22/02/2017

tudo água

houve um tempo
houve raras pessoas
em que a coisa fluía

poesia que nos surpreendia aos dois
sem construção, esperança ou depois
tipo adélia
tipo olhar de borboleta
tipo música de zélia duncan
infinito sem esforço, natural

hoje
teimoso e velho
construo demoradamente
(sorrindo do elo de mim mesmo)
arquiteturas impossíveis
engenharias pesadas
castelos difíceis
sabendo que as contas não batem
que os pregos são provisórios
que as vigas não aguentam

hoje só vejo
com olho de percevejo
a ponta
da borda
da quina
do navio
que
naufragará
assim mesmo

(pelo menos
doem menos)

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