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Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.

29/12/2020

isolamento reprolongado

entre o medo da morte
e a agonia pela solidão
ano novo de vacinação

22/12/2020

da importância da espera

o botão de flor
não se apressa
nem toca:

- não é tela

16/12/2020

e ela goza

reverencio a lânguida presença
certa
e sem meta romântica

mimo

a nudez sem medo
a palavra sem métrica
o ventre molhado

aprecio os seios pequenos
com gosto na boca
um pouco amenizar a vida dura

o mínimo de luz
em duas vidas escuras
dentre filmes dublados

desprogramo o amor que não vem
que não veio
que me feio
que desmarca
que amarga outros inícios e quedas e farpas de futuros que não chegam

duro

AGORA

simplifico o que não edifico
mas se solidifica
em solidariedade:


não sou sério


estou velho


e ela gosta

reinfância

manoel existe
enquanto houver
o simples

por exemplo:
a lua da minha rua
é mais pura

congregar (tradição da trunca)

a poesia de luta
não se apaga

os palhaços comunistas
ainda fazem sorrir

ainda botam flores
no cano das espingardas

ainda acendem o sorriso
no simples da criança

08/12/2020

bauman dado 2

o homem sem vínculos
tem vícios

velocidade de
escolher
conversar
gozar
e bloquear

o homem todo velocidade
não sabe onde chegar

06/12/2020

areia fina nas mãos cansadas

noto visitando amigos antigos
que os poetas vão parando de escrever

como se a vida (besta)
fosse sem recompensa pra letra

como se a vida pouca
fosse vencida
pela pressa

como se a voz
rouca
desistisse de dizer
perante o mundo enorme
mundo duro e surdo
cada vez mais certo

breve olhar sobre nossa história

agora que a periferia
virou poesia
a nação criou a taxação de livros

04/12/2020

michael scott

pausa de palavras 
num dia perfeito
onde nada dói

não importa o prefeito

felicidade se constrói

29/11/2020

hell de janeiro

a moça que curtiu meu poema
no instagram resoluta
chamei em vez do cinema 
para a praia

soltei a vaia 
quando ela pediu que eu pagasse o seu uber
e ela confessou: sou prostituta

24/11/2020

já deve ser natal na líder magazine

minha família
é um ninho de fome
todo espinho

juntos muitas vezes se atacam
arrancam pedaços
pedindo carinho

em bandos
(crentes)
maldizem os ausentes

dormir direito ninguém dorme
nem nota acima
um céu enorme

doa a quem doa:
absolutamente ninguém 
voa 

17/11/2020

anemofilia

canto porque o canto me canta
quem canta seus mares espanta
semeando vendo na tempestade

atenção menina do lado de fora de um abraço

outra flor pulou
do condomínio aqui do lado

antes ainda da lição
vida em botão
voo ao chão

sem elevador
nem eleição:
a dor a levou

cedo elevou sem fome
do chão da avenida sem nome

12/11/2020

por que demorei tanto a ver isso?

nem bukowski sonharia com as maravilhas da modernidade líquida

escorro os dedos pelo teclado

o celular acabando a bateria
a parede rachada
o ar condicionado quebrado

escorro os dedos pelo teclado
e nunca foi tudo tão bom e fácil e perfeito

07/11/2020

bonson

yasmin tão linda
quer ser bailarina

desenha 
a dança do sonho
de menina

cor e corpo
asa e rima

02/11/2020

seu eu pelo menos conseguisse ter saco para ler as normas de concursos literários...

(Por Lilith)

sento nu em frente ao teclado tenso
pianista de fraque saboreando o último silêncio

para nietzsche deus está morto
para deus nietzsche está vivo

dezessete graus no rio de janeiro
acordo só

nada para fazer o dia inteiro
ninguém para ver o dia inteiro

vou caminhar na nesga de sol entre nuvens
SEM MÁSCARA
antes de pensar na preguiça de caminhar ao acordar

o pé dói no sapato
a coxa reclama
a poesia vem

a língua insiste nos incisivos
e estranha infinitas vezes a porosidade
(será a idade ou o refluxo?)

ontem meia noite sem overdose
como último recurso
mesmo com intolerância a lactose
pedi dois sólidos milk shakes do bobs no ifood
(talvez em breve haja um ifood para relacionamentos não líquidos)

porém vivo e ando
ainda

os homens num mar de dor se matam pelas raras felicidades
(duram um orgasmo ou nem tanto)

os homens-nada nadam
os homens-duros duram
com a ilusão das contas bancárias durarem mais

telhados de mansões na beira da reserva
não conseguem evitar urubus

políticos vestidos de azul chegarão mais tarde na tv sorrindo
depois ou durante o mandato serão presos
(nesse ínterim, os piores citam a bíblia)

mas ainda há flores
nos terrenos não planejados
abandonados
largados ao acaso

nietzsche duvida de deus
deus acredita em nietzsche

29/10/2020

me gusta

quiero el amor de almodovar
nada menos

las relaciones liquidas
no me gusta

vivo la color más roja
tendo ganas de infinito

se quieres un amorcito para instagram
bonitito pero un perro
no hables conmigo

28/10/2020

ainda sobre a construção

o esforço maior do poeta 
é ficar no trivial

passa uma mariposa sem simbologia:
tudo bem

ela no shopping olhando bijuterias
ela perto do aniversário e do coração
ela sorria

tudo bem

operário

céu de tarde
tarde de céu 

tarde demais
outonais em sombras
zelo em construção passada
implosão

(e implosão e implosão e implosão)

eleição onde políticos sorriem
televisão e telas

edifico a construção
lento 
como quem não teme
como quem não treme

abaixo
trovões e gatos

abaixo
imensidão

um risco tênue sobre terremotos
se ergue sem olhar o céu

horizonto meio tonto sua mão dada

27/10/2020

falando russo

mudo tanto que não digo nada

entre ser rio e ser mar
meu cansaço é pedra

não sei se o aço rima depressão
ou se é traço ainda da covid
(tusso)

agora que tenho tempo
não faço poemas
embora

a poesia é
a menina mais bonita do colégio
(a única que não quis dançar)

22/10/2020

proparal eleitoganda

os políticos de camisa azul sorriem e prometem 
os pastores de camisa azul sorriem e citam a bíblia 
é preciso acabar com a corrupção - dizem 

20/10/2020

ovo de novo

tento escrever num teclado de letras apagadas 
sob uma luz não acesa 
a grandeza
dos amores que destruí 
perante a estranheza
da dificuldade 
de caminhar um passo 
na direção do amor novo

entre a melancolia e a tristeza

o ente poeta
doente entre
o desejo e o presente

19/10/2020

temporário

 não existe uma palestra que não seja de marketing

os palestrantes se tropeçam nos mouses:
mais dinheiro, mais prazer, mais paixão

eu caminho um pouco mais devagar
por letras tristes

16/10/2020

high score

minha capacidade de relaxar acabou em 1987 jogando street fighter com o ryu pela ducentésima vez seguida com vontade de urinar numa tarde de verão. a geleia que virou meu cérebro agora fica tensa quase sempre e relaxa apenas quando deveria estar tensa. desde então poemas e meditação e tinder e pouca pontuação. 

12/10/2020

perspectiva

não sei se você reparou mas 
os amigos que você tem que cobrar para pagar as dívidas 
que marcam e não vem 
e que quando o alimento é pouco comem escondido 
são melhores longe 

30/09/2020

saí sem máscara

fiz 15 dias em vez de 10
no isolamento da casa própria

meditei e foi bom
(e há muito tempo não era)

então saí sem máscara
para caminhar
imune

o sol ainda existia
e se apresentava novo
depois de cada esquina

e eu com essa vontade de lamber cada corrimão
e cada corpo feminino
ouço o som dos meus passos
e ultrapasso breve os pássaros que me cantam
a tristeza em meu pulmão

tristeza raiva e solidão
que cultivo por hábito de cultivar
até estourar o são
ou a relação

vi um filhote de cobra e várias borboletas

as árvores em cada folha buscam o sol
os homens, o dinheiro
eu, deus

sim, deus, porque testei todas as teorias malucas
e entre a alma e energia ele foi comprovado
por diversas vezes
para minha racionalidade duvidante duvidosa duvidativa duvidadeira

caminho
e na dúvida
faço metabavana
pros feios que dão bom dia e pros bonitos que não dão
(e desejo melhoras na próxima vida de todo cão)

uma árvore me fez carinho com seu cipó
e quase me aceitei em plenitude

a rotina é importante:
agora vou acordar sempre umas 9hs e caminhar
agora vou jantar 18hs pra poder ir na missa das 19hs
agora vou jogar menos videogame
ou não

25/09/2020

estrondo

o silêncio bate à meia-noite
no combate
à poesia

19/09/2020

da melancolia das doenças

ela tinha agora uns 18
e cabelos brancos nasciam dentre os negros
perto da orelha esquerda

de tanto repetir as mesmas palavras
olhando as mesmas paisagens

todos tendemos a repetir:
os vazios os lugares as saudades

18/09/2020

to the one who knows

relance de ânsia
um ufo em vargem grande
doença como modo de ser cuidado
paisagem da infância

em inhotim um árvore de bronze
é lentamente erguida por árvores reais
e exalo seu silêncio

primeiro perdi o cheiro
depois perdi o gosto

azitromicina me deixando lerdo
sensação de febre sem ter febre
me lembrando
a sensação de vida sem ter vida

(canto com elvis no celular)

11/09/2020

quarto

eu mesmo me tranco do mundo
depois me sinto preso
do lado confuso de dentro

03/09/2020

tertúlia rasa

às vezes deito manso
e a poesia vem chegando
me trazendo no remanso

então me lavo
na água calma de mim mesmo
descanso o aço do cansaço
me revejo me reconheço me despeço
e me louvo na palavra

pulsologia

o especialista em pulsologia vai fazer um workshop gratuito online apenas para os dez primeiros inscritos que tenham pulso firme e vontade de revolucionar a própria vida com este novo instrumento da moda holística que sejam capazes de perceber esta oportunidade única para a expansão de consciência sem sair da segurança de sua casa segurando seu pulso que ainda pulsa

não me inscrevi

às vezes

as pessoas com stress
fadiga crônica sem ar
rinite e controle
para fazer o mundo girar

eu de fora do peito olhando
o mundo sem rumo girar
de qualquer jeito

sobra tempo
jogo meu videogame
de tarde às vezes durmo

lê leminski

curta
poesia
curta

23/08/2020

distorção temporal

o lado de dentro do abraço dela
é o passo para além do espaço
e não cabe em nenhuma tela

21/08/2020

a cidade onde envelheço

pessoas sobre casas
sobretudo dentro

ligadas conectadas grudadas no presente

estranho a cena
me aceno de longe de perto de antes

todo caetano de 1970 perpasso neste poema

vontade de voltar a lisboa
mas lisboa não há

lisboa é um retrato na parede
e voa

fds

dia de chuva na janela
mas sorrio:
amanhã vou ver ela

17/08/2020

um passo atrás

meu sonho é fazer música pra cantar
mas faço poemas pelo ar

o povo posta
o povo curte

eu olho pra dentro
e a letra me olha

a chuva cai 
e o caminho me molha

tudo bem as festas lá
sozinho prefiro descaminhar

dois passos adiante
um passo atrás:
nada do que fugir

12/08/2020

tempestade

a parte boa é que não trabalhamos com small talk
e dos raios que exalamos com palavras
alguma clareza vai aos olhos

(mesmo que dure
milésimos de segundo)

mundo mundo vasto mundo
é festa na casa de raimundo
quando da morte de seu gato moribundo
todos com looks pra postar no fundo
do instagram comprado pelo facebook

10/08/2020

plexo solar do dragão

pânico
gastrite
má digestão
refluxo
e um coração
(arrependido)

08/08/2020

da coemergência ou cocriação

 se você cria com o olhar
e pensa que não vai ter jeito
o que vai funcionar?

06/08/2020

não deixa de ser engraçado

a cobra cobrou da cobrança
enquanto 
juro que julgo meu julgar

26/07/2020

primeiro poema pro meu anjo da guarda

a gratidão é maior que a lógica
sensação de reencontro, reconhecimento
mas você já estava

dragão gigante
asas nos unem
por sobre brasas

24/07/2020

amor incondicional

o sétimo céu é branco
onde o profeta tropeça no poeta
e ambos sorriem

22/07/2020

o budismo e o tinder

Quarto livro de poemas de Fabio Rocha. Lançado em plena pandemia, retrata um dualismo sagrado-profano, alternando obras poéticas leves e cheias de sabedoria budista com poemas caóticos-sofridos sobre o desencontro atualíssimo de nossas (des)relações humanas, cada vez mais líquidas. 





- Quer entender melhor a proposta do livro, o título ou a capa? Veja a opinião de Ricardo Alfaya aqui e o vídeo abaixo:



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Capa:

21/07/2020

e facilidade e glória

se você caminha
na direção do seu sonho
a alegria
te faz companhia

bojack horseman

como uma arraia gigante
mas maior

quase
se compreende

células de galáxias
universos pelos poros

se move
lentamente
me movo

14/07/2020

leitura de aura

sob o sol maior
a rosa se abre uma ponte

caminho por ela
no mesmo ritmo
sem fluir
sem parar

nobreza do hábito
proteção do conhecido
retidão

a ponte se torna estrada
a reta se torna curva
o dia se torna noite
a cidade não me tira da rota

o fim não há:
é um círculo gigante
e caminho no mesmo ritmo

caminhos antigos
não levam
a lugares novos

previsibilidade incômoda
que não largo
que não mudo

a ponte aberta de um lado
a noite vem com a cidade cheia de gente
e possibilidades

mas sigo na estrada-ponte
verde-constante

no mesmo ritmo
e só

11/07/2020

kundalini reiki

deus está ali
normal
onde sempre estava

você é que parou de buscar
e começou a agir

abandonou o telejornal
curou a si
e tocou em outros

09/07/2020

cristalino

movo o ovo
que olha fora
que cria fora
e me renovo

08/07/2020

mente mente

a mente tenta controlar o incontrolável
enquanto a magia espera e sorri
infinitas possibilidades

07/07/2020

exatamente agora

e se só faltar
o próximo passo
para ser pássaro?

06/07/2020

dança

você planeja ir reto
e a vida em brasa traz um muro?
você seguro para quieto
e constrói uma casa


05/07/2020

kundalini reiki e gratidão

com a coragem de agir pelo coração
o peito em botão se abre:
paixão vermelha incondicional
vulnerabilidade da palavra exata
movimento natural
arte que o medo verde mata

25/06/2020

mercúrio retrógrado

o que não atrasa
quebra

o que não quebra
atrasa

(gafanhotos
ao longe)

21/06/2020

sol pela janela

sonho com meus inícios
que nunca findam

tenho 44 anos:
já deveria ter me acostumado
a curtir o caminho

o horizonte me pesa
distante

sigo destoante da massa
tentando fazer canção
com a limonada
e ouvindo música clássica

19/06/2020

where is the queiroz?

a musa sem marketing
vive sem ninguém ver
toca a laranja
anja anda e come canja

sem absolutamente ninguém saber

11/06/2020

infinitas estrelas e heráclito

abraçar o bem e o mal
o futuro e o passado

ser

maior e mais livre
do que o dever

espaço vivo de alegria
onde toda criança
cria

09/06/2020

no mesmo quarto

as palavras me voam

adio silêncios
com as mãos na água
em chamas

a alma antiga quer dar conselhos de viagem

talvez seja isso
e apenas isso

1865 (lei e ordem)

tem mais presos negros hoje nos estados unidos
trabalhando como escravos
do que o total histórico de escravos do século dezenove

brancos donos das empresas operadoras de presídios controlam
os políticos brancos que mudam as leis para que
juízes brancos prendam mais negros por mais tempo para que
todos os brancos envolvidos tenham mais segurança e dinheiro para que
o próximo presidente branco possa seguir prometendo lei e ordem para a maioria branca

02/06/2020

leões de horizonte sob um sol amar-elo

o mar ao longe adivinho no ouvir
amar ela branca sozinho

cabelos longos de um futuro inventado
trancado em casa parado

olhando o caminho

27/05/2020

sonho ouvindo looping sem mobilidade social

do nova américa shopping pra maria da graça
(a casa da minha infância)
passando por benfica
brigando com o motorista do uber que voava
senti a dificuldade em aceitar que era uma escolha
do menino de rua vendendo bala
em meio a cães mortos esgoto e pobreza insolúvel

uma escolha insolúvel e insolucionável
enquanto o mundo se distopiza
e a foice da indesejada das gentes se aproxima

escolha de estar ali
vida após vida
em maioria

(entre cães mortos
esgoto
e pobreza)

extintas

acabou a luz
as telas ficaram negras
e as janelas se encheram de estrelas

26/05/2020

todo milagre nasce dentro

você lê
você estranha
porque você sabe

24/05/2020

sento perante o tempo

sento perante o tempo

ninguém entenderá a pantera

somente ela

sento perante o novo
e nada há de mais antigo
ultrapasso meu umbigo
gastando o tempo pro outro

desisto de apagar os poemas repetidos
repetitivos
antigos

estão lá e aqui
alma desnuda
na nítida impressão
de que absolutamente nada muda

23/05/2020

além do poema

não se escolhe ser poeta

não há curso possível para ser poeta

não há objetivo em ser poeta
além do poema

21/05/2020

quadrinha tiririca

bolsonaro e cloroquina
cloroquina de jesus
não sei se a terra é plana
mas a gente reduz

bolsonaro e cloroquina
cloroquina de jesus
se salvou da facada
a fake news reluz

bolsonaro e cloroquina
cloroquina habitual
meu filho é inocente
polícia federal

bolsonaro e cloroquina
no churrasco ou jet ski
não precisa de arminha
para matar a ti

bolsonaro e cloroquina
desmatando a amazônia
aprova a ditadura
e veta a maconha

bolsonaro e cloroquina
aprovando o agrotóxico
não sei se agora rima
mas queria ver a reunião com o moro

pandemia

os pobres morrendo na porta dos hospitais lotados
os ricos rebeldes saindo pra andar de patinete sem máscara
(preocupados com o que o lula falou)

19/05/2020

meus descaminhos

meus descaminhos tortos
incompletos

meus descaminhos
que vão e voltam
(breves)

meus descaminhos que me prendem
que não me encaixam

tudo bem:
a poesia me segue
e me acha

15/05/2020

poemas de amores lidos

é dever informar - caiu outro ministro
os lulistas temem - os conservadores tremem
e insisto em não insistir:
todos concordam silenciosamente
(temos um imbecil no poder)

o imbecil nos une e irmana
e as meninas e os meninos
e os velhinhos e velhinhas
em eterna minoria
declamam

poemas de amores idos

o vento na islândia (inspire, expire)

as crianças correm nos apartamentos

ainda há crianças brincando

o céu da islândia brando
branco e frio

os bancos na islândia visando lucro

as mães na islândia se beijando
antes do vírus

o vento na islândia
branco e frio

05/05/2020

solitude

a palavra tão pura
que não pode ferir a pétala
porém o pólen
suave presa

a flor do pequeno príncipe
mora nele

o sagrado é um jardim

uma casa
leve sopra
só pra mim

02/05/2020

um novo tempo

ninguém sabe mais se é sábado ou segunda
a globo mostra as tumbas
a record as vacinas

engordamos
pegando sol na janela
e olhando telas

30/04/2020

higienópolis

na casa da minha avó
tinha uma caneca vermelha
que era minha

ela trazia mate bem doce
o dia todo
gelado

de vez em quando sentava num lado do corredor
eu de outro
e a gente rolava lata de leite condensado

às vezes eu sentava no quintal
para ouvir um rádio antigo
e conversar com as plantas

meu avô jogava futebol comigo
mesmo sendo uma ladeira íngreme
sem cobrar perfeições

ia na esquina comprar sorvete
conversando com todo mundo

depois o mundo
virou esta briga
torta

minha avó com quase cem anos
passando por pandemia

e o presidente
(aquela mula)
nem fantasia
que se importa

29/04/2020

quarentena

o sol sobre a sombra da vida
abro a janela
a persiana

pássaros

o azul imenso lá fora
me azula

26/04/2020

vênus platinada

moro, mourinho ou mourão?
qual será a próxima atração
do roberto marinho?

25/04/2020

ex-juiz ex-ministro delata ex-honesto

no sonho
minha língua ficava amarelada
e ia soltando-se em fios
de tanta raiva política não dita
não escrita

o fascista anti-corrupção é ladrão?
que surpresa...

e a população sendo enterrada
em caixão fechado
pra não contaminar ainda mais
a nação

19/04/2020

sonho do sonho

o mar negro já toca a base
do shopping de vidro

janelas duras

pessoas consomem em todos os andares

o mar vence em ondas

primeiro andar: águas negras e pessoas nadando
segundo andar: roupas e acessórios
terceiro andar: praça de alimentação

18/04/2020

amanhã

eu já ouço
as pessoas cantando sol
quando tudo passar

uma só voz
o mesmo céu
novo
como a manhã

14/04/2020

fase

o horror passa eu faço carinho
a guerra perto eu durmo no ninho
a arte arde eu subo sozinho

13/04/2020

a torre

no alto do prédio do sonho
acima dos shows
dos jogos
dos amigos e inimigos
o que achei foram apenas mais portas

abri todas

o vento forte
só revelava
a altura da morte

12/04/2020

páscoa 2020 - frutos do laboratório P4 de wuhan

andrea bocelli cantando num mundo vazio
cidades vazias
catedrais vazias

um canto que preenche de encanto
ao vivo
quem segue vivo trancado em casa
graças aos progressos da ciência
nas mãos do vírus sintético da dra. zhengli shi

eu cego
e vivo
mastigo a tenra carne de animais torturados
movido pela beleza e ternura

(depois como chocolate)

11/04/2020

simbologia do número 4, o pendurado

na páscoa do vírus
acordo cruzando as pernas
para não esquecer do sonho: o número 4

eu pendurado:
não lutar

aprender com a estagnação

nenhum trem parando
em nenhuma estação

nada mais estável
que a ressurreição

09/04/2020

dura

o mar continua rugindo
fora das casas e dos apartamentos

o planeta com febre
se cura

07/04/2020

trovão sem thor

quando saio da pia
e falta luz na quarentena
eu não faço nada
no escuro

(e juro sem pena
que é o melhor
do dia)

06/04/2020

repetição

luto preso ao lúdico:
troféus e pódios e fama
dentro ou fora da cama

05/04/2020

domingo com vírus dormindo

uma carreata buzinando
carregando um santo
me acordou na quarentena

no céu, nenhum avião ou helicóptero
sob um mar com mais peixes
e menos plásticos

o padre de máscara
abençoava os de deus segurando palmeiras
e os ateus chateados por terem despertado

04/04/2020

vivos

me invento só
entre o sol
e o vento

03/04/2020

letras para o silêncio

por trás do sol que nasce
a sombra do sol que morre

humanidade clara
escondida do planeta em paz

aqui
jazz

02/04/2020

realismo estelar

nos hábitos herdados
perdi
o caminho que vai dar no sol

nunca quis filho
para não repassar a ele
meu mundo criado
sobre o criado mudo

(eu ardia mais
quando queria mudar o mundo)

na palavra e no canto
o encanto do brilho
de volta

me arrasto
tentando
reencontrar
o carinho

01/04/2020

interação online

pessoas perdidas guiando pessoas perdidas
pessoas carentes cantam para pessoas carentes:
nada mudou na quarentena

nadificar

nada
há de ficar:
tudo é sempre

31/03/2020

corona vírus

em tempos antigos
podíamos ir pra rua vazia
reclamar do tempo

agora enquadrados em apartamentos
olhamos por janelas quadradas
ângulos retos

sem sono

no topo do prédio
o mastro

no topo do mastro
a cabeça
me olha

eu finjo que não vi:
é noite alta

24/03/2020

preso em casa

me percebi mais livre
mais próximo dos amigos distantes
mais parecido com as pessoas

11/03/2020

o filme novo da arlequina

empoderamento feminino através da violência exagerada e gratuita
glamourização da violência exagerada e gratuita
normalização da violência exagerada e gratuita

24/02/2020

sol a sol

o texto:
antepasto entre o pasto e o pastel

o passado grama
chama
drama

correm bois em disparada

11/02/2020

Crítica - Era uma vez em Hollywood

Era uma vez em Hollywood - Uma declaração de amor ao cinema de Tarantino de quase três horas. Também vi uma crítica a séries bobas e formas de arte sem arte que acabamos consumindo nas telas do cinema em filmes ou da TV em seriados nos anos em que se passa trama. Hoje, o que mudou foi que temos mais telas: celulares. O excesso de violência característico do diretor, que também escreveu este filme, não aparece na obra. Todo o sangue aparece na hora certa e merecida e dura apenas poucos minutos que se perdem nas quase três horas de arte. Filme bem dirigido a gente nota na coragem de inovar e criar: nas tomadas lentas, no pé sujo e feio da mulher linda, nos detalhes de cada carro, no ator que esquece as falas e faz a gente não esquecer que é um filme, nas tomadas mais lentas e mais longas e na capacidade de deixar a gente criar o filme que está assistindo. Porque a gente cria tudo o que vê e não percebe. E arte que é arte não nos distrai. Não é pra passar o tempo. É um mergulho na direção contrária da distração. É um encontro consigo mesmo.

10/02/2020

Lindo discurso anti-racista e anti-fascista do vencedor do Oscar de melhor ator, Joaquim Phoenix, que interpretou o Coringa. Numa época que precisa disso, filmes que mostrem os lados das minorias e dos excluídos. Precisa de filmes como Jojo Rabbit zoando Hitler pois a humanidade tem uma capacidade cada vez menor de ver o óbvio e ser humana.

08/02/2020

forma

em que cela
ou cisma
sua poesia enterrada?

flor de sono
sem cor
(preto no branco)

você compra poesia?
você lê poesia?
(nem eu)

onde então
o poeta
no planeta?

07/02/2020

você já está morta

o dragão é uma borboleta de sonho
inverso do espelho
pulsão de morte

o dragão é o sonho de uma borboleta
invenção de menina
num filme japonês que não termina

06/02/2020

obrigatório

postergo o post
para um poema que não dança

o cão da vida cansa
mas tenho um jogo
para me distrair
criança

31/01/2020

e olha que corro

sou criança há 43 anos
mas quando a poesia me alcança
todo o universo dança

23/01/2020

da maior capacidade filosófica quando gripado

minhas mães doem mãos palavras
não ditas
perditas

o tempo de prazer passou em que espelho?

passo
e passo a passo
meus passos perdidos:
2 pra ir
2 pra vir

21/01/2020

família é repetição

meu avô andava com as mãos unidas nas costas
para ver melhor os defeitos das coisas

eu também uno as mãos sem perceber
mas tento reinventar meu ver
com olhos de anne with an e

17/01/2020

surpresa sem surpresa

a partir de agora começará a arte no país
esqueçam os índios
os negros
os judeus
os minoria
o portuguêis

(chico buarque avisou)

15/01/2020

inteiro

sou inteiro
nos pedaços
do que larguei pelo meio

11/01/2020

natural

estalos de estalactites
formando estalagmites
sem pressa ou motivo
o poeta escreve

10/01/2020

1981

o amor é o não dito
até para quem assusta o outro com o grito
(querendo afeto)

e insiste em bater
(visando abraço):
incapacidade de dança em cada descompasso

rasgando o rasgo
desreciclando o ciclo
plasmando o pasmo