a aproximação do poema bom
é meio incrível
mas se sente
assim, exatamente:
um disco voador enorme
vem de cima
sempre de cima
invisível
incrível
insolúvel
indivisível
da nona de Beethoven
pode-se estar pensando no dilema
entre forma e conteúdo
ou outra inutilidade...
e motos cortam com retas
sua vida de sono
em todas as direções
não há você
não é você que faz
nada
nem os intraterrenos
(eram os deuses astronautas?)
Carmina Burana profana o sonho morto
de gastar a vida
acumulando bens
e matando o tempo
cores em profusão
e
depois
decepção:
a prisão não é apenas o escritório!
em todo o universo
exceto no verso
não se pode
beijar a gostosa
ou matar o inimigo
apesar dos literatos antigos
tentarem afastar o simples do genial
Beethoven diz mais em quatro notas
do que toda a crítica mundial
não fode!
e o verso acaba
sorriso
e o verso finda
precipício
e depois de acabado
não era bem isso
- Fabio Rocha
- Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.
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