vício de sacrifício
a perna tremendo sem frio
tic nervoso
tac nervoso
relógio ansioso pra outro fim de semana vazio
ah, o cheiro
do cheio
que não chega
- Fabio Rocha
- Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.
31/10/2014
30/10/2014
funcionário
o mundo não funciona:
mas somos funcionários
(públicos na privada)
mudaram as linhas dos ônibus 8, 77 e 666:
a partir da semana vindoura
devem chegar 5 minutos mais cedo
afim de que cheguemos mais cedo pro café
e para nada fazer de útil por 4 horas antes do almoço
assim como nas 3 horas após o almoço
então saindo no mesmo horário previamente estabelecido
na resolução XPTO21 deste mesmo ano
mudou a excelentíssima presidência
logo
a diretoria mudou
e a nova diretoria
mudou as pessoas nos departamentos
e criou novas metas
os departamentos
mudaram de nomes
mudaram de siglas
DEJAT virou DECAT
DECRET virou DERJUP
DESTIN virou DEDAO
agora ninguém sabe
se mudar de sigla era parte do projeto de metas
ou se mudar de metas alteraria as mudanças de siglas
e assim seguimos mudando
(nada)
mas somos funcionários
(públicos na privada)
mudaram as linhas dos ônibus 8, 77 e 666:
a partir da semana vindoura
devem chegar 5 minutos mais cedo
afim de que cheguemos mais cedo pro café
e para nada fazer de útil por 4 horas antes do almoço
assim como nas 3 horas após o almoço
então saindo no mesmo horário previamente estabelecido
na resolução XPTO21 deste mesmo ano
mudou a excelentíssima presidência
logo
a diretoria mudou
e a nova diretoria
mudou as pessoas nos departamentos
e criou novas metas
os departamentos
mudaram de nomes
mudaram de siglas
DEJAT virou DECAT
DECRET virou DERJUP
DESTIN virou DEDAO
agora ninguém sabe
se mudar de sigla era parte do projeto de metas
ou se mudar de metas alteraria as mudanças de siglas
e assim seguimos mudando
(nada)
29/10/2014
a tempo
o tempo que me encurva
que me turva dentes
que me sangra gengivas
que me dói joelhos
que me engorda
esse tempo
esse mesmo tempo
é que devo gastar
esperando
a felicidade?
que me turva dentes
que me sangra gengivas
que me dói joelhos
que me engorda
esse tempo
esse mesmo tempo
é que devo gastar
esperando
a felicidade?
Poesia temática:
anti-esperança,
autocrítica,
budismo,
crítica social,
doença,
finitude,
melhores poemas,
poesia,
tempo
27/10/2014
vento na vela
ando debaixo da nuvenzinha branca
ao meu lado a grama
ao lado dela o azul
vamos no mesmo ritmo
porque venta
nem eu sustento ela
nem ela me sustenta
vamos pro mesmo lado
digam norte
digam sul
vamos pro mesmo lado:
lugar nenhum
ao meu lado a grama
ao lado dela o azul
vamos no mesmo ritmo
porque venta
nem eu sustento ela
nem ela me sustenta
vamos pro mesmo lado
digam norte
digam sul
vamos pro mesmo lado:
lugar nenhum
Poesia temática:
amor livre,
budismo,
desapego,
eu,
impermanencia,
poesia,
rima
to tinder or not to tinder
um amigo sorridente veio afobado
me contar que achou no tinder nossa amiga
- mas você não tinha casado?
- hmmm minha conta é antiga
me contar que achou no tinder nossa amiga
- mas você não tinha casado?
- hmmm minha conta é antiga
privada: funcionalismo público em ciranda
o assistente é amigo do presidente
que finge ser amigo do assessor
que finge ser amigo da estagiária
que finge ser amiga do diretor
que por nada fingir perdeu o cargo
que finge ser amigo do assessor
que finge ser amigo da estagiária
que finge ser amiga do diretor
que por nada fingir perdeu o cargo
Poesia temática:
anti-competitividade,
anti-consumismo,
anti-mercado,
anti-padrão,
anti-racionalidade,
crítica social,
eu,
melhores poemas,
poesia,
trabalho
24/10/2014
21/10/2014
flores secas
o fogo por trás das montanhas
adivinhamos pelo olho do sapo
pelo grito da maritaca
fingindo não saber
batemos ponto
e banhamos calçadas
com nossa futura sede
sob um céu negro
pleno meio dia
bebemos coca-cola
com sabor de alegria
adivinhamos pelo olho do sapo
pelo grito da maritaca
fingindo não saber
batemos ponto
e banhamos calçadas
com nossa futura sede
sob um céu negro
pleno meio dia
bebemos coca-cola
com sabor de alegria
Poesia temática:
anti-consumismo,
anti-deshumanidade,
anti-mercado,
anti-padrão,
ecologia,
poesia,
trabalho
19/10/2014
minha vó fazendo 90 anos
o presente dela:
meu passado doce
(a ponto de até hoje
me adoçar futuros
com aquela mesma receita:
lembrança, amor e letra)
meu passado doce
(a ponto de até hoje
me adoçar futuros
com aquela mesma receita:
lembrança, amor e letra)
13/10/2014
09/10/2014
07/10/2014
04/10/2014
manoelizando infâncias
podem me tirar o olhar bom
a verde idade
até mesmo a verdade...
mas meu quintal maior que o mundo
eu carrego sempre comigo
a verde idade
até mesmo a verdade...
mas meu quintal maior que o mundo
eu carrego sempre comigo
03/10/2014
no meio do caminho
o verso de bukowski no meio do caminho:
"enquanto eu masturbava uma tiete"
meu avô consertou o telhado
(batidas decididas no martelo)
nunca escreveu nada
nunca complicou nada
aguentou cinquenta anos no trabalho
construiu casa
constituiu família
se aposentou
"enquanto eu masturbava uma tiete"
as pessoas no escritório
cinco dias na semana esperando o final de semana
onze meses esperando o mês das férias
cinquenta anos esperando os poucos anos de aposentadoria
(esperando no escritório, acreditando no "tem que ser assim")
sorriram e calaram e seguiram
seguiram e calaram e sorriram
seguiram firmes e caladas em suas baias sorridentes
"enquanto eu masturbava uma tiete"
e pirava
quatro ou cinco anos de provas, xerox e decorebas
atrás de diplomas dourados com louvor
todos preocupados com o mercado de trabalho
com o mercado de engenheiros elétricos
com o mercado de ações
com o mercado dos professores de filosofia
com o MEC
todos preocupados com o futuro
"enquanto eu masturbava uma tiete"
e largava tudo
segundo grau, cheio de espinhas, cabelos caindo
estudando que nem um babaca
os outros alunos curtindo, brincando, fodendo
"enquanto eu masturbava uma tiete"
apenas na imaginação
fechando as minhas retinas fatigadas
"enquanto eu masturbava uma tiete"
meu avô consertou o telhado
(batidas decididas no martelo)
nunca escreveu nada
nunca complicou nada
aguentou cinquenta anos no trabalho
construiu casa
constituiu família
se aposentou
"enquanto eu masturbava uma tiete"
as pessoas no escritório
cinco dias na semana esperando o final de semana
onze meses esperando o mês das férias
cinquenta anos esperando os poucos anos de aposentadoria
(esperando no escritório, acreditando no "tem que ser assim")
sorriram e calaram e seguiram
seguiram e calaram e sorriram
seguiram firmes e caladas em suas baias sorridentes
"enquanto eu masturbava uma tiete"
e pirava
quatro ou cinco anos de provas, xerox e decorebas
atrás de diplomas dourados com louvor
todos preocupados com o mercado de trabalho
com o mercado de engenheiros elétricos
com o mercado de ações
com o mercado dos professores de filosofia
com o MEC
todos preocupados com o futuro
"enquanto eu masturbava uma tiete"
e largava tudo
segundo grau, cheio de espinhas, cabelos caindo
estudando que nem um babaca
os outros alunos curtindo, brincando, fodendo
"enquanto eu masturbava uma tiete"
apenas na imaginação
fechando as minhas retinas fatigadas
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top50,
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