sento nu em frente ao teclado tenso
pianista de fraque saboreando o último silêncio
para nietzsche deus está morto
para deus nietzsche está vivo
dezessete graus no rio de janeiro
acordo só
nada para fazer o dia inteiro
ninguém para ver o dia inteiro
vou caminhar na nesga de sol entre nuvens
SEM MÁSCARA
antes de pensar na preguiça de caminhar ao acordar
o pé dói no sapato
a coxa reclama
a poesia vem
a língua insiste nos incisivos
e estranha infinitas vezes a porosidade
(será a idade ou o refluxo?)
ontem meia noite sem overdose
como último recurso
mesmo com intolerância a lactose
pedi dois sólidos milk shakes do bobs no ifood
(talvez em breve haja um ifood para relacionamentos não líquidos)
porém vivo e ando
ainda
os homens num mar de dor se matam pelas raras felicidades
(duram um orgasmo ou nem tanto)
os homens-nada nadam
os homens-duros duram
com a ilusão das contas bancárias durarem mais
telhados de mansões na beira da reserva
não conseguem evitar urubus
políticos vestidos de azul chegarão mais tarde na tv sorrindo
depois ou durante o mandato serão presos
(nesse ínterim, os piores citam a bíblia)
mas ainda há flores
nos terrenos não planejados
abandonados
largados ao acaso
nietzsche duvida de deus
deus acredita em nietzsche
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