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Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.

28/11/2017

pai dai

o tempo dissolve as placas
de inauguração

somos nossos nomes
e conquistas que dissolverão

a verdade e os pombos
calam estátuas de heróis a cavalo

ovo estrelado quente
na noite escura do dia
que se repete

27/11/2017

modernos

os casais se esfregam como minhocas
ou vermes
os casais são muitos e têm muito na mente
os casais não se veem
como casais

a pressa é maior que as palavras
as palavras também muitas
os casais com vários nomes

os casais com fome

os casais escondem os celulares

os casais como coisas
em movimento perpétuo

os casais criando vida
ou despedida
se esfregam
se tocam
se trocam

o casais sem casa
na palavra
amor

25/11/2017

acima do espelho das águas em que caminhamos

o canto do pássaro
repete algo antigo e doce
aos ouvidos que o criam

a iluminação é uma metáfora

18/11/2017

revolucionária e silenciosa

marina abramovic
é uma das artistas
mais artísticas
que já vi

e porque ainda se inventa
segue linda
quase aos setenta

artista no mundo
como reflexo
do humano frágil
complexo
profundo

17/11/2017

desamparo

é sempre à noite

certa vez dirigindo por maria da graça
estranhei não haver mais casa para voltar
nem parentes, nem piscina, nem cachorros, nem avós

a sensação física da noite
maior que o coração sem pousada
se repetiu num retiro muitos anos depois
mais forte e crua

mas há a lua

o sonho

a degenerescência se espalha
como o nada da história sem fim

telas nos ocupam os olhos

nos distraímos com passatempos
aí o tempo passa
e morremos

distrações nos distraem das distrações
distrações viram hábitos e vícios normais:
interrompemos o livro para o facebook
interrompemos o facebook para o filme
interrompemos o filme para o tinder

nada basta
nada satisfaz
e cultivamos cansaço

sabemos ser mais
mas os campos de hábitos normais
se ampliam
desertificando o silêncio

16/11/2017

auto-poema para me lembrar sempre e eternamente o que já sei

viver em retiro
para ajudar todos os outros
não é perda de tempo

viver em retiro
para se afastar de qualquer outro
é

14/11/2017

a sua lua como não-lua nem sua

faltou falar do lugar
naquele silêncio

longe dos pais

sem celular

frio

o lugar a pacificar
que crio
quando silencio

no fundo, os livros vão sair errados
os poemas na internet, trocados
eu não consigo consertar o mundo
(nem deveria querer)

o principal
é o alvo que não há
que continua lá
cheio de lobos
me apontando a lua

o lugar a enfrentar

o rio mais presente
sem frio sem som sem cheiro sem gosto sem brilho
sem água

10/11/2017

há sim

de dia salvei uma mariposa
no sonho salvei uma baleia
mas ainda não me salvei de mim

05/11/2017

e nem

o prazer de encontrar na prova do enem
o pré-socrático anaximandro, kant e sócrates
proporcional ao desprazer de vários poemas
(inclusive de leminski)
mortos
menores
parados
com uma resposta certa:
a b c d ou e

03/11/2017

esperando godot

quantos anos esperando godot?
quantas décadas?
quanta dor?

quantos estratagemas
até perceber que não chegarão
nem na beira da perfeição
a mulher a vitória o poema?