto é menor
me esqueço

a alegria é prima da facilidade

04/12/2019

não tem mais gente vendendo ingresso no cinema, só máquinas

o coringa é um estrangeiro
que ainda culpa os outros
e ri de raiva

pouco a pouco sua gentileza
de louco
morre

o pior de sua loucura
é a cura

é um oprimido que soluciona
seu sofrimento
oprimindo

o que você muda no mundo
dando tiro na cara de elite imunda?

louco por louco
dente por dente:
bolsonaro presidente

o maluco sem filosofia
de empatia duvidosa
e cara de nada:
este maluco que pega em armas
não muda nada

26/11/2019

quente

amar em cada célula
repetindo em fogo
eu te amo - eu te amo

o corpo todo pulsa
quer e treme

não venha me falar do desapego
de como jesus amou

eu existo
eu tenho fome
eu como
e eu amo
com vigor

sim

os tropeços são muitos
para voltar à alegria infantil

falsos gurus
gugus morrendo
perder-se em si gigante
achar-se em outros menores

eu julgo
tu julgas
eles julgam vocês julgarem
e todo o universo traduz melhor
(mas já está pago)

os tropeços são muitos
muitos becos que vimos com louvor
e belezas que duram instantes
até o caminho de casa

calo os calos nos pés

- cabe-nos a busca

(e apenas a busca?)

01/11/2019

e o presidente na casa 58

meio dia e homens vendem quentinhas
meia noite e mulheres vendem corpos

o cacto
na areia morna
cheio de espinhos
mesmo assim
mesmo assim
(mesmo assim)
se estranha em flor

o mar se assusta e para

silêncio

- a melancolia dos surfistas

26/10/2019

do remediar

o som dos meus passos no chão
na noite
sobre as poucas poças de chuva
dizem mais do que eu

a vida só não tem jeito
se você achar que não tem jeito
se você criar que não tem jeito

a energia que eu sinto agora
e não me deixa dormir
nem deixar de criar com o tempo que me sobra
eu deixo de remediar

eu deixo de tomar remédios
e eu crio mais do que eu

24/10/2019

:)

tenho esquecido uns poemas
junto com a arte de meditar
e lentamente sem conseguir analisar
tenho me aproximado da alegria eufórica da infância

a ânsia voltou com ansiedade
mas a cidade se abre em possibilidades
mesmo com as pessoas no celular
no ônibus no metrô na praia em qualquer lugar

minha terapeuta diria que fujo de algo
mas eu sozinho
só rio

19/10/2019

que criamos

a imensidão escura
entre a palavra estrela
e a estrela

15/10/2019

simbologia do esquecido

os peixes que esqueci no sonho
que esqueci
não morreram sem comida:
multiplicaram-se

a água pouca e suja
para os peixes muitos
pequenos e vários

alimentei-os

12/10/2019

barras de access

poesia em geral é um drama
mas eu queria mesmo
era poder fazer barras de access em bukowski

11/10/2019

a cota condominial segue chegando

imbecis eleitos e depostos
postos de gasolina incendiados
militares a postos

a nova terapia da moda chega e passa
o oceano sobe - o oceano desce
a raça humana nasce
a raça humana desaparece

rimar agora é bom
rimar agora é ruim

o sol talvez não nasça mais assim
mas a cota condominial segue chegando

07/10/2019

blogagem é sacanagem

a palavra palpita e pulsa
além da postagem
que a limita

06/10/2019

hã?

enquanto os poetas da moda se perdem
na forma
sem conteúdo
eu adio meu poema e minha meditação

o marketing digital o marketing digital o marketing digital o marketing digital
- saiu o vídeo novo no youtube daquele boçal, você viu?

- eu vi mas não lembro se vi
porque eu tava também no facebook e plantando bananeira
eu acho

26/09/2019

negação

edith não esperou tolkien
eva apressou adão
a arma do feminino é o não

19/09/2019

para roberta tostes daniel

o ser humano é o único animal que sabe que vai
e passa a vida quase toda
fingindo que não vai

04/09/2019

não sei se é depressão ou budismo este cansaço das coisas do mundo que ruem

ela gostou de algum texto meu na rede social e eu gostei da foto dela. marcamos num centro espírita. a palestra era sobre vícios, compulsões e drogas. eu estava mesmo me convencendo de que deveria ter menos sexo só pelo sexo, videogame e tinder na minha vida. lembrei da mesa radiônica ter me dito que isso era compulsão derivada de 18 vidas atrás... fui. lotado. sentei onde deu. e ela chegou. sentou ao meu lado. vontade e pegar na mão mas não podia. (centro espírita. palestra contra o sexo. outro clima...) um perfume delicioso vindo dos cabelos dela encaracolados e avermelhados. magrinha. 20 anos. pela conversa virtual eu sabia que gostava de homens mais velhos. e sabia mais de literatura do que eu. estudava letras. trabalhava com letras. eu só me perco nas letras... o palestrante falava de como o sexo pode ser viciante. como pode ser igual a uma droga. mas eu estava perdido no perfume dos cabelos dela e não conseguia acompanhar muito bem. acabou a palestra. tomamos passe. não senti nada. saímos. peguei na mão. as bocas se tocaram. fomos pra minha casa no outro lado da cidade de uber. minha cama. ela fazia tudo e bem e muito. gostava de eu ser bem mais velho. depois dos muitos orgasmos ela precisava fumar maconha. e na minha casa não dá pra se fumar maconha, é um centro budista, com altar na sala! nos desentendemos. ameaçou ir embora. meu orgulho deixou ir embora. pediu um fósforo pra fumar lá embaixo. não tinha. a diarista tinha roubado meus fósforos. saiu sem me abraçar. sem chorar. só saiu para sempre e me deixou para sempre só. ela nunca tinha ganhado um poema mas fiz um poema pra ela mesmo assim. não chorei e fui jogar videogame pensando na palestra espírita enquanto a amazônia queimava.

22/08/2019

doença

a geladeira e o freezer brancos
sãos os guardiões do silêncio da cozinha
escura e impassível

sua luz verde e constante
seu ruído baixo
preservando o tempo

21/08/2019

amazônia em chamas

enquanto o nível do mar não chega no capacho do meu prédio
enquanto a humanidade não acaba
acumular mandar, mulher e moeda
não me parece um bom plano

19/08/2019

vento

os loucos de ar
me encontram
em qualquer lugar

elas tem mãos bonitas
e infinitas
possibilidades

07/08/2019

astronauta de mármore

astronauta
cada vez mais lento num mundo cada vez mais rápido

explicada a sensação de deriva:
seu rumo não é o padrão

plano de navegação desde sempre:
boca ligada ao coração

31/07/2019

mar e marca

meus pés de mar
apagam
dragões dos chinelos

22/07/2019

borboleta azul

a poesia vem na fresta mais impensada do dia
na pausa
no intervalo
na surpresa

não ver a borboleta azul é ver a borboleta azul

19/07/2019

incondicionada

a beira
da iluminação:
a felicidade de uma criança com qualquer besteira

17/07/2019

poema para perdoar meus médicos e terapeutas

- 20 anos com dor na lombar

disseram que era postura, energia, influência alienígena, tensão:
era uma perna mais curta que a outra

...

- 30 anos com uma ansiedade absurda

fiz meditação, ioga, 10 psicólogas, radiestesia, 5 psicanalistas, comi pólen, tentei todas as terapias holísticas:
era químico - tomei um antidepressivo e passou

...

mas eu perdoo mesmo (vossa incompetência)

num mundo de palestrantes

está em todas as coisas
e nos irmana:
o silêncio
que permite surgir todo som

16/07/2019

rede social

me
seguem
e sigo cego

02/07/2019

lobo

respirar:
farejar futuros
(poesia é uivo)

28/06/2019

passar de fase

andar mais inteiro sem buscar metade

avançar mais rápido
parado vendo um filme
fazendo ioga
medicado
meditando

o mendicante ensinado só encontrou ansiedade

espelho e música

meu primeiro grande encontro
foi pelo acolhimento

nenhum toque
nenhum silêncio

minhas falas transbordavam em escrita
e as coisas bobas ganhavam dimensões de prazer ditas
ou escritas

ouvir era tão bom quanto escutar
escrever tão bom quanto ler
nada a esconder

mas o nó a menos
como tudo rui:
do pó ao pó

tudo bem

por um tempo bom
dividir a vida por palavras
era não estar só

27/06/2019

ansiolítico

minha psicóloga acha que sou borderline
minha psiquiatra acha que sou bipolar
e minha psicanalista entrou em depressão

24/06/2019

da definição do nome da borda do transtorno

não é boa a previsão do tempo
necessário porém antever o arco-íris
mesmo com a cabeça nas nuvens

21/06/2019

dark

a tinta na tela
começar é estar pronta
desde antes

a obra é a construção
sem fim ou início
ou não

jogar com ritmo e rima
os traços nas letras
as cores na música
as dores
nas dores

19/06/2019

juntos num ninho além do tempo

mundogira musapassa vidamuda
mas tá lá raquel amarante
me olhando no meio dos montes

raquel amarante ainda escreve
e escreve bem e escreve claro
letras íntimas expostas ao público distraído

declaro à psicanalista canceriana
a minha admiração de décadas
por letras e vontades
por sonhos e sons
(juntos num ninho além do tempo)

15/06/2019

o planeta é o cachorro morrendo

nós somos as pulgas
conscientes de sermos pulgas
mas sem parar de sugar sangue

barras de access na barra

as pessoas fazendo filhos
e eu com a ansiedade da terra
querendo apenas que na água mineral
tenha menos agrotóxico e plástico que a água normal

as pessoas querendo filhos
e eu com a ansiedade da terra
falhando em baixar o índice de suicídio
dos adolescentes que não vêem futuro

as pessoas tendo filhos
e eu com a ansiedade da terra
pegando sol para vencer a depressão
com medo do câncer de pele sem a camada de ozônio

as pessoas fazendo filhos
e eu com a ansiedade da terra
sabendo que o abraço gera oxitocina
e sem ter quem abraçar por mais de uma semana

as pessoas criando filhos
e eu com a ansiedade da terra
vendo animais entrando em extinção
sem poder adotar nem um gato

as pessoas moldando filhos
e eu com a ansiedade da terra
tentando encontrar as perguntas e os pontos certos
para livrá-los dos moldes

as pessoas ganhando filhos
e eu apenas devolvendo lentamente
a ansiedade da terra pra terra
tocando os universos nas cabeças

13/06/2019

escrever velho

abro a tela
e o vazio me examina:
o mar me aceita melhor

12/06/2019

destítulo

o lado mais brilhante
do diamante
é dentro

11/06/2019

barras de access

passei uns cinco anos tentando não ser
num apartamento dual fechado
comendo e lendo e ouvindo e sendo
a mesma coisa
(ansioso)

não levitei
nem vi ninguém levitar

enchi o saco
duvidei de tudo
fiz mil terapias diferentes
passei a frequentar o sol
a me mover
e me deixar

agora
quando medito
ou faço ioga
ou barras de access
ou vejo capitã marvel
sinto a energia absurda

o corpo todo formigando

as mãos
os braços
o universo
a porra toda

dia dos namorados 2019

alguém que diga bom dia de manhã
boa noite de noite
e que tudo vai ficar bem
por mais que um dia
uns memes
por uns míseros meses...

rosas

escrever é um contato mínimo com o todo

abrir minimamente mão do que deveria ser
do que eu deveria ser
e deixar a palavra nascer

é uma fresta de luz na noite enorme
e as primeiras gotas de orvalho no deserto

escrever me salva de mim

hábito

é preciso a coragem de esperar brotar por si
e a coragem ainda maior
de não desertificar você e o mundo

embalagem não reciclável

a raça humana deve durar 30 anos mas continuamos perguntando às crianças: - que vai ser quando crescer?

da falta

ela branca na tarde em branco
antes da noite em claro

o pai está distante e louco
a mãe, trabalhando

ela escreve
e se perde

o tempo tenso
- aqui e lá -
suspenso

lentamente engrenagem

minhas palavras enferrujadas
lentamente brotam das folhas na relva

a raiva olha distante
pássaros tranquilos

o artista toma seu remédio

dentes movem o mundo

delírio

os pássaros cantam em mim
longe nos céus distantes
tão perto de me ouvir

depois

os suicidas
soltam
seus celulares

perto

as camisas dos lugares onde nunca fui
me dão saudades
do que não vi

10/06/2019

grandes progressos no fim do amor

não fiz um poema falando mal dos hábitos dela
e ela não bloqueou
nem no facebook nem no insta

09/06/2019

que ruirão

as palavras brotam
de além da palavra terra

o além: distorção, lenda

toda palavra traz um cansaço
e um conceito
vago

cada onda molha o agora:
em seu som não há palavras
nem no centro de seu sol

o poema:
o problema:
não conseguimos não começar os castelos

05/06/2019

glória

vergamos sob o peso do julgamento alheio
sem perceber o que somos
sem afirmar em luz e cor
a leveza e a alegria e a facilidade

você pode passar 5 mil anos
tentando se adaptar
a um mundo que acabará
em 2050

ou você pode mudar
tudo

04/06/2019

duras penas

minhas musas não duram
nem dois
poemas


heráclito era parmênides

acaricio o teclado e nascem palavras
as palavras se juntam em versos
os versos me acalmam

me baseiam me formam me continuam
por me fazerem continuar

num mundo líquido
onde a constância única é a interrupção bruta
a minha luta com a poesia me aceita

azeita a engrenagem do devir
do ganho e da perda
prazer e dor
em eterno desequilíbrio

o oceano imóvel
inexiste
e não finge

01/06/2019

despedida brusca

é sempre isso aí:
na beira do aniversário
quase chegando as férias

tudo passa
ficam os pokemóns
meio sem graça

e mesmo no ápice do sonho
um quê de fastio e de sono
defeitos bonitinhos começando a aumentar

e finais horríveis
que quase não doem mais

o mar parece maior
some o sol

do silêncio, fantasmas menos autocentrados uivam:
será que ela tá bem?

não é fácil para ninguém

aí você segue com os remédios que não curam totalmente
a praia que não tem tanta graça
e esses poemas que ninguém lê
depois de arrumar a vazia casa

no final vai ser sempre isso aí:
expectativas desleais

27/05/2019

alegria e glória

érika veio a mim palavra
enquanto eu tentava guardar nomes

érika entrou na sala sorrindo e sentou ao meu lado
com perfume me abraçando

érika ficou

lá fora passam helicópteros
superficialidades
e canta uma cambaxirra

a gente fala o tempo todo
e alicerça ansiosamente a base da paz
quase sem dormir
enquanto seu gato sorri

(celulares ameaçam calados)

érika deitada em seus cabelos de fogo
sem perceber o sol
admira meus poemas bobos
deliciosamente magra

érika se constrói memória e presente
naturalmente
abraçada a mim

o sim a acompanha
perto do sempre

érika não tem fim

24/05/2019

desresista

não tenho capacidade:
tenho ansiedade
o que me impede de tudo

porém meu querer é íngreme
obtuso automático absurdo
a razão do meu viver

lembro então que não relaxo
nem meditando nem dirigindo uber
e vou sorrindo repetindo o tinder

rezando ao deus inexistente:
que eu pare
que eu admita e aprecie minha incapacidade

que eu desista

21/05/2019

stefani

a borboleta quase pousa
no corpo de stefani na praia

o azul sente o perfume
da moldura perfeita de stefani
limitando sua beleza

pelos loiros ultrapassam os limites
do quadro quase imóvel

stefani não se limita ao que estuda
stefani não se limita ao que pensa
stefani não se limita ao que faz
stefani nao se limita ao que escrevo
stefani nao se limita

stefani fala deliciosamente
deitada cheia de curvas no meu desejo

de quando em vez stefani sorri
(vejo)
e o branco interrompe a conversa
(beijo?)

nessa hora, se houvesse anjos, chorariam

minha alma quase pousa
nos lábios de stefani na praia

onaira dantas arrepiada

onaira deitada
ao meu lado
em frente ao mar

protetor solar:
minhas mãos grandes
esculpindo onaira pequenina

silêncio bom

marquinha de biquini

os pelinhos em volta do umbigo
descendo e subindo
descendo e subindo

quão rápido podem as horas passar?

fator de proteção 15:
na beira dos 22 anos
citando Bandeira

aparelho nos dentes
minhas mãos deslizando e moldando
minha felicidade crescente

17/05/2019

sinceramente

não sei se é sabedoria ou depressão
minha incomensurável preguiça
de investir no samsara

15/05/2019

espelho

a borboleta ajudada a sair do casulo
que não morre
voa mais alto

12/05/2019

carma (spoiler eterno)

o problema do dragão
é a repetição

parece certo
parece são
parece belo
parece bom

até ficar puto
e queimar a porra toda

amigo e inimigo
polícia e ladrão

o problema do dragão
é a repetição

11/05/2019

gosto

meus melhores poemas
são os poemas
que não posto

10/05/2019

crepúsculo

nasce maduro no final da tarde
o poema obscuro
entre o céu e o mar
entre nietzsche e epicuro

08/05/2019

o ponto de encontro entre heráclito e parmênides

o excesso de palestras
contamina a experiência
com conceitos

tive todo o tempo do mundo
para ouvir mestres destros
pregando as vantagens de ser canhoto
(nenhum levitava)

busquei sem encontrar
parando

encontrei sem buscar
na praia no sol no corpo:
em movimento

07/05/2019

chegando

uma companhia
para o fim do mundo
tão perto

pros índios
entes queridos mortos
viravam estrelas

nós
não olhamos
o céu

06/05/2019

musa

crio porque o frio
do espaço entre os tatos
é um prato vazio

03/05/2019

sos

alguém tira o celular da minha mão?
me amarra, me dá prozac, me interna lonjão?
saudável era minha infância - vendo televisão.

01/05/2019

capitã marvel homem pássaro

tem poesia que se perde na poesia. eu tendo a letras retas como faca. desejo calcado no impossível. super herói bom voa.

29/04/2019

nosso planeta

os animais se comem
os animais se fodem
os animais dormem
os animais morrem

28/04/2019

sem união

aceitar o deserto
e a fome de ternura
em mão dupla

oceano deixar pro sonho

o sol arde e queima
deus anjo iluminação energia
o sol arde e queima
- tudo menos a minha raiva

tá ok

filosofia pode acabar:
o pessoal tá no celular
olhando fake news

08/04/2019

águas de março

lá fora tudo se molha
mas o ar condicionado
resseca minha alma

espero
para tentar direito
o que o peito já sabe:

não vai dar certo

06/04/2019

silenciosa

o ponto cego
entre o vazio e o ego
é a esquina da dúvida

05/04/2019

o erro mesmo

não adianta cortar o enlatado
e viver mensurando:
coração de metal

a média exponencial
entre a novinha sem conversa
e a velhinha sem tesão
é a falha no perdão

fabio, ouve:
você se perde nas curvas
mas o erro
o erro mesmo
é fazer planos

28/03/2019

selfie: service

o sonho de quase todo homem
de quase toda mulher
é olhar o sol nascer juntos

lembrar quando a música toca

conversar até dormir

tirar foto só pro outro ver
(não o mundo)

não o mundo

não o mundo
imundo vendo sua comida
sua viagem
ou sua bunda

25/03/2019

pois chega um tempo em que o caminho importa mais que o brilho efêmero do início. o tempo de inícios vagalumes, pirilampos, um céu infinito sem nuvens naturalmente passa. falaremos dele ao redor do fogo de um fogão antigo. muito antigo. usado por mais de quarenta anos.

15/03/2019

fugere urbem

a vida pode não fazer sentido
na maioria do tempo
mas beijei laura moosburguer
uma vez dentro do uber

ode aos terraplanistas e similares

os imbecis moldam o mundo
com trabalho árduo e zelo
de forma a sê-lo simples

os imbecis faz pontes
os imbecis faz muros
os imbecis faz culpados
os imbecis nos faz duros
concretos
sólidos
certos
(a certeza das fake news que compartilham)

os imbecis só acredita em coisas simples
(por incapacidade e preguiça)
não importando as complexidade de tudo

funk funk
fun fun funk

os imbecis acredita que as terra é plana
porque a ciência é umas conspiração
porque eles mesmo não vêem a curvatura do planeta
porque eles quer e pode e é simples:
deus fez

os imbecis vota em quem aponta
não em quem constrói

os imbecis posta como são bonitos
como são bons
como são livres
como são ricos
como são felizes
em comparação com os outro

(eu também sou imbecil
por comparar)

todos os imbecis somos deuses

05/03/2019

windows e janelas

a palavra
é a espada
com que espanto
a vida de espantalho
sentado olhando telas

elis cantando vinícius

o amor das canções
fica nas canções
no passado
no pasto
no cardume que virá
no cansaço

04/03/2019

bloco dos românticos feridos

os românticos feridos
investem no novo amor
entre garras e sangue

os românticos feridos
urram e rasgam
buscando proteção
em outro romântico ferido

os românticos feridos
ferem tocando violão
lavando a louça
olhando o celular

os românticos feridos
atravessam a mesma rua
pra cair no mesmo buraco

por serem românticos
por estarem feridos

03/03/2019

a angústia de minha ternura

a angústia de minha ternura
tem igrejinha ao longe
músicas tristes
e o cheiro de um lugar
impossível de se voltar

camiseta para o carnaval e outros feriados

qual
a
graça?

27/02/2019

e nossos presos políticos? e nossos políticos presos?

o fino da educação:
cantar o hino.
os menino aguarda o nobel
comendo dois pastel

26/02/2019

corvos

lá fora um mar de medalhas
brilham pódios aqui dentro
seguimos secos
buscando errado
na noite enorme
passado futuro
raiva medo

18/02/2019

sorte do dia

há um livro
sendo escrito
no subterrâneo da noite

homens e mulheres
gozam cavalos brancos
e voltam suas retinas para telas

há vida em marte?

há vida e morte?

24/01/2019

sem título

a cada dia escrevo menos
pois o mundo precisa é de
silêncio

15/01/2019

romântico

se você não cansa de construir castelo
em vez de dança
na segunda noite o olhar dela
será para a janela

14/01/2019

de_vir

nietzsche deitou o eterno retorno
no colo do rio de heráclito:
nada mais estável que a mudança

12/01/2019

antes da meia-noite

o tamanho do que perdi
não cabe no tempo

tantos minimalismos sobrando
sem você pra dividir

o filme vai começar
e assisto pelo medo de assistir

a pálpebra do olho direito
tem breves espasmos
quase imperceptíveis

fascinação

as britadeiras são artistas:
ilusionistas do sólido
através do som

10/01/2019

do desejo

sim, porque beethoven também nos poupava de sons que não interessavam e o principal deve ser a essência. se mozart fosse poeta teria um vocabulário desnecessariamente vasto.

08/01/2019

suave

a paz entra vagarosa
pelas frestas de prazeres mínimos
não compartilhados a cada meia hora
nas redes sociais de desconhecidos

lavar a louça
comprar uma vela nova pro filtro de barro
dormir quando há sono
comer quando há fome

a paz morna
transborda felicidade lenta

nada extremado
sem píncaros

uma felicidade por coisas tão mínimas fora
que talvez seja minimamente de dentro