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Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.

31/03/2017

Antologia de Poesia Brasileira Contemporânea Além da Terra Além do Céu

Pessoal, ajudando a divulgar o lançamento da "Antologia de Poesia Brasileira Contemporânea Além da Terra Além do Céu", da Chiado Editora (tive a honra de ser convidado a participar com um poema de minha autoria). Repassem aos amigos de SP amantes da poesia!<3

Antologia de Poesia Brasileira Contemporânea Além da Terra Além do Céu

24/03/2017

Ais

Os repórteres reclamam nos jornais. E nós reclamamos dos repórteres reclamando nos jornais.

23/03/2017

ainda sobre a forma

tem os poetas atrás de fama
que declamam em grupos
como atos corpóreos teatrais eflúvios apócapos

os poetas atrás de fama que defendem o povo
o direito das minorias
a poesia como forma de protesto e revolução

os poetas atrás de fama que se encontram
apenas com amigos mais famosos
que não falam palavrão
que conhecem gente do jornal, da universidade, da política, da puta que pariu

os poetas atrás de fama no instagram
que postam curtas antíteses
nos horários melhores segundo suas equipes de marketing digital

e há os poetas dentro de casa - que nem se acham poetas
que escrevem como cortam as unhas
e - estranhamente - fazem poemas

18/03/2017

pneumosábado

a roda da vida
gira

a roda da vida
nos leva pelo mesmo caminho
ao mesmo resultado

a roda da vida
aperta o peito
e nos empurra
para o alívio errado
impermanente

infinitas vezes
infinitas vezes infinitamente
se não cansarmos

e enquanto não surgir
um cansaço
total
imenso
sincero
absoluto
não sairemos dessa tontura
quase automática

17/03/2017

take me out tonight (there is a light that never goes out)

trôpegos dirigimos
carros novos
em círculos
ouvindo rádio
piscando faróis
com pressa
de voltar
pra casa
sabendo
em algum lugar azul
que não há mais
casa

grafites de sampa

samba de raiz
o vento da palavra pouca
com sombra de última

silêncio de sobra

ameaça de perder o que não há
mas o sonho do que há
assombrando o que seria
antes de começar

tempo de sobra

vida que falta

friboi frita

O ator da Globo ganha uma grana pela propaganda sobre a confiabilidade da carne, a Globo ganha outra grana para veicular a propaganda sobre a confiabilidade da carne e o povo brasileiro segue comendo carne podre vendo o Jornal Nacional.

NUNCA MAIS COMPREM ESTAS MARCAS: Da JBS: Friboi, Seara, Swift, Angus, Big frango, Frangosul, Rezende, Confiança, Bordon, Doriana. Da BRF: Sadia (e seus produtos), Perdigão (e seus produtos), Claybom, Miss Daisy, Paty, Do Bom, Pense, Deline, Avipal. E estas.

16/03/2017

abertura

entrego ao silêncio
meu nome
meus hábitos

entrego ao silêncio meu tempo
minha ilusão de nascer e de morrer
e tudo que acumulei
(atrás de uma estabilidade que só há no silêncio)

entrego ao silêncio meu corpo
minhas dores
meus defeitos
meus amores
meus jeitos
minhas conquistas
meus possessivos

entrego ao silêncio
minha pressa
minha doença
minha esperança
meu medo burro
minha dança
meu muro
minha rima
meu murro
minha certeza
minha lógica

então
a sós
entrego ao silêncio
minha voz

grande parte dos grandes mestres budistas eram mendigos

não vemos o boi em chamas
nem o frango torturado
na carne embalada dormindo no mercado

a realidade sem ar se tornou
o que a porcaria congelada dos jornais
querem mostrar

cremos nas canções
que repetem poeticamente:
"é impossível ser feliz sozinho"

e assim - de forma banal - criamos
todos os dias, todas as horas
além do horário comercial
as grades de nossa gaiola

por isso é tão difícil a empreitada
de silenciar - não fazer nada
porque é do que mais precisamos

14/03/2017

lençol

este lençol aqui

que sinto pelo tato
e me parece meu

para uma traça
será comida
sentida pelo sabor

para um sádico
será uma forma de criar
um chicote e pavor

para uma costureira
será um conjunto de fios tecidos em arte
retidos unidos com técnica e retina

para um assassino
será um meio de enforcar alguém
se divertindo

este lençol formado
de fios de algodão
que nasceram da flor de uma planta
que por sua vez nasceu do grão
de outra planta
e assim até o infinito mistério da criação

este lençol aqui
mudo
fio a fio
é isso tudo
porque é vazio

13/03/2017

campo grande (ou a primeira vez que a vi)

estou vivo
no meio do dia seguinte
quase meio-dia

vento e sol
lá fora
aqui dentro

som do mar
enorme

uma tatuagem
forma poesia
no ombro-ar

a busca de algo maior
nos irmana

primeiro beijo de flor
de frente pra flor
com outra na nuca

o encontro
o encanto
o canto silencioso
de borboletas no estômago

silêncio de cor:
não escrevo nada
que ameace a delicadeza

(nem a palavra nuvem
nem a antiga vontade
nem a nova certeza)

10/03/2017

jazz tranquilinho

lembranças de mãos dadas
esperanças de mãos dadas

luz neon
comida
bebida
garçom

a lua cheia sustenta
os prédios da cidade
e seus muros

arde lá fora
o futuro

07/03/2017

para nise da silveira

fernando molhado
ficou louco e foi internado
quando a menina que tocava piano na casa da patroa
casou com outro

passou a pintar o quadro
com os detalhes da casa
da sala do nada do quarto

e se curou pela fala desenhada
num dia de chuva azul-horizonte
e amor (maior) de outra fonte

04/03/2017

canto de ilusão vaporosa e imprescindível

ela se disfarça de sonho
pra me embriagar de nuvens

leve sorri de branco
e longe ou perto
traz as causas e condições
para meu sorriso mais sincero

ela pode ir
ela pode vir
eu estou aqui
sorrindo