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Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.

28/01/2018

é tudo um sonho

muitas vezes algo chama a atenção de meus olhos
e meus olhos inventam um som baixinho para aquela visão
mesmo sendo algo que não faz nenhum som

26/01/2018

a maré

amar é
encontrar alguém
para amarrar o seu cansaço

cansaço
de se perder na pele
se perder no perfume
se perder nos planos autocentrados
se perder na imaginação

a outra ponta da vitória é a derrota

amor é encontro intransitivo
intransitável
maior que sempre

23/01/2018

tudo

o mundo
o mesmo

o mesmo mundo

calando
eu mudo

16/01/2018

da cozinha como (c)oração

o cheiro do feijão
de minha avó
era iluminação

hoje cozinhar
para mulher é ofensa
e pro homem, paciência

minha vó não era muito de abraço
mas de atenção
e presença

hoje a doença
se espalha em telas
e ausência

15/01/2018

mudam apenas os nomes

as fábricas cospem o céu:
vulcões de autocentramento
no planeta constantemente destruído

andamos cabisbaixos
problemas nos nervos
isolados
enfermos

nossos pés
prometendo ir pra esquerda na dança
e indo pra direita na mesma dança
pela total incapacidade de cumprir o que se diz

gris é nosso tamanho
que diminui
sob a mesma lua nua

lua que veio da terra
terra que veio do sol
sol que veio...

o que nos leva a tudo:
se tem uma causa ou condição
não tem existência intrínseca

e o que não tem causa?
nada

tudo tudo
(nada nada)
sob a amplidão das estrelas
que criamos com nossos olhos

12/01/2018

búdico


quando se vê
começamos uma construção
semeamos uma confusão

quando se vê
a vontade de algo
nos motiva ao movimento

quando se vê
a roda gira e tudo muda
menos nosso estado mudo
(pleno)

prajnaparamita

as coisas
falham
quando funcionam

11/01/2018

do que sobra (galo)

cavalgar ardente em pássaro
as ruínas de nossos passos:

o fogo
a cinza
o espaço

05/01/2018

chamando raul nos véus de maia

quando você vê
está no trono de um ap
com a boca escancarada cheia de dentes
comparando competindo comendo querendo comprando

os verbos cansam

movimentos vãos
de pêndulos nada sãos
voltando ao mesmo

(silêncio é a palavra mais difícil
mas a salvação)

04/01/2018

antimusa

cansado do ar condicionado
abro a janela
e percebo que não precisava de ar condicionado

ela entra
sento na cadeira mais confortável
e aperto as mesmas letras
das máquinas de escrever de todos o escritores

ela não quer meus poemas
e eu entendo ela

meus poemas tendem a assustar
desacreditar ardor e intenções
matar pela raiz
exagerar nos sons da palavra amor
lá fora

meus poemas tendem a perder o agora
este
este
este
por não estarem distraídos

pela janela
entram sons escuros
vozes de longe
perfumes futuros
ela

(mas obedeço: não escrevo)

01/01/2018

+ mar

como um barco de metal
sobra de alguma guerra esquecida
e segue o milagre de seguir
na superfície

lá fora
todos com metas
pro sucesso
tirando fotos, lustrando cascos, ousando certo

lá fora
palestras
conferências
festas
grandes obras

os barcos doutores
com pressa de chamar doente o velho barco
lento
mais craca que barco
mais silêncio que vontade
mais mar