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Escritor, terapeuta holístico, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.

11/05/2013

dois

o som de passar
manteiga na torrada
acorda a revoada
(imaginária)
do passado mar

essa capacidade de ouvir
(presente)
carinho no silêncio
e bem-querer no odiar,

essa cumplicidade de doar
sem doer
nem se perder,

há?

*

meu pai
minha mãe
quaisquer casais depois do depois
pergunto:
há ainda Dois?

*

na minha infância
os aviões falavam
tinham rosto

agora
look as faces
sem Vôo
sem ela

não relaxo antes de dormir
e acordo tenso
cuspindo sustenidos ais
pelas janelas sem ouvidos

(mas meus pais
ainda me amam
com aquele olhar)

amodores aumentam
os ombros o corpo o tempo
percorrido na trajetória
de meus passos de dança fugaz:
2 pra frente, 2 pra trás

10/05/2013

quase aos 40 do segundo tempo

esquisito:
sei quando gamo
mas não sou quando amo.

amo
mas não cedo
amo
pelo meio
amo
pelo medo de amar
amo e odeio
amodiar...

isto dito,
a esta altura do campeonato,
cabe aceitar o fato
e fazer um poema bonito.

09/05/2013

ouvindo a música

a vida verdadeira
não tem pra que nem por que

é dança infinda
salamandra na fogueira

krishna khrisna
hare hare

08/05/2013

rocha moída e vento de sonho

meu avô, meu bisavô
minha casa de areia

um faz pro outro um berrante
pro passado que passeia

sigo o rastro do que somos
e a saudade serpenteia

07/05/2013

yin e young

a vida como ela é:
a mulher quer mudar o homem
o homem quer mudar de mulher

ninguém agüenta a dúvida:

os a-dor-a-dores de deus
e os da liberdade
cantam alto
(pra se convencer)
certezas de mármore

05/05/2013

necessidade ávida

eu me jogo na vida
mas a vida
é onde?

04/05/2013

sol

escondido
o não permitido
sobrevive do mito
do fundo
do mundo:
do sim

obscuro
o não permitido
parte vôo sem asa
do muro
futuro:
de mim

absurdo
o não permitido
expulso em palavra
esmurro
extirpo:
en_fim

pão de phôrma




                                                             a forma


                                                      deforma


                                                         o poema




editoras                                      vernáculas
pedem palavras difíceis e formas complexas
                  de professores com vocabulário
                        (e sem um pingo de poesia)

                           prefiro poupar quem lê
                                postando no blog
                                    algo a dizer

arte

a pele apela no embalo:
um fim, um início, um parto...

parte do corpo calo
parte, arde

03/05/2013

intraterrenidade íntima

o extraterrestre cambaleia letras
remorsos, perdas
furacões em caracóis

cava a cova do buraco no céu
com seu olhar de lá
de qualquer dali
salvador de outro lugar
alto e longe e outro

espaço

nave

lucy

onde andarilha lucy?

sonha a dor do parto
(mas não parte)
da perda
(mas não joga)
estranha filas, filhas, pires, horizontes
onde afinal cair
na palavra casa?

02/05/2013

papel para presente

deito no perfeito.
desembrulho com os dentes
o estômago lento

01/05/2013

no fundo do armário

meus diários estão amarelos
de tantos elos
partidos

por todo o dia

investigo a minha noite
a minha maneira, a minha morte
instigo a parte que escreve pro outro ler
e escuto o silêncio