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Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.

31/05/2017

Su

Suei pra encontrar Suéllen / Mil musas me derrubaram pela direita / Cinco mil, pela esquerda / Sete musas subiram no telhado (e silenciaram esperanças) / Mas ganhei Suéllen, o arrepio de Suéllen / A voz vagarosa de Suéllen / A pele branca de Suéllen / O senso de humor suave de Suéllen / De aniversário

29/05/2017

Do_eu

A gente quer presente para ficar feliz quando criança. A graça se esvai quando sai da caixa. A alegria do sorvete também derrete. Depois quer amor romântico, adolescente. A alegria vem e parecemos pior quando se vai. A maioria de nós trabalha em algo que não traz benefícios para ninguém além de ajudar um pouco a destruir o planeta. Mas tem a happy hour para beber e ser feliz. Ser feliz só depois do horário comercial. Mas isso também passa. Agradeço infinitamente tantos seres de sabedoria, principalmente ao Lama Padma Samten, luzes que nos permitem ser mais claramente e alargar a visão para sair desse nós. Desses nós. Do_eu.

Sempre

Por hábito, gritamos e nossos olhos brilham quando em grupo em concordância apontando culpados externos. Errados externos. "Falta de ética!" Reforçamos as conexões do grupo. Só emoções negativas. Gastamos um tempo enorme de vida nisso. Querendo parecer melhores, querendo nos sentir melhores. E com a desculpa de melhores intenções. Deus no meio. Para não olhar minimamente para dentro, para nossos erros, nossa ética relativa. E os primeiros a saírem do grupo serão os últimos apontados criticamente pelos que restarem. Carma gerando carma. Samsara gerando samsara. Sempre igualzinho. Sem saída para tanta gente... Que não percebe. Simplesmente não percebe.

25/05/2017

a esquerda na churrascaria

quem luta pelos direitos dos famintos
é quem mais tem direito de comer bem
(amem, amém)

escrevo sorrindo

quando eu desinstalar o tinder
ouvirei o canto do uirapuru
sentirei o cheiro do umbu

quando eu desinstalar o tinder
vastas paisagens e vento
o sol como alimento

quando eu desinstalar o tinder
a paz das árvores obtusas
e uma - e somente uma - musa

24/05/2017

vórtice em lava

se ela diz que me ama
tudo está bem
tudo é chama
em meus olhos

amá-la amada:
meu coração é motivação
a batalha é sagrada
e a mente cala

está escrito em mateus:
apenas juntos em cruz e espada
o homem e a mulher podem tocar
a face de deus

23/05/2017

irmandade

jesus foi ao deserto
se livrar das palavras

jesus voltou do deserto
para falar:

- todos podemos beber do deserto

a musa

a musa
é o sopro
que eu mesmo sopro
na vela do poema

a musa é a chegada
o caminho
a partida
o mar
o sol

a esperança

proteção

deito virado pro lado esquerdo
ergo as mãos em guarda e dorme o ego

o corpo, as mãos e o colchão
protegendo o coração
por todos os lados

acordo com um poema enviesado
e na primeira letra do primeiro verso
entrego o coração

22/05/2017

mais coringa menos batman

aproveitar o vento
em vez de tentar construir
um castelo de cartas

hoje não meditei

um poema me editou

a musa subiu no telhado (filme repetido não dito)

a musa subiu no telhado

(salva de pausas)

creio em jesus cristo
alma em maharaja
rio às gargalhadas

peito em hepatite
me desfiz das luvas
soletrei rinite

a musa subiu no telhado:
alta alva e rica
me saúda

a musa muda
a saúva pica
o poema salva

20/05/2017

Prajna com foco no ego

O problema é que a gente cria o personagem, acredita em sua solidez e entra no papel. Mas algo sábio em nós (e além de nós) sabe que não há nada ali. Então, atrás de estabilidade e segurança, automaticamente passamos a defender e reafirmar o personagem. Porque sabemos que ele é um sonho. Pichamos muros com nossos nomes. Assinamos poemas, quadros, filmes com nossos nomes. Queremos pendurar nossos nomes no alto da História. Maiúsculo. Tiramos selfies. Fazemos check-in. Ai de quem vai contra o personagem. "Você sabe com quem está falando?" Solidificamos e comprovamos nossa presença no mundo sólido porque sabemos que não há nada sólido. A profissão parece nosso sobrenome. O ser amado comprova que somos o personagem, e ele é capaz de ser querido, ele é capaz de ser amado e admirado, sólido. Não renunciamos ao cargo, nem com gravações provando que não estamos a altura do cargo de personagem... Lutamos até o final. Até a última respiração. Todos nós.

harpa silenciosa

prolongo da completude a sensação
até a ponta de seus dedos compridos
capazes de alcançar meu coração

estudo da musa

ela do céu de netuno
tem corpo
tato e contato

o arrepio naquela pele branca me arrepia

sua boca dançando na minha:
vou sorrindo

ruas sem luas
nem vagalumes

minhas mãos não soltam
seu perfume

17/05/2017

tento

a pele branca
dela
pede um poema em nanquim
na cama sob a janela
antes do fim

15/05/2017

cristianismo revisitado em sol

ela no centro da casa
branca pele e parede
olhos talvez verdes

ela no centro exato
entre o passado reto
e o curvo futuro

ela a ponte
por sobre
o muro

ela me
foi será é
jesus:

o furo
no balde cego
vazando luz

Substituição

Empoderamento é uma palavra feia. Deveríamos usar amor em vez de poder. Cooperação em vez de competição. Amoração em vez de empoderamento.

seguro morreu de tédio

muitas vezes os poemas que salvo
e não publico
me salvam

saúdo menos o sol e a lua
e a saúde melhora
mas a saúva
mordeu, morde, morderá

o medo da possível mordida da saúva
sangra mais salgado
que a mordida em si

a saliva da saúva
lambe a seiva do sol:
você sombra uma, outra reluz
você passa protetor, ela repele

a saúde a saúva a vida
são incontroláveis
por isso, sãs

13/05/2017

3 ou 4 segundos

posso morrer feliz
porque beijei laura

posso viver feliz
porque beijei laura

a posse por um triz
os passos sem calma

repito ao léu o nome de laura
(laura laura laura laura)
até a língua alisar o céu

a primeira letra pingando na folha
o último olhar pela bolha do vidro

vejo
eu e ela
sorrindo

da segunda vez que vi Laura

o sorriso dela
embaixo de luzes amarelas
dividindo cheesecake com goiabada
e a arte como salvação de tudo

há árvores em são paulo
prédios antigos
ruas tortas
o crepúsculo mais bonito

ela não mudou nada em nove anos:
linda que se sabe linda
beleza que não finda quando fala
quando escreve ou fotografa

a nona de beethoven
e viva la vida em acordes perfeitos
a vida dançando sincronias
(se for sonho, não me acordes)

estou vivo
estou vivo
estou vivo
e explodindo!

estou dançando vida e desejo
aqui dentro adolescente
depois do beijo

12/05/2017

liberdade do juiz

ganhar rios de dinheiro
para prender
pobres sem riso

08/05/2017

amor livro

o meu amor é meu:
não idealizo mais
em ninguém

o meu amor é meu
porque não é meu:
rosa
que abre para todos
seu perfume

05/05/2017

maior é a poesia

meu personagem come uma banana ao meio-dia
meu personagem esquece o poema pra olhar o facebook atrasado
meu personagem cria
e crê no personagem criado

01/05/2017

DeuS

eu sou os múltiplos universos
eu sou o silêncio invisível que irmana o todo

minhas células são galáxias
e vejo o que seus olhos vêem
(mas sei que só veem sonhos)

eu sou a água para tales
a vontade para nietzsche
a palavra para o poeta

eu sou antes do tempo
além do espaço
todas as formas sem forma
(formas de olhar)

eu sou o eu sem eu - antes da separação entre sujeito e objeto
a verdade antes do conceito
a luz antes da sombra