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Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.

28/02/2013

pólvora 2013

as pessoas do rádio
obedecem aos chefes, às leis, aos pastores
e se matam nos estádios
por times de futebol de atores

25/02/2013

2 abraços

(Para Rebeca)

ouço bossa
e danço
tango

peles em percussão
se tocando palavras

dois abraços
dormindo lado a lado

24/02/2013

INFP

aceitar na letra, no profundo do peito
o peso e o brilho do sonho mesmo:
mudar o mundo

22/02/2013

transparente

O infinito é uma borboleta de asas redondas.

Junguiano

olho a igreja de ouro
o padre tarado
o convento...

convenço-me:
Deus é dentro

21/02/2013

sonho e dor emendada

tremia a terra

da janela do colégio
eu via:
a casa pobre ruía
no morro ao lado

ruía lenta
sobre a rua movimentada
(Hermengarda)

a dona vinha
(eu queria gritar mas não podia)
tirava um cão pela porta
(sai logo daí)
salvava um cavalo
(já está caindo)

e a dona deitava devagar
sob a casa que descia lentamente
tijolo a tijolo
viga a viga
sobre seu corpo
mole, imóvel, sem soltar
uma gota de sangue

18/02/2013

lamour (tom)

na dança
o passo do outro
pro outro lado
te dói o pé

mas se forças
a dança é torta:
marionete

se coreografas
a dança é morta:
ao chão, confetes

se calças
sapatos de aço
não há mais passos

se segues
sozinho no escuro
nem há mais som

16/02/2013

ar condicionado e Paraty

os peixes estão lá
o mar, lá e aqui
o mesmo mar,
outro

outros nós
em
novos escritórios
onde
enterramos presentes
ao som de águas distantes

15/02/2013

the sims

o não pode mora perto do não fode
o não fode só existe por causa do não pode
o não pode cria o não fode

(vermelho pausa)

e vivemos nessa eterna beira
com roupas cobrindo as vergonhas
legislação, política
olhos salivando óleos
palavrões pro coito
dedos em riste
e semi-ereções involuntárias
ao planejarmos guerras
ou novos massacres de índios nus

e por não poder é que queremos
e por não foder é que podemos

precisão preciosa

cavalgar é como fazer poemas ou amor:
toques
leves
bastam

13/02/2013

as mãos de Ana...

massagem como forma de arte:
corpo solto, dançando a quatro braços
arranhando feito gato
a conduzir em pele
os caminhos que levam
a si mesmo, agora, aqui

mergulho

entrega

além de palavras

07/02/2013

poema contábil 65

a vida, este suicídio duradouro
onde tentas erguer uma casa sobre a pedra
mas a casa acaba
escapa
a pedra corre
ou os muros da casa te escorrem do nariz
até que sufoques deitado
e queira mais ar

a vida

em que apanhas desde a tenra idade
e se dás uma mão, querem um braço
onde te ensinam matemática
(todos perdidos do lado de fora de um abraço)
e juros compostos e contabilidade
e você acorda cedo com sono para ir acumular mais
ou tem saudade de acordar cedo com sono, por nem conseguir dormir mais
e bocejando foges do presente
mas
o presente é apenas uma palavra
onde não se consegue morar

06/02/2013

poema caminhando entre Itaguaí e Santa Cruz

o homem enche o caminhão
com frutos de trabalho pesado
o caminhão quebra:
o caminho
por excesso de peso
o silêncio
por excesso de ruído
o ar
por excesso de fumaça
o planeta
por excesso de produtos

acho mais sábias
as borboletas

05/02/2013

escritórion

há sempre
um telefone tocando
e nada a dizer

04/02/2013

a criança

a criança estranha
seu corpo enorme

entranha-se no mundo adulto
disfarçada de susto

a criança
é que faz poemas

02/02/2013

sonho novo com a casa antiga (o tempo)

abro a porta
pro vento atravessar

a tempestade já levou pro ar
a construção vizinha
e agora canta
destruindo e elevando
nosso lar

me agarro ao último escombro
nenhum estrondo
nenhuma chuva
nenhum ato possível
exceto deixar passar

até 20 horas de domingo

sábado sem medo
acordamos cedo
ela inventa pratos
comemos juntos
vendo seriados
depois iniciamos
o trabalho verdadeiro
(poesia)
por dois dias
inteiros

01/02/2013

entardecer

pai:
choro de pensar na palavra enorme

acolhido em sua paz
creio que serei sempre
filho
e meu filho será você

5 da manhã

o som das ondas
acalma as palmeiras

sensores apagam
luzes e estrelas

me afasto do mar
pra ir trabalhar

(passos e sintomas)

lá todos sabem
mas fingem que não
e seguem o modelo padrão
de trocar hoje por amanhã

já ganhei tendinite
tontura
gastrite
uma hérnia por estourar
e um futuro mais seguro que não chega

mas caminho, Bandeira
enquanto o tempo me pisa

o marketing em mim poderia
vender alguma porcaria
mas prefiro
(ao menos isso)
te acender a poesia