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Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.

29/03/2018

eu além de seus pais

de fora
das repetições de minhas histórias
ando leve
e olho a lua

estranho a fila de musas inventadas
que perderam os nós felizes para sempre
por buscar minha carteira assinada

eu
o mesmo eu
antes durante depois
e além do tempo



27/03/2018

des_peço

borboletas amarelas cruzam a solidez
dos ecos de meus problemas mesmos

conjunturas irmãs da mesma textura:
de textos
de nuvens
de aço

(apenas espaço)

23/03/2018

desculpe mas eu tenho que fazer uma obra-prima

enquanto mastigo meus próprios dentes
e a lombalgia dura antes durante e depois
busco algo fora pra me ocupar

porque ocupado não sinto a baleia respirando sob a lua
no mar que toca e é
que sou
que somos

porque ocupado fecho o vidro do carro
para o eu que me pede - pare
e sigo o curso do padrão estável
dentro dos meus muros
e dos muros que ergo pra proteger os meus

porque ocupado culpo o cupido
ou me distraio correndo pra próxima
e a próxima
e a próxima
ouvindo a música de amor
ou vendo o filme romântico
pra me distrair da anterior

porque ocupado o capeta
ocupa a mente vazia
e com foco na muleta
deixo a louça na pia
e cuspo no prato que se erguia na sombra da letra

porque ocupado
em procurar culpados externos
meu esterno se comprime
e me faço no compasso de panos quentes
e uma lista enorme de desistências
e fracassos

ocupado
dentro de meus dentes moles agora quebrados
enquanto mastigo meus próprios crentes
e a lombalgia dura antes
durante
e depois

moana (ou da criança que cria histórias)

você não é
o vazio herdado
nem o peito apertado
por buscar errado
tantas e tantas e tantas
flores

22/03/2018

silenciar: verbo de ligação

o equilíbrio são
entre o vão das coisas vãs a fazer
e o fazer não

17/03/2018

Tempos muito loucos

A manifestação de pessoas próximas nesse caso da morte da Marielle me fez perceber (e estranhar) os grupos fascistas onde eu estava sem saber. Será que também virarei fascista quando ficar mais velho, com orgulho de espalhar virtual e ingenuamente minhas teorias fascistas fundamentadas em fake news, sentado no conforto do sofá, dentro do sonho da casa própria, com a boca escancarada cheia de dentes?

16/03/2018

amar: verbo de resistência

as poucas vozes dos muitos com pouco
seguem os poucos com muito calando
(aos poucos, os porcos)

09/03/2018

completo

nasço um poema morninho
pra acolher todas as faltas
pacificar todas as distâncias
acalmar o passado magro sobre cavalos de sonho
e caminhar sem pressa na beira da praia

completo

sem nenhuma meta além de
caminhar sem pressa na beira da praia

02/03/2018

a forma da água (ou da completude líquida após desertos)

nosso a gente é de antes de palavras:
cidades inundadas de paz
e o brilho antigo do renome
abraço

nosso encontro é sempre:
racionais demais
sentindo tudo no laço

tudo agora

tudo
menos
fome de fora