entre o medo da morte
e a agonia pela solidão
ano novo de vacinação
- Fabio Rocha
- Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.
29/12/2020
22/12/2020
16/12/2020
e ela goza
reverencio a lânguida presença
certa
e sem meta romântica
mimo
a nudez sem medo
a palavra sem métrica
o ventre molhado
aprecio os seios pequenos
com gosto na boca
um pouco amenizar a vida dura
o mínimo de luz
em duas vidas escuras
dentre filmes dublados
desprogramo o amor que não vem
que não veio
que me feio
que desmarca
que amarga outros inícios e quedas e farpas de futuros que não chegam
duro
AGORA
simplifico o que não edifico
mas se solidifica
em solidariedade:
não sou sério
estou velho
e ela gosta
congregar (tradição da trunca)
não se apaga
os palhaços comunistas
ainda fazem sorrir
ainda botam flores
no cano das espingardas
ainda acendem o sorriso
no simples da criança
08/12/2020
bauman dado 2
o homem sem vínculos
tem vícios
velocidade de
escolher
conversar
gozar
e bloquear
o homem todo velocidade
não sabe onde chegar
06/12/2020
areia fina nas mãos cansadas
noto visitando amigos antigos
que os poetas vão parando de escrever
como se a vida (besta)
fosse sem recompensa pra letra
como se a vida pouca
fosse vencida
pela pressa
como se a voz
rouca
desistisse de dizer
perante o mundo enorme
mundo duro e surdo
cada vez mais certo
breve olhar sobre nossa história
agora que a periferia
virou poesia
a nação criou a taxação de livros
04/12/2020
michael scott
num dia perfeito
onde nada dói
não importa o prefeito
felicidade se constrói
29/11/2020
hell de janeiro
a moça que curtiu meu poema
no instagram resoluta
chamei em vez do cinema
para a praia
soltei a vaia
quando ela pediu que eu pagasse o seu uber
e ela confessou: sou prostituta
24/11/2020
já deve ser natal na líder magazine
minha família
é um ninho de fome
todo espinho
juntos muitas vezes se atacam
arrancam pedaços
pedindo carinho
em bandos
(crentes)
maldizem os ausentes
dormir direito ninguém dorme
nem nota acima
um céu enorme
doa a quem doa:
absolutamente ninguém
voa
17/11/2020
atenção menina do lado de fora de um abraço
outra flor pulou
do condomínio aqui do lado
antes ainda da lição
vida em botão
voo ao chão
sem elevador
nem eleição:
a dor a levou
cedo elevou sem fome
do chão da avenida sem nome
12/11/2020
por que demorei tanto a ver isso?
nem bukowski sonharia com as maravilhas da modernidade líquida
escorro os dedos pelo teclado
o celular acabando a bateria
a parede rachada
o ar condicionado quebrado
escorro os dedos pelo teclado
e nunca foi tudo tão bom e fácil e perfeito
07/11/2020
02/11/2020
seu eu pelo menos conseguisse ter saco para ler as normas de concursos literários...
sento nu em frente ao teclado tenso
pianista de fraque saboreando o último silêncio
para nietzsche deus está morto
para deus nietzsche está vivo
dezessete graus no rio de janeiro
acordo só
nada para fazer o dia inteiro
ninguém para ver o dia inteiro
vou caminhar na nesga de sol entre nuvens
SEM MÁSCARA
antes de pensar na preguiça de caminhar ao acordar
o pé dói no sapato
a coxa reclama
a poesia vem
a língua insiste nos incisivos
e estranha infinitas vezes a porosidade
(será a idade ou o refluxo?)
ontem meia noite sem overdose
como último recurso
mesmo com intolerância a lactose
pedi dois sólidos milk shakes do bobs no ifood
(talvez em breve haja um ifood para relacionamentos não líquidos)
porém vivo e ando
ainda
os homens num mar de dor se matam pelas raras felicidades
(duram um orgasmo ou nem tanto)
os homens-nada nadam
os homens-duros duram
com a ilusão das contas bancárias durarem mais
telhados de mansões na beira da reserva
não conseguem evitar urubus
políticos vestidos de azul chegarão mais tarde na tv sorrindo
depois ou durante o mandato serão presos
(nesse ínterim, os piores citam a bíblia)
mas ainda há flores
nos terrenos não planejados
abandonados
largados ao acaso
nietzsche duvida de deus
deus acredita em nietzsche
29/10/2020
me gusta
quiero el amor de almodovar
nada menos
las relaciones liquidas
no me gusta
vivo la color más roja
tendo ganas de infinito
se quieres un amorcito para instagram
bonitito pero un perro
no hables conmigo
28/10/2020
ainda sobre a construção
o esforço maior do poeta
é ficar no trivial
passa uma mariposa sem simbologia:
tudo bem
ela no shopping olhando bijuterias
ela perto do aniversário e do coração
ela sorria
tudo bem
operário
céu de tarde
tarde de céu
tarde demais
outonais em sombras
zelo em construção passada
implosão
(e implosão e implosão e implosão)
eleição onde políticos sorriem
televisão e telas
edifico a construção
lento
como quem não teme
como quem não treme
abaixo
trovões e gatos
abaixo
imensidão
um risco tênue sobre terremotos
se ergue sem olhar o céu
horizonto meio tonto sua mão dada
27/10/2020
falando russo
mudo tanto que não digo nada
entre ser rio e ser mar
meu cansaço é pedra
não sei se o aço rima depressão
ou se é traço ainda da covid
(tusso)
agora que tenho tempo
não faço poemas
embora
a poesia é
a menina mais bonita do colégio
(a única que não quis dançar)
22/10/2020
proparal eleitoganda
os políticos de camisa azul sorriem e prometem
os pastores de camisa azul sorriem e citam a bíblia
é preciso acabar com a corrupção - dizem
20/10/2020
ovo de novo
sob uma luz não acesa
dos amores que destruí
perante a estranheza
da dificuldade
de caminhar um passo
na direção do amor novo
19/10/2020
temporário
não existe uma palestra que não seja de marketing
os palestrantes se tropeçam nos mouses:
mais dinheiro, mais prazer, mais paixão
eu caminho um pouco mais devagar
por letras tristes
16/10/2020
high score
minha capacidade de relaxar acabou em 1987 jogando street fighter com o ryu pela ducentésima vez seguida com vontade de urinar numa tarde de verão. a geleia que virou meu cérebro agora fica tensa quase sempre e relaxa apenas quando deveria estar tensa. desde então poemas e meditação e tinder e pouca pontuação.
12/10/2020
perspectiva
não sei se você reparou mas
os amigos que você tem que cobrar para pagar as dívidas
que marcam e não vem
e que quando o alimento é pouco comem escondido
são melhores longe
30/09/2020
saí sem máscara
fiz 15 dias em vez de 10
no isolamento da casa própria
meditei e foi bom
(e há muito tempo não era)
então saí sem máscara
para caminhar
imune
o sol ainda existia
e se apresentava novo
depois de cada esquina
e eu com essa vontade de lamber cada corrimão
e cada corpo feminino
ouço o som dos meus passos
e ultrapasso breve os pássaros que me cantam
a tristeza em meu pulmão
tristeza raiva e solidão
que cultivo por hábito de cultivar
até estourar o são
ou a relação
vi um filhote de cobra e várias borboletas
as árvores em cada folha buscam o sol
os homens, o dinheiro
eu, deus
sim, deus, porque testei todas as teorias malucas
e entre a alma e energia ele foi comprovado
por diversas vezes
para minha racionalidade duvidante duvidosa duvidativa duvidadeira
caminho
e na dúvida
faço metabavana
pros feios que dão bom dia e pros bonitos que não dão
(e desejo melhoras na próxima vida de todo cão)
uma árvore me fez carinho com seu cipó
e quase me aceitei em plenitude
a rotina é importante:
agora vou acordar sempre umas 9hs e caminhar
agora vou jantar 18hs pra poder ir na missa das 19hs
agora vou jogar menos videogame
ou não
25/09/2020
19/09/2020
da melancolia das doenças
ela tinha agora uns 18
e cabelos brancos nasciam dentre os negros
perto da orelha esquerda
de tanto repetir as mesmas palavras
olhando as mesmas paisagens
todos tendemos a repetir:
os vazios os lugares as saudades
18/09/2020
to the one who knows
relance de ânsia
um ufo em vargem grande
doença como modo de ser cuidado
paisagem da infância
em inhotim um árvore de bronze
é lentamente erguida por árvores reais
e exalo seu silêncio
primeiro perdi o cheiro
depois perdi o gosto
azitromicina me deixando lerdo
sensação de febre sem ter febre
me lembrando
a sensação de vida sem ter vida
(canto com elvis no celular)
11/09/2020
03/09/2020
tertúlia rasa
às vezes deito manso
e a poesia vem chegando
me trazendo no remanso
então me lavo
na água calma de mim mesmo
descanso o aço do cansaço
me revejo me reconheço me despeço
e me louvo na palavra
pulsologia
o especialista em pulsologia vai fazer um workshop gratuito online apenas para os dez primeiros inscritos que tenham pulso firme e vontade de revolucionar a própria vida com este novo instrumento da moda holística que sejam capazes de perceber esta oportunidade única para a expansão de consciência sem sair da segurança de sua casa segurando seu pulso que ainda pulsa
não me inscrevi
às vezes
as pessoas com stress
fadiga crônica sem ar
rinite e controle
para fazer o mundo girar
eu de fora do peito olhando
o mundo sem rumo girar
de qualquer jeito
sobra tempo
jogo meu videogame
de tarde às vezes durmo
23/08/2020
distorção temporal
o lado de dentro do abraço dela
é o passo para além do espaço
e não cabe em nenhuma tela
21/08/2020
a cidade onde envelheço
pessoas sobre casas
sobretudo dentro
ligadas conectadas grudadas no presente
estranho a cena
me aceno de longe de perto de antes
todo caetano de 1970 perpasso neste poema
vontade de voltar a lisboa
mas lisboa não há
lisboa é um retrato na parede
e voa
17/08/2020
um passo atrás
meu sonho é fazer música pra cantar
mas faço poemas pelo ar
o povo posta
o povo curte
eu olho pra dentro
e a letra me olha
a chuva cai
e o caminho me molha
tudo bem as festas lá
sozinho prefiro descaminhar
dois passos adiante
um passo atrás:
nada do que fugir
12/08/2020
tempestade
a parte boa é que não trabalhamos com small talk
e dos raios que exalamos com palavras
alguma clareza vai aos olhos
(mesmo que dure
milésimos de segundo)
mundo mundo vasto mundo
é festa na casa de raimundo
quando da morte de seu gato moribundo
todos com looks pra postar no fundo
do instagram comprado pelo facebook
10/08/2020
08/08/2020
da coemergência ou cocriação
se você cria com o olhar
e pensa que não vai ter jeito
o que vai funcionar?
06/08/2020
26/07/2020
primeiro poema pro meu anjo da guarda
sensação de reencontro, reconhecimento
mas você já estava
dragão gigante
asas nos unem
por sobre brasas
24/07/2020
amor incondicional
onde o profeta tropeça no poeta
e ambos sorriem
22/07/2020
o budismo e o tinder
- Quer entender melhor a proposta do livro, o título ou a capa? Veja a opinião de Ricardo Alfaya aqui e o vídeo abaixo:
21/07/2020
bojack horseman
mas maior
quase
se compreende
células de galáxias
universos pelos poros
se move
lentamente
me movo
14/07/2020
leitura de aura
a rosa se abre uma ponte
caminho por ela
no mesmo ritmo
sem fluir
sem parar
nobreza do hábito
proteção do conhecido
retidão
a ponte se torna estrada
a reta se torna curva
o dia se torna noite
a cidade não me tira da rota
o fim não há:
é um círculo gigante
e caminho no mesmo ritmo
caminhos antigos
não levam
a lugares novos
previsibilidade incômoda
que não largo
que não mudo
a ponte aberta de um lado
a noite vem com a cidade cheia de gente
e possibilidades
mas sigo na estrada-ponte
verde-constante
no mesmo ritmo
e só
11/07/2020
kundalini reiki
normal
onde sempre estava
você é que parou de buscar
e começou a agir
abandonou o telejornal
curou a si
e tocou em outros
09/07/2020
cristalino
que olha fora
que cria fora
e me renovo
08/07/2020
07/07/2020
06/07/2020
05/07/2020
kundalini reiki e gratidão
o peito em botão se abre:
paixão vermelha incondicional
vulnerabilidade da palavra exata
movimento natural
arte que o medo verde mata
25/06/2020
21/06/2020
sol pela janela
que nunca findam
tenho 44 anos:
já deveria ter me acostumado
a curtir o caminho
o horizonte me pesa
distante
sigo destoante da massa
tentando fazer canção
com a limonada
e ouvindo música clássica
19/06/2020
where is the queiroz?
vive sem ninguém ver
toca a laranja
anja anda e come canja
sem absolutamente ninguém saber
11/06/2020
infinitas estrelas e heráclito
o futuro e o passado
ser
maior e mais livre
do que o dever
espaço vivo de alegria
onde toda criança
cria
09/06/2020
no mesmo quarto
adio silêncios
com as mãos na água
em chamas
a alma antiga quer dar conselhos de viagem
talvez seja isso
e apenas isso
1865 (lei e ordem)
trabalhando como escravos
do que o total histórico de escravos do século dezenove
brancos donos das empresas operadoras de presídios controlam
os políticos brancos que mudam as leis para que
juízes brancos prendam mais negros por mais tempo para que
todos os brancos envolvidos tenham mais segurança e dinheiro para que
o próximo presidente branco possa seguir prometendo lei e ordem para a maioria branca
02/06/2020
leões de horizonte sob um sol amar-elo
amar ela branca sozinho
cabelos longos de um futuro inventado
trancado em casa parado
olhando o caminho
27/05/2020
sonho ouvindo looping sem mobilidade social
(a casa da minha infância)
passando por benfica
brigando com o motorista do uber que voava
senti a dificuldade em aceitar que era uma escolha
do menino de rua vendendo bala
em meio a cães mortos esgoto e pobreza insolúvel
uma escolha insolúvel e insolucionável
enquanto o mundo se distopiza
e a foice da indesejada das gentes se aproxima
escolha de estar ali
vida após vida
em maioria
(entre cães mortos
esgoto
e pobreza)
26/05/2020
24/05/2020
sento perante o tempo
ninguém entenderá a pantera
somente ela
sento perante o novo
e nada há de mais antigo
ultrapasso meu umbigo
gastando o tempo pro outro
desisto de apagar os poemas repetidos
repetitivos
antigos
estão lá e aqui
alma desnuda
na nítida impressão
de que absolutamente nada muda
23/05/2020
além do poema
não há curso possível para ser poeta
não há objetivo em ser poeta
além do poema
21/05/2020
quadrinha tiririca
cloroquina de jesus
não sei se a terra é plana
mas a gente reduz
bolsonaro e cloroquina
cloroquina de jesus
se salvou da facada
a fake news reluz
bolsonaro e cloroquina
cloroquina habitual
meu filho é inocente
polícia federal
bolsonaro e cloroquina
no churrasco ou jet ski
não precisa de arminha
para matar a ti
bolsonaro e cloroquina
desmatando a amazônia
aprova a ditadura
e veta a maconha
bolsonaro e cloroquina
aprovando o agrotóxico
não sei se agora rima
mas queria ver a reunião com o moro
pandemia
os ricos rebeldes saindo pra andar de patinete sem máscara
(preocupados com o que o lula falou)
19/05/2020
meus descaminhos
incompletos
meus descaminhos
que vão e voltam
(breves)
meus descaminhos que me prendem
que não me encaixam
tudo bem:
a poesia me segue
e me acha
17/05/2020
15/05/2020
poemas de amores lidos
os lulistas temem - os conservadores tremem
e insisto em não insistir:
todos concordam silenciosamente
(temos um imbecil no poder)
o imbecil nos une e irmana
e as meninas e os meninos
e os velhinhos e velhinhas
em eterna minoria
declamam
poemas de amores idos
o vento na islândia (inspire, expire)
ainda há crianças brincando
o céu da islândia brando
branco e frio
os bancos na islândia visando lucro
as mães na islândia se beijando
antes do vírus
o vento na islândia
branco e frio
05/05/2020
solitude
que não pode ferir a pétala
porém o pólen
suave presa
a flor do pequeno príncipe
mora nele
o sagrado é um jardim
uma casa
leve sopra
só pra mim
02/05/2020
um novo tempo
a globo mostra as tumbas
a record as vacinas
engordamos
pegando sol na janela
e olhando telas
30/04/2020
higienópolis
tinha uma caneca vermelha
que era minha
ela trazia mate bem doce
o dia todo
gelado
de vez em quando sentava num lado do corredor
eu de outro
e a gente rolava lata de leite condensado
às vezes eu sentava no quintal
para ouvir um rádio antigo
e conversar com as plantas
meu avô jogava futebol comigo
mesmo sendo uma ladeira íngreme
sem cobrar perfeições
ia na esquina comprar sorvete
conversando com todo mundo
depois o mundo
virou esta briga
torta
minha avó com quase cem anos
passando por pandemia
e o presidente
(aquela mula)
nem fantasia
que se importa
29/04/2020
quarentena
abro a janela
a persiana
pássaros
o azul imenso lá fora
me azula
26/04/2020
25/04/2020
ex-juiz ex-ministro delata ex-honesto
minha língua ficava amarelada
e ia soltando-se em fios
de tanta raiva política não dita
não escrita
o fascista anti-corrupção é ladrão?
que surpresa...
e a população sendo enterrada
em caixão fechado
pra não contaminar ainda mais
a nação
19/04/2020
sonho do sonho
do shopping de vidro
janelas duras
pessoas consomem em todos os andares
o mar vence em ondas
primeiro andar: águas negras e pessoas nadando
segundo andar: roupas e acessórios
terceiro andar: praça de alimentação
18/04/2020
amanhã
as pessoas cantando sol
quando tudo passar
uma só voz
o mesmo céu
novo
como a manhã
14/04/2020
13/04/2020
a torre
acima dos shows
dos jogos
dos amigos e inimigos
o que achei foram apenas mais portas
abri todas
o vento forte
só revelava
a altura da morte
12/04/2020
páscoa 2020 - frutos do laboratório P4 de wuhan
cidades vazias
catedrais vazias
um canto que preenche de encanto
ao vivo
quem segue vivo trancado em casa
graças aos progressos da ciência
nas mãos do vírus sintético da dra. zhengli shi
eu cego
e vivo
mastigo a tenra carne de animais torturados
movido pela beleza e ternura
(depois como chocolate)
11/04/2020
simbologia do número 4, o pendurado
acordo cruzando as pernas
para não esquecer do sonho: o número 4
eu pendurado:
não lutar
aprender com a estagnação
nenhum trem parando
em nenhuma estação
nada mais estável
que a ressurreição
09/04/2020
07/04/2020
trovão sem thor
e falta luz na quarentena
eu não faço nada
no escuro
(e juro sem pena
que é o melhor
do dia)
06/04/2020
05/04/2020
domingo com vírus dormindo
carregando um santo
me acordou na quarentena
no céu, nenhum avião ou helicóptero
sob um mar com mais peixes
e menos plásticos
o padre de máscara
abençoava os de deus segurando palmeiras
e os ateus chateados por terem despertado
04/04/2020
03/04/2020
letras para o silêncio
a sombra do sol que morre
humanidade clara
escondida do planeta em paz
aqui
jazz
02/04/2020
realismo estelar
perdi
o caminho que vai dar no sol
nunca quis filho
para não repassar a ele
meu mundo criado
sobre o criado mudo
(eu ardia mais
quando queria mudar o mundo)
na palavra e no canto
o encanto do brilho
de volta
me arrasto
tentando
reencontrar
o carinho
01/04/2020
interação online
pessoas carentes cantam para pessoas carentes:
nada mudou na quarentena
31/03/2020
corona vírus
podíamos ir pra rua vazia
reclamar do tempo
agora enquadrados em apartamentos
olhamos por janelas quadradas
ângulos retos
sem sono
o mastro
no topo do mastro
a cabeça
me olha
eu finjo que não vi:
é noite alta
24/03/2020
11/03/2020
o filme novo da arlequina
glamourização da violência exagerada e gratuita
normalização da violência exagerada e gratuita
24/02/2020
sol a sol
antepasto entre o pasto e o pastel
o passado grama
chama
drama
correm bois em disparada
11/02/2020
Crítica - Era uma vez em Hollywood
10/02/2020
08/02/2020
forma
ou cisma
sua poesia enterrada?
flor de sono
sem cor
(preto no branco)
você compra poesia?
você lê poesia?
(nem eu)
onde então
o poeta
no planeta?
07/02/2020
você já está morta
inverso do espelho
pulsão de morte
o dragão é o sonho de uma borboleta
invenção de menina
num filme japonês que não termina
06/02/2020
obrigatório
para um poema que não dança
o cão da vida cansa
mas tenho um jogo
para me distrair
criança
31/01/2020
24/01/2020
boa noite
também bebe
a água da cedae
(Link pro vídeo imaginado por minha sobrinha Camila. Voz e direção dela...)
(Outro vídeo do Tik Tok sobre o original com minha voz)
(O original com minha voz) :)
(Meu Tik Tok)
23/01/2020
da maior capacidade filosófica quando gripado
não ditas
perditas
o tempo de prazer passou em que espelho?
passo
e passo a passo
meus passos perdidos:
2 pra ir
2 pra vir
21/01/2020
família é repetição
para ver melhor os defeitos das coisas
eu também uno as mãos sem perceber
mas tento reinventar meu ver
com olhos de anne with an e
17/01/2020
surpresa sem surpresa
esqueçam os índios
os negros
os judeus
os minoria
o portuguêis
(chico buarque avisou)
15/01/2020
11/01/2020
10/01/2020
1981
até para quem assusta o outro com o grito
(querendo afeto)
e insiste em bater
(visando abraço):
incapacidade de dança em cada descompasso
rasgando o rasgo
desreciclando o ciclo
plasmando o pasmo