mulher
é o lugar da disputa
entre a branca de neve
e a puta
- Fabio Rocha
- Escritor, psicanalista e poeta nascido no Rio de Janeiro em 1976. Considerado um dos poetas brasileiros mais representativos da década de 2000 na antologia Roteiro da Poesia Brasileira (Global, 2009), é autor de vários livros publicados gratuitamente em seu blog, cujos melhores poemas foram reunidos em A Magia da Poesia (Papel&Virtual, 2000), Corte (Ibis Libris, 2004), rio raso (Patuá, 2014) e o budismo e o tinder (Multifoco, 2020). Mantém o bem sucedido site “A Magia da Poesia”, que teve mais de um milhão de acessos em 2012, onde divulga a obra de grandes poetas. Seus poemas já foram selecionados para livros escolares, traduzidos para o russo e publicados em diversas revistas literárias.
31/03/2013
dos poemas adiados (técnicas sobre como reinventar o vento)
sente a lente do vazio
sobre teu ser
olhando inerte
teu íntimo mais público
a voz do silêncio:
sábia conselheira
ouve drummond: relê
deixa o poema ser
sem luz sem olhos sem ego
na gaveta
por prazo azedo
fortalece as bordas do poema
que não tem bordas
amadurece o poema
que não é fruta
prepara o poema pra guerra
mas não há guerra
veda o poema contra a crítica
mas, sem ar, ele morre...
adia o poema para a fama após a morte
para o livro perfeito
para o público-alvo
para o ego estelar
mas e a vida agora?
agora,
isto posto,
posto o poema atrasado
sobre teu ser
olhando inerte
teu íntimo mais público
a voz do silêncio:
sábia conselheira
ouve drummond: relê
deixa o poema ser
sem luz sem olhos sem ego
na gaveta
por prazo azedo
fortalece as bordas do poema
que não tem bordas
amadurece o poema
que não é fruta
prepara o poema pra guerra
mas não há guerra
veda o poema contra a crítica
mas, sem ar, ele morre...
adia o poema para a fama após a morte
para o livro perfeito
para o público-alvo
para o ego estelar
mas e a vida agora?
agora,
isto posto,
posto o poema atrasado
Poesia temática:
anti-hermetismo,
anti-racionalidade,
eu,
melhores poemas,
o poeta,
poesia
30/03/2013
29/03/2013
oito deitado
sonhei que sonhava
e o sonho era um canto
e o canto era lindo
sob as mãos, uma viola
inventando novo ritmo
da mesma música:
o infinito
e o sonho era um canto
e o canto era lindo
sob as mãos, uma viola
inventando novo ritmo
da mesma música:
o infinito
28/03/2013
sorriso em curva
vôo o ronco do motor
ruas mal iluminadas
de cidades nuas
jornais no tempo
vento estelar
o mundo é grande
e somos muitos
silêncios
ruas mal iluminadas
de cidades nuas
jornais no tempo
vento estelar
o mundo é grande
e somos muitos
silêncios
bons tempos
lembro o encanto de meu avô
ouvindo rádio de pilha
na varanda
na época
os políticos só roubavam
e os sacerdotes só mentiam
(cada coisa em seu lugar)
agora é esse caos trágico:
dízimo pra eleição
e parlamentares dogmáticos
ouvindo rádio de pilha
na varanda
na época
os políticos só roubavam
e os sacerdotes só mentiam
(cada coisa em seu lugar)
agora é esse caos trágico:
dízimo pra eleição
e parlamentares dogmáticos
26/03/2013
olhe bem:
há um Vôo
no meio
do oVo
no meio
do oVo
Poesia temática:
jogo de palavras,
melhores poemas,
poesia,
poetrix
Pensamento e liberdade em Espinoza - palestra de Claudio Ulpiano
letra além da linguagem
o homem sem fantasma
seguiremos atendendo telefones
abrindo e fechando portas
paredes limitando símbolos?
até quando
o campo social não passará do escritório?
o valor não ultrapassará o bolso?
o carro no engarrafamento?
conatus
a palavra canta no silêncio de cada um
ecoa força:
conatus
os encontros que trazem
lágrimas de ouro
vento solar
encontros que marcam
e por marcar criam
o que nos escraviza:
consciência individual
capital, ciência e consciência
para a família produzir alguém sem política
corpo passivo bem sucedido economicamente
t-r-a-d-i-c-i-o-n-a-l
procurando não ouvir por uma vida inteira
a palavra conatus
cada vez menos dita
a partir desta palavra
eu não mais tenho nome
a fim de que a vida comece neste planeta
o homem sem fantasma
seguiremos atendendo telefones
abrindo e fechando portas
paredes limitando símbolos?
até quando
o campo social não passará do escritório?
o valor não ultrapassará o bolso?
o carro no engarrafamento?
conatus
a palavra canta no silêncio de cada um
ecoa força:
conatus
os encontros que trazem
lágrimas de ouro
vento solar
encontros que marcam
e por marcar criam
o que nos escraviza:
consciência individual
capital, ciência e consciência
para a família produzir alguém sem política
corpo passivo bem sucedido economicamente
t-r-a-d-i-c-i-o-n-a-l
procurando não ouvir por uma vida inteira
a palavra conatus
cada vez menos dita
a partir desta palavra
eu não mais tenho nome
a fim de que a vida comece neste planeta
Poesia temática:
crítica social,
filosofia,
poemas filosóficos,
poesia
25/03/2013
marulho inconsciente
o mar trabalha
no escuro
dirijo sério
pela sua margem
ouvindo a miragem
do meu mistério
no escuro
dirijo sério
pela sua margem
ouvindo a miragem
do meu mistério
24/03/2013
ouvindo Manoel de Barros
procuro de novo nas estrelas
pontos pequenos tão longe
três marias
silêncios de luz
azul
sobre prédios ansiosos
o trânsito segue nas ruas escuras
um rio sem água
sem riso ou destino
o mundo desinventa
o fundo das garrafas pet
mas engarrafamos
dentre revoluções adiadas
e equilíbrios impossíveis
deixamos de ser
a mesma paz das árvores
pontos pequenos tão longe
três marias
silêncios de luz
azul
sobre prédios ansiosos
o trânsito segue nas ruas escuras
um rio sem água
sem riso ou destino
o mundo desinventa
o fundo das garrafas pet
mas engarrafamos
dentre revoluções adiadas
e equilíbrios impossíveis
deixamos de ser
a mesma paz das árvores
23/03/2013
do fazer poético
acariciar estrelas por meio de teclas
louvar letras
coser sons
enquanto tudo se despedaça
louvar letras
coser sons
enquanto tudo se despedaça
20/03/2013
da educação sem ação
ela vai fazer as unhas
na tarde cinza
(a musa)
eu vejo um filme ranzinza
que me lembra nossa incapacidade institucional
de ensinar:
na era da informação
as provas futuras cobrarão
que você decore as palavras exatas
de conceitos ultrapassados
o presente não é valorizado
o presente não é presente
nem entre o giz que não há
e o quadro negro que nunca foi negro
estamos todos presos
na grade curricular
tentando provar nas provas que virão
que somos inocentes dos crimes de não saber o que querem que saibamos
quando o crime maior é ter certezas
a instituição vence a verdade, a pureza, a vontade, a beleza
com bolsos cheios
e literalidade
inspetores nos inspecionam
sob horários rígidos
mais cedo, pais
mais tarde, chefes
mais tarde, tarde demais
paredes nos moldam
desde a eternidade
ao som de fotocopiadoras a copiar
com placas invisíveis dizendo:
- É proibido criar!
na tarde cinza
(a musa)
eu vejo um filme ranzinza
que me lembra nossa incapacidade institucional
de ensinar:
na era da informação
as provas futuras cobrarão
que você decore as palavras exatas
de conceitos ultrapassados
o presente não é valorizado
o presente não é presente
nem entre o giz que não há
e o quadro negro que nunca foi negro
estamos todos presos
na grade curricular
tentando provar nas provas que virão
que somos inocentes dos crimes de não saber o que querem que saibamos
quando o crime maior é ter certezas
a instituição vence a verdade, a pureza, a vontade, a beleza
com bolsos cheios
e literalidade
inspetores nos inspecionam
sob horários rígidos
mais cedo, pais
mais tarde, chefes
mais tarde, tarde demais
paredes nos moldam
desde a eternidade
ao som de fotocopiadoras a copiar
com placas invisíveis dizendo:
- É proibido criar!
19/03/2013
o que mais falta é sutileza
lustro imóvel as impossibilidades
contemplo preços e precipícios
tonto na encruzilhada
nenhuma perna se move
(não se precipite)
moldo presentes invisíveis
com arte sã e mãos de artrite
contemplo preços e precipícios
tonto na encruzilhada
nenhuma perna se move
(não se precipite)
moldo presentes invisíveis
com arte sã e mãos de artrite
18/03/2013
alianças
medo do avô
pânico do pai
e agora minha assombração
as sombras da noite
do afeto impossível
a largura
a profundidade
da noite imprevista
imprevisível
e tão certa...
açoitam lagartos
caramujos
grilos
relógios
o som
da sombra
do escuro
contra o qual
construímos
alianças
pânico do pai
e agora minha assombração
as sombras da noite
do afeto impossível
a largura
a profundidade
da noite imprevista
imprevisível
e tão certa...
açoitam lagartos
caramujos
grilos
relógios
o som
da sombra
do escuro
contra o qual
construímos
alianças
16/03/2013
quer tc?
o poema escapa
corro parado na cadeira
a coluna meio torta
a vida meio manca
o dia com sono
a noite sem
tudo bem
e você?
corro parado na cadeira
a coluna meio torta
a vida meio manca
o dia com sono
a noite sem
tudo bem
e você?
13/03/2013
poetrix de constatação
se não estou fazendo um poema
ou me inspirando para fazer
estou perdendo tempo
ou me inspirando para fazer
estou perdendo tempo
11/03/2013
primeiro dia de aula de psicologia na universidade privada (sem aula)
cobram das massas
e as massas sofrem
mas pagam
o papel com os horários das aulas está errado
a palestra, atrasada
mas à noite não tem trote
mandam as massas
se sentarem no calor, no chão de escadas
e as massas sentam
e as massas suam
mas sentam, atentas
mosquitos me mordem
cheiro de esgoto
fico de pé, perto da porta
pedem pras massas serem modestas
cumprimentarem o desconhecido ao lado
e aplaudirem os professores coordenadores doutores palestrantes
a massa - como na missa - cumpre
eu vou pra casa
e as massas sofrem
mas pagam
o papel com os horários das aulas está errado
a palestra, atrasada
mas à noite não tem trote
mandam as massas
se sentarem no calor, no chão de escadas
e as massas sentam
e as massas suam
mas sentam, atentas
mosquitos me mordem
cheiro de esgoto
fico de pé, perto da porta
pedem pras massas serem modestas
cumprimentarem o desconhecido ao lado
e aplaudirem os professores coordenadores doutores palestrantes
a massa - como na missa - cumpre
eu vou pra casa
fumaça
o charuto caríssimo
é o escorbuto na sua boca,
caríssimo
dólares enrolados
por povos enrolados
em brasa
suas ilustres gargantas
ardem à meia luz
trêmulas
pela certeza íntima
da razão da revolução
em querer cortá-las
é o escorbuto na sua boca,
caríssimo
dólares enrolados
por povos enrolados
em brasa
suas ilustres gargantas
ardem à meia luz
trêmulas
pela certeza íntima
da razão da revolução
em querer cortá-las
08/03/2013
da arte sem aplausos
escrevo sem lavar as mãos
é preciso comer o amendoim
por inteiro
dos bares sujos dos puteiros
(é preciso sim)
pois o caos dança luz
nos espelhos onde se vê
ordem e beleza
(meu olhar sorrindo Bukowski)
o infinito deitado na axila
espasmos sincrônicos de pernas pro ar
a velha caindo da mesa no velho:
tudo em seu devido lugar
é preciso comer o amendoim
por inteiro
dos bares sujos dos puteiros
(é preciso sim)
pois o caos dança luz
nos espelhos onde se vê
ordem e beleza
(meu olhar sorrindo Bukowski)
o infinito deitado na axila
espasmos sincrônicos de pernas pro ar
a velha caindo da mesa no velho:
tudo em seu devido lugar
06/03/2013
antes da morte
um poema
antes que caia
o sono a net a noite
antes que nos açoite
o tempo
da inspiração
virar esquecimento
antes que caia
o sono a net a noite
antes que nos açoite
o tempo
da inspiração
virar esquecimento
02/03/2013
quando montei pela primeira vez
inda lembro o exato instante
em que o cavalo saiu da metáfora
e o mundo, abaixo de nós
abriu-se em aventura
em que o cavalo saiu da metáfora
e o mundo, abaixo de nós
abriu-se em aventura
01/03/2013
cima cima baixo baixo esquerda direita esquerda direita Y B X A
um poema travado no peito
pressa por todos os poros
não há tempo de fazer um poema
a reunião inútil dentro do trabalho inútil da vida inútil
a energia perdida azul no plexo sem tempo de mãos
arranhão street fighter lute antes de pensar
muito antes de sentir que arde
ainda antes
tarde demais
para um hadouken
ou um infarte
pressa por todos os poros
não há tempo de fazer um poema
a reunião inútil dentro do trabalho inútil da vida inútil
a energia perdida azul no plexo sem tempo de mãos
arranhão street fighter lute antes de pensar
muito antes de sentir que arde
ainda antes
tarde demais
para um hadouken
ou um infarte
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