- Fabio Rocha
- Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.
02/11/2024
deribit
quantas voltas?
eus, eus, por que me abandonastes?
entretanto (a professora do jardim de infância)
leões soberbam
e respiram parta viver
não cabe uma borboleta no poema
abrindo e fechando asas
páginas de livros que não vivemos
telas coloridas onde nos perdemos
não cabe um sonho no poema
ninguém mais onha
ninguém mais lê
12/10/2024
momentum
no mesmo cômodo cômodo
alimento silenciosamente a potência da palavra vida
vida que jaz escondida
(a deus adia o adeus)
vida que espera
27/09/2024
me engana que eu gosto
a mente
(mente)
17/09/2024
inflação oficial um pouco abaixo da real (20% ao ano)
nas cidades alagadas
vendo na tv os campos que queimam
políticos de extrema
cansados demais para prometer
resolver problemas
o cidadão padrão
sem tempo de sonhar
com relações impossíveis
(compro Bitcoin para o futuro que não há)
07/09/2024
teias
e se nessa sexta-feira à meia-noite
eu também esteja nesse teu espaço denso
entre palavra, imagem e esperança
me delicio com este silêncio
enquanto aranha focada em ti
querendo prender cada pedaço de sua alva perfeição
em minhas antigas veias
(nossa natureza)
és e somos
um dos raros sonhos maiores que a cópula
você, minha estátua
eu, tua cópia
04/09/2024
after life (série netflix)
(e dos coaches no instagram)
seguimos nossa vidinha banal
02/09/2024
para quê?
fico sozinho
tentando me acostumar a ficar sozinho
(sem sucesso)
para evitar
o terror
de me acostumar
à alguém
e perdê-la
31/08/2024
10/08/2024
tarkovsky e godard
godard com aquela critica precisa, feroz, revolucionária
tartovsky com aquela merda de câmera deslizando o tempo todo pra dizer que é filme de arte
passando sobre qualquer merda molhada depressiva
citando nietzsche sem aprofundar
mostrando umas gravuras de da vinci para convencer
e uns diálogos tão sem sentido que você acha que é erro de tradução
(e ganha prêmio ainda)
minha avó chamava o comportamento semelhante ao de tarkovsky de "cagar na pia só para ser falado"
godard é um gênio
o demônio das onze horas
eu não deveria ter comido esse tacão de carne depois da meia-noite
agora estou com calor mesmo no ar condicionado
e esse filme do godard não ajuda
tudo que retumba quando meditei me volta
julgo a tudo e a todos, perdoai
não tem uma mulher que eu tenha namorado nos últimos anos
que consiga ter na maldita conta bancária dez mil reais
mas todas fazem 3 terapias, pagam 2 academias e querem 4 filhos
viajam pelo mundo para postar
compram um carro pagando dois com juros
geralmente gostam de sertanejo e filme dublado
alugam moradas ainda em bairros nobres
sem o sonho da casa própria
(e eu chamando urubu de meu loiro)
dito isso,
03/08/2024
silhueta
não sei se aprendi a amarrar os cadarços
agora tantos filmes e séries
tanto espaço
(no tempo)
04/07/2024
meu delírio mais bonito são os olhos dela
pego a palavra pela mão
sinto e silencio
é manter a tênue possibilidade
do encontro definitivo
imaginando seu perfume
pego a palavra pela mão
para a vida toda
meu delírio mais bonito são os olhos dela
01/07/2024
dia primeiro
29/06/2024
primeira nobre verdade
Para Lama Padma Samten
a depressão não é doença:
é percepção
como não estar deprimido engajado no jogo de tabuleiro
sem perceber ser apenas um jogo de tabuleiro
e sabendo do seu final?
os vencedores no instagram
falando: o jogo é o real
(para vender curso e ganhar no jogo)
22/06/2024
11/06/2024
simbologia
acidental
amar ela
vejo uma fênix para sempre parada
nascendo e renascendo imóvel
piso nela (segundo sol)
e não há uma vez que não note
(mulher da rima)
08/06/2024
06/06/2024
curva de aprendizado
onde dezenas de youtubers
saibam mais que você
não há um assunto
nem com quem falar
14/05/2024
a(deus)
nos meus sonhos impacientes
nos sonhos de meus pacientes
predizendo o indizível
a palavra mais gasta e impossível:
09/05/2024
sonata de tóquio (o rosto dela rima com tudo)
a sombra do som
é silêncio
de luz
30/04/2024
inteligência artificial e racionalidade limitada
e estão piorando
antigamente você comia batata e
saía da tabuada pra única faculdade da vida toda
da faculdade pro mesmo emprego a vida toda
do emprego pro casamento da vida toda
e do casamento pra tumba
(pronto. ponto.)
agora batata tem carboidrato
adolescentes tem celular
adolescentes com 60 anos na casa dos pais
celular tem adolescentes
faculdade quem faz dirige uber
mil empregos mil teorias mil seguidores mil coachs (nenhum sossego)
e todo casamento vira tumba
ao mesmo tempo de alguma outra coisa
(esqueci olhando o celular)
26/04/2024
poeta bom, meu bem, poeta morto (zona de interesse)
caminho na praia sem sair do lugar
(o dinheiro como valor de todas as coisas)
o filme martelando os passos:
as faxineiras limpando as botas sujas de sangue dos nazistas
as faxineiras limpando o museu do holocausto
as faxineiras limpando nossas casas
(mais felizes que nós?)
os indígenas morrem
a inflação aumenta
o poema nasce
(compre bitcoin)
23/04/2024
resumo da vida administrativa administrada
eu minto em pesquisas de satisfação:
vejo defeito em tudo
mas não perco o coffee break do próximo treinamento
10/04/2024
rest in peace (o que resta)
a infância se foi mas ainda consigo escrever
o amor se foi mas ainda consigo esperar
05/04/2024
líquidos
os amores
possíveis:
os impossíveis
14/03/2024
nutrólogo
o pão aumenta minha fome
(a farinha, a batata, o arroz, o açúcar...)
perdi 20 quilos e a paciência
com tantos milionários no youtube querendo me vender curso
(foco na alta do bitcoin)
22/02/2024
ambos com um sorriso lindo
e se a paixão for ver o imaginário realizado?
mesmo que passe
mesmo que mude
mesmo que acabe
ambos com um sorriso lindo
14/02/2024
fatalidade (arte)
um novo olhar
como um arrepio de magia
breve
muito breve
e voltar a rimar com banalidade
20/01/2024
frances ha (a indesejada das gentes ou o crepúsculo de todos os nossos dias)
o estar em comunhão com alguém
e você se apaixona pela personagem, pelo filme, pela vida
e busca no google o nome da atriz
e vê que é casada
como aquelas músicas tão tristes que são bonitas
tão bonitas que são tristes
como aquela pintura de matisse
de uma rua em acruiel que nos adivinha o crepúsculo
(sem nenhuma pessoa)
como o mais profundo desamparo
08/01/2024
rimas em ar
a dor no ombro pode ser no videogame
e de atender online
e de digitar poemas
e de respirar
nessas infinitas possibilidades
após reclamar melhoro
estranho uma nesga de felicidade solar
caminhando e suando pelo bairro quente
sem um flerte para motivar
05/01/2024
os dez livros de pedrobial com capa dura
um rio de lava
querendo romper crostas
rio
o poema erupe do sonho
(espinha)
pedrobial dava aula e conversava comigo
como se fosse íntimo
e fala do seu livro
e eu pego na livraria
e reclamo do excesso de opções de produtos em todos os cantos
para ser filosófico
(todos concordam)
pedrobial fala mais do seu novo livro com capa dura e imagens
folheio e elogio as gravuras
acho a poesia direta e curta e digo
ele explica que continua na próxima página
e na verdade são doze livro de cem páginas de um poema só
e disfarço e pergunto ao cara da xerox da ufrj que abandonei o preço:
(abandono o livro e o pedrobial pra ir pra próxima aula)
antes pergunto se tá vendendo bem
pois meus livros sempre venderam muito pouco pros meus planos de grandiosidade
ele ainda diz: isso irmana os poetas
pra próxima sala
a professora começa a ler um trecho de algo absolutamente dela
e meu coração se abre e ouve
e tudo é ela
acho que nessa hora eu era o indianajones
e a menina grávida a meu lado com a mãe ajudando com o bebê
se decepciona comigo e levanta dando ataque com a matriarca
e eu vou pro fundo da sala
na esquerda
focar no filme que passa no quadro negro
com outros alunos alheios à cena
tentando parecer intelectuais focados
os banheiros da faraônica ufrj são feios e sujos
tudo é longe
mas volto do sonho pra cama e pro poema digitado
lembrando de bukowski chutando a novinha
e digitando com vontade de
acordar