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Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.

24/06/2015

23/06/2015

se minto

sou astronauta neste apartamento
câmero lento
peneirando estrelas
com cimento

22/06/2015

onde?

meu fígado não sabe que sou fabio rocha

e segue digerindo meu almoço

vou pro mercado sem saber também

pago com cartão, onde tá escrito fabio rocha

o plástico do cartão não sabe nem ler esse nome estampado nele mesmo

a identidade tenta ir além com uma foto, mas já mudei tanto de cara...


meu sangue não sabe de fabio rocha

a letra F do meu nome é igual a todas as letras F

se existe um fabio rocha, está em que parte?

nas unhas que adio cortar?

no peito onde pulsa um tecido que não sabe nada de fabio rocha?

nos neurônios que transmitem eletricidade sem pensar em fabio rocha?


no primário me chamavam de fabio josé

agora, uns amigos chamam de fabão

e eu ainda olho quando chamam

mesmo eu não sendo a cabeça que gira

nem o pescoço que faz girar a cabeça


respondo um e-mail mentiroso assinando fabio rocha

e percebo que também estou mentindo

17/06/2015

à deriva

o fim da dor: prazer
o fim do prazer: dor

ou vamos à mercê do tempo
ou vemos o mar maior que as ondas

10/06/2015

persianas de aço

toda noite
na folha branca
dança
a possibilidade
da obra-prima

a lua observa serena
fora do espaço da janela
cada rima
cada fracasso

07/06/2015

sentir que ela vai seguir

todos os lobos
em minha volta

lobos meus

acalmo
pouco a pouco

menos louco
o olho do tempo
(menos meu)
desespeta o coração

06/06/2015

progressividade

enquanto em parte
a mente tende
a esperar godot
aproveito o silêncio
da outra metade

05/06/2015

hábito

você sabe a solução

mas tem horas em que
prefere a confissão
só pelo prazer
da palavra

hoje li um poema bom
então me irmanei
daquele ritmo de ver o mundo
no meio do olho da ilusão

os homens bebem cerveja
e deitam-se de barriga pra cima
com gatos mordendo seus dedos

os homens tentam ser médicos
engenheiros, advogados
e seguir bebendo cerveja e querendo
ser alguma coisa
ter alguma coisa

(nós
homens)

e há uma beleza nisso

você sabe que vai dar na mesma
que vai dar merda
mas há uma beleza nisso

é como o som de sapato alto
vindo em sua direção

ou a cor do batom do primeiro encontro

o tesão antes do beijo

a paz depois do orgasmo

03/06/2015

e agora, e agora...

exatamente agora
o espaço além do tempo
te olha distraído

refúgio sem relógio

na véspera do aniversário
um sonho me engasga as rimas:
ela chorando feito bebê
com saudade do pai
e o silêncio de minhas mãos
incapazes de acalanto

então lembro
(e compreendo)
o desencanto do fotógrafo
que tentou em vão não ver o mundo
do fundo das camas de casal

como quem desiste
sentindo a cicatriz
sobre a cicatriz
sobre a cicatriz

(uma escondendo a outra
nas tantas camadas do tempo
sem cura)

sonho
dentro de sonho
dentro de sonho

como quem desiste
no fundo da pele
(na superfície da maca)
de buscar refúgio
em novas facas

02/06/2015

parte

a vida arde
a vida arte
como um abraço
da letra c
sem laço