estar inteiro em cada palavra
indizível renascer
agradecendo ao sofrimento
"era o melhor que cada um deles podia fazer"
abençoar todos os caminhos
que me trouxeram
exatamente onde deveria estar
todo momento
(inclusive este momento)
absolutamente perfeito
nada a fazer
as letras
se juntam
por si só
o céu acima
o deserto abaixo
a voz maior
que eu
- Fabio Rocha
- Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.
29/09/2016
28/09/2016
melhor
um estudo diz que meditação é melhor que tirar férias. outro diz que estudos e meditações nas férias são melhores. outro, que melhores são mulheres. eis tudo.
a pérola (ou trocando carne por soja)
colecionamos oportunidades de ouro
para um futuro que nunca chega
não se percebe um terremoto
no oceano
a soma das dores
não vale a soma dos prazeres
maçanetas à parte
fotografamos
os caminhos repetidos
filmamos os shows
que pagamos para não ver
perdemos silêncios com palavras e
o som de tráfego e dentes
helicópteros e beija-flores
em cada esquina, um mestre
um doutor
uma terapeuta
um especialista
e muitas certezas ditas
vestidas
políticos sorriem
cartas brancas
baralho cigano
os prédios apontam
o céu é uma música azul
que ninguém olha
mas vê tudo
nuvens passarão
a vida resiste
você corta videogames, carnes, excessos e sexo
você senta em silêncio sem perder tempo
e
de repente
a vida brota
apesar dos cortes
você levanta, canta
vira cambalhota:
a vida não se importa
somos cães
tentando
sem sucesso
morder uma bola amarela
numa piscina azul
e qualquer coisa que façamos
(ou não)
não altera
nossa condição
meu celular vibra no sofá
mas não olho
para um futuro que nunca chega
não se percebe um terremoto
no oceano
a soma das dores
não vale a soma dos prazeres
maçanetas à parte
fotografamos
os caminhos repetidos
filmamos os shows
que pagamos para não ver
perdemos silêncios com palavras e
o som de tráfego e dentes
helicópteros e beija-flores
em cada esquina, um mestre
um doutor
uma terapeuta
um especialista
e muitas certezas ditas
vestidas
políticos sorriem
cartas brancas
baralho cigano
os prédios apontam
o céu é uma música azul
que ninguém olha
mas vê tudo
nuvens passarão
a vida resiste
você corta videogames, carnes, excessos e sexo
você senta em silêncio sem perder tempo
e
de repente
a vida brota
apesar dos cortes
você levanta, canta
vira cambalhota:
a vida não se importa
somos cães
tentando
sem sucesso
morder uma bola amarela
numa piscina azul
e qualquer coisa que façamos
(ou não)
não altera
nossa condição
meu celular vibra no sofá
mas não olho
é bom que
falta espaço nesta postagem onde cabem caracteres infinitos para eu escrever todas as minhas dores
solução aquosa (verbo deligação)
as pessoas sem noção
são uma multidão crescente
lua sem rua
espaço sem passos
sem casa
desalento de um pássaro lento
sem asa
você empresta um gibi
volta rasgado
você empresta um livro
volta rasurado
você empresta um sorriso
volta magoado
você não empresta nada
e passa a dor
quando passa a doar
são uma multidão crescente
lua sem rua
espaço sem passos
sem casa
desalento de um pássaro lento
sem asa
você empresta um gibi
volta rasgado
você empresta um livro
volta rasurado
você empresta um sorriso
volta magoado
você não empresta nada
e passa a dor
quando passa a doar
cego
você tenta um bilhão de vezes o melhor desejo
e quando consegue o milagre
acaba
era tão seu seu seu seu
mas finda
e arde
e você segue
desprezando a vida linda
atrás do milagre no beijo
tanto tempo gasto
onde deveria todo homem
trabalhar na sua fome
você segue, José
para onde?
e quando consegue o milagre
acaba
era tão seu seu seu seu
mas finda
e arde
e você segue
desprezando a vida linda
atrás do milagre no beijo
tanto tempo gasto
onde deveria todo homem
trabalhar na sua fome
você segue, José
para onde?
27/09/2016
pré-sol
cinco e meia
usar o hábito a meu favor
descontrolar manhãs pelo silêncio
enredo os fios da teia cristalina
espalhadas por mil navalhas de pensamentos vãos
ouvir a sabedoria da respiração
o corpo finalmente se acomodar
no chão
tudo brilha
nada é
usar o hábito a meu favor
descontrolar manhãs pelo silêncio
enredo os fios da teia cristalina
espalhadas por mil navalhas de pensamentos vãos
ouvir a sabedoria da respiração
o corpo finalmente se acomodar
no chão
tudo brilha
nada é
26/09/2016
noite cheia de fantasmas
as pessoas do século passado
ainda fazem currículos
participam de concursos literários
dizem que vestem a camisa da empresa
pensando nelas mesmas
e seu nome na história:
"PESSOA DO SÉCULO PASSADO"
as pessoas do século passado
esperam o amor chegar ouvindo roberto carlos
e têm fé
(amar é...)
as pessoas do século passado
usam a arte como desculpa para sua insônia
uma arte que não muda ninguém
porque as pessoas do século passado
desabafam, escrevem, pintam, cantam, fotografam, produzem...
mas não mudam
(igual a seus pais
e os pais deles
e os pais deles
e os pais deles
e o país deles)
ainda fazem currículos
participam de concursos literários
dizem que vestem a camisa da empresa
pensando nelas mesmas
e seu nome na história:
"PESSOA DO SÉCULO PASSADO"
as pessoas do século passado
esperam o amor chegar ouvindo roberto carlos
e têm fé
(amar é...)
as pessoas do século passado
usam a arte como desculpa para sua insônia
uma arte que não muda ninguém
porque as pessoas do século passado
desabafam, escrevem, pintam, cantam, fotografam, produzem...
mas não mudam
(igual a seus pais
e os pais deles
e os pais deles
e os pais deles
e o país deles)
25/09/2016
o celular, esta maravilha
tivemos uma fase de nos maravilhar com as mensagens de voz do whatsapp e parar de fazer ligações. mas agora, com a mente de um macaco louco, ansiosa e dispersa, esquecemos de responder, perdemos conversas pelo meio, falamos com dez pessoas ao mesmo tempo, não ouvimos tudo o que se falou... então as pessoas estão voltando a se ligar, para que as perguntas tenham respostas e seja possível um diálogo. estava pensando nisso e recebi um vídeo de uma amiga mostrando que estamos cada vez mais com problemas na cervical por ficar muito tempo olhando pra baixo, pras telas dos celulares. quando começam as dores, precisamos de exercícios para reaprender a olhar pra frente. olhar pro céu é um sonho distante.
24/09/2016
mas à noite, quando o resto da cidade dormia, ele escrevia
porque a chuva se segura nas nuvens até o momento em que não dá mais. e nada vale o peso de um filme assustador no meio de um dia de amor. ele agora podia escrever a palavra: amor. amor. amor. como uma chuva que cai naturalmente. não como uma imaginação em que se crê, um esforço a ser mantido até virar lágrima. não como o centro de uma existência autocentrada. amor como a chuva. por todos. para todos. (até mesmo pra ela.)
Poesia temática:
amor romântico,
anti-amor romântico,
budismo,
eu,
meditação,
poesia,
prosa
18/09/2016
até quando netuno?
não é possível
ser tão inábil
com minha grande bolha celeste
(meteoro de ilusão)
quanto tempo falta
entre o que sei ser sábio
e o que sinto em brumas?
quanto cansaço acumulado
de seguir o sol errado
pro mesmo lado
do abismo
já é hora
de honrar
meus arranhões
ser tão inábil
com minha grande bolha celeste
(meteoro de ilusão)
quanto tempo falta
entre o que sei ser sábio
e o que sinto em brumas?
quanto cansaço acumulado
de seguir o sol errado
pro mesmo lado
do abismo
já é hora
de honrar
meus arranhões
Poesia temática:
anti-amor romântico,
anti-autocentramento,
budismo,
eu,
meditação,
melhores poemas,
poesia,
top10,
top20,
top30,
top50
17/09/2016
dança a dois: dueto doendo em desaposta
chegou um tempo sem criança
em que mentir ter saudade
é cobrança
em que mentir ter saudade
é cobrança
Poesia temática:
dificuldade de amar,
dificuldade de relacionamento,
humor,
poesia,
poetrix
sorte de lugar
não tirar os cavalos de cristal do lugar
(em móveis lustrados, imóveis)
apagar as luzes ao sair dos cômodos
ouvir TV com volume baixo
culpa forte por comer comida
por sentar na mesa
por respirar
troco de lugar
durmo com o prato sujo na sala
a luz ligada na cozinha
a TV alta, a casa suja
a roupa largada no banheiro
comendo o que não alimenta
bebendo mate sem morte
surpreendentemente sem morte
(em móveis lustrados, imóveis)
apagar as luzes ao sair dos cômodos
ouvir TV com volume baixo
culpa forte por comer comida
por sentar na mesa
por respirar
troco de lugar
durmo com o prato sujo na sala
a luz ligada na cozinha
a TV alta, a casa suja
a roupa largada no banheiro
comendo o que não alimenta
bebendo mate sem morte
surpreendentemente sem morte
ela mora longe (cantar perde pro perceber)
hoje eu descobri que um ônibus lotado
a cada estação
tem a vantagem enorme
de não poder piorar
meus cumprimentos
aos engenheiros ricos
do prefeito ladrão
(ou não)
mas o poema mesmo
era perceber que há uma certa beleza
em comer amendoim na noite de sexta
sabendo que o sábado vai chegar de qualquer forma
e que há música real com ela no mundo
que eu descubro aos poucos
e apesar de toda a moda da pressa, do meu, do eu e outras celas
vemos um ao outro
e cansar perde pro tentar
a cada estação
tem a vantagem enorme
de não poder piorar
meus cumprimentos
aos engenheiros ricos
do prefeito ladrão
(ou não)
mas o poema mesmo
era perceber que há uma certa beleza
em comer amendoim na noite de sexta
sabendo que o sábado vai chegar de qualquer forma
e que há música real com ela no mundo
que eu descubro aos poucos
e apesar de toda a moda da pressa, do meu, do eu e outras celas
vemos um ao outro
e cansar perde pro tentar
16/09/2016
cano dentre de cano dentro de plano dente de rima
planejo a vida pela janela
e ela entra pela porta
o cheiro de mofo
do meu ar condicionado
me arde a aorta
é assim mesmo
tipo ir nadar
e morrer afogado
meu plano
é não ter planos
a vida vem
nos enganos
e ela entra pela porta
o cheiro de mofo
do meu ar condicionado
me arde a aorta
é assim mesmo
tipo ir nadar
e morrer afogado
meu plano
é não ter planos
a vida vem
nos enganos
12/09/2016
paixões em câmera lenta
minhas paixões já sabem
que não têm pra onde ir
eu ainda não
quando meu corpo não some
em silêncio e sumo de pele
e de eu e do tempo
eu ainda insisto em encontros
entre o bocejo, o ódio e o óbvio
eu ainda incesto
entre a compaixão
a depressão e o tédio
eu ainda inseto
entre a parede de sangue
a pele, o beijo e o coito
eu ainda indelével
indeletável
insistente escrevendo de mim
(sem fim)
que não têm pra onde ir
eu ainda não
quando meu corpo não some
em silêncio e sumo de pele
e de eu e do tempo
eu ainda insisto em encontros
entre o bocejo, o ódio e o óbvio
eu ainda incesto
entre a compaixão
a depressão e o tédio
eu ainda inseto
entre a parede de sangue
a pele, o beijo e o coito
eu ainda indelével
indeletável
insistente escrevendo de mim
(sem fim)
09/09/2016
parênteses (só por hoje)
Somos curadores. Temos que mergulhar no nosso lodo, nosso vício, nossa doença. Encarar o que temos de pior para iniciar o caminho de cura (da dependência de coisas externas) e assim poder ajudar outros a se curarem também. Fora dessa energia de cura, dessa perspectiva de cura, sem saída, há o mundo, tudo igualzinho como sempre foi, doendo e se repetindo como variações sobre o mesmo problema (a dependência de coisas externas).
já nela
a sociedade busca saciedade
em pílulas, bebidas, amores, comidas, produtos, sexo...
infinitas palavras com nexo
por onde, brutos, perdemos
o infinito
em pílulas, bebidas, amores, comidas, produtos, sexo...
infinitas palavras com nexo
por onde, brutos, perdemos
o infinito
08/09/2016
luto
tenho uma legião de ancestrais a pacificar
homens mansos
mulheres ferozes
algozes de meu estado de (lut)ar:
espadas ansiosas, dentes trincados, punhos cerrados
minha base sem descanso
homens mansos
mulheres ferozes
algozes de meu estado de (lut)ar:
espadas ansiosas, dentes trincados, punhos cerrados
minha base sem descanso
Poesia temática:
budismo,
meditação,
melhores poemas,
poemas psi,
poesia,
psi,
psicologia
06/09/2016
avidya (cegueira)
gosto - não gosto
gosto - não gosto
gosto - não gosto
eu - meu
eu - meu
eu - meu
os outros?
os outros dão like em minhas fotos
os outros compartilham minhas postagens
(os outros me reforçam)
(os outros me reforçam)
minha poesia
minha dor
meus pais
control+c - control+v
control+c - control+v
control+c - control+v
seguindo minhas urgências
seguindo minhas responsividades
seguindo minhas predisposições
construindo minha segurança
construindo meus castelos
construindo minha estabilidade
(que vai ruir)
05/09/2016
02/09/2016
Sobre priorizar um governo pros pobres sem fazer voto de pobreza
A cegueira dos coxinhas é inacreditável: você tem que ser pobre pra defender o lado dos pobres, artista tem que receber dinheiro do PT se defende as conquistas sociais que estão já sendo exterminadas...
Não enxergam a possibilidade de compaixão, de você ser privilegiado mas priorizar o governo em benefício dos menos privilegiados (sem ter que doar todo o seu dinheiro e fazer voto de pobreza), dos artistas estarem usando seu público para tentar conscientizar, ampliar os olhares (fora do discurso da Globosta que todo coxinha tanto repete, apontando Dilma e PT como o único problema do país, esquecendo que no ranking da corrupção o PT nem está em primeiro lugar).
É uma incapacidade de acreditar que alguém possa pensar no bem maior, no coletivo, fora do seu autocentramento.
O pior é que ainda se acham no direito de vir tomar satisfação com você publicamente no Facebook, entre uma viagem a Disney e outra. Domingo, missa (sem prestar muita atenção na mensagem de Jesus).
P.S.: Historicamente, em épocas de crise econômica, as pessoas tendem a embarcar em discursos de ódio muito facilmente se alguém APONTA UM CULPADO. Acreditam apressadamente e o que se segue é um desastre. Vejam Hitler, Trump etc.
P.S.2: Outro exercício interessante é notar como manter uma posição menos radical é difícil. Eu acho que Dilma fez muita besteira: promessas não cumpridas, Belo Monte, Copa, Olimpíada, alianças com partidos absurdos, repressão muito dura a manifestações etc. Só que me parece claríssimo o golpe contra a Constituição, nosso direito de votar e escolher nosso presidente, independente das besteiras que ele faz (se não forem crimes de responsabilidade fiscal). Mas vejo também as conquistas sociais em relação a analfabetismo, saúde, fome, distribuição de renda etc. Essas estão ameaçadas com o golpe, junto com direitos básicos dos trabalhadores e a lava-jato.
P.S.2: Outro exercício interessante é notar como manter uma posição menos radical é difícil. Eu acho que Dilma fez muita besteira: promessas não cumpridas, Belo Monte, Copa, Olimpíada, alianças com partidos absurdos, repressão muito dura a manifestações etc. Só que me parece claríssimo o golpe contra a Constituição, nosso direito de votar e escolher nosso presidente, independente das besteiras que ele faz (se não forem crimes de responsabilidade fiscal). Mas vejo também as conquistas sociais em relação a analfabetismo, saúde, fome, distribuição de renda etc. Essas estão ameaçadas com o golpe, junto com direitos básicos dos trabalhadores e a lava-jato.
presente (no dia e nos dias)
por mais que tenhamos sobrado
fora da casa destruída em fogo e mágoa
(dois gatos escaldados em cacos)
por mais que eu já nem saiba
se teus olhos-sorrisos tocam estas linhas
adivinho do fundo de minha água
que estas palavras calorosas caibam
deixo de presente a certeza calma:
ainda estás presente
sempre estarás presente
e no meio do caos afiado
da nossa confusão de calor e lâminas
arranhados saibamos:
ambos amamos - ambos fomos amados
fora da casa destruída em fogo e mágoa
(dois gatos escaldados em cacos)
por mais que eu já nem saiba
se teus olhos-sorrisos tocam estas linhas
adivinho do fundo de minha água
que estas palavras calorosas caibam
deixo de presente a certeza calma:
ainda estás presente
sempre estarás presente
e no meio do caos afiado
da nossa confusão de calor e lâminas
arranhados saibamos:
ambos amamos - ambos fomos amados
Poesia temática:
amor,
amor romântico,
homenagem,
melhores poemas,
musas,
poesia,
separação
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