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Escritor, terapeuta holístico, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.

26/10/2019

do remediar

o som dos meus passos no chão
na noite
sobre as poucas poças de chuva
dizem mais do que eu

a vida só não tem jeito
se você achar que não tem jeito
se você criar que não tem jeito

a energia que eu sinto agora
e não me deixa dormir
nem deixar de criar com o tempo que me sobra
eu deixo de remediar

eu deixo de tomar remédios
e eu crio mais do que eu

24/10/2019

:)

tenho esquecido uns poemas
junto com a arte de meditar
e lentamente sem conseguir analisar
tenho me aproximado da alegria eufórica da infância

a ânsia voltou com ansiedade
mas a cidade se abre em possibilidades
mesmo com as pessoas no celular
no ônibus no metrô na praia em qualquer lugar

minha terapeuta diria que fujo de algo
mas eu sozinho
só rio

19/10/2019

que criamos

a imensidão escura
entre a palavra estrela
e a estrela

15/10/2019

simbologia do esquecido

os peixes que esqueci no sonho
que esqueci
não morreram sem comida:
multiplicaram-se

a água pouca e suja
para os peixes muitos
pequenos e vários

alimentei-os

12/10/2019

barras de access

poesia em geral é um drama
mas eu queria mesmo
era poder fazer barras de access em bukowski

11/10/2019

a cota condominial segue chegando

imbecis eleitos e depostos
postos de gasolina incendiados
militares a postos

a nova terapia da moda chega e passa
o oceano sobe - o oceano desce
a raça humana nasce
a raça humana desaparece

rimar agora é bom
rimar agora é ruim

o sol talvez não nasça mais assim
mas a cota condominial segue chegando

07/10/2019

blogagem é sacanagem

a palavra palpita e pulsa
além da postagem
que a limita

06/10/2019

hã?

enquanto os poetas da moda se perdem
na forma
sem conteúdo
eu adio meu poema e minha meditação

o marketing digital o marketing digital o marketing digital o marketing digital
- saiu o vídeo novo no youtube daquele boçal, você viu?

- eu vi mas não lembro se vi
porque eu tava também no facebook e plantando bananeira
eu acho

26/09/2019

negação

edith não esperou tolkien
eva apressou adão
a arma do feminino é o não

19/09/2019

para roberta tostes daniel

o ser humano é o único animal que sabe que vai
e passa a vida quase toda
fingindo que não vai

04/09/2019

não sei se é depressão ou budismo este cansaço das coisas do mundo que ruem

ela gostou de algum texto meu na rede social e eu gostei da foto dela. marcamos num centro espírita. a palestra era sobre vícios, compulsões e drogas. eu estava mesmo me convencendo de que deveria ter menos sexo só pelo sexo, videogame e tinder na minha vida. lembrei da mesa radiônica ter me dito que isso era compulsão derivada de 18 vidas atrás... fui. lotado. sentei onde deu. e ela chegou. sentou ao meu lado. vontade e pegar na mão mas não podia. (centro espírita. palestra contra o sexo. outro clima...) um perfume delicioso vindo dos cabelos dela encaracolados e avermelhados. magrinha. 20 anos. pela conversa virtual eu sabia que gostava de homens mais velhos. e sabia mais de literatura do que eu. estudava letras. trabalhava com letras. eu só me perco nas letras... o palestrante falava de como o sexo pode ser viciante. como pode ser igual a uma droga. mas eu estava perdido no perfume dos cabelos dela e não conseguia acompanhar muito bem. acabou a palestra. tomamos passe. não senti nada. saímos. peguei na mão. as bocas se tocaram. fomos pra minha casa no outro lado da cidade de uber. minha cama. ela fazia tudo e bem e muito. gostava de eu ser bem mais velho. depois dos muitos orgasmos ela precisava fumar maconha. e na minha casa não dá pra se fumar maconha, é um centro budista, com altar na sala! nos desentendemos. ameaçou ir embora. meu orgulho deixou ir embora. pediu um fósforo pra fumar lá embaixo. não tinha. a diarista tinha roubado meus fósforos. saiu sem me abraçar. sem chorar. só saiu para sempre e me deixou para sempre só. ela nunca tinha ganhado um poema mas fiz um poema pra ela mesmo assim. não chorei e fui jogar videogame pensando na palestra espírita enquanto a amazônia queimava.

22/08/2019

doença

a geladeira e o freezer brancos
sãos os guardiões do silêncio da cozinha
escura e impassível

sua luz verde e constante
seu ruído baixo
preservando o tempo

21/08/2019

amazônia em chamas

enquanto o nível do mar não chega no capacho do meu prédio
enquanto a humanidade não acaba
acumular mandar, mulher e moeda
não me parece um bom plano

19/08/2019

vento

os loucos de ar
me encontram
em qualquer lugar

elas tem mãos bonitas
e infinitas
possibilidades

07/08/2019

astronauta de mármore

astronauta
cada vez mais lento num mundo cada vez mais rápido

explicada a sensação de deriva:
seu rumo não é o padrão

plano de navegação desde sempre:
boca ligada ao coração