02/03/2016

nunca sobra nada

perto da meia-noite
vendo o final do último tango em paris

reconheço estarmos todos perdidos
nesta merda de drama

e chego a preferir mentiras rápidas da puta
do que respostas demoradas da santa

lembro de minhas próprias mãos quase esganando um pescoço
brigas na porta da casa
malas atiradas no corredor
uma maldita novela mexicana

lembro do choro do lado de fora
da porta trancada
e de como eu deveria ter aberto o peito
pra pantera

lembro de outro grande encontro
de um beijo que era tango
e de tudo jogado no lixo
por raiva, medo e hábito

eu já estive em tantos lugares
em tantos papéis
que consigo agora
não me mover nem falar por horas

(talvez apenas isso importe)

tudo requer tempo
mas tenho pressa
e percebo que a direção de toda pressa
é a morte

todo nome é um tiro
e não há quem não seja maluco

o tempo é o caminho
da bela vista
à farpa no olho

o sonho realizado
jorra sangue encolhido
no canto da varanda
depois de cuspir escondido o chiclete

tenho dentes demais
pras palavras certas

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