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Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.

30/05/2015

bastando

os heróis contam
suas histórias de vitórias

ouço olhando as mãos

os pais dos heróis
também tinham aquele dom

calado através
vou pelo outro lado

sabendo menos e menos
cortar as unhas dos pés

29/05/2015

ruas escuras

toda sexta-feira acende
os olhos de ver milagres
mas as pessoas só olham
as telas dos celulares

28/05/2015

contra

trabalho contra a norma

o horário não é rígido
mas o tempo não é flácido

acerto
a cada erro
mais perto

o olho
o objeto

o olho
o objeto

lá fora
aqui dentro
alguns ateus
seguem dizendo
"vai com deus"

23/05/2015

vajra presente

reescrevo
a diamante
passado e futuro
constantemente

condomínio barra sul

o artista canta folk
no baile
funk
(fizeram um filme sobre)

depois a manhã
mesmo assim
iniciou

um cachorro chato
latindo agudo

o morro imóvel
com penugens verdes
sem nenhum verbo aparente

toldos nas janelas
pro sol não entrar

pessoas nos sofás
sem saber se dormem
ou se acordam

um pouco de frio
nenhum rio

e a constância do motor
do mata-mosquitos
variando com a distância
espantando paz e pássaros

22/05/2015

sol

aplaudem as chagas

sem armas

um homem semeia palavras

21/05/2015

espaço

a vida entorta
a linha branca
do rastro
do barco

porém
além do mar
além das ondas
além do rastro do pássaro
além da vida e da morte

o céu
e-n-o-r-m-e

20/05/2015

vajra

a lua dentro do quarto
velejando outros tempos

o frio acalma a pele
na vela
a brisa leve

toda ela
bela
aqui e além

horizontes nadam
reféns

tudo o que o olho toca
cheio de olho
vazio de independência

venta fogo
sem guerra

bandeira branca:
toda gota
se vendo do mar

18/05/2015

stalker

a palavra distorcida contamina
toda vida radioativa toca outras
bem ali cortam a grama e ninguém filma
e o silêncio amadurece flores tortas

17/05/2015

cinema lateral

em vãos construímos
futuras ruínas
sob as águas de tartovski

16/05/2015

cinema

não posso não ser o herói.
resta-me alargar a janela pro silêncio
pra mais gente sair de si

15/05/2015

atento e relaxado

às vezes ouço o que vejo:
distorção de dois sentidos misturados
revelando a enormidade do sonho

14/05/2015

poema pras mulheres que iam me amar pra sempre

essas mal traçadas linhas
vão pras mulheres
que me amam pra sempre toda hora
que me amam pra sempre todo dia
que me amam pra sempre dia sim dia não
que me amam pra sempre semanalmente
que me amam pra sempre uma vez por mês
que me amam pra sempre nos solstícios e equinócios
que me amam pra sempre uma vez ao ano
que me amam pra sempre nos anos bissextos
mas principalmente
pras mulheres que me amam pra sempre
sem me amar mais

13/05/2015

câmbio

teias dos hábitos
reforçam o automático
dos atos

enquanto
automóveis
fora

quanto
barulho
dentro

12/05/2015

agride

pássaros voam
sobre as nossas
grades

09/05/2015

resumo

de tanto perseguir auroras boreais
e horizontes paralelos
o homem sem fome
(tal qual o ufólogo)
começa a achar
triste, entediante e frio
ser feliz parado sem dizer nada

06/05/2015

tarde

uma parte de mim
biologicamente acredita
que eu deveria ter ido

olho calado o quanto arde
não olhar mais amplo

deixo o hábito romântico
na inutilidade da arte

04/05/2015

rouco

passo a pouco
desenvolvo suores noturnos
no sol de meio-dia

quase 40

estou farto de falar de amor com boca mole
as palavras velhas me soando a mim mesmo falsas

cadafalsas
como borboletas sem cor
e rinite em dias quentes

meus olhos buscadores
aponto
contra o hábito de mim mesmo
a olhar através dos mesmos óculos
buscando

macarrão com letrinhas na sopa de feijão do universo

aprendi com mia couto
que irmanar é maior que entender

assim os versos saem
depois de alguma espera

como os fogos em copacabana

a praça escura de meus erros
brevemente iluminada

milagres
letras

02/05/2015

a erva do rato

o silêncio das casas antigas
das casas de fazendas e cafezais
luz de vela
medo de sombra

a casa de meu bisavô
com hora da janta
portas de madeira
e quarto de ferramentas:
tudo em seu lugar
quando trabalhar era artesanato

as casas de subúrbio
com muros baixos e cachorros magros
latindo no tempo

o tamanho imenso
de uma hora só casa
com dois dentro
e tanta gente
fora

las personas locas de amor

as pessoas loucas de amor
viram padres

as pessoas loucas de amor
viajam sem rumo

as pessoas loucas de amor
saltam de prédios

as pessoas loucas de amor
fazem poemas

as pessoas loucas de amor
se casam

as pessoas loucas de amor
se separam

as pessoas loucas de amor
se criam arduamente
constantemente
como sofridas
pessoas loucas
de amor

01/05/2015

depois de outro filme de amor

enquanto um sol oblíquo
entre prédios e nuvens
flores violetas no meio do outono
no meio da avenida das américas
resistiam ao passar do tango

no plexo a violência da espera
a violácea do hematoma previsto
sem porém conseguir ainda
prevenir a via láctea