- Fabio Rocha
- Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.
30/06/2017
Tá quase explodindo...
A paixão (e o casamento, acoplado) segundo a ciência durava 5 anos, no máximo. Depois, passou pra 3 anos. Agora, vários especialistas de diversas áreas já falam de 2 anos. Contagem regressiva. Em breve, ignição: lançarão o foguete da paixão pra lua. Feliz ano novo!
ensaio para um poema erótico furando a greve dentre outras coisas
vim fazer um poema
pra me fazer
dormir
o sorriso quase imperceptível
dos olhos dela me lendo
melando a lua de sua roupa
não está no tinder
nem no céu
nem no inferno
sete passos automáticos:
a boca minha se perde em seu alvo
sabendo que sabe beijar
completo e paciente filme
até o feminino
gemer the end
dedos a sete palmos
prosa
nos levaria aos planos da cama
mas
muitos silêncios e espaços
nos levariam a nós
pra me fazer
dormir
o sorriso quase imperceptível
dos olhos dela me lendo
melando a lua de sua roupa
não está no tinder
nem no céu
nem no inferno
sete passos automáticos:
a boca minha se perde em seu alvo
sabendo que sabe beijar
completo e paciente filme
até o feminino
gemer the end
dedos a sete palmos
prosa
nos levaria aos planos da cama
mas
muitos silêncios e espaços
nos levariam a nós
27/06/2017
re_moinho
quando a água invade
minhas teorias
meu silêncio
toda ideia de ordem parece antiga
a falta de paz não castiga
os móveis flutuam
os cães mordem os móveis
todos abraçados
(pela água)
(pela cor)
quentes
inexatos
felizes
todos dançam
danificando a solidez
que nunca houve
tudo se molha
e a água invade
quando ela
me olha
minhas teorias
meu silêncio
toda ideia de ordem parece antiga
a falta de paz não castiga
os móveis flutuam
os cães mordem os móveis
todos abraçados
(pela água)
(pela cor)
quentes
inexatos
felizes
todos dançam
danificando a solidez
que nunca houve
tudo se molha
e a água invade
quando ela
me olha
repoética
campo bonito
é o de flores feias
com poucas cores
nascem entre o gado
e a areia
(entre dores)
morrem sem perfume nem espinho
se movem se há vento
bebem se há moinho
é o de flores feias
com poucas cores
nascem entre o gado
e a areia
(entre dores)
morrem sem perfume nem espinho
se movem se há vento
bebem se há moinho
:)
geminiano sempre fala demais
escreve demais
um minuto a mais de silêncio
e tava tudo em paz
mas...
escreve demais
um minuto a mais de silêncio
e tava tudo em paz
mas...
26/06/2017
para a delusão de carol rosim
não sou romântico:
estou romântico
até
porque
a menininha ruiva
a menininha ruiva
a menininha ruiva
a menininha rui,
charlie brown
estou romântico
até
porque
a menininha ruiva
a menininha ruiva
a menininha ruiva
a menininha rui,
charlie brown
encanto
meus encontros
me sorriem a face
até desmarcarem-se
na véspera
penso seriamente uma forma de sorrir
como se tivesse um encontro
não desmarcável
sempre no dia seguinte
constante e incondicionado:
riso inventado
porque os encontros reais
os encontros mesmo
são não sãos
são contos imperfeitos
(dariam bons livros)
feridos se ferindo
fugindo mais frágeis que antes
piores que antes
os encontros são castelos de cartas
cada vez mais altos
(mãos cada vez mais trêmulas)
- porque não me encontro
me sorriem a face
até desmarcarem-se
na véspera
penso seriamente uma forma de sorrir
como se tivesse um encontro
não desmarcável
sempre no dia seguinte
constante e incondicionado:
riso inventado
porque os encontros reais
os encontros mesmo
são não sãos
são contos imperfeitos
(dariam bons livros)
feridos se ferindo
fugindo mais frágeis que antes
piores que antes
os encontros são castelos de cartas
cada vez mais altos
(mãos cada vez mais trêmulas)
- porque não me encontro
25/06/2017
as pessoas
as pessoas são inalcançáveis
as confusões se tocam
tentam se adaptar
e mudam
as pessoas são impossíveis
as confusões se tocam
tentam se adaptar
e mudam
as pessoas são impossíveis
22/06/2017
bem-te-vi
quando canto eu trovejo
gargarejo montanhas
quando canto
não sou eu
sou a legião que canta
a legião que canto
mas quando me encanto
olho com olhos de fome
e acredito na fome
(polissílaba poliamorosa)
mas tudo bem
pouco a pouco
sigo mais rouco
e um pouco menos louco:
- está tudo aqui
gargarejo montanhas
quando canto
não sou eu
sou a legião que canta
a legião que canto
mas quando me encanto
olho com olhos de fome
e acredito na fome
(polissílaba poliamorosa)
mas tudo bem
pouco a pouco
sigo mais rouco
e um pouco menos louco:
- está tudo aqui
20/06/2017
Crítica: Garotas - O Filme
Como um filme tão ruim (completamente ruim, totalmente ruim) como "Garotas - O Filme" teve críticas tão pacientes?
Não é nem comédia nem drama, mostra garotas riquinhas, alienadas, superficiais e novinhas o tempo todo quase nuas e se pegando. E é isso. The End. Eis a grande atração do filme, como nas antigas "pornochanchadas", só que com atrizes mais novas. O "dilema" de uma delas querendo mudar de vida não dura nem 5 minutos. A briga parece piada de tão mal feita e também não dura nem 5 minutos.
Elas passam o filme fazendo ou falando de sexo de forma banalizada, bebendo demais, se drogando, "curtindo"... E tem crítica falando como se isso fosse algo feminista ou uma louvável "atitude rock and roll"...
Por mais que isso seja mesmo o retrato da "night carioca" e dessa geração "sem pais que consigam dar limites", um filme inteiro só mostrando isso é um saco. Tipo aturar bêbado. E o pior é que fora do submundo das 3 personagens principais, o filme é ainda menos interessante, com atuações e roteiro ainda mais lastimáveis.
É um filme quase do mesmo nível de "O Último Virgem" (que consegue ser ainda menos interessante). E muito pior que "A frente fria que a chuva traz", com ótimas atuações, direção e roteiro. A impressão que dá é que tentou seguir o mesmo caminho, de retratar o caos de uma juventude drogada, superficial e rica, mas se perdeu na tentativa.
Não é nem comédia nem drama, mostra garotas riquinhas, alienadas, superficiais e novinhas o tempo todo quase nuas e se pegando. E é isso. The End. Eis a grande atração do filme, como nas antigas "pornochanchadas", só que com atrizes mais novas. O "dilema" de uma delas querendo mudar de vida não dura nem 5 minutos. A briga parece piada de tão mal feita e também não dura nem 5 minutos.
Elas passam o filme fazendo ou falando de sexo de forma banalizada, bebendo demais, se drogando, "curtindo"... E tem crítica falando como se isso fosse algo feminista ou uma louvável "atitude rock and roll"...
Por mais que isso seja mesmo o retrato da "night carioca" e dessa geração "sem pais que consigam dar limites", um filme inteiro só mostrando isso é um saco. Tipo aturar bêbado. E o pior é que fora do submundo das 3 personagens principais, o filme é ainda menos interessante, com atuações e roteiro ainda mais lastimáveis.
É um filme quase do mesmo nível de "O Último Virgem" (que consegue ser ainda menos interessante). E muito pior que "A frente fria que a chuva traz", com ótimas atuações, direção e roteiro. A impressão que dá é que tentou seguir o mesmo caminho, de retratar o caos de uma juventude drogada, superficial e rica, mas se perdeu na tentativa.
o chão da cidade
(Para Lama Padma Samten)
o chão de onde brota a vida
está muito fundo na cidade
para brotarem flores
esquecido
soterrado por cimento
o povo passa e cospe chiclete e câncer
no chão da cidade
sem segredo nem sagrado
economia e pressa e breu:
(eu eu eu)
a vida segue mais violenta
pois o chão da cidade
nos separa de nós mesmos
(inspiração)
o chão de onde brota a vida
está muito fundo na cidade
para brotarem flores
esquecido
soterrado por cimento
o povo passa e cospe chiclete e câncer
no chão da cidade
sem segredo nem sagrado
economia e pressa e breu:
(eu eu eu)
a vida segue mais violenta
pois o chão da cidade
nos separa de nós mesmos
(inspiração)
19/06/2017
desfazendo amor nos tempos da luz líquida e rasa
nunca vi tantas fotos sorrindo
e tantas pessoas deprimidas
tantas mensagens de paz
e tanta gente ansiosa
(num mundo em guerra)
me calo perante um labirinto de musas
um passo atrás no vazio
da noite
o escuro apressa
minha pressa
e minhas presas alvas
buscam a próxima presa
faço porque passo
minha dor procura
a próxima poesia
não como arte, compaixão ou ternura
mas como cura
como fazer
assim não paro
não paramos
e fugimos da dor maior
do sozinho absoluto
fazendo longe das fazendas
variam as distrações
mas é cada vez mais raro
Fazermos
é tempo de desencontro
onde todos querem algo
que não Fazem
ninguém mais consegue Fazer
nem por vontade nem por distração
porque temos
um celular na mão
e tantas pessoas deprimidas
tantas mensagens de paz
e tanta gente ansiosa
(num mundo em guerra)
me calo perante um labirinto de musas
um passo atrás no vazio
da noite
o escuro apressa
minha pressa
e minhas presas alvas
buscam a próxima presa
faço porque passo
minha dor procura
a próxima poesia
não como arte, compaixão ou ternura
mas como cura
como fazer
assim não paro
não paramos
e fugimos da dor maior
do sozinho absoluto
fazendo longe das fazendas
variam as distrações
mas é cada vez mais raro
Fazermos
é tempo de desencontro
onde todos querem algo
que não Fazem
ninguém mais consegue Fazer
nem por vontade nem por distração
porque temos
um celular na mão
Poesia temática:
autocrítica,
budismo,
crítica social,
meditação,
melhores poemas,
poesia,
top10,
top20,
top30,
top50
16/06/2017
encontro marcado
quando tenho um encontro marcado
o éter brilha o olho
o ar acalma lentamente os pulmões
o fogo aquece e cura cada célula
a água desce pelo corpo soltando cada tensão
a terra está estável, a sala está estável, eu pareço uma montanha
o espaço se mostra muito amplo, maior que o encontro marcado
quando tenho um encontro marcado
desejo que todas as pessoas
tenham um encontro marcado
quando tenho um encontro marcado
mesmo sabendo da delusão do eu e do encontro
consigo ver a luminosidade e a vacuidade
do eu, do encontro e de tudo com mais cor
(e o corcunda da esquina um pouco menos corcunda)
o éter brilha o olho
o ar acalma lentamente os pulmões
o fogo aquece e cura cada célula
a água desce pelo corpo soltando cada tensão
a terra está estável, a sala está estável, eu pareço uma montanha
o espaço se mostra muito amplo, maior que o encontro marcado
quando tenho um encontro marcado
desejo que todas as pessoas
tenham um encontro marcado
quando tenho um encontro marcado
mesmo sabendo da delusão do eu e do encontro
consigo ver a luminosidade e a vacuidade
do eu, do encontro e de tudo com mais cor
(e o corcunda da esquina um pouco menos corcunda)
15/06/2017
tour no quente
a vítima prende o vampiro
no hábito da boca
(voracidade de virgem)
um filete que forma
a coleira invertida
vermelha
a vítima voraz
cultiva vampiros
no hábito da boca
(voracidade de virgem)
um filete que forma
a coleira invertida
vermelha
a vítima voraz
cultiva vampiros
infec-são
caninos
nada femininos
ando cansado de não estar pronto
ando cansado de ficar puto
ando farto de não ter compaixão
com as poetas que lentamente me matam
porque deito
porque deixo
as musas românticas são cáries
que não tratadas
doerão mais depois
extração:
estar são
em qualquer estação
(star, star, por que céu da boca andará star...)
dor quebrar hábitos brancos de poesia
sem anestesia
o caminho
a certa altura
dói mais que o samsara
boi boi boi
nada femininos
ando cansado de não estar pronto
ando cansado de ficar puto
ando farto de não ter compaixão
com as poetas que lentamente me matam
porque deito
porque deixo
as musas românticas são cáries
que não tratadas
doerão mais depois
extração:
estar são
em qualquer estação
(star, star, por que céu da boca andará star...)
dor quebrar hábitos brancos de poesia
sem anestesia
o caminho
a certa altura
dói mais que o samsara
boi boi boi
mulheres
não sei bem em que rinite
perdi a capacidade masculina mais importante:
quanto mais vontade
mais não ligar no dia seguinte
você lê um blog inteiro correndo
feito um idiota
e a pessoa nem nota
que seu nome não tem acento
eu quero cortar todos os cantos sagrados
da minha estupidez cumprida
deixar o hábito ensanguentado exposto
para o gosto das curtidas de desconhecidas
perdi a capacidade masculina mais importante:
quanto mais vontade
mais não ligar no dia seguinte
você lê um blog inteiro correndo
feito um idiota
e a pessoa nem nota
que seu nome não tem acento
eu quero cortar todos os cantos sagrados
da minha estupidez cumprida
deixar o hábito ensanguentado exposto
para o gosto das curtidas de desconhecidas
nosso tempo
é isso mesmo, ancião:
cristãos tatuando o nome de cristo
na testa do ladrão
pessoas reclamando de joguinhos e solidão
e fazendo muito pior
com quem aparece disposto a tentar em vão
(com tinder ou não)
e nós que tratemos de olhar
pras nossas próprias falhas
e pra poesia das árvores
(em suas próprias folhas)
as árvores não somos:
nós não atamos
mais
nós não amamos
mas
as árvores fazem sentido
cristãos tatuando o nome de cristo
na testa do ladrão
pessoas reclamando de joguinhos e solidão
e fazendo muito pior
com quem aparece disposto a tentar em vão
(com tinder ou não)
e nós que tratemos de olhar
pras nossas próprias falhas
e pra poesia das árvores
(em suas próprias folhas)
as árvores não somos:
nós não atamos
mais
nós não amamos
mas
as árvores fazem sentido
14/06/2017
talvez (peterson)
levo isto no peito:
acariciar com letras
mulheres eleitas
estrear musas
estreladas
confusas ou não
são várias
mas uma por vez
e todas imaginárias
um parafuso a menos?
musas demais?
pior é nos jornais...
acariciar com letras
mulheres eleitas
estrear musas
estreladas
confusas ou não
são várias
mas uma por vez
e todas imaginárias
um parafuso a menos?
musas demais?
pior é nos jornais...
ruiva G
ela nunca chega na hora
mas sempre sai cedo demais
(e guardo nossos banhos para sempre)
a gente colado é bom
no ápice
e no sono posterior
ela fala pouco e baixo
tem uma timidez
meio tristeza
meio cansaço
profundo e leve
cada passo
meu
leva ela junto
mas sempre sai cedo demais
(e guardo nossos banhos para sempre)
a gente colado é bom
no ápice
e no sono posterior
ela fala pouco e baixo
tem uma timidez
meio tristeza
meio cansaço
profundo e leve
cada passo
meu
leva ela junto
o poema de carol
o poema de carol
quer repetir infinitas vezes
o nome de carol
fonemas vermelhos (sem pare)
prolongando crepúsculos a dois
até a ponta destes cabelos
até que a sorte nos separe
coros de gemidos
comigo perdido entre o fogo do seu pelo
o branco nu da pele
e a suavidade dos seios
o poema de carol
quer afirmar carol, reter carol, parar carol
no meu tempo
no meu fascínio
no meu desejo vivo iluminando além das palavras
quer parar tudo
dentro daqueles braços leves de escultura
e findar todo o mundo em mármore
(na paz do teu corpo fino)
o poema de carol não tem jeito:
está preso como o piercing
perto da boca de fruta
dentro do sonho do nariz perfeito
o poema de carol
tem que falar das orelhas pequeninas
das mãos de menina
da voz de aconchego
do beijo doce
carol é palavra que queima
sem se ver
ferida que acelera o peito
para dentro da noite
(e por todo o dia se sente)
quer repetir infinitas vezes
o nome de carol
fonemas vermelhos (sem pare)
prolongando crepúsculos a dois
até a ponta destes cabelos
até que a sorte nos separe
coros de gemidos
comigo perdido entre o fogo do seu pelo
o branco nu da pele
e a suavidade dos seios
o poema de carol
quer afirmar carol, reter carol, parar carol
no meu tempo
no meu fascínio
no meu desejo vivo iluminando além das palavras
quer parar tudo
dentro daqueles braços leves de escultura
e findar todo o mundo em mármore
(na paz do teu corpo fino)
o poema de carol não tem jeito:
está preso como o piercing
perto da boca de fruta
dentro do sonho do nariz perfeito
o poema de carol
tem que falar das orelhas pequeninas
das mãos de menina
da voz de aconchego
do beijo doce
carol é palavra que queima
sem se ver
ferida que acelera o peito
para dentro da noite
(e por todo o dia se sente)
poema imaginário para Mariana Manelli
o melhor perfume
é o cheiro natural da bela musa
misturado ao do sabonete
na proporção exata do lume
em quer as cores dela
sem impregnam no que vejo
(com beijo ou sem beijo)
é o cheiro natural da bela musa
misturado ao do sabonete
na proporção exata do lume
em quer as cores dela
sem impregnam no que vejo
(com beijo ou sem beijo)
relação (ou mais um poema que não trata de fósforos)
ainda não tenho a visão
para ultrapassar a reciprocidade
pela esquerda
depois da curva
mas a vontade
mas a velocidade
o vento na cara
o ronco do motor
o final da curva...
em geral
dá nisso:
acidente
para ultrapassar a reciprocidade
pela esquerda
depois da curva
mas a vontade
mas a velocidade
o vento na cara
o ronco do motor
o final da curva...
em geral
dá nisso:
acidente
abundância (ultrapasse a reciprocidade pela esquerda)
corpos de penas
corpos de asfalto
pedaços de corpos celestes
falta de ar
por causa de outro corpo
outro rosto
outro olhar
eterna
falta de visão
causada pela falta de silenciar
causada pela divisão
do que sempre esteve, está e estará
inteiro
corpos de asfalto
pedaços de corpos celestes
falta de ar
por causa de outro corpo
outro rosto
outro olhar
eterna
falta de visão
causada pela falta de silenciar
causada pela divisão
do que sempre esteve, está e estará
inteiro
13/06/2017
Para Camila Santos
quando parece que tá tudo certinho
organizadinho
perfeito
eu ou a vida ou ambos jogamos a porra toda no chão
escrevo com ou sem dentes
com ou sem motivo
com ou sem musa
com ou sem maiúsculas
com ou sem mão
o mundo insiste em produzir poetas
o caminho, pedras
o vento, alimento para as letras
prazer
sofrimento
seguimos
(no mesmo lugar)
organizadinho
perfeito
eu ou a vida ou ambos jogamos a porra toda no chão
escrevo com ou sem dentes
com ou sem motivo
com ou sem musa
com ou sem maiúsculas
com ou sem mão
o mundo insiste em produzir poetas
o caminho, pedras
o vento, alimento para as letras
prazer
sofrimento
seguimos
(no mesmo lugar)
menos siso
no espaço estacionário para onde volto
uma teimosia chamo de eu
(sem chama)
a chama é além disso
surpreender purificar
agir duas vezes antes de pensar
mas na direção certa
correr pra fora do buraco
o mesmo buraco do hábito
o mesmo buraco onde caíram todos os antepassados
e cobrimos de terra
o buraco da música do wando
de pessoas velhas se guiando errado
conversando errado
repetindo errado
no planeta cariado
(e bebendo pra esquecer)
o fumo que firmam no trago
(fumo do emprego fixo)
(fumo da paixão como salvação)
eu solto no traço
em sumo
(e sumo)
o que interessa desse monte de teoria é isso:
o que faço
uma teimosia chamo de eu
(sem chama)
a chama é além disso
surpreender purificar
agir duas vezes antes de pensar
mas na direção certa
correr pra fora do buraco
o mesmo buraco do hábito
o mesmo buraco onde caíram todos os antepassados
e cobrimos de terra
o buraco da música do wando
de pessoas velhas se guiando errado
conversando errado
repetindo errado
no planeta cariado
(e bebendo pra esquecer)
o fumo que firmam no trago
(fumo do emprego fixo)
(fumo da paixão como salvação)
eu solto no traço
em sumo
(e sumo)
o que interessa desse monte de teoria é isso:
o que faço
12/06/2017
Meditação em Botafogo
Trânsito e obras
Pernas e calçados
Pessoa ao lado no banco
Britadeira e caminhão
Ambulância branca e pombos pretos
Vem
E
Vão
Voo
E
Fico
Esperando o cinema abrir
Pernas e calçados
Pessoa ao lado no banco
Britadeira e caminhão
Ambulância branca e pombos pretos
Vem
E
Vão
Voo
E
Fico
Esperando o cinema abrir
10/06/2017
breve elogio ao morno
Quando você mergulha em atividades mundanas que te dão muito prazer, a tendência é a meditação ficar mais difícil uns dias. Suas energias ficam agitadas naquela ilusão, a mente não se acalma mais tão facilmente, fica revivendo o momento de prazer ou racionalizando formas de mantê-lo ou prolongá-lo. Como se tivéssemos agitado um copo de água cristalina onde o barro já estava depositado no fundo, obscurecendo novamente toda a água.
O outro extremo, a dor, é útil para quem não está nem aí pra profundidades psicológicas, filosóficas ou religiosas. Só vê as coisas do mundo, não quer uma conexão mais profunda ("espiritual" não é uma palavra boa por não ter nada a ver com a ideia de "espírito" ou "alma"). Mas para quem já está praticando, o efeito da dor extremada é parecido com o prazer extremado: agita a água, agita a energia. Só que em vez de ficarmos racionalizando formas de manter a sensação boa, ficamos racionalizando formas de evitar a sensação ruim.
Se você consegue manter uma visão mais ampla em qualquer dos dois casos, menos agitação na água, melhor. Mas o ideal para iniciantes como eu: evitar extremos (e assim, apego e aversão) e seguir pelo morno caminho do meio.
O outro extremo, a dor, é útil para quem não está nem aí pra profundidades psicológicas, filosóficas ou religiosas. Só vê as coisas do mundo, não quer uma conexão mais profunda ("espiritual" não é uma palavra boa por não ter nada a ver com a ideia de "espírito" ou "alma"). Mas para quem já está praticando, o efeito da dor extremada é parecido com o prazer extremado: agita a água, agita a energia. Só que em vez de ficarmos racionalizando formas de manter a sensação boa, ficamos racionalizando formas de evitar a sensação ruim.
Se você consegue manter uma visão mais ampla em qualquer dos dois casos, menos agitação na água, melhor. Mas o ideal para iniciantes como eu: evitar extremos (e assim, apego e aversão) e seguir pelo morno caminho do meio.
07/06/2017
alto lá
o posto fincado:
traçar um caminho nas rochas
e seguir pelo céu rajado
o salto requer
não querer nem
o salto
distração do eu torto
no silêncio sólido da montanha
o rio descendo pelo corpo entregue ao dia
sem a aranha da ira, quente por si
trocando com todos: ar, ideias, palavras, energia
o sol nos olhos
traçar um caminho nas rochas
e seguir pelo céu rajado
o salto requer
não querer nem
o salto
distração do eu torto
no silêncio sólido da montanha
o rio descendo pelo corpo entregue ao dia
sem a aranha da ira, quente por si
trocando com todos: ar, ideias, palavras, energia
o sol nos olhos
paz_chão
06/06/2017
queimando dinheiro
O início dos primeiros passos para fora dos hábitos arraigados vão parecer uma loucura. Uma sensação real de estar queimando dinheiro ou desperdiçando oportunidades... Mas só mesmo agindo assim é que a gente sai dos mesmos ciclos do samsara.
05/06/2017
voo repetido
o dragão guarda seu fogo
para a hora mais exata
(fim de jogo)
o dragão é a mais perfeita
máquina de colheita
de dor
você coleciona derrotas
o dragão
queima amor
para a hora mais exata
(fim de jogo)
o dragão é a mais perfeita
máquina de colheita
de dor
você coleciona derrotas
o dragão
queima amor
02/06/2017
Desautomatização
Algo chama a atenção. Brilha fora por estarmos cegos às sutilezas do processo: nós produzimos o brilho internamente e atribuímos ao objeto. Parecemos melhores com o objeto próximo. Depois é automático: querer estabilizar o brilho, pegar só pra nós, proteger de ameaças que possam afastá-lo de nós, não perder, manter a sensação boa. Hábito tão profundo que nem notamos outras opções de agir. Acontece tão rápido que não percebemos que há liberdade. Assim fazemos nosso prato no self-service, casamos ou compramos um carro novo.
01/06/2017
a sociedade empurra para um lado mais cego
apago com o ego aplicativos na noite enorme
dormem infinitos futuros possíveis que não nego
a diferença entre eles não interessa inteiro:
são todos sonhos
todos pesadelos
a noite grande
aceita estrelas e pregos
vitórias e perdas
palavro anomalias
sem construir castelos
troco infinitos elos artificiais
pelo fogo amarelo
viveu ou morreu
a noite alta
sem eu?
dormem infinitos futuros possíveis que não nego
a diferença entre eles não interessa inteiro:
são todos sonhos
todos pesadelos
a noite grande
aceita estrelas e pregos
vitórias e perdas
palavro anomalias
sem construir castelos
troco infinitos elos artificiais
pelo fogo amarelo
viveu ou morreu
a noite alta
sem eu?
direção: pra dentro
no centro do deserto
o som da última pétala morta
tocando o solo desperta
a imensidão caudalosa da solidão
o som da última pétala morta
tocando o solo desperta
a imensidão caudalosa da solidão
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