você vai achar que é mentira
mas às 16:49 do dia 31 de dezembro de 2014
enquanto meu coração cansado mastigava bananada
vendo woody allen antes de meditar
brotou um besouro no meio da minha sala
no nono andar do prédio
ar condicionado
todas as janelas fechadas
um besouro preto nada simbólico
barulhento
enorme
daqueles que minha avó temia
saltei e abri as persianas metálicas
depois as artificiais janelas de vidro
e ele conseguiu sair
com algum sofrimento
(que nem cada poema que nasce)
- Fabio Rocha
- Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.
31/12/2014
um novo tempo
a alvorada pinta de nuvens rosadas a tela do ar
mas a menina vai cabisbaixa:
brilha a tela do celular
mas a menina vai cabisbaixa:
brilha a tela do celular
Poesia temática:
anti-consumismo,
anti-deshumanidade,
anti-tecnologia,
autocrítica,
crítica social,
poesia,
poetrix
30/12/2014
polissílaba
catar pedaços do que se perdeu no tempo
areia foto sentimento
deixar buracos lado a lado
telas e teias tapando
uma mulher que se penteia
descobrir de quando em vez
o roteiro de partes de alguém ninguém:
um perfume perdido
um vislumbre antigo
um toque amigo
ratoeiro a mim mesmo molhado de tempo:
um frasco de fracos instantes
perante a grandeza da falta
polissílaba
areia foto sentimento
deixar buracos lado a lado
telas e teias tapando
uma mulher que se penteia
descobrir de quando em vez
o roteiro de partes de alguém ninguém:
um perfume perdido
um vislumbre antigo
um toque amigo
ratoeiro a mim mesmo molhado de tempo:
um frasco de fracos instantes
perante a grandeza da falta
polissílaba
Poesia temática:
insatisfatoriedade,
melhores poemas,
neologismo,
poesia,
tempo
29/12/2014
planos cadeados de mudar adiados
ouço sons no vácuo
um braço se estende
fora de um caramujo
apenas pra pedir
que se afastem
(sonhos atropelando sonhos. amor distante. horizonte.)
enquanto isso
sem chorar
dentro do cômodo fechado
o ar condicionado movido a índios alagados
ronrona um incômodo
e jogo no lixo não reciclado pela prefeitura
outra fruta mordida vinda de longe
que irá pra longe (gastando petróleo, produzindo CO2)
para virar chorume
um braço se estende
fora de um caramujo
apenas pra pedir
que se afastem
(sonhos atropelando sonhos. amor distante. horizonte.)
enquanto isso
sem chorar
dentro do cômodo fechado
o ar condicionado movido a índios alagados
ronrona um incômodo
e jogo no lixo não reciclado pela prefeitura
outra fruta mordida vinda de longe
que irá pra longe (gastando petróleo, produzindo CO2)
para virar chorume
Poesia temática:
autocrítica,
budismo,
crítica social,
ecologia,
energia eletrica,
eu,
indios,
lixo,
loucura,
meditação,
melhores poemas,
poesia,
reciclagem
26/12/2014
férias
passado o natal
deixo a manhã passar ao sol
sem apressar ou distrair os retalhos do azul
detalho: árvores balançam na brisa
na rua mesma, tão outra
tão em paz
pastam ar
uns urubus no alto
enquanto deixo passar o asfalto do trabalho
sinto o fruto do silêncio:
palavras escritas esperando folhas brancas
(pesam)
adio amadurecer
enquanto musas adiam meus sonhos românticos seus
(rezo)
vejo sem agarrar os futuros possíveis
e lembro o espaço que havia no passado
o mesmo espaço que ainda há
que sempre haverá
com mãos leves
adio tudo
(até deus)
e nesse espaço breve sem sons
fora o cheiro do bronzeador
fora o vulto da menina na piscina
fora reflexos e reflexões ondas afora
suo e sou
agora
deixo a manhã passar ao sol
sem apressar ou distrair os retalhos do azul
detalho: árvores balançam na brisa
na rua mesma, tão outra
tão em paz
pastam ar
uns urubus no alto
enquanto deixo passar o asfalto do trabalho
sinto o fruto do silêncio:
palavras escritas esperando folhas brancas
(pesam)
adio amadurecer
enquanto musas adiam meus sonhos românticos seus
(rezo)
vejo sem agarrar os futuros possíveis
e lembro o espaço que havia no passado
o mesmo espaço que ainda há
que sempre haverá
com mãos leves
adio tudo
(até deus)
e nesse espaço breve sem sons
fora o cheiro do bronzeador
fora o vulto da menina na piscina
fora reflexos e reflexões ondas afora
suo e sou
agora
23/12/2014
meditação de natal
não se afogar
no oceano de Djavan
(longe de ti tudo parou)
caminho cidades cinzas verticais velhas
onde pessoas brotam nos muros
separando recursos:
grafites que arranham o som dos motores com pressa
de trazer o progresso e levar o sentido
somos mais do que pensamos sobre nós
somos mais até do que o brotar do novo nos muros velhos
somos mais até do que o brotar do novo nos muros velhos
ah, o eterno jogo de tudo surgindo a cada segundo do nada
agora
agora
agora...
não sou nada, Pessoa
não posso querer ser nada
caminho mais então
pra não me afogar
no menos
(o chacra laranja doendo a lombar )
Poesia temática:
anti-amor romântico,
budismo,
crítica social,
doença,
eu,
impermanencia,
meditação,
natal,
poemas psi,
poesia,
vacuidade
18/12/2014
ho ho ho
*
toda vez
no fim do ano
me vem essa pressa
de chegar não sei onde
me transformo em p-r-e-s-a
querendo mastigar não sei o quê
toda vez
no fim do ano
me vem essa pressa
de chegar não sei onde
me transformo em p-r-e-s-a
querendo mastigar não sei o quê
17/12/2014
confesso que voltei (um poema concentrado)
"olhar de forma mais leve
as flores e rimas"
aham
anotado
em cada enzima
porém
caninos
(porém
meus dentes brancos todos
doendo e se abrindo
até que voz)
a mulher quer casar
o homem quer filho
a mulher quer lantejoulas e os maiores cargos
o homem quer o supercílio do chato
ad infinitum
a mulher separa
o filho vira empecilho
o homem dispara na perda
fale a firma
falha a faca
ad infinitum
todos atrás da vitória
duas, três voltas atrás
infinitas vidas atrás
retardatários...
os homens disparam
nas próprias pernas
as flores e rimas"
aham
anotado
em cada enzima
porém
caninos
(porém
meus dentes brancos todos
doendo e se abrindo
até que voz)
a mulher quer casar
o homem quer filho
a mulher quer lantejoulas e os maiores cargos
o homem quer o supercílio do chato
ad infinitum
a mulher separa
o filho vira empecilho
o homem dispara na perda
fale a firma
falha a faca
ad infinitum
todos atrás da vitória
duas, três voltas atrás
infinitas vidas atrás
retardatários...
os homens disparam
nas próprias pernas
Poesia temática:
budismo,
eu,
jogo de palavras,
loucura,
melhores poemas,
poesia,
recomeço,
vida humana preciosa
o anjo
o anjo loiro (agora escarlate)
mantém o sol como face
seu olhar longo
me vulcaniza
(explosão nuclear, paralisia quântica)
seus cabelos
mudam de cor
seus trejeitos
sei de cor
é perda de tempo tentar
qualquer coisa fora de um poema
o anjo tem a expressão
(e o corpo abissal)
que te fazem instante
e estátua de sal
é natural
que voe distante...
mas abismado e celeste
sorrio sozinho
sem nem tentar mostrar as asas
aos cegos do caminho
mantém o sol como face
seu olhar longo
me vulcaniza
(explosão nuclear, paralisia quântica)
seus cabelos
mudam de cor
seus trejeitos
sei de cor
é perda de tempo tentar
qualquer coisa fora de um poema
o anjo tem a expressão
(e o corpo abissal)
que te fazem instante
e estátua de sal
é natural
que voe distante...
mas abismado e celeste
sorrio sozinho
sem nem tentar mostrar as asas
aos cegos do caminho
09/12/2014
samsara: retrato
equilibrando pratos
depois de pratos
depois de pratos
pratos caem
pratos surgem
pratos novos brilham nossos olhos e os queremos
redondos
pratos velhos nos enjoam e os largamos
redondos
seguiremos assim
circulares
vida após vida
(sem vida)
até quando?
depois de pratos
depois de pratos
pratos caem
pratos surgem
pratos novos brilham nossos olhos e os queremos
redondos
pratos velhos nos enjoam e os largamos
redondos
seguiremos assim
circulares
vida após vida
(sem vida)
até quando?
08/12/2014
luar kolynos
o poeta é o para-raios da loucura
(hastes flexíveis e diversas cores)
em noites vastas
pasta o silêncio da lua
com dentes moles
(entrega grátis de suas dores)
mas sorrimos às balsas
de boca redonda
com os caninos
(tentando vender felicidade - falsa)
(hastes flexíveis e diversas cores)
em noites vastas
pasta o silêncio da lua
com dentes moles
(entrega grátis de suas dores)
mas sorrimos às balsas
de boca redonda
com os caninos
(tentando vender felicidade - falsa)
na beira do campo
a garça parada estatua
do verbo estatuar:
atuar como estátua
(até tatuar o peixe de branco)
do verbo estatuar:
atuar como estátua
(até tatuar o peixe de branco)
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