cada vez
danço melhor
no copo metade cheio
de amores mais que líquidos
- Fabio Rocha
- Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.
30/12/2016
de aço
soltem meus braços
comportamento anterior
não implica em comportamento futuro
soltem meus braços
por favor me digam
o que não posso
o que não devo
só pra eu ter o prazer
de ir lá
e fazer
comportamento anterior
não implica em comportamento futuro
soltem meus braços
por favor me digam
o que não posso
o que não devo
só pra eu ter o prazer
de ir lá
e fazer
23/12/2016
feliz cidade noite 2016
natal é tempo
de repensar os projetos
largados pelo meio
e ver o mendigo no meio da rua
é tempo bonito
de parar o automatismo:
o que não é e o que não será
o natal
custa
a chegar
apressamos com vícios
hinos
e falta de neve
bonito
mas nada breve
entre o natal
e o ano novo
cabem sete infinitos
de repensar os projetos
largados pelo meio
e ver o mendigo no meio da rua
é tempo bonito
de parar o automatismo:
o que não é e o que não será
o natal
custa
a chegar
apressamos com vícios
hinos
e falta de neve
bonito
mas nada breve
entre o natal
e o ano novo
cabem sete infinitos
22/12/2016
cara - o quê?
a noite é grande demais
para minha dor nas costas
sentei na poltrona mais suja
o lugar fedia a mofo
o lugar era quente
cantar elis era impossível
mas a esperança nos mantinha
e a risada nos sorria
rock pesado
e bebida barata
no ambiente informal
tentando apressar o natal
idoso tinha a gente
e o velho de lambreta
com gorro de papai noel
manco
mexendo na dentadura
(nenhuma rima)
o resto era fogo por dentro de fogo
dentro de corpos
dentro de roupas poucas
falas vazias
e idades mínimas
jogar sinuca
sem olhar
o jogo de sinuca
o tempo como promessa
de melhores horas
e a gente com pressa
de qualquer coisa fora
para minha dor nas costas
sentei na poltrona mais suja
o lugar fedia a mofo
o lugar era quente
cantar elis era impossível
mas a esperança nos mantinha
e a risada nos sorria
rock pesado
e bebida barata
no ambiente informal
tentando apressar o natal
idoso tinha a gente
e o velho de lambreta
com gorro de papai noel
manco
mexendo na dentadura
(nenhuma rima)
o resto era fogo por dentro de fogo
dentro de corpos
dentro de roupas poucas
falas vazias
e idades mínimas
jogar sinuca
sem olhar
o jogo de sinuca
o tempo como promessa
de melhores horas
e a gente com pressa
de qualquer coisa fora
20/12/2016
sam_sara (too late)
com braços de elefante
tento flertar com a leveza
mas nenhum poema é o último
nenhuma musa é a última
não há final no meu livro
beleza triste da obsolescência programada
das conquistas
das conquistadas
(nada resolve nada)
a música bela
do poeta feio
tocando em algum lugar de los angeles
violinos
violentam
a fumaça da escuridão
tento flertar com a leveza
mas nenhum poema é o último
nenhuma musa é a última
não há final no meu livro
beleza triste da obsolescência programada
das conquistas
das conquistadas
(nada resolve nada)
a música bela
do poeta feio
tocando em algum lugar de los angeles
violinos
violentam
a fumaça da escuridão
19/12/2016
dia um
ela topou
não ser cobrada
nem me cobrar nada
sorrindo deito em verdes pastos
imaginando pássaros coloridos
voando livres num céu branco
assim vamos sem trancos
citando drummond
no whatsapp
com coração
não ser cobrada
nem me cobrar nada
sorrindo deito em verdes pastos
imaginando pássaros coloridos
voando livres num céu branco
assim vamos sem trancos
citando drummond
no whatsapp
com coração
Poesia temática:
amor livre,
amor romântico,
anti-amor romântico,
eu,
homenagem,
musas,
poesia
13/12/2016
asas do desejo
isso tudo já estava
em algum lugar na arte
mas temos cada vez
mais tempo
para distrações
por sorte
nos estranhamos a morte
de quando em vez
mergulhando em cores
ou em rimas e breu
sem nem uma beira
da palavra eu
em algum lugar na arte
mas temos cada vez
mais tempo
para distrações
por sorte
nos estranhamos a morte
de quando em vez
mergulhando em cores
ou em rimas e breu
sem nem uma beira
da palavra eu
11/12/2016
desistência formal amorosa
não adianta
o esforço
para ver elo
no farelo
pão pão
queijo queijo
e um beijo vão se perdendo no ar
as princesas encantadas
querem ser assim tratadas
mas não assim tratar
sorriso amarelo
atrás
de sorriso amarelo
com asma
as pessoas não conseguem
nem cumprir um jantar combinado
e você ainda pensa (faminto fantasma)
naquele verbo antiquado
com trema na sala de estar:
namorar
(não pelo bem dela
mas pelo seu bem estar)
o esforço
para ver elo
no farelo
pão pão
queijo queijo
e um beijo vão se perdendo no ar
as princesas encantadas
querem ser assim tratadas
mas não assim tratar
sorriso amarelo
atrás
de sorriso amarelo
com asma
as pessoas não conseguem
nem cumprir um jantar combinado
e você ainda pensa (faminto fantasma)
naquele verbo antiquado
com trema na sala de estar:
namorar
(não pelo bem dela
mas pelo seu bem estar)
Poesia temática:
dificuldade de amar,
dificuldade de relacionamento,
humor,
poemas psi,
poesia
ação no mundo
silenciar
para
evitar
causar sofrimento
tudo bem que ele morou no mundo todo
fala dez idiomas
dois doutorados
e não dá a descarga no banheiro
tudo bem o que for
todos tem um lado bom:
não dá a descarga mas apaga a luz
tudo
bem
não sou
eu mesmo
a ilusão de um paradoxo sobre pés cansados?
não é o mundo todo
um lugar
sem sentido?
falemos do tempo:
será que vai dar praia?
silenciar
é infinitas vezes melhor do que espetar
mesmo que seja se encolher na concha virginiana
sem dizer a que veio
sem dizer nada
sem nem ser
para
evitar
causar sofrimento
tudo bem que ele morou no mundo todo
fala dez idiomas
dois doutorados
e não dá a descarga no banheiro
tudo bem o que for
todos tem um lado bom:
não dá a descarga mas apaga a luz
tudo
bem
não sou
eu mesmo
a ilusão de um paradoxo sobre pés cansados?
não é o mundo todo
um lugar
sem sentido?
falemos do tempo:
será que vai dar praia?
silenciar
é infinitas vezes melhor do que espetar
mesmo que seja se encolher na concha virginiana
sem dizer a que veio
sem dizer nada
sem nem ser
06/12/2016
já é natal na líder magazine 2 (redação)
o natal tem amigo oculto
e presentes de um elfo imaginário de barba branca
inventado pela coca-cola
para crianças futuramente decepcionadas
usarem ainda mais drogas
o natal reúne a família
para falar mal da parte da família
que ainda não chegou
ou saiu mais cedo
no natal nasceu o homem filho do homem
que falava para darmos tudo aos pobres
sermos compassivos
sermos amorosos
e que era mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha
que um rico entrar no reino dos céus
então trocamos presentes e comemos abundantemente
animais mortos que torturamos a vida toda
em nossas casas com muros
enquanto lá fora tantos passam fome
para
celebrar
este
nascimento
amém
e presentes de um elfo imaginário de barba branca
inventado pela coca-cola
para crianças futuramente decepcionadas
usarem ainda mais drogas
o natal reúne a família
para falar mal da parte da família
que ainda não chegou
ou saiu mais cedo
no natal nasceu o homem filho do homem
que falava para darmos tudo aos pobres
sermos compassivos
sermos amorosos
e que era mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha
que um rico entrar no reino dos céus
então trocamos presentes e comemos abundantemente
animais mortos que torturamos a vida toda
em nossas casas com muros
enquanto lá fora tantos passam fome
para
celebrar
este
nascimento
amém
sair do ego (espelho)
falar
a um cego
sobre o vermelho
a um cego
sobre o vermelho
Poesia temática:
budismo,
meditação,
poesia,
poetrix,
prajnaparamita
03/12/2016
fora temer
virginianas sem coragem
para sair ou entrar
(do que quer que seja)
parece que me atraem
ou se atraem por mim
na razão inversa das forças opostas
forças ocultas
de pais ausentes
num país sem rumo
virginianas discretas
virginianas doentes
virginianas carentes
virginianas sem fotos recentes
virginianas
sem
ascendente
virginianas discretas
virginianas doentes
virginianas carentes
virginianas sem fotos recentes
virginianas
sem
ascendente
bons beijos
boas conversas
boa noite
adeus
e me traio no prato frio
(vazio vazio vazio dos ateus)
repetidas vezes
tentando ver calor
onde não há:
fora
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