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Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.

30/07/2014

ar em movimento

tenho um pacto com o vento:
ele inventa que existo
e insisto em espalhar

sem limitar, sem limiar

(Para Andrei Ribas)

sinto o rufar de tambores
em meu estômago

(mas as janelas do mundo fechadas)

todos os vulcões
rosnando sóis

(mas as janelas do fundo fechadas)

todo o brilho incontível
sem início nem fim
desde sempre querendo transbordar
muito, muito além de mim
e de todos que misturam as coisas mais impossíveis
só pra falhar ao dizer o que a poesia é

(mas as janelas dos signos fechadas
e os bêbados nos bares cortados com MPB não sendo o que queriam
enquanto me pergunto para que fui ler essa porra que também me corta
com infâncias, nádegas e parênteses)

como Nietzsche era dinamite
como o primeiro toque
como a vida em essência
muito além desta repetitividade lógica e egoísta

luz
energia
tesão
que tentamos localizar em pessoas, metas, bens ou poemas
e choramos ao perder, dependentes
com medo da noite e das faces que preenchem o vazio
e sorrimos, ao menos
ao fotografar com palavras
não minhas nem suas

sorrimos com o sol na cara

(felicidade não incluída)

qualquer ser
foge da dor
e quer o prazer

27/07/2014

outro retiro em viamão

aponto a lanterna pra vida
e vejo sonho

aponto a lanterna pro sonho
e vejo nada

há o ponto
(e apenas o ponto)
de onde se aponta a lanterna

26/07/2014

três graus celsius não sonho

antes da estrela era chato
depois, sádico

cobri com mil lençóis
o frio do silêncio
de uma noite sem estrela:
mais fantasmas no meu escuro
e tudo mais áspero

pra quem finjo
não notar que a própria estrela finge
não notar que (me) se apagou?

17/07/2014

estrelas

(Para Elis Regina e Maria Rita)

estrear as pequenezas da vida
com letra minúscula
(música maior)

uma flor é uma rosa
uma rosa é uma flor
(sua lágrima)

tudo que calamos
explode cor

choro o cheiro dos pais
misturados na roda da vida
(memória)

abro todas as feridas
deixo todo o amor
arder em voz

eis a arte:

arder
em
vós

10/07/2014

a mulher canhota

as máquinas
falam mais alto que o homem

o homem olha a janela
a francesa
a falta da chuva prometida pelo frio

nada se move

nem o silêncio
na boca do homem

06/07/2014

hábito

noite longa de luzes vãs e perfídias
mel e culpa sobre prédios sem felicidade
(em qualquer cidade)

quantas repetições
de tapas e apegos
através dos milênios?

gritos esquecidos do outro lado do muro
fumaça de sonhos negros
um oceano no escuro

noite longa a vencer:
estrelas
que não podemos mais ver
se procurarmos

04/07/2014

a felicidade é possível

(para Lama Padma Samten e Gustavo Gitti)

olho no olho do medo

a casa vazia
quando a noite cai
e o sonho cansa

olho de criança
que não queria dormir cedo

sento longe de mim
relaxo a face
e a face atrás da face

(é possível sim)

Imagem: Desenho de Felipe Stefani

03/07/2014

mas só chove

desde a primeira facada mais forte
antes ainda de notar meu excesso de dentes
amando eu danço com a morte